sexta-feira, 26 de fevereiro de 2010


Os Sacramentos 2


Ione Buyst


1. OS SACRAMENTOS SÃO SÍMBOLOS?

Sacramentos: sinais sensíveis...

Temos o costume de chamar de “sacramentos” os gestos principais que expressam e sustentam nossa fé cristã: batismo, confirmação, eucaristia, reconciliação, unção dos enfermos, ordenação, matrimônio. São sinais sensíveis que realizam aquilo que significam (Cf. SC 7). E o que significam? São chamados a significar, cada qual a seu modo, o mistério da nossa fé, o mistério pascal de Jesus, o Cristo. Pelo batismo, somos mergulhados na morte de Jesus, para ressuscitarmos com ele (Cf. Rm 6, 3-11). Também, ao realizarmos a ação eucarística, realiza-se em nós, sacramentalmente, em mistério, a morte-ressurreição de Jesus, a sua páscoa.

Uma nova teoria para explicar os sacramentos...

Em cada época da história, os cristãos tentaram estudar e explicar, na medida do possível, estas ações sacramentais. Nenhuma explicação será jamais totalmente satisfatória, porque mistério tão grande não cabe em explicações; compreendemos apenas pela fé, instruída pelas Sagradas Escrituras; compreendemos pela experiência celebrativa e pela experiência do seguimento de Jesus no dia-a-dia de nossa vida. Mas, como somos seres racionais, devemos tentar explicar e entender racionalmente, até onde der...

Atualmente, a maneira de explicar o que acontece quando celebramos um sacramento passa pela “teoria simbólica”. A realidade teológica (sacramento) é analisada do ponto de vista antropológico, enquanto símbolo. Por exemplo, o que acontece no batismo? Num sinal sensível (mergulhar e retirar das águas), aparece e começa a atuar uma realidade escondida, oculta a nossos sentidos. Qual é esta realidade? O mistério pascal de Jesus Cristo. Deixando-nos batizar, optamos por uma vida de seguimento de Jesus, que viveu uma vida de doação, de entrega, de compromisso total com o reino de Deus. E confiamos que, assim, o Pai nos dará a vida em plenitude, numa comunhão de vida, para sempre. Somos identificados com Cristo na sua morte-ressurreição. Sua páscoa acontece em nós.

A graça supõe e assume a natureza...

O sinal sensível do batismo é um elemento da natureza (água), uma ação de nossa experiência cotidiana ou social com seu sentido evidente (mergulhar na água, correr o perigo de afogar-se numa enchente, ser retirado(a) das águas por outra pessoa, que às vezes até arrisca sua vida para nos salvar...). Este primeiro sentido recebe um complemento das Sagradas Escrituras, principalmente do Novo Testamento, onde este gesto se refere a Jesus e àqueles que se tornam seus seguidores: seu batismo no Jordão, seu batismo na morte, sua ressurreição, como salvamento por parte do Pai, e nossa participação em sua morte-ressurreição.
A força vital, a energia psíquica gerada pela simbolização é como que potencializada pelo Espírito Santo. O dinamismo do Espírito Santo se manifesta e trabalha no gesto humano simbólico. O Sopro Divino assume a água e a transforma, a transfigura, fazendo aparecer a vida divina na realidade humana. A realidade teologal se encarna e se manifesta e atua na realidade humana, antropológica, seguindo a lei da criação, a lei da encarnação e da epifania, a lei da ressurreição e da escatologia. A atuação do Espírito Santo passa pela ação simbólica; atinge-nos pela simbolização.

Seguindo a lei da criação...

Afinal, Deus nos fez assim, como seres corpóreos/espirituais. Ou como diz o relato bíblico da criação, somos feitos(as) de “barro e brisa”: o Senhor modelou um boneco de barro, soprou sobre ele com sua divina brisa, seu divino sopro, e assim nasceu o ser humano, como ser vivente. Por isso, a comunicação com os seres humanos, mesmo a mais espiritual, passa necessariamente pelo “barro”, pelo corpo, pelos sentidos, pela “matéria”. E os sacramentos seguem esta lógica, esta teo-lógica da criação. Nos sacramentos se unem a “matéria” e o Espírito.

Seguindo a lei da encarnação e da epifania (manifestação)...

