sábado, 26 de dezembro de 2009


A inculturação da liturgia romana
na história da Igreja (I Parte)

Pedro Boléo Tomé

1. A Antiguidade apostólica e o nascimento da liturgia romana

A liturgia cristã nasce e desenvolve-se em estreita ligação e dependência da tradição judaica. Não são abolidos os antigos ritos, ao menos em totalidade, mas outorga-se-lhes um novo significado. O próprio estilo e modo de rezar sofre uma forma de inculturação 1.

A liturgia cristã não nasce, portanto, como algo totalmente novo, mas, sob a orientação do Espírito Santo, desenvolve-se sobre matrizes preexistentes mediante um discernimento: de acolhimento de tudo aquilo que está em harmonia com a tradição apostólica e fiel à história da salvação; de exclusão (ou de purificação) de aquilo que é contrário ao Evangelho e à prática cristã; de reinterpretação, dando aos sinais, ritos e modelos, novos conteúdos e novos significados 2.

Pouco a pouco, fez-se sentir uma certa influência helênica. Com a paz de Constantino (édito de Milão, 313), dá-se um mais aberto contacto com a cultura helênica, atenua-se a oposição aos ritos pagãos e alguns elementos desta tradição são assumidos na liturgia.

Mas olhemos para Roma, pois o presente artigo pretende tratar da inculturação da liturgia romana. A Igreja localizada no território romano começa a ser Igreja Romana. Assumem-se na liturgia e, particularmente, no cerimonial pontifical certos elementos provenientes da corte imperial. A linguagem e os sinais são, no entanto, espiritualizados à luz da Sagrada Escritura e referidos ao mistério de Cristo 3.

Posteriormente, a sociedade sofrerá profundas transformações, no entanto estas insígnias e elementos permanecerão tal como foram assumidos. São institucionalizados e estilizados. Tornam-se, assim, sinais de uma cultura que já não é civil, profana, mas puramente simbólica, «sacra» 4.

Foi tradicional durante muito tempo considerar a existência de uma única liturgia para toda a Igreja, que depois viria a dar lugar às restantes tradições litúrgicas. Atualmente, alguns autores começam a pôr em dúvida essa uniformidade litúrgica dos primórdios da Igreja. No entanto, derivada de uma única liturgia ou não, com o tempo, nas sedes das grandes metrópoles antigas (Jerusalém, Antioquia, Alexandria, Constantinopla, Roma, Milão, Ravena, Aquileia, etc.) nascem tradições litúrgicas, ou também chamadas famílias litúrgicas. A estas sedes estava ligada a memória e a voz autorizada de santos bispos, e deve-se tanto à necessidade de uma adequação a diversas culturas, como à busca de diferentes formas e fórmulas que permitissem conservar inalterada, mais facilmente, a vitalidade da tradição litúrgica 5. Este fenômeno pode ser descrito como sendo simultaneamente de desenvolvimento, adaptação e inculturação.

Tanto a Oriente como no Ocidente, depois de um período de gestação caracterizado por uma incipiente criatividade de textos e da estruturação do tempo litúrgico, passa-se, na tentativa de se adaptar aos novos contextos culturais, a um período de verdadeira e própria criatividade litúrgica, tanto no que diz respeito aos textos, como às estruturas para os ciclos litúrgicos ou para a celebração dos sacramentos, de modo a alcançar a codificação ou cristalização dos tipos de famílias litúrgicas.

Encontramo-nos, portanto, hoje em dia numa situação diferente daquela da antiguidade apostólica. A inculturação que tratamos neste artigo, e que é impulsionada pela Igreja, a partir do Vaticano II, é a inculturação da liturgia romana, e é neste sentido que deve ser entendida. Não tem por objetivo a criação de novas famílias rituais. Por isso, para responder às necessidades de uma cultura determinada, o Concílio Vaticano II abre a possibilidade de adaptar o Rito romano 6, partindo das edições típicas estabelecidas 7. Nesta época inicial começa a desenvolver-se a liturgia romana ou o Rito romano. Foi opinião generalizada durante o século XX por parte dos estudiosos a existência de uma liturgia romana «pura», que teria existido entre os séculos V e VII. Alguns falam especificamente dessa liturgia «pura» e procuram analisá-la 8. Outros, ao tratar a história da liturgia parecem, de alguma forma, partir dessa pressuposição 9. Por fim, surgem ainda autores que preferem falar, mais do que de um momento estático e bem delimitado no qual se formou a «essência» do Rito romano, de um desenvolvimento orgânico de enriquecimento e crescimento progressivo. Neste sentido, a liturgia romana pura nunca teria existido e, se alguma vez existiu, nunca foi igual a si mesma. Isto é, preferem falar de uma liturgia romana em evolução, de uma liturgia que se encontra continua e simultaneamente desenvolvida e em fase de desenvolvimento 10.

Este rito, que talvez nunca tenha existido numa forma «pura», era a liturgia vigente na metrópole de Roma e nas dioceses sufragâneas. Havia substituído uma liturgia em língua grega e comum à cristandade dos primeiros dois ou três séculos. Os Papas Dâmaso (366-384), Inocêncio I (401-461), Gelásio I (492-496), Vigílio (537-555) e Gregório Magno (590-604), são os grandes responsáveis da sua implantação e formação. Com Gregório Magno promove-se a codificação da liturgia e alcança-se uma estrutura fixa em que a criatividade litúrgica é mínima.

2. Período franco-alemão: de Gregório Magno (590) a Gregório VII (1073)

Os livros da liturgia romana passam com relativa rapidez ao território franco-germano e aqui entram em contacto com a liturgia galicana (que existia e florescia já há vários séculos). Inicia-se assim uma múltipla e recíproca penetração.

Já com Pipino difunde-se o sacramentário gelasiano e verifica-se um início de reforma litúrgica. Posteriormente, no séc. IX, o imperador Carlos Magno, com a intenção de unificar o império, recorre à unidade da fé e da liturgia. Para tal, manda trazer os livros da liturgia romana e adapta-os à cultura galicana e, concretamente, à liturgia vigente nesse ambiente. Este período em questão constitui a época da liturgia romana sujeita ao influxo franco-germano. Confrontando tanto com os Ordines Romani originais como com o Pontifical Romano posterior, é fácil reconhecer o tipo de liturgia preferida por estes povos: desenvolvimento riquíssimo, material variado e abundante, estilo novo (mais longo, verboso, e dramático por vezes). O resultado é, portanto, uma combinação harmônica da herança romana antiga (caracterizada pelo equilíbrio, simplicidade, sobriedade, expressão estática) com o vigor dos novos povos (mais dinâmico, expansivo, vital, com tendência por vezes a uma espécie de anarquia) 11.

Por volta do século X sucede um processo similar com os imperadores da Germânia. Neste período Roma está em forte decadência litúrgica e a cúria está sem controlo. Os próprios imperadores, nas suas visitas a Roma, impõem o uso destes livros litúrgicos, outrora romanos, mas agora romano-germanos 12. O caráter simples, sóbrio e prático da liturgia romana cede lugar a uma nova cultura com outro tipo de mentalidade.

