terça-feira, 16 de abril de 2019


quinta-feira, 11 de abril de 2019




O DIÁCONO PERMANENTE
NA PRESIDÊNCIA DA CELEBRAÇÃO 
DA PALAVRA DE DEUS

Pe. Cristiano Marmelo Pinto
Mestre em Teologia Sistemática com
Especialização em Liturgia pela PUC-SP

1. O diácono como presidente da celebração da Palavra

Entra as funções do diácono na liturgia a Constituição Dogmática Lumen Gentium diz que cabe a ele presidir o culto e à oração dos fiéis[1]. Nesta presidência do culto evidentemente que podemos e devemos incluir a celebração da Palavra de Deus na ausência de presbítero. O Diretório para as celebrações dominicais na ausência do presbítero lembra que, havendo o diácono, é ele o primeiro a ser chamado para presidir a celebração da Palavra.

Para dirigir estas reuniões dominicais chamem-se os diáconos, como primeiros colaboradores dos sacerdotes. Ao diácono, ordenado para apascentar o povo de Deus e para o fazer crescer, compete dirigir a oração, proclamar o Evangelho, fazer a homilia e distribuir a eucaristia[2].

Se a comunidade conta, pois, com a presença do diácono, cabe a este, na ausência do presbítero, presidir a celebração da Palavra de Deus. Porém, é importante lembrar que a celebração da eucaristia é o centro da vida da Igreja e cabe a quem preside a celebração da Palavra direcionar os corações dos fiéis para o desejo de participação plena nos mistérios do Senhor. Cabe também a quem preside a celebração da Palavra de Deus não permitir e nada fazer para que se confunda estas celebrações com a celebração da eucaristia. Deve-se evitar, por exemplo, tudo o que é próprio da eucaristia.

2. O ministério da presidência da celebração

No Dicionário Larousse Cultural, presidir significa: “ocupar a presidência; dirigir como presidente; exercer as funções de presidente; dirigir, orientar”. A palavra “presidir” vem do latim “praesidire” e significa, literalmente, sentar (sedere) à frente (prae).

Para dirigir a assembleia, quem preside senta-se à frente. Daí a importância da “cadeira presidencial”. A presidência existe em função de alguma coisa, a serviço de um determinado grupo, em determinadas ações, com determinados objetivos.

Não atua em seu próprio nome, mas em nome do grupo. Não é dono, mas representa.  Como em todos os ministérios, quem exerce o ministério da presidência, deve ter atitude de serviço. Quem preside não atua sozinho na celebração, existem outras funções que estão em estreita relação com o ministério da presidência: equipe de liturgia, leitores, cantores, acólitos. Quem preside uma celebração não pode concentrar para si todas as funções. Deve fazer somente o que lhe compete. É o que diz a Instrução Geral do Missal Romano: “Todos, portanto, quer ministros ordenados, quer fiéis leigos, exercendo suas funções e ministérios, façam tudo e só aquilo que lhes compete” (n. 91).

2.1. A presidência: uma função eclesial

A Igreja é uma realidade social. Mas não só. Ela é também uma realidade “mistérica”. Sendo um organismo social, coletivo, a Igreja precisa de alguém que assuma a função de presidir, dirigir, coordenar, guiar... Sendo uma realidade “mistérica”, estão presentes e atuante nela o Pai, Filho e Espírito Santo.

Quem de fato preside a Igreja é Jesus Cristo. A Igreja como Corpo de Cristo, é guiada pela Cabeça, que é Jesus. Mas, na Igreja, alguém representa o Cristo-cabeça de seu corpo e o torna presente de forma simbólico-sacramental. Quem preside a celebração, assume o papel de Cristo como cabeça da Igreja, e deverá deste modo ter as mesmas atitudes de Jesus que veio para servir e não ser servido. É o que se espera de quem preside uma celebração litúrgica: que seja servidor.  Sua função é ajudar o povo a tomar parte na ação litúrgica.

2.2. A presidência: uma função litúrgica

Em primeiro lugar precisamos ter consciência de que a celebração litúrgica pertence a todo o povo de Deus. É o povo quem celebra. A liturgia é uma ação eclesial. Como afirma a Constituição Conciliar sobre a Liturgia: “As ações litúrgicas não são ações privadas, mas celebrações da Igreja, que é ‘sacramento da unidade’, [...] As celebrações pertencem a todo o Corpo da Igreja...”[3].

Portanto, não é o padre, nem o diácono que celebra, mas o povo de Deus.  Quem preside a celebração litúrgica assume o serviço de ser sinal sacramental de Cristo como Cabeça de seu corpo. A presidência da celebração é sinal simbólico-sacramental de uma realidade maior.  Quem preside, preside em nome de Cristo, fala e age em nome dele. Ao mesmo tempo fala e age em nome da Igreja ao dirigir-se a Deus.

2.3. Cristo, único presidente da celebração

Jesus Cristo, Cabeça da Igreja, é o único mediador entre o Pai e os homens. O ministro da presidência da celebração deve manifestar a presença reveladora e atuante da pessoa de Jesus Ressuscitado. O presidente da celebração é, no seu exercício de presidir, sinal do mesmo Cristo à frente da assembleia. É um autêntico presidente aquele que pensa e exerce seu ministério em profunda comunhão com Jesus Cristo.

O ministro da presidência litúrgica age em lugar de Cristo, mas, fundamentalmente, é sempre Jesus, o ressuscitado quem fala, age e serve à assembleia celebrante. Na medida em que presencializa a Cristo atuante na história concreta das pessoas e da Igreja, o ministro da presidência é representante de Cristo. “Aquele que está à frente da assembleia visibiliza o Cristo servidor de um povo concreto. É sinal da única presidência e da única mediação que há na comunidade[4].

A presidência da celebração é lugar por excelência de Jesus Cristo. É ele quem toma a iniciativa, que preside e realiza a salvação da comunidade dos fiéis. Por isso, quem preside não pode considerar seu ministério como uma honra, dignidade ou autopromoção, mas um serviço à comunidade dos fiéis cujo autêntico presidente é Jesus Cristo. Suas ações devem transparecer as ações de Cristo.

