sábado, 20 de fevereiro de 2010


Os Sacramentos

Pe. Gregório Lutz, CSSp


1. O que se entende por “Sacramento”?

Muitos católicos dizem que os sacramentos são sinais de graça. Alguns dizem com mais precisão que são sinais eficazes de graça. Outros acrescentarão que foram instituídos por Jesus Cristo. E certamente não faltará quem diz que existem sete sacramentos, e os enumera: Batismo, confirmação, eucaristia, penitência, unção dos enfermos, ordem e matrimônio. Mas assim é realmente claro o que é um sacramento?

Para conseguirmos mais clareza, olhemos uma vez como se realiza um sacramento, por exemplo, o batismo, um casamento ou uma celebração da eucaristia! Há sempre um grupo grande ou pequeno de pessoas reunidas que ouvem a Palavra de Deus e a ela respondem em oração e canto, e há sempre também um rito, gestos e sinais, acompanhados por palavras que dizem o que este gesto significa. Tal significado vai sempre além da simples ação física. A ação sacramental opera a salvação, leva a ação salvífica de Cristo aqui e agora a efeito nas pessoas que celebram o sacramento. Esta eficácia dos sacramentos é evidentemente obra divina que se dá através das ações simbólicas dos ministros dos sacramentos, e não sem a cooperação da assembléia dos fiéis e, sobretudo, daqueles que recebem um sacramento. Estes devem se abrir para o dom da graça que Deus lhes quer dar no respectivo sacramento. E toda a comunidade reunida participa da ação sacramental, pelo menos ouvindo a Palavra de Deus e respondendo a ela em ação de graças e louvor, assim como em súplica e intercessão.

A instituição dos sacramentos por Jesus Cristo procurava-se - e muitos ainda procuram - prová-la para cada sacramento do Novo Testamento. Isso é possível para o batismo e a eucaristia, talvez ainda para a penitência; para os outros sacramentos é mais difícil ou impossível. Mas, sobretudo a partir do Concílio Vaticano II, a origem dos sacramentos em Jesus Cristo não se vê como instituição jurídica, mas como um nascimento do próprio Jesus.

Reflexões posteriores mais detalhadas sobre a origem dos sacramentos, sua estrutura em sinais e palavras, e a ação sacramental em conjunto de Deus e da Igreja, nos ajudarão a entender ainda melhor o que é mesmo um sacramento.

Perguntas para reflexão pessoal ou em grupos:
1. Que definição ou descrição de “sacramento” você aprendeu na catequese?
2. Que perguntas esta definição ou descrição deixou em aberto?
3. O que você diria agora em breves palavras, se alguém perguntasse: o que é um sacramento?

2. A origem dos Sacramentos

Geralmente se diz que os sacramentos foram instituídos por Jesus Cristo. No entanto, os evangelhos nos relatam apenas a respeito de dois sacramentos que foram claramente instituídos por Jesus: a eucaristia e o batismo. Na aparição do Senhor ao grupo dos apóstolos na tarde do dia da ressurreição, quando Ele soprou sobre eles e disse: “Recebei o Espírito Santo! A quem perdoardes os pecados ser-lhes-ão perdoados; aos quais retiverdes, ser-lhes-ão retidos”, se vê ainda a instituição do sacramento da penitência.

Poderia-se entender a instituição dos sacramentos como uma ordem, um ato jurídico de Jesus. Mas para podermos afirmar tal instituição dos outros sacramentos não se encontram dados suficientes no Novo Testamento, embora todos os sete sejam de alguma maneira mencionados nos Atos ou em cartas dos apóstolos.

No entanto, a origem dos sacramentos em Jesus Cristo pode ser vista de outra maneira, como de fato vários Padres da Igreja a tem visto e como o Concílio Vaticano II, que também a esse respeito voltou às fontes, reafirmou. Conforme eles, os sacramentos não têm sua origem num ato jurídico de Jesus, mas no seu próprio ser. Como Ele é sacramento do Pai e a Igreja é sacramento de Jesus Cristo, assim a Igreja, o sacramento universal, se desdobra nos sete sacramentos. Eles têm, portanto, sua origem em Jesus, como a Igreja mesma. O Vaticano II diz em sua Constituição sobre a Sagrada Liturgia, a “Sacorsanctum Concilium”, citando Santo Agostinho: “Do lado aberto de Cristo dormindo na cruz nasceu o admirável sacramento de toda a Igreja” (SC 5). A origem da Igreja e, com ela, dos sacramentos, é, portanto, não um mandato jurídico, e sim um ato vivencial Dele, pelo qual o Senhor da Glória se torna e fica presente na Igreja, seu corpo místico, até o fim dos tempos.