Vemos então como, sobre a base da liturgia romana, se adicionaram tradições tanto galicanas como germânicas que, posteriormente, foram introduzidas em Roma como próprias.

Parece conveniente salientar que, durante esta continua evolução, se realizaram inculturações erradas, que foram corrigidas ou eliminadas, em conjunto com as legítimas e verdadeiras, que perduraram 13.

Como a história demonstra, são casos pontuais de inculturações abusivas movidas por finalidades pastorais desviadas que a Igreja corrigiu e rejeitou.



3. De Gregório VII (1073) ao Concílio de Trento (1545)

No século X a vida litúrgica em Roma encontrava-se bastante degenerada e sofre uma influência muito positiva da obra litúrgica dos mosteiros franceses e germanos que, entretanto, tinham chegado a Roma graças aos imperadores. Efetivamente, Cluny, com a sua reforma, constituiu um fundamento seguro para a reforma da Igreja e da liturgia. A liturgia volta a florescer sob o influxo dos Papas da reforma: Gregório VII e Inocêncio III.

Gregório VII protesta contra a destruição da velha liturgia romana e procura restaurá-la. No entanto, ao não conhecer a real situação histórica, instaura e consolida a liturgia romano - franco - germana.

Os Papas ao retomarem o controlo da liturgia romana, põem fim às ingerências imperiais, e é imposto a todos os bispos da Igreja o uso dos livros litúrgicos de Roma. A partir de então, o nascente centralismo romano apenas permite a coexistência das liturgias de Milão e de Espanha. Para tal, a ordem mendicante de S. Francisco de Assis desempenhou um importante papel. Efetivamente, centrada, desde o segundo decênio do séc. XIII, num tipo de apostolado itinerante, constituiu-se em propagadora involuntária de uma forma muito concreta de liturgia romana: a liturgia da cúria romana. A razão é simples, tratava-se de uma liturgia adaptada às exigências dos capelães do Papa, que necessitavam de um ofício mais simples e prático 14, e que, portanto, possuía livros de transporte mais cômodo e de fácil manuseamento. Desta forma, por obra dos frades franciscanos, estas redações práticas e, especialmente, o «Missal» e o «Breviário da cúria romana», correram por todo o mundo, conseguiram uma boa aceitação e, evidentemente, foram copiadas. Assim, os discípulos de S. Francisco, facilitaram à liturgia ocidental uma standartização não só teórico - jurídica, mas sim efetiva.

Se este período se caracteriza pela adesão das dioceses ocidentais à liturgia romana e na progressiva unificação litúrgica, também se adverte que a atitude dos fiéis diante da liturgia se modifica profundamente. A liturgia, ação comum de sacerdotes e povo, parece reduzir-se agora a uma incumbência quase exclusivamente clerical. O povo assiste à missa, mas atento às suas devoções subjetivas, extra-litúrgicas. A assistência contenta-se com «ver», sem participar verdadeiramente, e produz-se uma distancia cada vez maior entre o celebrante e os fiéis 15.
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NOTAS
1. Cf. B. NEUNHEUSER, Storia della liturgia attraverso le epoche culturali, Tivoli 1988, pp. 15-22.
2. Cf. Ibíd., p. 41; A. TRIACCA, Sviluppo - Evoluzione - Adattamento - Inculturazione?, em I. SCICOLONE (ed.), L’adattamento culturale della liturgia, Roma 1993, p. 85.
3. Cf. A. CHUPUNGCO, Liturgia e inculturazione, em A. CHUPUNGCO (ed.), Scienzia liturgica, II, Casale Monferrato 1998, pp. 363 ss.
4. Cf. B. NEUNHEUSER, Storia della liturgia attraverso le epoche culturali, Tivoli 1988, p. 50.
5. No entanto, através destas variadas manifestações continua, no seio dos povos que aderem ao cristianismo, sem variações através dos tempos e dos testemunhos humanos, a única e comum (católica) tradição litúrgica. Da unidade primordial (judaico-cristã) passa-se à pluralidade expressivo-litúrgica. Por outras palavras, a universalidade da tradição litúrgica encarna-se na lei do particularismo das diversas tradições litúrgicas. Cf. A. TRIACCA, Liturgia e tradizione, em A. BERNARDINO (ed.), Dizionario patristico e di antichità cristiane, II, Casale Monferrato 1983, pp. 1980 ss.
6. Cf. CONGREGAÇÃO PARA O CULTO DIVINO E A DISCIPLINA DOS SACRAMENTOS, Instrução Varietates legitimae (25.I.94), 36: AAS 87 (1995) 302.
7. Cf. SC, 38-39. Deve-se respeitar “a unidade substancial do Rito romano” (SC, 38) e partir das edições típicas estabelecidas (SC, 39).
8. Cf. B. NEUNHEUSER, Storia della liturgia attraverso le epoche culturali, Tivoli 1988, pp. 57-74. Este autor descreve desta forma os elementos formais característicos do génio da liturgia romana: “(...) notiamo subito la loro semplicità precisa, sobria, breve, non verbosa, poco sentimentale; la loro disposizione chiara e lucida; la loro grandeza sacra e umana insieme, spirituale e di gran valore letterario” (Ibíd., p. 67).
9. Cf. E. CATTANEO, Il culto cristiano in occidente, Roma 1984, pp. 97-123; M. RIGHETTI, Manuale di storia liturgica, I, Milano 1964, pp. 187-696; T. KLAUSER, Breve historia de la liturgia occidental, Barcelona 1968, pp. 28 ss.
10. Cf. A. TRIACCA, Sviluppo - Evoluzione - Adattamento - Inculturazione?, em I. SCICOLONE (ed.), L’adattamento culturale della liturgia, Roma 1993, p. 73-75.
11. Cf. B. NEUNHEUSER, Storia della liturgia attraverso le epoche culturali, Tivoli 1988, pp. 80 e 84.
12. Cf. T. KLAUSER, Breve historia de la liturgia occidental, Barcelona 1968, pp. 60 s
13. Citamos por exemplo, os casos enunciados por Vogel, como é o caso das missas secas (sem ofertório, nem comunhão, nem cânon), as missas bi-, tri-, quadrifacciatas (vários formulários de missa com apenas um cânon e uma só comunhão), etc. (cfr. C. VOGEL, Introduction aux sources de l’histoire du culte chrétien au moyen âge, Spoleto 1966, p. 136). Neunheuser explica estes abusos como consequência de uma evolução na espiritualidade e na prática pastoral. Começam a celebrar-se muitas missas nas Igrejas, capelas e santuários que se vão construindo. Esta multiplicação parece dever-se a facilitar uma maior participação dos fiéis, no entanto, posteriormente, esta diversificação verifica-se por razões puramente devocionais, privadas, especialmente pelo sufrágio dos defuntos. São necessárias, assim, uma maior quantidade de missas e começa-se a celebrar mais de uma vez por dia. As autoridades eclesiásticas reagem proibindo a binação que, nos séculos X-XI, desaparece. Então, para satisfazer a piedade de muitos que requerem missas por intenções pessoais surgem os abusos antes referidos.
14. Cf. B. NEUNHEUSER, Storia della liturgia attraverso le epoche culturali, Tivoli 1988, p. 104.
15. Ibidem, p. 107.