2.4. Dizer “convosco” ou “conosco”?

Quem preside representa o Cristo-Cabeça da Igreja. Não age em seu próprio nome, mas em nome de Cristo. Deste modo, quem saúda, acolhe, preside, fala e envia é o próprio Cristo. Ao usar a saudação “O Senhor esteja convosco” quem preside não remete a si próprio, mas ao próprio Jesus Cristo.

Segundo o teólogo liturgista Pe. Gregório Lutz, expoente da reflexão da teologia litúrgica no Brasil, não há nenhum problema em dizer: “O Senhor esteja com vocês” ou “O Senhor esteja convosco”. O problema está em dizer: “O Senhor esteja conosco”, pois assim, Jesus, não aparece mais como Cabeça de seu corpo. E mais ainda, não aparece a Igreja comunidade que precisa de alguém que a presida, que a coordene[5]. Conforme Pe. Gregório, é coerente um leigo que presida a celebração da Palavra dizer “convosco”, pois, não fere ao fato de que os ministros ordenados serem colocados como legítimos representantes de Cristo-Cabeça da comunidade.

Por outro lado, não seria uma boa solução dizer que só os padres e bispos podem dizer “convosco”, porque assim não ficaria claro que a Igreja é um corpo com vários membros e uma única Cabeça – Cristo[6].

2.5. O lugar da presidência

O lugar da presidência da celebração é a cadeira presidencial. Esta cadeira evoca a presença de Cristo como aquele que, na verdade, preside a celebração litúrgica na pessoa do ministro da presidência. O sentido e o valor litúrgico da cadeira presidencial foi resgatado pelo Concílio Vaticano II, pois estavam esquecidos há séculos.

O lugar mais apropriado para a cadeira presidencial é de frente para o povo. Trata-se de uma cadeira especial e própria para a função de quem, na pessoa de Cristo, preside a celebração. Embora seja recomendado que ela se destaque das demais, não se deve chegar ao exagero de transformá-la em um trono, pois a cadeira presidencial deve expressar o sentido do Cristo que serve, visto que a presidência é antes de tudo um serviço.

O lugar da presidência da celebração, representado pela cadeira, evoca a presença de Cristo, na pessoa de quem preside. A teologia da cadeira da presidência está expressa na oração de bênção: “Senhor Jesus Cristo, que ensinastes os pastores da Igreja procurar servir os irmãos e não serem servidos, concedei aos que ocupam esta cadeira proclamarem com ardor a vossa Palavra, celebrarem os vossos mistérios...”[7].

2.6. O lugar da Palavra de Deus: a mesa da Palavra

Infelizmente nós católicos por muito tempo não valorizamos o lugar da Palavra de Deus. Ainda damos pouca importância à “mesa da Palavra”. O Concílio Vaticano II resgata a consciência da importância da Palavra de Deus como presença real de Cristo[8]. O Concílio resgata a tradição do primeiro milênio cristão, que dava à Palavra o mesmo valor que a Eucaristia.

A Igreja sempre venerou as divinas Escrituras, da mesma forma como sempre venerou o próprio Corpo do Senhor, porque, de fato, principalmente na sagrada liturgia, não cessa de tomar e entregar aos fiéis o pão da vida, da mesa, tanto da Palavra de Deus como do corpo de Cristo[9].

A Instrução Geral do Missal Romano (IGMR) diz que a dignidade da Palavra de Deus requer um lugar condigno (n. 309). Este lugar é a Mesa da Palavra, o ambão. Quando a IGMR fala de “lugar condigno”, significa proporcional ao mérito, ao valor. Por causa da dignidade da Palavra de Deus, requer um lugar à altura desta dignidade.

A palavra “ambão” vem do grego “anabaino”, que significa subir, porque costuma estar em posição elevada, mais alta, de onde Deus fala. Do ambão ou mesa da Palavra são proclamadas as leituras, canta-se o salmo, faz-se a homilia e as preces. Não convêm, porém, que se façam os avisos.

A celebração da Palavra de Deus está centrada na proclamação da Palavra. Assim sendo, convém que seja realizada na mesa da Palavra os ritos iniciais. É recomendado somente usar a mesa da eucaristia no momento de ação de graças ou louvação, e quando houver distribuição da comunhão. Tudo isso para diferenciar-se uma mesa da outra, também para deixar claro que o centro da celebração é a Palavra e não a eucaristia.

2.7. O beijo no altar

Em primeiro lugar é preciso saber que em cada gesto litúrgico tem um significado e por que não uma teologia. Muitos gestos e símbolos da vida do povo foram sendo incorporados à liturgia e ganhando novo significado.

O beijo no altar também tem sua origem. Provavelmente este gesto de beijar o altar venha do costume de em casa beijar a mesa da refeição, por ser considerada sagrada. Na Roma antiga era também costume reverenciar o templo das divindades beijando o altar. Mas parece que não seja esta a origem do beijo cristão no altar, pois os primeiros cristãos rejeitavam tudo que vinha do paganismo. A origem provável seja a primeira.

O que significa beijar o altar? Trata-se de um sinal de veneração pela mesa comum, na qual se celebra a ceia do Senhor. Aos poucos o altar cristão foi sendo identificado com Cristo e seu beijo dado ao próprio Cristo. É a Igreja (esposa) que beija o Cristo (esposo).

O Concílio Vaticano II recuperou o significado do beijo no altar como simples sinal de veneração, e se limita ao beijo no início e fim da celebração. Um gesto reservado aos ministros ordenados. 

3. O pensamento da Igreja sobre a celebração da Palavra

Muitos documentos da Igreja falam da celebração da Palavra de Deus. Veremos a partir de agora alguns documentos que são importantes para nossa reflexão.

As diretrizes e orientações expostas nos documentos da Igreja serviram para suscitar iniciativas pastorais adequadas nos lugares que sofriam carência de padre, de modo que as comunidades podiam se reunir ao domingo para a celebração da Palavra de Deus.

