sábado, 2 de fevereiro de 2008

A Caridade Pastoral do Padre Diocesano

A espiritualidade do padre diocesano é um mosaico composto por diversos elementos: a fé, esperança, pobreza evangélica, celibato, a oração, disponibilidade, apostolicidade, opção pelos pobres. Mas dentre todos estes elementos, um é central e se destaca dos demais, dando a todos o seu colorido. Estamos falando da caridade pastoral. É ela quem cria unidade entre todos os elementos acima citados, formando o rosto do padre diocesano. João Paulo II diz que: “O princípio interior, a virtude que anima e guia a vida espiritual do presbítero, enquanto configurado com Cristo cabeça e pastor, é a caridade pastoral” (Pastores dabo vobis - PDV, 23). Ela é central na vida e na espiritualidade do padre diocesano.

Mas o que vem a ser a Caridade Pastoral? É a participação do padre na caridade pastoral do próprio Cristo Pastor. Na vida do padre diocesano, podemos dizer que ela é o amor de Cristo encarnado, prolongado, atualizado no amor concreto do padre em relação à comunidade a ele confiada, onde ele exerce o seu ministério. Não é um sentimento que nasce do temperamento afetivo do padre, mas tem sua origem fundante na própria caridade de Cristo. Ela é o amor primeiro, é uma opção originária que o padre faz por Cristo Pastor. O padre diocesano não está subordinado em sua vida a nenhum outro amor, seja de amizade, sexual, familiar ou político, mas está ligado diretamente ao amor de Cristo por seu povo. Todos os demais interesses e valores do padre diocesano estão sim, subordinados a este amor.

Os destinatários imediatos da caridade pastoral são a comunidade eclesial para a qual o padre diocesano foi designado pelo bispo. A comunidade e cada um de seus membros. Nenhum outro interesse ou opção poderá vir antes desta. Também tem como destinatários a Diocese e a Igreja Universal. O padre diocesano ama sua paróquia, ama a sua diocese e ama toda a Igreja de Cristo com o mesmo amor pastoral.

A caridade pastoral é o amor com o qual o padre diocesano ama sua paróquia e a Cristo Pastor. João Paulo II diz que “é a virtude com a qual imitamos Cristo em sua entrega de si e em seu serviço” (PDV, 23). Existem dois tipos de amor, segundo a psicologia: o amor identificação, com o qual tendemos a apropriar e a encarnar em nosso ser as atitudes, os comportamentos e as opções de quem amamos. E o amor objetal, ou amor adesão, através do qual nos comunicamos com a pessoa amada e nos entregamos a ela e esperamos reciprocidade. A caridade pastoral do padre diocesano está ligada ao amor identificação. Primeiro ele se identifica com a caridade pastoral de Cristo e por conseqüência com sua comunidade. Não é por menos que ouvimos dizer que “a comunidade é a cara do padre”. Mas seria correto dizer que o padre é a cara da comunidade, porque ele, pela caridade pastoral, vai se identificando com a mesma. O amor de Jesus se torna visível por meio do amor do padre por sua comunidade.

Tudo na vida do padre diocesano é direcionado para a caridade pastoral. Suas opções, suas atividades, seu cuidado pelos fiéis, sua vida pessoal, devem ser meios de exercer a caridade pastoral. As predileções, as amizades, as relações inter-pessoais, as ocupações, a forma de vida, tudo deve estar de acordo com as exigências da caridade pastoral. Tudo na vida do padre diocesano terá matizes na caridade pastoral, que fará com que o padre diocesano seja presença viva e atuante de Cristo Bom Pastor, na sua comunidade paroquial. A caridade pastoral vai unificar e potencializar todas as atividades do padre. Todas as atividades pastorais, todas as relações do padre diocesano é expressão da caridade pastoral. Quando faltam estes elementos, há dispersão, desassossego, esterilidade.

A fonte originária e permanente da caridade pastoral é a caridade pastoral de Cristo e o amor de Deus Pai pelo seu povo. Mas a fonte mais próxima é o carisma presbiteral recebido na ordenação. Este carisma nos é dado pelo Espírito Santo para amar pastoralmente a comunidade. Nos faz pessoas diferentes. Graças a este carisma temos a capacidade de investir, cada um com seu temperamento, na comunidade paroquial.

A caridade pastoral encontra seu alimento na Eucaristia. Ela é a atualização da entrega de Cristo ao Pai pela humanidade. Em outras palavras, a Eucaristia é a atualização da caridade pastoral de Cristo. Quando na Eucaristia se diz: “Isto é o meu Corpo que é dado por vocês...”, também o padre diocesano é chamado a dar sua vida, seu corpo pela comunidade. Na Eucaristia temos a oportunidade de vivenciar “in persona Christi”, mas também na própria pessoa do padre, este mistério de amor e entrega da própria vida em favor da comunidade e principalmente em favor dos mais necessitados.

O Concílio Vaticano II, na Presbiterorum ordinis, 13, relaciona as diversas atitudes derivadas da caridade pastoral.

A Abnegação: o amor abnegado do padre diocesano faz com que ele suporte com firmeza a dificuldade, o sacrifício, o sofrimento em seu ministério pastoral. Não deixa que ele desista de seguir vivendo o seu amor pela comunidade.

A Esperança Pastoral: a caridade pastoral permite que o padre não perca a esperança em relação a sua comunidade de fiéis. Quem ama tem esperança em Deus e também em sua comunidade paroquial. “Confiar nas pessoas é a melhor maneira de despertar nelas o melhor e adormecer o pior”.

Atitude Consoladora e Alentadora: o padre diocesano tem a capacidade de consolar e alentar aqueles que vivem em qualquer “aperto”. Pela caridade pastoral o padre estará sempre à disposição para animar os desanimados, estar junto das pessoas abatidas. O padre prestará às pessoas o serviço do consolo e do alento.

Crescimento Pastoral: o padre diocesano deve procurar realizar sua tarefa pastoral sempre com mais perfeição. Guiado pelo Espírito Santo, estará disposto a encontrar novos caminhos pastorais. A Presbiterorum ordinis diz que o desejo de melhorar nosso serviço pastoral deriva da caridade pastoral.

Este é o rosto do padre diocesano que vive integralmente a caridade pastoral. Configura-se com Cristo Bom Pastor e ama com o mesmo amor sua comunidade paroquial, tornando-se presença viva e atuante do próprio Cristo na vida da comunidade e de cada pessoa.