segunda-feira, 14 de dezembro de 2009


A FORMAÇÃO LITÚRGICA[1]

Ione Buyst

1. Formação litúrgica integral

De 11 a 15 de fevereiro deste ano, a CNBB organizou um seminário sobre pastoral litúrgica. Participaram umas sessenta pessoas (bispos, padres, leigos e leigas, músicos e compositores, arquitetos e arquitetas...) representando vários regionais do Brasil. Aprofundamos os três aspectos da pastoral litúrgica: a celebração, a formação e a articulação (organização). No final do seminário, o ‘grito geral’ foi por mais formação litúrgica em todos os níveis da vida eclesial: do povo, das equipes de liturgia, dos compositores, cantores e instrumentistas, dos arquitetos e outros responsáveis pela organização do espaço litúrgico, das/dos catequistas, das religiosas e dos religiosos, dos diáconos, presbíteros e bispos, dos professores nos institutos de teologia e casas de formação... Ninguém escapa!

Mas, afinal, como devemos entender a ‘formação litúrgica’ e qual o objetivo da mesma? Na ‘carta magna’ da liturgia, a Constituição sobre a Sagrada Liturgia do Concílio Vaticano II, nos nn. 14-18, a formação litúrgica é apontada como uma necessidade para que o povo cristão, povo santo e sacerdotal, possa participar da liturgia. Na liturgia não pode haver ninguém na platéia ou na arquibancada! Liturgia não é espetáculo! A comunidade toda é ‘atora’, ‘jogadora’, agente, sujeito ativo da ação litúrgica! Participar significa tomar parte, atuar na liturgia: reunir-se com os irmãos e irmãs da comunidade para fazer memória de Jesus, ouvindo e meditando a Palavra de Deus, orando, louvando e agradecendo, experimentando a ação de Deus e respondendo a ele, tudo isso com gestos e sinais sensíveis, sinais simbólicos.

Portanto, liturgia tem a ver com ação. Só que o ser humano não é uma máquina! Não pode fazer as coisas mecanicamente, sem pensar, sem sentir! Uma ação humana de verdade envolve o ser humano ‘integral’: corpo, mente, coração. Na liturgia, não basta fazer o sinal da cruz, cantar, entrar na procissão, ‘tomar a hóstia’... É preciso agir e acompanhar esta ação com a mente e o coração; é preciso entender e sentir o que se está fazendo. Como diz o texto da SC: trata-se de uma participação ativa, externa e interna, consciente, plena, frutuosa. Daí a necessidade de uma formação litúrgica ‘integral’, envolvendo todas as dimensões do ser humano e envolvendo todas as dimensões da liturgia: a ação ritual, seu sentido teológico, sua espiritualidade.

Há muita gente formada, muita gente engajada na pastoral litúrgica; há muitos cursos e encontros de estudo sobre a liturgia, mas o resultado não está sendo de todo satisfatório. Em muitos lugares, há muita insatisfação com a maneira como celebramos e com os resultados de tantos cursos e encontros. Por que? Talvez porque na maior parte das vezes ficamos na teoria. Falta-nos integrar na formação a dimensão teologal e espiritual da liturgia. Falta-nos aprender a fazer liturgia, integrando corpo, mente e coração nesta ação. É uma questão de método! Ninguém aprende a cozinhar ou conduzir um carro, ou tocar um instrumento musical, ou jogar futebol sentado num banco de escola, assistindo somente aulas teóricas; assim também com a liturgia! Daí a necessidade urgente de se rever a maneira de ‘dar’ formação litúrgica. Somente com o esforço conjugado de todas as pessoas envolvidas poderemos dar a volta por cima e modificar a ‘cara’ da liturgia. E é bom lembrar: quando falamos de liturgia e formação litúrgica, estamos incluindo a música e a organização do espaço litúrgico.

2. Formação litúrgica autêntica

Os primeiros cristãos eram considerados ateus, gente sem religião, porque não tinham templo, nem altar, nem sacerdócio. Entendiam que era preciso fazer de sua própria vida uma liturgia, da qual eles mesmos/as eram, em Cristo e no Espírito, o templo, o altar, o sacerdócio. Assim, a liturgia cristã autêntica é a vida vivida no amor e no Espírito de Cristo, em todos os momentos de nossa vida, no serviço (‘leiturgia’!) a Deus e aos irmãos e irmãs, no trabalho incansável pelo Reino, até a doação da própria vida se for preciso, tendo como exemplo o próprio Jesus. “Prova de amor maior não há que doar a vida pelo irmão...” (Cf. Jo 15,13).

Mas, como fica, então, a celebração litúrgica? Não serve para nada? Claro que sim. Mas é preciso equilibrar as duas coisas. Liturgia-celebração e liturgia-vida se relacionam como a última ceia de Jesus de um lado e de outro lado sua missão messiânica no meio do povo e sua morte de cruz como conseqüência desta missão. Uma não existe sem a outra. A última ceia foi um gesto simbólico no qual Jesus nos faz compreender o sentido de sua vida e de sua morte. Sem sua vida de doação e sua morte real, a ceia perderia seu sentido. Assim também a nossa liturgia: se não vivermos no dia-a-dia aquilo que celebramos, de nada vale a celebração. A liturgia-celebração sem a liturgia-vida é como aquela casa construída sobre a areia: ‘caiu a chuva, vieram as enxurradas, sopraram os ventos (...) e a casa caiu. E foi grande sua ruína” ). De nada adianta chamar ‘Senhor, Senhor!’ É preciso por em prática a palavra do Senhor. (Cf. Mt 7,21-27; Lc 6,46-49).

De outro lado, a liturgia-vida sem a liturgia-celebração carece de referências. É na liturgia-celebração que a comunidade reunida encontra o sentido atual para sua ação. Alimenta-se no encontro com o Cristo Ressuscitado, na escuta e interpretação da Palavra, no memorial da celebração eucarística; no louvor e na intercessão da liturgia das horas. Em cada celebração litúrgica une-se mais profundamente a Cristo, no Espírito Santo, renovando seu compromisso de viver a serviço do Reino de Deus, de organizar de uma sociedade justa, fraterna, igualitária de modo a eliminar a fome, a miséria, a exclusão, o ódio, a vingança, as guerras...; de fazer valer a lei do amor e do serviço, incluir os excluídos, salvar vidas, salvar o planeta; impregnar nossa própria vida e a sociedade com os valores evangélicos, tão contrários a certos ‘valores’ apregoados pelo mundo dos negócios, da política, da propaganda comercial.

Celebrações litúrgicas que não tem por base e fundamento este compromisso, não é liturgia cristã de verdade, não é liturgia autêntica. Uma formação litúrgica que se preocupa apenas com o aspecto celebrativo, sem a referência à vida vivida como liturgia, não é uma formação litúrgica cristã autêntica.