São João, o evangelista, diz que em Jesus “o Verbo se fez carne”; a Palavra de Deus se fez gente com a gente; ergueu seu barraco no meio de nós. Deus se fez “barro”, “matéria”, corpo, possível de ser ouvido, visto, apalpado... por nós, seres humanos, para que pudéssemos entrar em comunhão com ele e encontrar assim nossa felicidade. Assim o expressa o mesmo São João no início de sua primeira carta: “O que era desde o princípio, o que ouvimos, o que vimos com nossos olhos, o que contemplamos e o que nossas mãos apalparam o Verbo da vida - porque a Vida manifestou-se (...) - o que vimos e ouvimos vo-lo anunciamos, para que estejais em comunhão conosco. E a nossa comunhão é com o Pai e com seu Filho Jesus Cristo. E isto vos escrevemos para que a vossa alegria seja completa” (1Jo 1,1-4).

Por isso, os sacramentos seguem esta lógica, esta teologia da encarnação e da manifestação de Deus em nossa humanidade: a realidade divina se manifesta a nossos sentidos, em coisas para ver, ouvir, sentir, cheirar, saborear..., e desta maneira entra em comunhão conosco.

Seguindo a lei da ressurreição e da escatologia...

Pela ressurreição, o corpo torturado, mutilado, crucificado de Jesus transformou-se em um corpo espiritual, pneumático. Nele nos tornamos gente nova, não mais escravos da natureza humana, mas gente que se deixa guiar pelo Espírito de Deus que ressuscitou Jesus dos mortos. Com ele iniciam os novos céus e a nova terra, já presente em germe entre nós. E os sacramentos seguem esta lógica, esta teologia da ressurreição e de escatologia: nos sinais sacramentais já está espiritualmente presente a realidade futura, o reino dos céus, a vida que não termina com a morte.

Sacramento é mistério...

É bom lembrar ainda que, a partir do Concílio Vaticano II, a palavra “sacramento” (que vem do latim) está sendo de novo entendida como “mistério” (palavra grega que, nos primeiros séculos do cristianismo, foi traduzida por “sacramento”). Falamos da Igreja como mistério. “Mistérios” são também a eucaristia e o batismo..., porque neles transparece para nós e nos atinge o mistério de Deus, a vida de Deus; Deus enquanto realidade que sustenta e abrange tudo quanto existe. No sacramento vivido como ação simbólica, o mistério aparece e atua: tocando os sinais sensíveis, tocamos o mistério e somos transformados(as) por ele.

Isto nos ajuda a não restringir o sacramento ao momento da celebração: a ação sacramental faz aparecer o sentido de toda a nossa vida, vivida em comunhão com Jesus Cristo, como experiência do mistério de Deus no mistério da vida humana. Ajuda-nos ainda a não entender o sacramento como um gesto quase mágico (batizou, salvou): é o mistério que atua em nós, é Deus, é o Espírito Santo do Cristo ressuscitado, que vai, ao longo de toda a nossa vida e com a nossa participação, nos transformando, nos revitalizando.

Os sacramentos são ações simbólico-sacramentais

Para deixar claro esta realidade humano-divina, gosto de dizer que o batismo (assim como os outros sacramentos) é uma ação simbólico-sacramental. “Simbólica”, enquanto realidade humana: “sacramental”, enquanto realidade divina; “simbólico-sacramental”, enquanto realidade humano-divina, na qual o divino e o humano estão aliados, entrelaçados, inseparáveis. E espero que, assim, vocês tenham se recuperado do primeiro susto com a pergunta que está como título desde artigo! Sim, sacramentos são símbolos, ações simbólicas. Mas para entender isso, você deve superar o sentido muito limitado que às vezes se dá no linguajar cotidiano, quando se diz: “É apenas simbólico”, como se fosse uma coisa que não deva ser levada muito a sério ou que não seja real!

Perguntas para reflexão pessoal ou em grupos:

1. Qual a compreensão que nós temos de sacramento? E o povo que procura os sacramentos em nossa Igreja, o que pensam a respeito disso?
2. Como entender as três leis da simbologia (criação, encarnação e ressurreição)? Ficou claro para nós esta explicação?
3. Como entender a afirmação de que os “sacramentos são símbolos”?

2. SÍMBOLOS? OU SINAIS?

Todos os símbolos são sinais, mas nem todos os sinais são símbolos. Os sinais não simbólicos recebem sua significação como que de fora, pela convenção entre os membros de um determinado grupo cultural. São arbitrários; poderiam ser substituídos por outros. Um sinal vermelho no trânsito, por exemplo, é um sinal e não um símbolo.