3.1. Constituição Conciliar Sacrosanctum Concilium

“Incentive-se a celebração da Palavra de Deus nas vigílias das festas mais solenes, em algumas férias do advento e da quaresma, bem como aos domingos e dias santos, sobretudo aqueles lugares onde falta sacerdote” (SC 35,4).

O documento conciliar além de assumir as celebrações da Palavra de Deus, incentiva-as. É importantíssima para as celebrações da Palavra a afirmação do Concílio, quando fala das presenças de Cristo na liturgia, principalmente na Palavra: “Presente está pela Palavra, pois é Ele mesmo que fala quando se leem as Sagradas Escrituras na igreja[10].

A celebração da Palavra de Deus é recomendada vivamente pela constituição sobre a liturgia. O Concílio coloca um selo oficial na prática das celebrações da Palavra. Porém, ele não criou normas sobre a realização da celebração da Palavra. Limitou-se apenas em dizer que o dirigente seja um diácono ou um leigo delegado pelo bispo.

3.2. Instrução Inter Oecumenici

A Instrução Inter Oecumenici, de setembro de 1964, dedicada para a execução da constituição Sacrosanctum Concilium, nos números 37 a 39, desenvolve o pensamento conciliar sobre as celebrações da Palavra de Deus, apresentando principalmente a sua estrutura e dinâmica. Ela também indica as circunstâncias destas celebrações:

Nos lugares onde não haja padre e não se possa celebrar a missa, nos domingos e dias de preceito, organiza-se, a juízo do ordinário, uma sagrada celebração da Palavra de Deus, presidida por um diácono ou inclusive por um leigo, especialmente delegado. A estrutura desta celebração será semelhante a da liturgia da Palavra da missa (37). Para que estas celebrações se façam com dignidade e devoção, procurem as comissões litúrgicas diocesanas sugerir e preparar os convenientes subsídios[11].

A estrutura ritual proposta pela Instrução dá a possibilidade de rezar na celebração dominical da Palavra de Deus: “Leiam-se normalmente na língua vernácula a Epístola e o Evangelho da missa do dia, precedidos e intercalados com cânticos, salmos; o presidente faz a homilia, e encerra-se toda a celebração com a ‘oração comum’ e a oração dominical[12].

3.3. Instrução Eucharisticum Mysterium
               
A Instrução Eucatisticum Mysterium, de 25 de maio de 1967, abriu caminho à administração da comunhão eucarística por um ministro leigo que tivesse essa faculdade. “Quando se distribui a comunhão fora da missa em horas previamente determinadas, pode fazer-se preceder, se se julgar oportuno, de uma breve celebração da Palavra de Deus, segundo as normas da Instrução Inter Oecumenici[13].

Notemos que a Instrução em relação à estrutura da celebração da Palavra, remete à Instrução Inter Oecumenici, nos números 37-39. A Instrução Eucharisticum Mysterium acrescentou mais um elemento na celebração da Palavra, a distribuição da comunhão. Esta permissão aos leigos de distribuir a comunhão foi providencial, de modo que a prática evoluiu, transformando as celebrações da Palavra, agora com a distribuição da comunhão eucarística.

3.4. Medellín

A segunda conferência do episcopado latino-americano, em Medellín, aos mesmo tempo que destaca o valor das celebrações da Palavra de Deus, realça sua relação com as celebrações sacramentais, “fomentem-se as sagradas celebrações da Palavra, conservando sua relação com os sacramentos, com os quais ela alcança sua máxima eficácia, particularmente com a eucaristia[14].

3.5. Puebla

O documento reconhece as celebrações da Palavra de Deus e o culto dominical como autênticos momentos da litúrgica da Igreja. Reconhece também que a falta de ministros ordenados e o crescimento populacional e a situação geográfica da América Latina, fizerem crescer a consciência da utilidade das celebrações da Palavra de Deus[15]. Por este motivo, o documento reconhece as celebrações da Palavra de Deus presididas pelos diáconos ou leigos. “As celebrações da Palavra, com uma leitura variada, abundante e bem escolhida da Sagrada Escritura, são de grande proveito para a comunidade, principalmente onde não há presbíteros e, sobretudo, para a celebração dominical[16].

3.6. Santo Domingo

Em 1992, acontece na cidade de Santo Domingo, na República Dominicana, a quarta conferência do episcopado latino-americano e caribenho. O documento originário desta conferência trata a liturgia em vários momentos, porém, o que nos interessa é o que diz o número 51, que fala da celebração da Palavra de Deus. Estas celebrações são mencionadas quando o documento fala da formação litúrgica.

Deve-se promover uma séria e permanente formação litúrgica do povo de Deus em todos os seus níveis, a fim de que ele possa viver a liturgia espiritual consciente e ativamente. Preocupação especial deve ser promover e dar uma formação a quem esteja encarregado de dirigir a oração e a celebração da Palavra na ausência do presbítero[17].

É interessante notar que a formação para os que presidem a celebração da Palavra de Deus é uma preocupação especial. Com uma boa formação dos ministros e ministras da Palavra de Deus, certamente, tais celebrações serão mais litúrgicas, mais orantes, conscientes e participadas.

3.7. Código de Direito Canônico

O Código de Direito Canônico irá tratar do assunto no cânon 1.248, artigo 2. O Código não vai tratar especificamente da celebração da Palavra como tal, mas irá falar de liturgia da Palavra.

Por falta de ministro sagrado ou por outra grave causa, se a participação na celebração eucarística se tornar impossível, recomenda-se vivamente que os fiéis participem da liturgia da palavra, se houver, na igreja paroquial ou em outro lugar sagrado, celebrada de acordo com as prescrições do bispo diocesano[18].

Esse cânon só admite a celebração da Palavra nos seguintes casos:

a)      Na falta do ministro sagrado ou outra grave causa;
b)      Se for impossível a participação na celebração eucarística.

3.8. Diretório para as celebrações dominicais da Palavra de Deus na ausência de presbítero.

Em 2 de junho de 1988, a pedido das Conferências Episcopais, a Congregação para o Culto Divino publicou o Diretório para as celebrações da Palavra de Deus. Este Diretório pretende dar orientações em relação à celebração da Palavra.