3. Formação litúrgica teologal

Para conhecer e compreender a liturgia, é preciso saber ver para além daquilo que se vê, ouvir para além daquilo que é falado e cantado, saborear além daquilo que é servido. É que ‘liturgia’ é um acontecimento teologal: Deus vem ao nosso encontro e nos atinge de cheio com sua palavra e sua ação transformadora, por meio das ações rituais, simbólico-sacramentais. Olhemos hoje mais de perto este lado ‘escondido’ da liturgia, o ‘mistério’ que nela celebramos, aquilo que Deus - Pai, Filho, Espírito Santo - realiza em nós, conforme nos ensinam os textos litúrgicos, tirados das sagradas escrituras ou nelas inspiradas.

Fomos batizados/as na água da fonte batismal. São Paulo nos fala do sentido ‘escondido’ deste nosso batismo: “Fomos sepultados com ele [Cristo] na sua morte, para que, como Cristo ressurgiu dos mortos para a glória do Pai, assim também nós vivamos uma vida nova. Se nos tornamos o mesmo ser com ele por uma morte semelhante à sua, o seremos igualmente por uma comum ressurreição” (Rm 6). Somos assim, para sempre, destinados/as a carregar em nós as marcas da morte e da ressurreição de Cristo e de viver de acordo com esta realidade.

Fomos confirmados/as com o óleo do santo crisma e a imposição das mãos do bispo. As palavras que acompanham esta ação nos ensinam a realidade ‘escondida’ que acontece conosco: “Receba, por este sinal, o Espírito Santo, dom de Deus.” A partir deste momento, somos destinados/as a viver de acordo com este Espírito.

Celebramos juntos e juntas a liturgia eucarística em volta da mesa com pão e vinho; e, bem no coração desta liturgia, depois da narrativa da última ceia, cantamos: “Anunciamos, Senhor, a vossa morte, e proclamamos vossa ressurreição. Vinde, Senhor Jesus!” Eis, de fato, o ‘mistério de nossa fé’, o sentido escondido, a realidade sacramental. Pela ‘memória’ litúrgica, pela ação do Espírito Santo, acontece em nós aquilo que celebramos: juntos participamos da morte e ressurreição de Jesus, enquanto esperamos a plena realização de seu Reino entre nós. Comungando do Pão e do Vinho sobre a qual foi pronunciada a ação de graças e invocado o Espírito Santo, somos feitos um só Corpo em Cristo morto e ressuscitado.

‘Mistério da fé!’ Em que consiste, pois, ‘nossa fé’? Não se trata simplesmente de uma atitude religiosa, reverente, para com o mistério da vida. Isso é importante, mas não basta. O ‘mistério da fé’ proclamado na liturgia cristã, refere-se à ‘fé’ recebida dos apóstolos e transmitida de geração em geração. É sintetizada no ‘Creio...’. Expressa nossa aceitação, nossa adesão à pessoa de Jesus, reconhecido com o revelador de Deus, e adesão ao projeto do Reino de Deus que ele veio proclamar e inaugurar, como relatam os evangelhos. E isso só é possível, porque o Espírito de Deus, que nos foi dado, nos ajuda a compreender e viver aquilo que cremos. Ele nos transforma gradativamente em gente renovada, gente que sabe interpretar os sinais da presença de Deus no dia-a-dia e que dá testemunho do amor de Deus pelo seu modo de viver e atuar na sociedade.

Liturgia é uma ação ritual, expressão simbólico-sacramental de nossa fé. É o ‘mistério de nossa fé’ como que ‘escondido’ nos ‘sinais sensíveis’ da celebração litúrgica. Não basta participar ‘exteriormente’, é preciso deixar-se transformar interiormente pela ação do Espírito do Cristo Ressuscitado, que atua nas ações litúrgicas.

4. Formação litúrgica espiritual.

Todas as celebrações litúrgicas são 'ações rituais', simbólico-sacramentais, que vem carregadas de uma profunda realidade teologal. Por isso, a formação litúrgica deve se preocupar com a ritualidade e com teologia litúrgica. Mas não basta. Devemos abrir caminhos para que as pessoas aprendam a 'beber' da liturgia como sendo fonte da vida espiritual cristã. Por que? Para nós, cristãos, 'vida espiritual' é 'vida no Espírito de Jesus Cristo'. E este Espírito nos é dado, ele é dom do Pai. Mas, onde nos é dado o Espírito de Jesus Cristo? O lugar principal, a fonte 'primeira e necessária' (SC 14), são as celebrações litúrgicas: o batismo, a confirmação, a eucaristia, a celebração da palavra, o ofício divino, o ano litúrgico, as bênçãos, etc... (contanto que sejam, de fato, celebradas com qualidade espiritual, e não como puro formalismo!). E como funciona isso? De que forma temos acesso a este dom do Pai? Não basta simplesmente 'assistir' às celebrações litúrgicas; é preciso abrir nosso próprio espírito para receber o Espírito de Jesus Cristo, o Espírito de Deus. É preciso prestar atenção a cada gesto, cada palavra..., participar corporal e espiritualmente. Pois é! Esta é a característica da espiritualidade litúrgica: ela passa pelo corpo, atento e sensível. As ações litúrgicas são ações do próprio Cristo e de seu Espírito para nos fazer parte de sua vida, para vivermos constantemente em comunhão com ele e com o Pai. Voltando à imagem da fonte: pela participação corporal-espiritual na liturgia, 'bebemos' o jeito de ser de Jesus, sua relação com o Pai e com o povo, sua entrega radical a serviço do Reino e nos deixamos 'moldar' por ele mediante o encontro com os irmãos e irmãs, os salmos, as orações, a escuta e interpretação das leituras bíblicas, as ações simbólicas, a música ritual, o espaço litúrgico... Somos assim como que 'encharcados' pelo Espírito de amor que nos leva a viver em união com Jesus, continuando em nossa história atual a missão dele, abrindo espaço para a vinda do Reino de Deus em todas as realidades de nossa vida pessoal e social. Portanto, nada de confundir 'Espírito Santo' e 'espiritualidade' com intimismo ou sentimentalismo. Interioridade, sim; intimismo, não. Afeto e sentimento, sim; sentimentalismo, não.

E por falar em interioridade: é uma dimensão do ser humano muito esquecida hoje em dia. Muita gente perdeu (ou nunca teve) contato com seu 'eu' mais genuíno, mais profundo, onde nos aguarda Deus, o Mistério. O que podemos fazer para crescer em interioridade? Algumas coisas bem simples podem ser um bom começo: 1- Aprenda a respirar conscientemente, profundamente, prestando atenção a cada inspiração e expiração, 'conectando' com Deus, lembrando que nosso 'sopro' é símbolo do próprio Espírito de Deus que anima todo o nosso ser. 2- Sempre que puder (no ônibus, no metrô, antes de levantar ou se deitar, nos intervalos...), pare, fique em silêncio, olhe para dentro de si e 'pense na vida', sinta-se em comunhão com as outras pessoas, com as árvores, as flores, os pássaros, as estrelas... e com Deus! 3- Adquira o hábito de fazer um ou dois momentos de meditação a cada dia, com um texto bíblico (leitura orante) ou simplesmente repetindo, de coração, uma invocação bíblica, como por exemplo, Maranatha (Vem, Senhor Jesus!), ou Senhor Jesus, tem compaixão... Fazendo assim, o Espírito Santo encontrará a porta aberto para nos atingir profundamente, em nossa interioridade, como discípulos/as, para depois nos 'lançar' como missionários/as, para fora, na sociedade, no mundo, na busca de uma maneira mais solidária e igualitária de se organizar a sociedade.