O símbolo tem sua raiz no inconsciente e expressa uma experiência vivida a um nível anterior à conceituação. Ou, como o expressa um outro autor: é movido pelo autor: é movido pelo desejo, que é insaciável e almeja a totalidade do real, ou melhor, almeja Alguém que possa satisfazer nosso desejo.

Por isso, no símbolo existe como que uma relação interna que revela a unidade entre sinal sensível e realidade significada. Por exemplo, água como símbolo de purificação, de vida. A água em si já contém como que o sentido de purificação, de vida. Não é algo que é imposto de fora, racionalmente.

Símbolo não é o resultado de uma transferência de significação além da matéria, mas a própria articulação da densidade da matéria, que conserva sua totalidade de ser, em vez de ser escamoteada pelo espírito. (...) A matéria é investida pelo espírito.

Símbolos atingem o ser humano como um todo

Vamos nos lembrar de alguma celebração passada... O que ficou gravado em nossa memória? Provavelmente, os cantos, os símbolos e principalmente as ações simbólicas. Por que isso? Porque atingem nossa pessoa como um todo; não só a nossa mente, mas também nossa afetividade, partindo do corpo e, atingindo através dele, as camadas mais profundas de nosso ser.

Uma especialista em eutonia, Thérèse Bertherat, nos lembra o seguinte:

Cuidado com o corpo, disse-me há muito um psicanalista que assistira às minhas aulas. Nosso corpo pertence ao domínio da mãe. Quando você procura abordar o ser pelo corpo, você entra diretamente nas camadas arcaicas da personalidade.

E podemos dizer que nos liga não somente com o domínio da mãe, matriz geradora de nossa vida, mas nos liga ainda com a matriz geradora de toda vida: Deus.

A liturgia é feita com “sinais sensíveis” (SC 7), usados simbolicamente. Partindo de nosso corpo, penetram nossa afetividade, nossa consciência, nosso inconsciente...

São capazes de ligar, unir, juntar (symbállo):

• Corpo, alma, mente, espírito... de cada um de nós;
• As várias pessoas participantes, estreitando os laços na assembléia;
• Cada um de nós e a comunidade reunida com a realidade (tanto cósmica quanto histórica) que nos cerca;
• Cada um de nós e a comunidade reunida com Aquele que é a fonte da vida;
• Presente e passado, céu e terra, “matéria” e “espírito”...

Através de nossa participação nas ações simbólicas, temos acesso à realidade que existe para além do sensível, para a qual os símbolos e ações simbólicas remetem. E qual é esta realidade? Para nós, cristãos, esta realidade é o próprio Jesus Cristo glorificado em sua páscoa. Assim, a nossa participação na ação ritual da liturgia é páscoa de Cristo na páscoa da gente, páscoa da gente na páscoa de Cristo.

Perguntas para reflexão pessoal ou em grupos:

1. Conseguimos entender a diferença que existe entre “sinal” e “símbolo”?
2. Vamos elencar alguns “sinais” e alguns “símbolos” mais presentes em nossa vida para que possamos fazer bem esta distinção?
3. Quais as realidades de nossa vida, de nossa história e de nossa comunidade que um “símbolo” pode “ligar, unir, juntar”?

3. AÇÕES SIMBÓLICAS DE DIFERENTES PESOS E “DENSIDADES”

Nem todos os símbolos e ações simbólicas têm um peso igual. Há gestos considerados fundamentais, porque foram deixados pelo próprio Senhor Jesus, como por exemplo a ceia e o batismo; outros também têm um peso bastante grande, porque fazem parte da tradição apostólica; outros podem ser criados por cada comunidade.

Podemos imaginar a eucaristia no centro de vários círculos concêntricos; em volta dela, os outros sacramentos e sacramentais, e depois a Celebração da Palavra, a Liturgia das Horas...
Gestos litúrgicos no prolongamento de gestos cotidianos

Cada um dos gestos fundamentais dos sete sacramentos estão no prolongamento de gestos cotidianos, domésticos, muitos deles ligados à cozinha, à higiene e saúde... Estão no prolongamento também de gestos religiosos da piedade popular ou mesmo de outras religiões, fora de nosso universo cultural... Devemos estudar, observar e anotar as relações que existem entre eles.