O Diretório, além da introdução geral se desdobra em três partes:

1. Fala do domingo e sua santificação, tomando como ponto de partida o número 106 da Constituição Sacrosanctum Concilium;
2.  Apresenta as condições para as celebrações dominicais na ausência do presbítero;
3.  Descreve brevemente como deve ser o rito das celebrações da Palavra de Deus.

O Diretório sintetiza a teologia subentendida nessa prática, esclarece alguns dos seus aspectos problemáticos como a homilia e apresenta sugestões sobre o modo como celebrá-la adequadamente. Ele deixou a possibilidade aberta às Conferências Episcopais, e a cada bispo, de adaptar o documento de acordo com a realidade de cada região. Na fase de preparação e promulgação deste documento, a Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB) já estava refletindo sobre as celebrações da Palavra.

Uma das vantagens do Diretório é a de propor um esquema de celebrações que resgata o seu caráter de oração litúrgica: “O rito da celebração deve ser organizado de tal modo que favoreça totalmente a oração e dê a imagem duma assembleia e não duma simples reunião[19].

Isto fica claro no esquema apresentado:
               
                1. Ritos Iniciais;
                2. Liturgia da Palavra;
                3. Ação de Graças;
                4. Rito de Comunhão;
                5. Ritos Finais.

3.9. Documento 43 da CNBB: “Animação da vida litúrgica no Brasil

O documento 43 possui um caráter pastoral e tem o objetivo de promover e animar da vida litúrgica da Igreja no Brasil. Ele trata das celebrações na ausência do presbítero, nos números 93-102. De forma sintética, ele aprofunda o assunto e oferece orientações para as comunidades. Aponta também o valor destas celebrações.

O documento dá a descrição dos elementos que integram as celebrações da Palavra: reunião dos fiéis; proclamação da Palavra e atualização; orações, louvor, cantos e agradecimento; distribuição da eucaristia. “A celebração da Palavra tem seus próprios valores nos vários elementos que a integram[20].

O documento também chama a atenção para a presidência da celebração: “A coordenação desses elementos exige um serviço de presidência[21]. O documento ainda valoriza o sacerdócio comum dos fiéis quando trata da questão da presidência da celebração: “Quando não houver diácono ou ministro instituído, todo o cristão leigo, homem e mulher, por força de seu batismo e confirmação, assume legitimamente este serviço[22].

No n. 101 retoma os elementos rituais da celebração da Palavra:

                a) Ritos Iniciais;
                b) Liturgia da Palavra;
                c) Ação de Graças;
                d) Comunhão Eucarística;
                e) Ritos Finais.

O documento conclui no n. 102, indicando o valor educativo das celebrações da Palavra de Deus e o compromisso que ela suscita: “A celebração da Palavra tem uma ampla dimensão educativa, levando o povo à sadia criatividade, à valorização dos ministérios, ao compromisso com o Reino e ao amor à Eucaristia, como expressão da plena comunhão eclesial[23].

3.10. Documento 52 da CNBB: “Orientações para as celebrações da Palavra de Deus

O documento 52 da CNBB nasceu de uma pesquisa sobre as celebrações da Palavra, realizada entre 1989 e 1990. Um número significativo de dioceses respondeu ao questionário, ou seja, 159 dioceses, cerca de 65% do total. Foi constatado que 70% das comunidades realizavam a celebração da Palavra, e que 90% delas eram presididas por leigos e leigas.

Constatou também que a maioria das comunidades que celebravam a Palavra era de pessoas simples, espontâneas e criativas, e que uniam facilmente Palavra de Deus e vida. Com o resultado da pesquisa em mãos, a dimensão litúrgica da CNBB começou a elaborar o documento 52. Ele foi aprovado na Assembleia Geral da CNBB, em abril de 1994, com o título: “Orientações para a Celebração da Palavra de Deus”.

O documento está dividido em duas partes e um anexo.

                1) A primeira parte desenvolve o sentido litúrgico da celebração da Palavra de Deus.
                2) A segunda parte trabalha os elementos para o roteiro da celebração.
                3) Anexos: apresenta oito roteiros para a celebração da Palavra de Deus.

O documento menciona outros elementos que devem ser considerados na celebração da Palavra: a equipe de celebração (cf. n. 42-43) e o espaço celebrativo (cf. n. 44-49). Também recorda a dinâmica da celebração litúrgica: “O Senhor convida e reúne, o povo atende e se apresenta; o Senhor fala, a assembleia responde professando sua fé, suplicando e rezando, louvando e bendizendo[24].

O documento ainda propõe então os elementos para o roteiro da celebração: ritos iniciais (cf. 57-65); Liturgia da Palavra (cf. 66-82); momento de louvor / ação de graças (cf. 83-86); rito de comunhão (cf. 87-91); e ritos finais (cf. 92-94).

3.11. Considerações

De modo geral, as celebrações da Palavra de Deus são vistas com bons olhos pela Igreja. Elas salvaguardam os valores do dia do Senhor, tais como: a reunião, a oração em comunidade, o mistério pascal, a escuta da Palavra, a participação na comunhão do Corpo do Senhor, e valorizam os ministérios.

Percebemos em alguns documentos e pronunciamentos uma certa dificuldade em aceitar a presidência dos leigos e leigas nas celebrações da Palavra. Há diversas recomendações e restrições quando a presidência é realizada por um leigo. É importante a constatação de que aos poucos a celebração da Palavra foi ganhando um caráter litúrgico.

Em linhas gerais as contribuições que os documentos oferecem para as celebrações da Palavra de Deus são:

                1. O caráter litúrgico;
                2. A celebração do mistério da salvação;
                3. A estrutura da celebração;
                4. A distribuição da comunhão;
                5. O louvor e ação de graças como momento ritual da celebração.

4. Fundamentos litúrgico-teológicos da celebração da Palavra

4.1. Celebração Eucarística e Celebração da Palavra

As celebrações da Palavra como verdadeira ação litúrgica possuem força sacramental. Cristo se faz presente e nos faz participantes de seu mistério pascal através da reunião da comunidade, da proclamação da Palavra, por meio de cânticos e orações. Ao valorizar as celebrações da Palavra não podemos deixar de salientar que a celebração da eucaristia é a expressão máxima de nossa fé. A Eucaristia é a fonte e o centro de toda a vida cristã.