5. Formação litúrgica mistagógica

'Mistagogia' vem de uma composição de duas palavras gregas: 'myst- ' e 'agogein'. É uma palavra que indica uma prática muito antiga, redescoberta recentemente: guiar para dentro do mistério.

Antes de tudo, é a própria liturgia que nos guia para dentro do mistério que celebramos. Pela participação na ação ritual somos introduzidos/as, iniciados/as, mergulhados/a no mistério. A liturgia nos leva à experiência da fé através da participação nos 'ritos e preces' (Cf. SC 48). Todos os elementos e o dinamismo das celebrações (eucaristia e outros sacramentos, palavra, ofício divino...) nos levam à participação no mistério da vida, morte e glorificação de Jesus, o Cristo. Ajudam-nos a nos identificar com ele nas inúmeras atividades do dia-a-dia, nas escolhas decisivas que temos de fazer em determinados momentos, nas encruzilhadas da vida em que tudo nos parece obscuro e incompreensível, sem saída, sem perspectivas, assim como nos momentos de certeza, de júbilo, de paz, de alegria, de doação, de entrega. Uma palavra das escrituras, um aperto de mão ou um abraço, o versículo de um salmo, um gesto de oração, a água benta respingando em nós, a luz de uma vela acesa, o cheiro do incenso e sua subida para o alto, a luz do sol que passa persistente por uma fresta da porta ou da janela, as palavras ou o gesto da bênção, um profundo silêncio, uma aclamação vigorosa, um abraço verdadeiro de reconciliação, o Pão e o Vinho partilhados, a unção com o crisma ou com o óleo dos enfermos... tudo isto pode se tornar para nós um momento de descoberta, de revelação da profundidade do amor de Deus e do sentido de nossa vida e de nossa morte, de nossos encontros e desencontros, de nossas alegrias e tristezas, de nossas esperanças e desilusões... Tudo isso pode aprofundar nossa opção por ele, pelo caminho do seguimento e da missão em seu nome, na fidelidade a todo custo.

Mas é preciso que alguém nos ajude a perceber o caminho da participação espiritual, integral, de corpo, mente, coração, rumo ao mergulho no encontro com o Transcendente, com Deus, com o Cristo em sua morte-ressurreição, na profundidade da experiência ritual. A catequese mistagógica nos oferece os elementos para podermos entender, intuir o que acontece conosco na ação ritual. Trata-se de ajudar na simbolização, guiar na passagem do sinal material, ‘significante’ (objeto, gesto, leitura, ação ritual), para a realidade teologal-espiritual significada e realizada pelo sinal, fazendo referência à história da salvação (experiências de vida vividas na fé). Aí entram a familiaridade com a Sagrada Escritura e o aprofundamento teológico, que culmina no encontro pessoal com Jesus Cristo, no momento atual, existencial de nossa vida pessoal, comunitária, social. A mistagogia nos leva a uma conversão da interioridade, uma adesão existencial à pessoa de Jesus Cristo e não apenas intelectual ou moral. E esta adesão nos leva a uma atitude ética, um modo de vida de acordo com o evangelho de Jesus Cristo.

Há pelo menos três instâncias nas quais deveríamos receber uma formação mistagógica: no catecumenato e na catequese, nas reuniões de preparação das celebrações (equipes de liturgia, ensaios dos ministros da música ritual), nos cursos de formação litúrgica. Além disso, não nos esqueçamos da importantíssima dimensão mistagógica da homilia.

6. Educar para a ritualidade.

Toda a vida do ser humano é fortemente marcada por ritos. São ações simbólicas que expressam o sentido da vida. Há ritos para os momentos marcantes da vida: o nascimento, a passagem para a adolescência, o casamento, um aniversário, a doença, a morte... E estes ritos são diferentes de acordo com cada grupo humano ou cada cultura, porque expressam a maneira daquele grupo ou daquela cultura entender a vida, o mundo, a morte... Os ritos servem também para passar este sentido para as novas gerações, garantindo a continuidade. Assim, cada cultura tem suas regras para comer, cumprimentar, se vestir. Cada povo indígena tem sua maneira de caçar, iniciar, dançar, enterrar seus mortos. Cada região do país conserva ritos característicos próprios. Cada time de futebol tem sua bandeira, sua camisa, seus slogans. Cada tradição religiosa tem suas rezas, suas músicas, suas danças que expressam seu senso do sagrado. Também nós, cristãos, temos ritos para expressar nossa fé, nossa relação com o sagrada, com Deus.

Normalmente, as novas gerações recebem a tradição ritual dos ‘velhos’, ‘anciãos e anciãs’, da geração anterior. O problema é que séculos de racionalismo e tecnicismo ‘vacinaram’ contra os símbolos, os mitos e os ritos, por considerá-los ultrapassados, não ‘científicos’. E agora, são poucas as pessoas capazes de realizar e ‘curtir’ um rito, sentir prazer, vivê-lo em profundidade, deixando-se atingir por inteiro. Sobrou um frio ritualismo: liturgias realizadas de modo formal, sem alma, sem coração, sem prazer e até sem entendimento. Daí a necessidade de reaprender, de educar para a ‘ritualidade’ da liturgia, para a capacidade de viver as ações rituais ‘na inteireza do ser’.

Podemos aprender com quem não perdeu ou recuperou a sensibilidade ritual: povos indígenas, grupos de afro-descendentes, devotos da religião popular e até com atitudes espontâneas da vida cotidiana. Um dia observei uma mãe que estava com o filho bem pequeno no braço, diante do crucifixo. Ela apontou o dedo para o crucifixo e disse: ‘Olhe aí! É Jesus!’. A criança olhou, espichou o bracinho, e a mãe se aproximou mais para que ele pudesse tocar na cruz. Depois ela disse: ‘Jesus gosta muito de você, gosta da mamãe, gosta de papai... Jogue um beijinho para Jesus.’ Neste quadro tão familiar, tão simples, encontramos os três ‘ingredientes’ que compõem a receita da formação para a ritualidade: fazer um gesto para alguém, saber o que significa, ser movido/a por um afeto.