• Eucaristia tem a ver com agradecer, fazer um brinde para homenagear alguém..., comemorar um aniversário ou uma vitória com comes e bebes, confraternização, comer e beber para se alimentar, tomar refeição juntos, festejar...; tem a ver com a festa das folias de Reis e do Divino, com sua fartura de comida e bebida partilhada...

• Batismo tem a ver com tomar banho, quase se afogar e ser retirado da água, salvar alguém de uma enchente; tem a ver com os banhos medicinais da hidroterapia; tem a ver com os batismos e banhos em tantos ritos religiosos...

• Ungir tem a ver com passar óleo, bálsamo, unguento, creme, pomada medicinal (azeite, óleo de almíscar, de pinho, de alfazema,...). Tem a ver com passar perfume... É sinal do Espírito de Deus com o qual somos consagrados para Deus, consagrados para a missão messiânica (Cristo= Ungido= Messias); sinal do Espírito que penetra em nós para dar força, dignidade, alívio; sinal do Espírito que nos faz espalhar na sociedade a boa-nova de Jesus Cristo, como um perfume agradável e cheiroso que conquista, anima e dá alegria...

• O sacramento da reconciliação tem a ver com os gestos da pessoa que reconhece seu erro, pede perdão, sente-se perdoada, tem a ver com a reconciliação de duas ou mais pessoas que se desentenderam... Vamos observar ou lembrar as expressões verbais e os gestos com os quais, no dia-a-dia, as pessoas se reconciliam... (abraços, apertos de mão, olhar, sorriso, presentes...).

É importante a gente sentir e fazer sentir a relação que existe entre os gestos cotidianos, os gestos religiosos e os gestos expressamente sacramentais. É importante valorizar ações simbólicas que estão como que no prolongamento dos sete sacramentos e vice-versa:

• Ligada ao batismo está a aspersão com água (na celebração dominical, nas bênçãos, nas exéquias...)
• Ligado à celebração eucarística está o ágape, ou refeição fraterna.
• Ligados com o sacramento da ordem estão os ritos para reconhecimento de outros ministérios, como ministros (as) extraordinários (as) da sagrada comunhão, ministro (as) do batismo etc.
• Ligadas ao sacramento da reconciliação estão as celebrações penitenciais.
• Ligadas ao sacramento do matrimônio estão as celebrações de bodas, com sua bênção das alianças.

Perguntas para reflexão pessoal ou em grupos:

1. Você já tinha percebido que os gestos e ritos sacramentais tem tudo a ver com nossos gestos e ritos cotidianos?
2. Qual a frase que mais lhe chamou a atenção neste artigo? Por que? Como ela pode lhe ajudar a melhor compreender, celebrar e viver os sacramentos?

4. A LITURGIA COMO REALIDADE SIMBÓLICO-SACRAMENTAL

Sacramentos são liturgia, liturgia é sacramento

Sacramentos são ações simbólico-sacramentais, pelas quais o Cristo Ressuscitado, presente em sua Igreja, nos atinge e nos transforma com seu Espírito vivificante. Por seus sinais sensíveis, quando realizados na fé, trazem presente e realizam em nós aquilo que significam: a salvação, a páscoa, a chegada do Reino, nossa comunhão em Deus.

Acontece que toda essa teologia que encontramos no início da constituição conciliar sobre a Sagrada Liturgia (SC 5-8) não diz respeito somente aos sacramentos, mas à liturgia como um todo. Basta olhar a seqüência dos capítulos da constituição para nos darmos conta disso. Vejam: o capítulo primeiro trata da liturgia em geral (incluindo os sacramentos); os capítulos seguintes tratam de várias celebrações litúrgicas específicas ou de alguns de seus elementos: Eucaristia, demais sacramentos e sacramentais, ofício divino, ano litúrgico, música sacra, arte sacra e sagradas alfaias.

Portanto, não somente nos gestos centrais dos sacramentos Cristo está presente e atua com seu Espírito, mas em todas as celebrações litúrgicas (ofício divino, por exemplo) e na celebração litúrgica como um todo, em todos os seus elementos (assembléia, ministérios, palavra, música, silêncio, gestos e atitudes do corpo, ano litúrgico, espaço sagrado...). Vale a pena reler o n. 7 da constituição conciliar, que fala dessas várias maneiras de Cristo estar presente na liturgia: no ministro da celebração eucarística, no pão e no vinho eucarísticos, nos sacramentos, pela sua palavra, quando a Igreja ora e salmodia:

“Para levar a efeito obra tão importante [obra da salvação], Cristo está presente em sua Igreja, sobretudo nas ações litúrgicas. Presente está no sacrifício da missa, tanto na pessoa do ministro, “pois aquele que agora oferece pelo ministério dos sacerdotes é o mesmo que outrora se ofereceu na cruz”, como sobretudo sob as espécies eucarísticas. Presente está pela sua força nos sacramentos, de tal forma que quando alguém batiza é Cristo mesmo que batiza. Presente está pela sua palavra, pois é ele mesmo que fala quando se lêem as Sagradas Escrituras na igreja. Está presente finalmente quando a Igreja ora e salmodia, ele que prometeu: “Onde dois ou três estiverem reunidos em meu nome, aí estarei no meio deles” (Mt 18, 20)”.

Assim, a liturgia como um todo é celebrado sacramental do mistério pascal de Jesus Cristo. A liturgia como um todo tem força simbólico-sacramental e como tal deve ser celebrada e vivida.

A cada gesto, a cada palavra, a cada olhar..., estamos trazendo presente e atuante (ou não!) o mistério e a força da páscoa de Jesus, que veio para transformar nossas vidas: entrar na igreja, andar, encontrar-se com os irmãos, fazer o sinal da cruz, abraçar-nos uns aos outros(as), beijar o altar, proclamar ou ouvir a palavra, cantar, mergulhar no silêncio, ver as flores que enfeitam o espaço de celebração... Em todos esses gestos e momentos, podemos viver (ou não!) o encontro com o Ressuscitado e, através dele, com o Pai, no Espírito Santo.

Perguntas para reflexão pessoal ou em grupos:

1. Vamos ler juntos e comentar o número 7 da Constituição Sacrosanctum Concilium?
2. Olhando para as nossas comunidades: os sacramentos são valorizados e vividos como ações simbólicas? Como podemos ajudar as pessoas a perceberem esta realidade?

5. NÃO À “SIMBOLOMANIA”

Infelizmente, tanto no estudo da teologia, como na prática pastoral, a liturgia é tratada muitas vezes como se fosse um enfeite, uma parte “externa”, um “embrulho” para a graça sacramental. Não é levada suficientemente a sério enquanto realidade simbólico-sacramental. Os sinais sensíveis, nem mesmo os dos gestos sacramentais, são vividos como ações simbólicas: é água de qualquer jeito; são hóstias que não têm aparência nem gosto de pão e que são entregues sem levar em conta o relacionamento pessoal entre quem dá e quem recebe; é vinho só para os padres; são textos bíblicos lidos de folhetos, são pessoas que estão juntas no mesmo espaço, porém já sem se reconhecerem e sem se tratarem como irmãos e irmãs, como Corpo de Cristo... Caímos no formalismo, no ritualismo, no sacramentalismo, na rotina.

“Simbolomania”

E aí, quando a própria liturgia já não é vivida como ação simbólico-sacramental, surge a necessidade de criar... símbolos! Outro dia, alguém disse que estamos sofrendo de “simbolomania”: queremos “encher” a celebração de “símbolos” (serão, de fato, símbolos? Ou apenas objetos mostrados à assembléia, com longas apresentações, querendo “explicar” o que significam ou “simbolizam”?). Nós nos esquecemos de que a ação simbólica mais central, mais importante, porque mais densa de expressão de nossa fé, é a celebração da Eucaristia (ceia do Senhor). Ao redor dela giram também e participam de sua dimensão sacramental, todos os outros elementos que juntos formam a realidade litúrgica. Portanto, não se trata de nos preocupar em trazer uma série de símbolos e ações simbólicas na liturgia, mas de redescobrir cada gesto, cada objeto, cada pessoa..., dentro da liturgia como ação ou realidade simbólico-sacramental. Trata-se de vivenciar profundamente cada parte da celebração como manifestação, participação e comunhão no mistério revelado em Jesus.

Perguntas para reflexão pessoal ou em grupos:

1. A sua comunidade sofre de “simbolomania”? Caso sim, como remediar?
2. Como sugestão:
• Vamos tentar viver a liturgia, com todos os seus elementos, como ação simbólico-sacramental, começando com a própria Eucaristia e os demais sacramentos e sacramentais.
• Introduzindo outros símbolos ou ações simbólicas, vamos fazer com que estejam integrados no tempo litúrgico, na ação litúrgica que estamos celebrando.


Fonte:
www.cnbb.org.br (Liturgia em Mutirão III)