A celebração da Palavra é também o memorial da presença e da ação de Jesus Cristo. A Palavra e a Eucaristia são duas maneiras diferentes, mas complementares, da presença real de Jesus no meio da comunidade reunida para celebrar o mistério pascal. Deste modo, Eucaristia e Palavra são igualmente o Pão da Vida – Jesus Cristo. O mistério da salvação, que a Palavra de Deus não cessa de recordar e prolongar, alcança seu mais pleno significado na ação litúrgica.

A Igreja cresce e se edifica ao escutar a Palavra de Deus e celebrar a eucaristia como memorial da paixão-morte-ressurreição de Jesus Cristo. A Palavra proclamada conduz à plenitude do mistério pascal. A Igreja se alimenta do Pão da Vida na mesa da Palavra e na mesa do pão eucarístico. Na Palavra se recorda a história da salvação, e na Eucaristia a mesma história se expressa por meio de sinais sacramentais. A Palavra de Deus conduz e se realiza na Eucaristia. Por outro lado, a Eucaristia tem seu fundamento na Palavra. “A celebração da Eucaristia é o centro de toda a vida cristã [...]. Os demais sacramentos, bem como os demais mistérios eclesiais e as tarefas, ligam-se estreitamente à Sagrada Eucaristia e a ela se ordenam[25].

4.2. A celebração da Palavra: ação litúrgica

A grande contribuição do Concílio Vaticano II na constituição Sacrosanctum Concilium, foi a de reconhecer a celebração da Palavra como uma verdadeira ação litúrgica. Quais são as razões teológico-litúrgicas que fazem dela uma autêntica ação litúrgica?

                1. É uma ação comunitária;
                2. É memorial e presença de Cristo;
                3. A presença e atuação do Espírito Santo;
                4. É uma ação simbólica;
                5. É ação ministerial da Igreja.

a) Ação Comunitária

A liturgia é uma ação comunitária da Igreja. Por sua própria natureza, toda celebração litúrgica necessita de uma assembleia. A celebração inicia com uma reunião e consiste numa reunião. A ação litúrgica é um fazer eclesial da assembleia reunida, na qual todos os membros são envolvidos. Para ser uma assembleia litúrgica autêntica é necessária a presença de uma comunidade que viva a “comum-união”, onde todos “são um só em Cristo”[26].

O verdadeiro sujeito da liturgia não é um indivíduo, mas sim uma comunidade reunida, a Igreja. É o batismo quem dá o direito a todo cristão de participar plenamente da liturgia. “A principal manifestação da Igreja é a participação plena e ativa de todo o povo de Deus nas celebrações[27].

b) Memorial e presença de Cristo

O centro e o cume da Sagrada Escritura e de toda a liturgia é Jesus Cristo. A presença de Cristo fortalece a celebração da Palavra. A liturgia é a celebração da obra redentora de Cristo. “Muitas vezes e de muitos modos Deus falou no passado a nossos pais por meio dos profetas; nestes últimos tempos, falou-nos por meio de seu Filho” (Hb 1,1-2).

Se a Palavra celebrada é a presença e a ação de Cristo na comunidade, ela vivifica, ressuscita, purifica, anuncia e denuncia. “As celebrações da Palavra de Deus na liturgia são a presença de Cristo que atua aqui e agora, com sua proposta divina, que aguarda uma resposta concreta e generosa[28]. A Palavra convida a conversão e à comunhão com Deus e com os irmãos e irmãs. A celebração da Palavra realiza o memorial do mistério de Cristo, fazendo dos fiéis participantes do mistério pascal.

c) Presença e atuação do Espírito Santo

A presença e a ação do Espírito Santo na celebração da Palavra imprimem nesta uma dinâmica especial, de modo que a Palavra proclamada realiza seus efeitos. “Ela não voltará para mim sem fruto; sem que tenha realizado o que me agrada e tenha cumprido aquilo para o qual a enviei” (Is 55,11).

A Palavra requer ser acolhida e vivida pelas pessoas que participam da ação litúrgica. Essa acolhida e essa vivência da Palavra de Deus na assembleia litúrgica acontecem sob a inspiração do Espírito Santo. Para que a Palavra realize o que foi proclamado, requer a ação do Espírito Santo.

A celebração da Palavra é vivificada pela ação do Espírito Santo. A acolhida da Palavra, a prece de louvor, de ação de graças e de súplica também são frutos da ação do Espírito Santo. A homilia como momento de atualização da Palavra é também ação do Espírito Santo. Ele age mediante a ação de pessoas que atuam na celebração: presidente, leitores, salmistas, etc.

A ação celebrativa da Palavra de Deus evidencia a relação que existe entre a Palavra proclamada, celebrada, vivida e a ação do Espírito Santo. A escuta da Palavra de Deus também se torna compromisso de fé e de conduta cristã pela força do Espírito Santo.

d) Ação simbólica

Deus e as pessoas expressam suas relações por meio de sinais, símbolos, gestos e objetos. A celebração da Palavra, como toda celebração litúrgica, acontece por meio de sinais sensíveis. A participação da comunidade na celebração se dá por meio de palavras, gestos, ações e ritos, portanto através de ações simbólicas, assim como na eucaristia. O desafio é superar a mentalidade racionalista e prática com muitos comentários e explicações.

A celebração da Palavra é o clima adequado para a vivência do simbólico. A expressão simbólica da celebração exprime e estimula os pensamentos e os sentimentos dos participantes. Através de nossa participação nas ações simbólicas, temos acesso à realidade que existe para além do sensível, para a qual os símbolos e ações simbólicas nos remetem. É preciso que a celebração litúrgica seja vivida por nós como ação ritual, simbólico-sacramental, onde cada elemento tem o seu significado e realiza o que significa[29].

e) Ação ministerial

A celebração da Palavra de Deus é uma realidade ministerial[30]. A Igreja é constituída de vários membros, com diversos serviços, funções e ministérios. As celebrações da Palavra de Deus são espaços privilegiados para o surgimento, desenvolvimento e amadurecimento dos ministérios e serviços litúrgicos exercidos por leigos e leigas.