Em casa, na catequese, nos encontros e cursos de formação litúrgica, devemos oferecer momentos de aprendizagem, simples e profundos, dos gestos rituais com os quais nos relacionamos com Deus, consciente- e ‘amorosamente’: entrar na igreja, inclinar-se diante do altar, acender uma vela, benzer-se, cruzar as mãos em prece, andar em procissão, cantar, escutar uma leitura bíblica, ficar de pé, beijar a Bíblia, ficar sentado, orar em silêncio, fazer uma prece, acompanhar a oração eucarística, partilhar um pedaço de pão, comer o pão, estender a mão para receber o copo, beber e passar o copo para outra pessoa, abraçar alguém desejando-lhe a paz, inclinar a cabeça para receber a bênção, despedir-se...



[1] Texto extraído de Liturgia em Mutirão II, edições CNBB.

A LITURGIA FORMADORA
DE MISSIONÁRIOS
DE JESUS CRISTO[1]

Dom Manoel João Francisco
Bispo de Chapecó


1. A liturgia e a missão

Todos sabemos que a missão antes de ser um "fazer" é um "receber". Se cremos que, como nos ensina o Concilio Vaticano II, "a liturgia é o cume para o qual tende toda a ação da Igreja" (SC 10), ou seja, a liturgia é o ponto alto de todo trabalho missionário, também cremos que a mesma liturgia é primordialmente fonte de toda a vida cristã (LG 11), fonte da santificação dos homens e da glorificação de Deus (SC 10), fonte e ápice de toda evangelização (PO 5) e que cada vez que comemos do pão e bebemos do cálice, anunciamos a morte do Senhor até que ele venha (cf. 1Co 11,26).

"A missão da Igreja está em continuidade com a de Cristo: 'Como o Pai me enviou, também eu vos envio' (Jo 20,21). Por isso, a Igreja tira força espiritual de que necessita para levar a cabo sua missão da perpetuação do sacrifício da cruz na eucaristia e da comunhão do corpo e sangue de Cristo. Deste modo a eucaristia apresenta-se como fonte e simultaneamente vértice de toda evangelização, porque seu fim é a comunhão dos homens com Cristo e, nele, com o Pai e com o Espírito Santo" (Carta Encíclia de João Paulo II, Ecclesia de Eucharistia, 22).

Assim, a comunidade cristã de Antioquia envia seus membros em missão: depois de ter jejuado, rezado e celebrado a Eucaristia, ela faz notar que o Espírito escolheu Paulo e Barnabé para serem enviados (cf. At 13,1-4).

Da liturgia, portanto, enquanto irrupção gratuita de Deus, nasce a força e o dinamismo missionário da Igreja, como muito bem intuiu o primeiro documento do Concílio Vaticano II, a Constituição sobre a Sagrada Liturgia em seus parágrafos iniciais. "O Sacrossanto Concilio propõe-se [...] promover tudo o que conduz ao chamamento de todos ao seio da Igreja. Por isso julga ser seu dever cuidar de modo especial da reforma e do incremento da Liturgia".(SC 1)

"Por isso, enquanto a Liturgia cada dia edifica em templo santo no Senhor, em tabernáculo de Deus no Espírito aqueles que estão dentro dela [...], ao mesmo tempo admiravelmente lhes robustece as forças para que preguem Cristo. Destarte ela mostra a Igreja aos que estão fora como estandarte erguido diante das nações, sob o qual se congreguem num só corpo os filhos de Deus dispersos, até que haja um só rebanho e um só pastor" (SC 2).

A presença pascal de Cristo comporta sempre um duplo aspecto: ao mesmo tempo que é uma boa notícia, também é um envio em missão. Assim o mesmo Cristo que diz aos discípulos, trancados numa casa, com medo: "a paz esteja com vocês", também diz simultaneamente "como o Pai me enviou eu os envio" (Jo 20,21). Os dois aspectos são indivisos. O Ressuscitado se manifesta, mas não é retido. À Madalena pede:

"Não me retenhas, [...]. Vai, porém a meus irmãos [...]. Maria foi então anunciar aos discípulos que vira o Senhor, narrando-lhes as coisas que ele lhe tinha dito” (cf. Jo 19,17-18). Aos discípulos de Emaús se tornou invisível, depois de ter-lhes aberto os olhos, fazendo-os voltar para Jerusalém a fim de anunciar que tinham reconhecido o Senhor na fração do pão (Lc 24.33-35). Tal como o anjo que anuncia a ressurreição, a liturgia refere-se sempre a um outro passo: "ide contar aos discípulos que ele ressuscitou dos mortos, e que vos precede na Galiléia. Ali o vereis" (Mt 28,7).

São Paulo define sua ação missionária de anunciar o Evangelho com verbos litúrgicos, a saber, prestar culto e fazer memória. Esta memória de que fala São Paulo, segundo os exegetas, deve ser colocada na linha da anámnesis litúrgica e significa a memória da obra salvífica de Deus que se faz presente em cada liturgia que celebramos. "Deus, a quem presto um culto espiritual, anunciando o evangelho de seu Filho, é testemunha de que, em minhas orações, faço memória de vós continuamente" (Rm 1,9-10). Outro texto paulino em que a relação entre liturgia e missão aparece de forma muito clara é Rm 15,15-16:

"Em alguns trechos desta carta eu vos escrevi com certa ousadia, a fim de vos reavivar a memória, em virtude da graça que Deus me deu: a graça de ser ministro de Jesus Cristo junto aos pagãos, prestando um serviço sacerdotal ao evangelho de Deus, para que os pagãos se tornem uma oferenda bem aceita, santificada no Espírito Santo".

Neste texto a vocação missionária é descrita como a graça de ser ministro (liturgo) de Jesus Cristo entre os pagãos, exercitando o ofício sagrado do evangelho de Deus, para que os pagãos se tornem uma oblação agradável, santificada, pelo Espírito Santo. Como se pode ver, aqui, "a evangelização é função litúrgica, sagrada e, com sua conversão a Cristo, os que se convertem, tornam-se oferta santificada pelo Espírito e aceita a Deus"[2].

2. A liturgia: fonte de espiritualidade do missionário

A uma Igreja que caminha e que se põe na estrada, tal como os discípulos de Emaús (Lc 23,13-35), a liturgia oferece três experiências marcantes que alicerçam e fundamentam a missão:

a) A experiência propriamente eclesial de reunir-se com os irmãos e as irmãs na fé, de acolher e ser acolhido, de reunir-se em nome de Cristo. Por mais solitário que possa estar, ou por mais árdua que possa ser sua missão, o cristão missionário reporta-se sempre a uma comunidade que o sustenta;
b) A experiência de aprender a Palavra de Deus de forma que o coração se abrase, numa nova estruturação de sentidos, capaz de integrar o sofrimento, a dor e a morte. O missionário sabe que na base de sua missão está uma Palavra - ou melhor, está a Palavra - que o envia e o convoca;
c) A experiência da fração do Pão e do reconhecimento da presença do Cristo, como memória explícita e reconhecimento expresso de sua aliança conosco. O dinamismo missionário da Igreja não nasce da vontade dos homens que decidem fazer-se propagadores de sua fé. Nasce do Espírito que atua nas celebrações litúrgicas. A missão não é nunca proselitismo ou mero serviço humano, mas decorre sempre da aliança que se constitui e se estrutura na eucaristia e no partir do pão que é o próprio Cristo.

