sexta-feira, 22 de fevereiro de 2019



DORME, DORME SÃO FRANCISCO
Pe. Cristiano Marmelo Pinto

Dorme, dorme São Francisco.
Dorme, dorme, ó bom pai.
Dorme em paz, dorme sereno,
Dorme o sono que refaz.

Nesta rede que acalenta,
Todo embalo sonhador,
Sonhe a paz tão merecida
Do infeliz e sofredor.

Dorme santo, dorme calmo,
Rodeado de animais.
Gato, cão e todo bicho,
Criaturas que tanto amais.

Dorme, dorme pai Francisco.
É tão bom assim o ver.
Que possamos também nós
O descanso merecer.


O BAÚ CHAMADO CORAÇÃO

Pe. Cristiano Marmelo Pinto

Certa vez ouvi de um amigo a seguinte frase: "Não se sente saudade porque o outro partiu, mas porque permaneceu dentro do nosso coração". O coração é como um baú onde guardamos sentimentos. Por isso a necessidade de se guardar nele os melhores sentimentos possíveis.

Vivemos numa época em que ninguém se importa com o que fala, vê e ouve. Às vezes fala-se demais, sem se importar com as consequências que isso tem na vida dos outros. Justifica-se das mais variadas formas possíveis: “ouvi dizer”, “estão falando por aí”, “falei sem querer”, etc. Mais na verdade tudo é intencional. A porta por onde sai os sentimentos guardados no coração são duas: as atitudes, mas principalmente, a boca. O próprio Jesus diz que: “o homem bom tira coisas boas do bom tesouro do seu coração, e o homem mau tira coisas más do seu mau tesouro, porque a boca fala daquilo de que o coração está cheio” (Lc 6,45).

É preciso cuidar do coração. É preciso guardar coisas boas, sentimentos bons, para que nossa boca fale e nossos atos testemunhem o que temos de bom guardado dentro de nós. O coração é um baú enorme que se dilata para que caiba o quanto for necessário para que ele, o coração, possa pulsar em sentimentos saudáveis, que nos tornam melhores e torna a vida dos outros melhor.

Do coração aberto de Jesus jorrou sangue e água (cf. João 19,34). Estes são dois símbolos da vida. Não há vida sem sangue e muito menos sem água. Dois elementos essenciais para que haja vida. Também nós precisamos abrir o coração para que dele jorrem sentimentos bons que dá vida. Por isso, é importante guardar nesse baú chamado coração coisas e sentimentos bons.

Paz no coração de todos!



O USO INDEVIDO DO NOME DE DEUS

Pe. Cristiano Marmelo Pinto

O segundo mandamento diz: “Não tomar o nome de Deus em vão.” A princípio este mandamento proíbe o uso indevido e o respeito que se deve ao nome de Deus. Também nos proíbe usar o nome de Deus para fazer juramentos. Mas, pode-se usar o nome de Deus em vão de vários modos e não apenas pronunciando seu nome. Também usa-se em vão o nome de Deus quando se vale dele como escudo para disfarçar comportamentos nada cristãos.

Na era das redes sociais é comum as pessoas fazerem postagens sobre Deus, das mais variadas, desde: “Deus guia a minha vida”, “Deus é o Senhor da minha família”, “Deus no comando”, etc., enquanto que o próprio comportamento da pessoa depõe contra o que está dizendo. É indevido o uso de Deus como blindagem de um comportamento incoerente. As redes sociais constituem um meio maravilhoso para a evangelização. Porém, há de se tomar cuidado para que esta evangelização não seja vazia. Fazer citações bíblicas, frases usando o nome de Deus, entre outras, e depois agir de modo contrário é um grave pecado contra o segundo mandamento e também ao dom do temor a Deus, que trata-se do respeito devido a Deus.

Existe pessoas que usam o nome de Deus, citando-o, enviando até em “correntes”, mas a própria pessoa não é capaz de perdoar, julga os outros, não é misericordiosa, não sabe amar como Jesus Cristo mandou. Falar de Deus e se comportar de modo contrário também é usar o nome de Deus em vão. E como tem isso nas redes sociais, infelizmente. Pessoas que dizem amar profundamente a Deus, mas são incapazes de amar o próximo. O próprio Jesus Cristo fala que: “Se alguém disser: amo a Deus, mas odeia seu irmão, é mentiroso” (1Jo 4,20).

Paz no coração!


OLHAR DA JANELA...