5. A presidência do diácono na celebração da Palavra

Em primeiro lugar é bom lembrar que o diácono não é um ministro extraordinário do culto e da Palavra, mas pelo sacramento da ordem ele é ministro ordinário da Igreja. É neste sentido que os Documentos sempre colocam o diácono como o primeiro responsável na presidência da celebração da palavra. Ele o faz não de uma forma extraordinária, mas ordinária, ou seja, está entre as suas funções dentro da diaconia da liturgia. É também importante salientar que a celebração da Palavra não é uma espécie de “mini missa”. Seja o diácono ou outros ministros que presida a celebração, tem o dever de deixar transparecer esta diferença. Não é um culto eucarístico, mas o centro está na Palavra, mesmo que tenha a distribuição da eucaristia.

Dito isto, queremos realçar alguns pontos no que refere à atuação do diácono na presidência da celebração da Palavra. Sobre o sentido litúrgico-teológico do ministério da presidência já trabalhamos em pontos anteriores. O que faremos a partir de agora é apresentar alguns pontos e dicas para o bom exercício da presidência da celebração.

A celebração da Palavra de Deus não possui um rito próprio. Embora os Documentos da Igreja apontem os elementos que podem constituir a estrutura ritual da celebração, os esquemas podem ser muito diversificados. Mas iremos manter a estrutura proposta pela Igreja, por serem pronunciamentos oficiais e por isso seguros. É claro que nas diversas comunidades pode haver outros modelos rituais, mais creio ser o esquema que propomos aqui o mais adequado.

5.1. O antes da celebração

Toda celebração tem um antes e um depois. Ela não começa apenas quando inicia o canto de abertura, mas, desde o momento em que a comunidade se dispõe a se reunir para celebrar já podemos dizer que o clima da celebração já começa a ser desenhado. Por isso é bom que haja uma preparação e depois uma avaliação da celebração. Deve-se levar em conta a equipe de celebração, os demais ministros que irão atuar na celebração e a comunidade que se reúne em assembleia.

Para a nossa reflexão irei utilizar um texto de Ione Buyst sobre a presidência da celebração[31].

Alguns pontos a serem observados a quem irá presidir:

a)      Prepare a celebração com a equipe e prepare-se pessoalmente mediante a leitura da Palavra de Deus a ser proclamada, prepare-se bem para a homilia. Junto com a proclamação da Palavra, esta constitui o coração da celebração;
b)      Acolha o povo que chega para celebrar, isso cria relação, quebra barreiras, facilita o contato e cria o clima que terá toda a celebração da Palavra;
c)       Quem preside faz parte de um povo celebrante. Celebra com o povo e não para o povo. Você é parte da comunidade. Observe que todas as orações litúrgicas estão sempre na primeira pessoa do plural (nós);
d)      Não queira se tornar o centro da celebração. O centro é Jesus Cristo! Por isso, não chame muito a atenção para você, seja o mais discreto possível. Como dizia João Batista: “É preciso que o Cristo cresça e eu desapareça” (Jo 3,30);
e)      Quando estiver presidindo a celebração não se deixe levar por tensões, problemas, angústias, etc. Presida com serenidade, entregue-se ao mistério que é celebrado, experimente-o;
f)        Quem preside deve zelar pela harmonia e unidade da celebração e de todos. Procure favorecer a unidade de todos na celebração. Valorize os demais ministérios. Não queira fazer tudo sozinho;
g)      Proclame e celebre a Páscoa do Senhor na páscoa de cada um no dia a dia. Indique caminhos, luzes, para a comunidade poder continuar sua missão no mundo;
h)      Que seu estilo de presidir seja pessoal, natural, autêntico, sem ser artificial, excêntrico ou teatral. Não fique tentando imitar outras pessoas, muito menos o padre. Cada um tem seu estilo;
i)         Não confunda liturgia com show, com espetáculo. Quem preside não deve agir como se estivesse animando um auditório ou programa de divertimento;
j)         Como um simples servidor, deixe-se conduzir pelo Espírito Santo;
k)      Festa no sentido litúrgico não é necessariamente barulhenta, movimentada, exaltada. Não confunda a alegria com excitação, com euforia;
l)         Quem preside deve ser sinal da presença de Jesus Cristo e da atuação do Espírito Santo. Seja de fato sinal sacramental desta presença. O povo vem celebrar para se encontrar com Deus e com os irmãos e não por causa do padre tal, ou do diácono fulano...

5.2. A presidência nos ritos iniciais

A celebração comunitária da Palavra preparada num clima de acolhida mútua, simplicidade, alegria, espontaneidade, favorece a comunhão e participação na escuta da Palavra e na oração (cf. Doc. 52, 57). Toda celebração cristã é ação simbólica e ritual, uma reunião festiva, um encontro e não uma simples reza ou ação devocional.

É a Trindade que toma a iniciativa. É o próprio Deus que nos acolhe. É o próprio Jesus Cristo que na pessoa de quem preside nos saúda, abre a reunião... Nossa primeira resposta à convocação de Deus é uma bendição: “Bendito seja Deus que nos reuniu no amor de Cristo”. O encontro não é só de Deus com seu povo, mas de irmãos entre si e destes com Deus.

Mas, qual a finalidade dos Ritos Iniciais? O Documento 43 da CNBB diz que “esses ritos têm por finalidade fazer com que os fiéis reunidos constituam a comunidade celebrante, se disponham a ouvir atentamente a Palavra de Deus e celebrar dignamente[32]. Também a Instrução Geral do Missal Romano diz qual a finalidade destes ritos iniciais na celebração: “As partes que precedem a Liturgia da Palavra, isto é, entrada, saudação, ato penitencial, glória e oração do dia, tem caráter exórdio, introdutório e de preparação[33]. Os elementos dos Ritos Iniciais são: canto de abertura e procissão; saudação; ato Penitencial; glória e oração do dia, também chamada de “coleta”.