O evangelista São João escreve no seu evangelho que Jesus morrendo entregou o espírito. Com isso ele quer dizer mais do que simplesmente afirmar a morte de Jesus. Pelo contexto do quarto evangelho é claro que São João quer dizer que Jesus na sua morte entregou o Espírito Santo e que assim nasceu a Igreja com os sacramentos, particularmente os do batismo e da eucaristia, simbolizados pelo sangue e a água que jorraram do lado aberto de Jesus.

Perguntas para reflexão pessoal ou em grupos:
1. Porque a explicação da origem dos sacramentos aqui apresentada pode satisfazer mais do que a tradicional, que supõe um ato jurídico de Jesus para cada sacramento?
2. Por que os sacramentos podem ser chamados “sinais do amor de Deus”?

3. Os sacramentos como sinais da ação de Deus

Os sacramentos são sinais. Um sinal remete a uma realidade diferente do próprio sinal. Por exemplo, um sinal numa estrada que diz que até uma determinada cidade a distância é de tantos quilômetros, remete a esta cidade. Mas o sinal não é a cidade. Há outros sinais que remetem a uma outra realidade, mas de alguma maneira esta outra realidade já está presente no sinal mesmo. Por exemplo, o respirar de um corpo humano ou de um animal é sinal de que este corpo vive. O sinal do respiro não apenas remete à vida, mas ele mesmo é vida. Tais sinais que remetem e já contêm em si a realidade significada, normalmente são chamados de símbolos.

Devemos ainda lembrar que não somente coisas ou objetos podem ser sinais, mais igualmente gestos e ações. Assim, por exemplo, o sinal ou símbolo principal do batismo não é bem a água, mas a ação que se realiza com a água, o mergulho nela ou o derramamento da mesma. No entanto, os sinais dos nossos sete sacramentos podem ser ambíguos em seu significado. Um mergulho na água pode levar ao afogamento e a morte, mas pode também refrescar e vitalizar o organismo, pode dar a sensação de um novo nascimento. Os sinais e símbolos sacramentais podem ter sua origem em culturas que não são bem conhecidas, como é o caso da unção. Além de ser curativo e servir para fortalecer o corpo, ela pode significar, a partir da sua origem em Israel, a bênção de Deus ou a instituição de um rei ou sacerdote. Por isso que é muito importante a palavra que acompanha um gesto sacramental, porque determina o que ele significa na respectiva ação sacramental.

Na celebração dos sacramentos, além do rito central ou essencial, também outros elementos rituais tem valor simbólico, igualmente os objetos do culto, a assembléia e os ministros, sobretudo os ministros próprios do sacramento e até o espaço no qual se realiza a celebração

Necessariamente coloca-se, neste contexto, a pergunta: Como tais sinais, ações, pessoas e objetos que entram no rito do sacramento, podem ter valor salvífico? Isso é possível porque Deus está agindo nos sacramentos. Ele está presente e agindo na Igreja, da qual os sacramentos são os momentos mais intensos de vida, desde que a Igreja com seus sacramentos nasceu na cruz, quando Jesus entregou o Espírito. Os sacramentos são um prolongamento da presença e ação de Jesus no mundo. A ação de Deus se mostra e realiza não somente pela ação dos ministros da celebração, mas também de todos aqueles que na celebração se abrem para a ação de Deus, em primeiro lugar quem recebe o sacramento. Assim pode-se realizar aquilo que os sacramentos e toda a liturgia visam: levar a efeito a obra de salvação realizada por Jesus, sobretudo na sua páscoa.

Perguntas para reflexão pessoal ou em grupos:
1. Por que os sinais sacramentais não são magia?
2. A quem se deve que os sacramentos levam a efeito a salvação?