Pe. Cristiano Marmelo Pinto


Da janela de meu escritório vejo outras janelas e imagino que também dessas janelas outras pessoas, assim como eu, estejam olhando para o horizonte de muitas janelas, para o horizonte da vida. E vida é imensidão, assim como o horizonte. E cada janela, pequenos pontos nessa imensidão da vida, possivelmente deve haver olhares de admiração, olhares de desejos, olhares de alegrias, olhares de tristezas e tantos outros olhares. Pensar na vida é olhar de uma janela para a imensidão. Olhando para as outras janelas, quanta curiosidade em saber quem estaria ali, o que estaria passando lá dentro, dentro de cada olhar. Olhar para fora é mais simples do que olhar para dentro.

A vida é assim, quando olhamos para fora vemos com facilidade, mas, quando o olhar se volta para dentro de nós mesmos, para dentro do próprio olhar, é desafiador e complexo. Olhar para dentro é poder ver a própria alma, o próprio coração. E não há lugar onde melhor nos escondemos do que dentro de nós mesmos. Desbravar esse interior desconhecido, reconectar-se ao coração é nosso maior desafio. Inevitável certamente. Mais cedo ou mais tarde a vida nos cobra esse olhar interior, essa busca de nós mesmos que tem o poder de nos provocar uma inteireza do ser, de descobrir-se humano e de fazer-se melhor.

O olhar para dentro de nós mesmo deve ser motivado pela mesma curiosidade que nos move ao tentar saber o que se passa dentro de cada janela perdida no horizonte da cidade, no horizonte da vida. É preciso perder o medo de se descobrir como se é, perder o receio de dizer para si mesmo que nos amamos, nos aceitamos e nos respeitamos, pois, cada ser humano foi criado por Deus com uma luz própria, com beleza inigualável e que não corresponde aos padrões impostos pela sociedade, nem por outras razões quaisquer. Se o olho é a porta da alma, é pelo olhar que se deve entrar na própria alma da gente. Mas um olhar invertido, um olhar para dentro. Quem assim faz descobre-se parte de um mundo maravilhoso criado por Deus. E cada um na sua singularidade, na sua diferença, é dom, é pleno da graça. Sortudo não é quem olhou e contemplou uma rosa no jardim, mas quem descobriu essa rosa dentro de si mesmo.

Fico aqui olhando da janela do meu escritório para o horizonte e imaginando a imensidão que há dentro de mim, e que tenho muito para desbravar no meu interior, pois, o que eu sou não está fora de mim, mas dentro. Não sou a roupa que visto, o sapato que calço, o carro que uso. Sou um complexo de perfeições e imperfeições, de virtudes e limites, de fragilidades e fortalezas. Mas só é possível descobrir olhando para dentro, para o horizonte da própria alma.


O AMOR TUDO SUPORTA, EXCETO UMA COISA...
Pe. Cristiano Marmelo Pinto

Há uma espécie rara de amor
que somente poucos alcançam,
embora todos possam alcançar.
Essa espécie de amor tudo suporta,
exceto uma coisa:
ficar longe de quem se ama.

Não é simplesmente um não ter o outro,
mas um amor que não conhece ponto final,
que mesmo a eternidade põe fim.
Poucos alcança a graça de amar assim.
Já vi pessoas que não aguentaram a ausência
do outro-amado e foi atrás na eternidade.
É um amor-eternidade.

O amor-eternidade
é um amor absoluto,
capaz de transpor barreiras
e caminhar por vales e montanhas,
na esperança de alcançar o outro-amado
e dizer-lhe: vamos juntos.
Não quer ficar para trás,
mas também não deseja que o outro vá sozinho.
Este amor parece raro, mais está por aí,
naqueles que se entregam no mais absoluto amor
que deságua da eternidade do ser.

CONSTRUIR MOINHOS DE VENTO

Pe. Cristiano Marmelo Pinto

Uma das coisas mais difíceis em nossa vida são as mudanças. Não sabemos lidar com o fato de que nossa vida muda, tudo muda. Mudar significa deixar para trás e assumir algo novo, outras coisas, outras posturas, um outro modo de ser, uma nova vida. John Kennedy dizia que: “aqueles que apenas olham para o passado ou para o presente irão com certeza perder o futuro”. Quem se apega ao passado, vive se lamentando das coisas ou pessoas que se foram, não se abre para o futuro. Quem fica lamentando ou buscando razões para manter-se no passado, perde a oportunidade de crescer. Nada e ninguém é permanente. Tudo passa e todos mudamos. Segundo Dan Millman: “toda mudança é positiva”. Quando nos permitimos mudar damos um salto para um degrau mais alto na evolução pessoal. Porém, toda mudança vem acompanhada de um certo desconforto, de adaptações e porque não de desistências.