Os ritos iniciais devem expressar que somos uma comunidade de irmãos reunida para celebrar o mistério do Senhor, sua páscoa na páscoa nossa de cada dia. No dia-a-dia somos dispersos em meio aos nossos afazeres. Quando nos reunimos para celebrar formamos um corpo, uma assembleia litúrgica. Os ritos iniciais devem formar este corpo e nos introduzir no mistério que iremos celebrar. Lembre-se, um mal começo de celebração pode comprometer toda ela. Por isso a necessidade de prepará-lo e realizá-lo da melhor forma possível.

Vejamos o que cabe à presidência nos ritos iniciais:

a)      Tem como responsabilidade criar um clima favorável para a celebração, congregar, formar assembleia, criar na comunidade reunida disposição e abertura para ouvir a Palavra e celebrar o mistério do Senhor;
b)      Se houver procissão de entrada, quem preside vai atrás de todos. Nenhum dos ministros (leitores, ministros extraordinários da comunhão, coroinhas...) devem ficar de fora da procissão. Chegando diante do altar fazem reverência e se encaminham para os seus respectivos lugares;
c)       Quem preside a celebração faz também uma reverência diante do altar e depois pode dar o beijo do altar em sinal de reverência ao Cristo que se faz altar;
d)      É louvável que antes da saudação inicial, quem preside faça uma breve introdução ao mistério celebrado, acolha a comunidade e dê o tom da celebração;
e)      A saudação inicial é de responsabilidade de quem preside. Também o convite ao ato penitencial pode ser feito pela presidência da celebração, bem como o convite ao hino de louvor;
f)        A oração da coleta é realizada pela presidência da celebração, sempre.

5.3. A presidência na liturgia da Palavra

A Liturgia da Palavra compõe-se de vários elementos: leituras bíblicas tiradas da Sagrada Escritura, salmo, aclamação ao evangelho, Evangelho, homilia, profissão de fé, preces e apresentação das oferendas (aqui é o momento da comunidade motivada pela Palavra, partilhar seus dons). É o próprio Cristo que, por meio de sua Palavra, fala com a comunidade.

A parte principal da Liturgia da Palavra é constituída pelas leituras da Sagrada Escritura e pelos cantos que ocorrem entre elas, sendo desenvolvida e concluída com a homilia, a profissão de fé e as preces. Em toda celebração cristã, a Proclamação da Palavra de Deus ocupa um lugar privilegiado. A Liturgia da Palavra celebra o diálogo de Deus com o seu povo.

Nas leituras explanadas pela homilia, Deus fala ao seu povo, revela o mistério da redenção e da salvação, e oferece alimento espiritual; e o próprio Cristo, por sua Palavra, se acha presente no meio dos fiéis. Pelos cânticos, o povo se apropria dessa Palavra de Deus e a Ele adere pela profissão de fé[34].

A proclamação do Evangelho deve aparecer como ponto alto da liturgia da Palavra. Entre a Primeira Leitura e o Evangelho existe uma íntima unidade que evidencia a relação das promessas de Deus no Primeiro e no Segundo Testamento. Também faz parte da Liturgia da Palavra um momento de meditação, de silêncio. A Palavra de Deus a ser proclamada e a dimensão comunitária da celebração requerem dos ministros da Palavra uma adequada preparação bíblica. Litúrgica e técnica.

A estrutura ritual da Liturgia da Palavra é a seguinte: primeira Leitura; Salmo Responsorial; segunda Leitura; aclamação; Evangelho; homilia; profissão de fé; preces da comunidade e partilha dos dons.

O que cabe a quem preside na liturgia da Palavra?

a)      Antes de tudo, quem preside também é ouvinte da Palavra. Por isso deve prestar atenção na proclamação da Palavra de Deus assim como toda a comunidade. “Com toda a comunidade, responde ao Senhor com o refrão do salmo, com a profissão de fé, e acompanhando de maneira fervorosa as preces dos fiéis[35];
b)      Se não houver outra pessoa apta, cabe a quem preside a proclamação do Evangelho e a homilia;
c)       No que diz respeito à homilia, ela tem um caráter exortativo, de aconselhamento, deve estimular a comunidade a colocar em prática a Palavra proclamada. Não pode ser um momento de passar sermão na comunidade ou de dar “aula” de catecismo ou teologia;
d)      Ainda em relação à homilia, deve levar em conta além das leituras proclamadas, o tempo litúrgico, a festa que está sendo celebrada e a vida concreta da comunidade, todos os acontecimentos, sejam eles de alegria ou de tristeza;
e)      Cabe ainda a presidência da celebração o convite à profissão de fé e à oração dos fiéis.

5.4. A presidência da celebração na liturgia de ação de graças e comunhão

A expressão mais significativa e completa de ação de graças é a liturgia eucarística. O domingo é por excelência dia da Eucaristia, do louvor, da ação de graças pela ressurreição do Senhor que nos deu esperança e nova vida. Sendo o domingo dia de ação de graças, como expressar esse louvor na celebração da Palavra de Deus? “Um dos elementos fundamentais da celebração comunitária é o ‘rito de louvor’, com a qual se bendiz a Deus pela sua imensa glória[36] (Doc. 52, 83).  O Senhor ouve e atende. O povo fica agradecido, festeja, louva e bendiz.

No Novo Testamento, o louvor brota da ressurreição de Jesus e do Reino de Deus inaugurado por ele, da Palavra pregada e da vida nova brotada pela força do Espírito Santo. O louvor está presente no conjunto da celebração, mas é neste momento que explicitamos melhor esta dimensão.

Não é permitido rezar neste momento nem fazer a oração eucarística. Não tem nenhum sentido pronunciar a oração eucarística, pois é uma oração própria da missa. Nem convém tirar alguns trechos da oração eucarística para adaptá-la à celebração. Tampouco deve-se substituir a ação de graças pela adoração ao Santíssimo Sacramento. Lembre-se: a Palavra é o centro da celebração e não a Eucaristia. Este momento de ação de graças ajuda a manter a tradição litúrgica do domingo cristão de dar graças a Deus, de bendizer o Senhor.