"Terminada a assembléia, o discípulo de Cristo volta a seu ambiente cotidiano, com o compromisso de fazer, de toda a sua vida, um dom, um sacrifício espiritual agradável a Deus (cf. Rm 12,1). Ele sente-se devedor para com os irmãos daquilo que recebeu na celebração, tal como sucedeu com os discípulos de Emaús que, depois de terem reconhecido Cristo Ressuscitado na 'fração do pão' (cf. Lc 24,30-32), sentiram a exigência de ir imediatamente partilhar com seus irmãos a alegria de terem encontrado o Senhor" (João Paulo II, Carta Apostólica sobre o Domingo, Dies Domini 45).

Afirma ainda o mesmo Papa na Carta Apostólica Mane Nobiscum Domine:

"O apóstolo põe em estreita inter-relação o banquete e o anúncio: entrar em comunhão com o Cristo no memorial da Páscoa significa ao mesmo tempo experimentar o dever de tornar-se missionário do acontecimento que esse rito atualiza. A despedida no final de cada missa constitui um mandato, que impele o cristão para o dever de propagação do Evangelho e de animação cristã da sociedade" (24).

3. Os desafios para a liturgia a partir da missão

Para ser sentida e vivenciada como formadora de missionários de Jesus Cristo, a liturgia precisa ser aquilo que ela é: liturgia.

Com freqüência, aproveitam-se as celebrações para fazer campanha missionária. A liturgia, no entanto, não deveria ser ocasião de campanha missionária. Ela, em si, é fonte de missão. Mas aí é que reside o desafio. Para ser fonte de missão, a liturgia antes de tudo precisa ser lugar de experiência de Deus, que como Pai, por Cristo, no Espírito Santo acolhe e reúne seus filhos e filhas como comunidade de irmãos e irmãs e não apenas como justaposição de crentes. Deve permitir uma leitura cordial e vivificante da Palavra de Deus, mais do que doutrinária e moralista. Deve ser a renovação da aliança que acolhe o projeto vivificador e libertador de Cristo, mais que uma simples devoção ou ato piedoso.

A liturgia só será plenamente missionária se for plenamente liturgia, ou seja, se for experiência densa e transformadora de Cristo ressuscitado, a exemplo das primeiras comunidades que a cada dia viam o número de fiéis crescer porque "dia após dia, unânimes, mostravam-se assíduos no Templo e partiam o pão pelas casas, tomando o alimento com alegria e simplicidade de coração. Louvavam a Deus e gozavam da simpatia de todo o povo" (At 2,46-47).

O tempo depois do Concílio foi marcado pelo esforço da Igreja de responder a este desafio. Por isso, procurou inserir-se profeticamente na transformação social, política e cultural do continente, mergulhando solidariamente na defesa dos pobres. Medellín colocou a liturgia no centro dessa missão na história do povo, ligando liturgia e vida, celebração e compromisso histórico, afirmando que “a celebração litúrgica coroa e comporta um compromisso com a realidade humana”(Medellin 9,4). Puebla assumiu o maior entrosamento que começou a existir entre formas litúrgicas tradicionais e a piedade popular (cf. Puebla 465). Santo Domingo quis assumir uma liturgia em total fidelidade ao Concílio Vaticano II, bem como recuperar a adoção de formas, sinais e ações próprias das culturas da América e Caribe (cf. Santo Domingo, 53).

Apesar de orientações tão claras e firmes, sem desconsiderar os grandes avanços, a liturgia ainda tem diante de si muitos e sérios desafios:

a) Desafio proveniente da cultura das grandes cidades. O ritmo de vida de nossas cidades induz as pessoas ao stress, à pressa, ao secularismo, ao anonimato, à dispersão familiar, a o lazer pelo lazer nos fins de semana. Essa situação com certeza vai exigir muita criatividade em termos de espaço celebrativo, locais, horário e duração das celebrações, linguagem, acolhida, critérios de pertença à comunidade, bem como o processo de iniciação e formação litúrgica. Ainda, nas grandes cidades, em suas periferias, além do individualismo, do anonimato, da privatização da vida espiritual, vamos encontrar sérios problemas sociais (fome, doenças, violência, desemprego...). A prática da partilha de alimentos, os mutirões para construção de casas, a preparação de festas da comunidade, a visita aos doentes em equipe, o serviço organizado aos pobres são forças que levam à quebra do individualismo. A liturgia só será eficaz, se engajar a comunidade neste processo, como fundamento e conseqüência da celebração. A fonte renovadora da nossa liturgia, sob a ação do Espírito Santo, vem dos pobres, das suas lutas, das suas experiências de Deus, dos seus compromissos com a solidariedade e dos seus sofrimentos.
b) Desafios de uma perigosa tendência que centraliza a liturgia na pessoa do ministro ordenado e pede cautela para expressões tais como “comunidade celebrante” ou “assembléia celebrante”. Por trás deste desafio está uma visão muito estreita do ministério ordenado, um medo infundado de perder o poder e uma concepção errada do verdadeiro sentido da assembléia como sujeito da ação litúrgica. É o desafio mais conflitivo no momento. A saída será um grande mutirão de informação e formação em todos os níveis sobre o significado de Igreja Povo de Deus, sobre o sentido da participação do povo sacerdotal e da teologia dos ministérios litúrgicos.
c) Desafios que vêm da visão angelical, desligada do mundo e da história, onde a participação nas celebrações litúrgicas é o momento de abstrair-se das lutas do dia-a-dia, transportando-se para uma realidade etérea e alucinante, totalmente contrária a natureza da liturgia. A celebração deverá recuperar a ligação da vida com a liturgia, celebrar o mistério pascal de Cristo presente e em realização na vida do povo (Ver Animação da Vida Litúrgica no Brasil, doc. 43 da CNBB, nn. 55 e 157).
d) Desafios que vêm da visão que privilegia apenas a ótica da política ou do compromisso social. Sem dúvida, a liturgia é práxis, mas é também festa, gratuidade. Limitar a celebração a um protesto, a uma campanha de conscientização significa adulterá-la. Por isso a ação litúrgica cuidará de unir verticalidade com horizontalidade na celebração, dando prioridade a dimensão orante, de modo que a assembléia se una a Deus e a Cristo e se sinta ungida e urgida a assumir o compromisso profético de transformação das estruturas injustas.
e) Desafios que vêm da pouca formação teológica e a quase completa falta de iniciação aos ritos e ao sentido da celebração, gerando uma mentalidade rubricista, preocupada em assegurar a validade das ações rituais. Para conseguir a participação consciente e frutuosa dos participantes a liturgia terá que fundamentar teologicamente em que consiste a natureza da celebração cristã e, ao mesmo tempo, encontrar um jeito simples de celebrar com o povo, valorizando suas aspirações e investindo numa acolhida calorosa e no emprego de uma linguagem acessível. Os ritos fechados em si mesmos nada dizem. Devem estar relacionados e em íntima conexão com o mistério celebrado. Aqui falta a verdadeira teologia do que seja uma celebração do mistério pascal de Cristo e sua relação profunda com o hoje da história das pessoas e das comunidades.
f) Desafios provenientes do descuido com a formação litúrgico-musical do clero, dos religiosos e demais agentes de pastoral. Em conseqüência, encontramo-nos diante de situações pastorais preocupantes, como por exemplo, o inadequado exercício do ministério litúrgico do canto nas "missas show" transmitidas por alguns canais de televisão, além da divulgação de produções musicais de baixa qualidade e quase sempre não condizentes com a natureza da liturgia.
g) Desafios que vêm do uso indiscriminado dos meios de comunicação social pela liturgia. A espetacularização e a mercantilização tendem a fazer das celebrações objeto de mercado e concorrência. O problema é muito sério. Os ritos não são feitos para serem assistidos, mas participados. Diferente da TV que produz espetáculos para serem assistidos, a ação ritual não se deixa assistir. É um evento que os atores fazem para si mesmos. O uso indiscriminado dos MCS pela liturgia com certeza faz concessões ao sistema midiático provocando conflitos com a natureza das celebrações litúrgicas caracterizados por um retorno ao devocionalismo, à transformação do presbitério em palco, da assembléia em platéia e do padre em animador de "show" ou de programa de auditório. Na relação mídia - liturgia, geralmente a mídia acaba sendo a que dita as regras do jogo, nem sempre consoantes com as regras da liturgia.