Desistir faz parte do processo de mudança. Desistir do apego ao passado, desistir de coisas e/ou pessoas, de situações e de tantas outras coisas, é necessário para tornar-se livre para caminhar na direção de um futuro completamente novo. Como diz uma certa autora: “há desistências que nos salvam”. O que não se pode é apegar-se ao que já passou e não voltará nunca mais. Na vida temos que aprender a ter duas posturas, embora sejam difíceis: deixar para trás e deixar ir. Quantas pessoas passaram em nossa vida e se foram? Muitas nunca mais voltarão. E o tempo vai nos ensinando a lidar com as ausências, com a saudade. Todos devemos seguir nossos rumos e haverá sempre um momento em que chegaremos em encruzilhadas, onde cada um irá seguir em caminhos diferentes.

Érico Veríssimo fala dos ventos de mudança. Ele diz que: “quando os ventos de mudança sopram, umas pessoas levantam barreiras, outras constroem moinhos de vento”. De fato, quantos levantam barreiras para as mudanças não acontecerem, não se permitindo ao espetáculo da transformação pessoal. Esses não se abrem para o futuro porque preferem a zona de conforto do passado. Lamentam, tornam-se melancólicos, sempre com uma justificativa para não mudar. Mas, há também, aqueles que constroem moinhos de vento. É preciso aproveitar os “ventos de mudanças” para construir moinhos de vento, para construir novas perspectivas, novas possibilidades e fazer um novo caminho. Quando mudamos temos sempre a oportunidade de sermos melhores, mais amadurecidos.

É preciso construir moinhos de ventos, abraçando a possibilidade de um futuro melhor, de uma nova vida. Certamente, algumas coisas e algumas pessoas irão conosco, atravessarão a porta que separa o passado do futuro, para integrar-se conosco nessa nova vida, na nova etapa. Outras deverão permanecer do outro lado, no lado do passado, ficando para trás. Sem esse passo na vida, permaneceremos estáticos e nunca avançaremos no crescimento e amadurecimento enquanto pessoa. Como diz Martha Medeiros: “toda e qualquer mudança é um avanço, um passo à frente, uma ousadia que nos concedemos, nós que tememos tanto o desconhecido”. Quem quer crescer deve mudar. E só muda quem aprende a aproveitar os “ventos de mudanças” para construir moinhos de vento.


A MORTE COMO CONDIÇÃO PARA VIVER
Para que a páscoa aconteça, a morte deve ser completa.”


Falar da morte como condição para viver soa um tanto estranho, visto que, nossa cultura não possui dimensão para a morte. Queremos viver sem perdas. Mas elas fazem parte da vida e são condições para que a vida flua melhor. Quando se diz: “deixa morrer” geralmente se estranha, pois, morte não cheira bem. Ainda mais quando se diz: “sinto cheiro de morte” parece algo aterrorador.

Freud dizia que: “Se quiseres poder suportar a vida, fica pronto para aceitar a morte.” Somos habituados a pensar na morte somente no campo biológico quando fisicamente deixamos de existir. Mas a morte é um processo em nossa vida. A morte leva, desfaz, extingue. E quantas coisas precisam extinguir em nós! Na vida não é possível levar tudo o que vamos adquirindo nessa jornada. Adquirimos experiências boas e ruins. Abre-se feridas que muitas vezes permanecem sangrando. E quem as carrega corre o risco de abraçar definitivamente a dor.

Além das perdas inevitáveis que a vida nos impõe, é necessário que abramos espaço para aquelas perdas que passam pela nossa decisão de deixar para trás. É preciso deixar morrer mágoas, ranços e tantas outras coisas e sentimentos para seguir em frente, não numa sobrevida, mas para viver plenamente. Por isso a morte é condição para viver. Morrer e deixar morrer é parte necessária desse processo. Como diz a música “Perdas necessárias” do Pe. Fábio de Melo: “Deixa partir o que não te pertence mais, deixa seguir o que não poderá voltar, deixa morrer o que a vida já despediu...”

A vida sempre vai além da morte. Morrer não é o fim e nem deixar morrer o que já deveria ter sido enterrado no passado significa que nossa vida acabou. Só pode ressurgir quem permite-se morrer, quem se torna capaz de deixar para traz coisas, situações, sentimentos e até mesmo pessoas. A ressurreição sempre trará coisas novas, uma vida nova que não será mais aquela de antes. Ter a coragem de permitir-se a esse processo é a arte de aprender viver. E só vive quem deixa morrer.

Paz no coração!
Pe. Cristiano Marmelo Pinto