Se a cada momento de nossa vida temos muitos motivos para dar graças, o domingo é para nós, cristãos, um dia especial de render graças ao Senhor. É dia da reunião da comunidade e dia de fazer memória do mistério pascal de Jesus. Por este motivo, no domingo não pode faltar este elemento da liturgia: a ação de graças. Mas não deve se confundir ou dar a entender que é a oração eucarística, própria da missa.

Quem faz a oração de ação de graças é quem preside a celebração. Poderá sugerir gestos ou símbolos que acompanham a ação de graças: braços abertos, voltados para o céu; queima de incenso, etc. Porém, é necessário garantir também a participação da comunidade. Esta participação pode se dar por meio de refrãos ou aclamações durante a oração de ação de graças. A proposta que apresentaremos possui uma série de aclamações que o povo poderá fazer.

A quem se dirige a ação de graças? É dirigida ao Pai (por Cristo, com Cristo e em Cristo, na unidade do Espírito Santo). Qual é o motivo principal? Será sempre Jesus Cristo e o mistério de sua páscoa e nossa inserção nele. A ação de graças relaciona-se com os tempos e festas do ano litúrgico, com o mistério celebrado e até mesmo com as leituras bíblicas.

O que cabe à presidência?

a)      Cabe fazer o momento de ação de graças;
b)      Quem preside pode colocar-se diante da mesa para realizar a ação de graças;
c)       Não é conveniente expor o Santíssimo neste momento, visto que o centro não é a Eucaristia, ela é apenas distribuída, mas se for costume da comunidade deve-se cuidar para que não se transforme num momento de adoração ao Santíssimo;
d)      Presidir não significa fazer tudo sozinho, deve-se valorizar a participação da comunidade mesmo que seja nas aclamações;
e)      A motivação da ação de graças é feita por quem preside (O Senhor esteja convosco...);
f)        A ação de graças deve ser feita em tom de exultação, alegria pascal.
g)      Após a oração de ação de graças ou louvor, quem preside faz o convite ao Pai-nosso e ao abraço da paz;
h)      Depois do abraço da paz, faz-se a exposição da Eucaristia se já não foi antes da ação de graças;
i)         Neste momento não se faz o rito da fração do pão. Este é próprio da celebração da eucaristia. Faz-se apenas a apresentação do Pão Eucarístico (Felizes os convidados para a Ceia do Senhor. Eis o Cordeiro de Deus, que tira o pecado do mundo);
j)         Quem preside deve dar a comunhão junto com os outros ministros;
k)      Terminada a comunhão, quem preside faz a oração após a comunhão.

Vejamos agora um exemplo de oração de ação de graças.

5.5. Presidir os ritos finais da celebração

Pelos ritos finais a assembleia toma consciência de que é enviada a viver e testemunhar a Aliança no seu dia-a-dia e nos serviços concretos na edificação do Reino (Doc. 52, 92). Os ritos finais e os ritos iniciais estão ligados entre si e expressam nosso jeito de compreender e ser Igreja, tendo a Trindade como fonte e horizonte. Somos povo convocado pelo Pai, reunidos no amor de Cristo e animados pela força do Espírito Santo e enviados por ele para a missão. Somos chamados a permanecer com Ele e ser enviados em missão para evangelizar.

A sequência dos ritos finais costuma ser a seguinte: avisos, bênção e canto de louvor final, dispersão ou despedida.

Cabe a quem preside nos ritos finais:

a)      Se não houver outra pessoa da comunidade mais indicada, dar os avisos;
b)      Invocar a bênção de Deus e despedir o povo.


[1] Cf. Lumen Gentium, n. 29.
[2] Congregação do Culto Divino. Diretório para as celebrações dominicais na ausência do presbítero. n. 29. In: LELO, Antônio Francisco (org.). Eucaristia: teologia e celebração. Documentos pontifícios, ecumênicos e da CNBB (1963-2005). São Paulo: Paulinas, 2006, p. 709.
[3] Constituição Conciliar Sacrocanctum Concilium, n. 26.
[4] Cf. Presbyterorum Ordinis, n. 12.
[5] Cf. Revista de Liturgia. 1998, n. 150, p. 27.
[6] Op. ct. p. 27.
[7] Ritual de Bênção, n. 897.
[8] Cf. SC 7.
[9] Constituição Dogmática sobre a revelação Divina Dei Verbum, n. 21.
[10] Sacrosanctum Concilium, n. 7.
[11] Instrução Inter Oecumenici, n. 39.
[12] Ibidem, n. 37.
[13] Instrução Eucatisticum Mysterium, n. 33.
[14] Medellín, 9,14.
[15] Cf. Puebla, n. 900.
[16] Puebla, n. 929.
[17] Santo Domingo, 51.
[18] CIC, cânon n. 1248, 2.
[19] Diretório para as celebrações da Palavra de Deus, n. 35.
[20] CNBB. Animação da vida litúrgica no Brasil. (Doc. 43), n. 99.
[21] Ibidem, n. 100.
[22] Ibidem, n. 100.
[23] Ibidem, n. 102.
[24] CNBB. Orientações para as celebrações da Palavra de Deus. (Doc. 52), n. 52.
[25] Presbyterorum Ordinis, n. 5.
[26] Cf. Gl 3,28.
[27] Sacrosanctum Concilium, n. 41.
[28] CNBB. Animação da vida litúrgica no Brasil. (Doc. 43), n. 78.
[29] Cf. Sacrosanctum Concilium, n. 7.
[30] Cf. CNBB. Orientações para as celebrações da Palavra de Deus. (Doc. 52), n. 21.
[31] BUYST, Ione. Presidir a celebração do dia do Senhor. São Paulo: Paulinas, 2004.
[32] CNBB. Animação da vida litúrgica no Brasil. (Doc. 43), n. 233.
[33] Instrução Geral do Missal Romano, n. 24.
[34] Instrução Geral do Missal Romano, n. 55.
[35] BUYST, Ione. Presidir a celebração do dia do Senhor. p. 43.
[36] CNBB. Orientações para a celebração da Palavra de Deus. (Doc. 52), n. 83.