sábado, 28 de agosto de 2010


A Liturgia não é qualquer brincadeira

Pe. Elílio de Faria Matos Júnior

A Liturgia não é qualquer brincadeira. Se ela, deveras, tem um aspecto lúdico, pois que, como um jogo, tem suas próprias regras e não é algo que possa ser reduzido ao domínio do útil, sua grandeza, contudo, consiste em manifestar ao homem a beleza de Deus e de sua salvação. Daí a necessidade de a Igreja, depositária da Revelação, cuidar sempre com renovado interesse para que, de fato, a Liturgia seja celebrada de tal modo que, por ela, a beleza de Deus e se comunique à alma e à sensibilidade dos fiéis, arrebatando-os, de algum modo, do mundo do dia-a-dia e introduzindo-os na esfera do sagrado, em que as razões do ser, do agir e do fazer encontram seu sentido derradeiro.

Assim, a Liturgia não pode ser compreendida como uma celebração que o homem inventa e faz por si mesmo. Ela contém algo de maior. Uma Liturgia que não fosse celebrada como um dom não poderia, em última na análise, oferecer salvação alguma. Ela reduzir-se-ia a um culto narcísico, que colocaria o homem diante de sua própria imagem, e, no fim, diante de sua própria indigência e insuficiência, pois que só um Deus que se dirige a nós, e não o homem, pode salvar-nos.

O Rito Romano, ao longo dos séculos, sempre se caracterizou pela sobriedade e pela beleza de suas celebrações, e, desse modo, esteve apto a comunicar às almas o senso do sagrado que nos envolve, fazendo os fiéis lançar raízes nas profundezas do mistério de Deus, que resplandece no convite que nos faz à beatitude perfeita por Cristo, com Cristo e em Cristo.

O que hoje se observa, infelizmente de um modo geral, é que a compreensão da Liturgia como algo que não pode ser construído, sem mais, pelo homem, e que, portanto, deve ser acolhido como um verdadeiro dom, está se esvaindo da consciência dos fiéis. Quantas comunidades julgam poder “fazer” sua liturgia como bem entendem, às vezes desprezando explicitamente a sabedoria bimilenar da Igreja codificada nos livros e regras litúrgicos... Quantas vezes a Santa Missa, que é o que há de mais sagrado na Igreja, é invadida por atitudes que não correspondem à sua sacralidade e ao senso de mistério que deve acompanhá-la... Quantas vezes saímos da igreja com vontade de procurar um lugar para rezar, como disse Adélia Prado, tão grande o barulho e o espetáculo vazio do homem que se regozija consigo mesmo... Será que uma Liturgia simplesmente construída pelo homem à sua imagem e semelhança pode satifazer-lhe aquelas zonas mais profundas de seu ser, onde só o mistério de Deus pode penetrar?

O Papa Bento XVI tem dado sinais claríssimos de que deseja uma Liturgia celebrada de maneira a manifestar a sacralidade que lhe é constitutiva e, assim, garantir aos fiéis uma verdadeira mistagogia - iniciação ao mistério e à beleza infinita de Deus. Queira Deus que a Igreja inteira seja dócil à orientação do pastor!




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Pe. Elílio de Faria Matos Júnior
Vigário Paroquial da Paróquia Bom Pastor - Juiz de Fora, MG
Visite o Blog do Padre Elílio: http://padreelilio.blogspot.com

MINISTÉRIO DE LEITORES

Pe. Cristiano Marmelo Pinto



“Jesus foi para a cidade de Nazaré, onde havia crescido. No sábado, conforme o seu costume, foi até a sinagoga. Ali ele se levantou para ler as Escrituras Sagradas” (Lucas 4,16).


O ministério de leitor é muito antigo na Igreja. Tem suas raízes no culto da sinagoga judaica, onde eram feitas as leituras da Sagrada Escritura. O texto acima ilustra esta função e ao mesmo tempo, mostra que Jesus provavelmente a exerceu durante sua vida entre nós, pois, ao ir a sinagoga em Nazaré, ele exerceu a função de leitor da Escritura.

Dentro do conjunto dos ministérios litúrgicos na Igreja, o leitor tem uma importância fundamental, pois ele é incumbido de proclamar para os irmãos reunidos em assembléia litúrgica a Palavra de Deus. Por meio de sua voz, Deus se comunica com seu povo. A função de proclamar a Palavra de Deus na liturgia é central na liturgia cristã, pois, não existe celebração sem a proclamação da Palavra. Por isto, é um verdadeiro ministério, um serviço prestado a toda a comunidade cristã, que se reúne para celebrar o mistério de Cristo, ouvir sua Palavra e partilhar a Eucaristia.

Existem dois tipos de leitores na liturgia: o leitor instituído, que recebe este ministério num rito litúrgico próprio, e a este ministério somente é admitido os homens. Também há o leitor ao instituído, ou o leitor confiado, este recebe o ministério por meio de uma bênção litúrgica, prevista no ritual de bênção, e a ele podem ser admitidos qualquer cristão leigo, homens e mulheres.

Ser leitor na Igreja é um serviço à Palavra de Deus e à comunidade que se reúne em assembléia para celebrar. Pela Palavra proclamada, Jesus se torna presente (cf. SC 7). O leitor é um mediador entre Deus e a comunidade celebrante. Daí a exigência de exercer tal ministério de maneira digna e eficaz, ele é, por assim dizer, a voz de Cristo para a comunidade.

A constituição sobre a Liturgia Sacrosantum Concilium, do Concílio Vaticano II, afirma no nº. 29 que: “Os leitores... Exercem um verdadeiro ministério litúrgico”. Isto significa que trata-se de um ministério (serviço) comunitário, eclesial, ou seja, prestado em favor de toda a comunidade reunida para celebrar.

O leitor é alguém que, em nome, e com a aprovação da assembléia celebrante, dirige-se a mesa da Palavra, para proclamar em voz alta para todos o que o próprio Deus tem a dizer durante a celebração.

A instrução ao Elenco das Leituras da Missa afirma que: “A assembléia litúrgica precisa ter leitores, ainda que não instituídos para esta específica função. Por isso, é preciso procurar que haja à disposição alguns leigos particularmente idôneos e preparados para realizar este ministério. Se houver vários leitores e várias leituras a serem feitas, convém distribuí-las entre os vários leitores” (ELM 52).

Verifica-se que, conforme esta afirmação, a comunidade tem o direito de contar com leitores aptos e preparados para exercer tal ministério na liturgia. Isto significa que o leitor deve ter uma preparação técnica e espiritual para o exercício do ministério, ou seja, deve aprender o sentido da leitura e como proclamá-la.

A preparação espiritual do leitor deve ser, ante de tudo bíblica, além de um conhecimento litúrgico, ou seja, da estrutura da celebração, da liturgia da Palavra, deve entender o que vai ler, e qual a ressonância de determinado texto bíblico na festa ou tempo litúrgico celebrado. O leitor deve se preocupar em viver o que será por ele proclamado em assembléia.

Na preparação técnica deve ser considerado: o cuidado com a voz, educá-la, saber projetá-la com acerto, usar bem o microfone, resolver com antecedência as eventuais dificuldades com o texto a ser proclamado (por exemplo: a pronúncia de certar palavras, etc.), a postura, o lugar da Palavra, o manuseio dos lecionários, etc.

Fazer a leitura? Ou proclamar a Palavra?

Geralmente quando alguém aborda uma pessoa para ser leitor diz: “Você pode fazer uma leitura hoje?” Fazer leitura assim é relativamente fácil. Acontece que na liturgia não se faz leitura simplesmente, mas Proclama a Palavra de Deus. Há uma diferença substancial entre “fazer leitura” e “proclamar a Palavra”. Qual é a diferença?

Fazer a leitura significa ir lá na frente, ler o que está escrito, para informação de todos, ou, no pior dos casos, cumprir apenas uma formalidade: celebração supõe leitura, e alguém tem que fazer.

Proclamar a Palavra é um gesto sacramental, um serviço, um ministério, através da voz, do corpo do leitor, Deus se comunica com a comunidade reunida;

Como já vimos, na Proclamação da Palavra, é Cristo mesmo quem fala: “Presente está pela sua Palavra, pois é ele mesmo quem fala quando se lêem as Sagradas Escrituras na Igreja” (SC 7). Esta presença de Jesus pela sua Palavra é uma presença simbólibo-sacramental, passa pelos sinais sensíveis: o leitor, a leitura, o tom de voz, o lugar da proclamação, a comunidade...

Não é só pelo conteúdo da leitura, que o leitor proclama a Palavra, mas por todo o seu modo de ser e de falar, de olhar e de se movimentar. Além disto, ele é também um ouvinte. Enquanto proclama a Palavra, deve prestar atenção, com toda a comunidade, para tentar perceber o que o Espírito está querendo dizer à Igreja.


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