4. As contribuições da liturgia para a missão continental

Num continente com tantos desafios para que a liturgia realize sua missão de "promover tudo o que conduz ao chamamento de todos ao seio da Igreja" (SC 1) parece que se poderia considerar as seguintes frentes de trabalho:

1. Recuperar as expressões celebrativas autênticas, fundadas na Bíblia e na tradição litúrgica para que sejam, de fato, alimento da verdadeira mística cristã;
2. Promover as grandes linhas teológicas da SC e dos demais documentos do Concílio Vaticano II, diante do reflorescimento e crescimento de uma tendência devocionalista, intimistas e subjetivista que desponta com muito vigor;
3. Trabalhar, não obstante os avanços feitos, a linguagem simbólica, própria da liturgia e que, com facilidade, se esvai em alegorias ou em linguagem "espetacular" próprias da televisão;
4. Ajudar as pastorais entender que a liturgia é fonte da espiritualidade cristã e de toda ação evangelizadora;
5. Fazer um investimento sério, a médio e a longo prazo, na inculturação da liturgia na cultura urbana, bem como nos meios indígenas e afros;
6. Encaminhar ações concretas para superar o vazio e a distância que se criou ou está se criando entre o que se entende por celebração cristã e a "liturgia" veiculada pelos meios de comunicação social e a praticada em alguns movimentos eclesiais;
7. Planejar por todos os meios disponíveis a formação litúrgica em todo os níveis;
8. Trabalhar a organização de espaços celebrativos inculturados, à luz da teologia da liturgia;
9. Estudar alternativas para fomentar a formação da música ritual como "parte integrante da liturgia" e alimento e condicionante eficaz da fé.
10. Inserir na celebração as preocupações com a preservação da criação, enfatizando os aspectos cósmicos e a responsabilidade com o meio ambiente;
11. Possibilitar uma liturgia mais ecumênica, que avance para além do calendário da semana de oração pela unidade dos cristãos, e que inclua a referência e a prece a outras expressões religiosas, exercitando a tolerância e ultrapassando o proselitismo, como expressão de nossa catolicidade;
12. Acolher na dinâmica da celebração a necessidade de uma cultura de paz e os avanços feitos neste sentido, enfatizando os aspectos pacifistas do Evangelho.

5. Conclusão

A liturgia e a missão devem ser vividas na unidade do mistério. Jamais terá sentido opor, justapor ou preferir uma à outra. Não são duas especializações ou duas faces da Igreja.

Tudo é questão de FONTE.

“A Igreja não é uma quando celebra a liturgia e outra quando seus membros a vivem: apenas age diversamente. O mesmo acontece com sua missão. Não tem uma face voltada para Deus e outra voltada para os homens. Sua missão nos últimos tempos é ser o rosto de Deus no qual os homens podem reconhecer aquele que procuram e, na mesma luz, o rosto dos homens que reflete a glória de Deus (cf. 2 Cor 4,6)” (J. Corbon, Liturgia de Fonte, São Paulo, Paulinas, 1981, pág. 192).

A Igreja recebe e descobre a sua missão quando celebra a Liturgia. “A liturgia celebrada e a liturgia da missão são os dois momentos do mesmo amor: como amar nossos irmãos se não acolhemos antes Aquele que nos ama primeiro? São os dois movimentos do mesmo mistério pascal” (J. Corbon, idem, pág. 193).

Sem a Liturgia, a missão vira publicidade.

“Só podemos ser testemunhas daquele que ouvimos, que nossos olhos contemplaram e que nossas mãos tocaram se seu fogo nos purificar até moldar-nos totalmente a ele. Da epiclese de nosso batismo à de nossas eucaristias, é este mesmo fogo que age em nós para que a vida realize sua obra em nossos irmãos” (Ibidem, pág. 196).

É por isso que em todas as celebrações somos enviados:

“IDE! O Senhor vos acompanhe!
A alegria do Senhor seja a vossa força!
Glorificai o Senhor com vossa vida!
Levai a todos a alegria do Senhor ressuscitado!”

E de nosso coração dilatado, alimentado pela partilha do pão da Palavra e da Eucaristia, brota a expressão de júbilo pelo dom da Liturgia e da Missão: “Graças a Deus!”


Perguntas para os grupos:

1. O que entendemos com a afirmação de que “a missão, antes de ser um ‘fazer’, é um ‘receber’”?
2. Por que a força e o dinamismo missionário da Igreja nasce da Liturgia?
3. Comentem as três experiências litúrgicas que alicerçam e fundamentam a missão.
4. Como preparamos, celebramos e vivenciamos estas experiências em nossas celebrações litúrgicas?
5. Como preparamos e como as pessoas participam e se sentem enviadas nos Ritos Finais? O que poderíamos melhorar?
6. Qual a condição essencial para que a Liturgia seja fonte de missão?
7. Dos desafios acima apresentados, quais deles estão mais presentes em nossa comunidade? Por que?
8. Se tivéssemos que enumerar as contribuições acima citadas, em valor de prioridade para a nossa comunidade, quais seriam as 3 que apontaríamos como mais urgentes?
9. O que poderíamos fazer concretamente para colocá-las em prática? Como? Quem? Quando?

[1] Texto extraído de Liturgia em Mutirão II, edições CNBB.
[2] J. LOPEZ-GAY, Missões e Liturgia, em D.SARTORE - A. M. TRIACCA, Dicionário de Liturgia, Paulinas, S. Paulo, 1992, p. 751.

sábado, 31 de outubro de 2009


LEITURA DA
PALAVRA DE DEUS
NO ANO LITÚRGICO

Pe. Cristiano Marmelo Pinto[1]

1. Introdução

O Concílio Vaticano II na constituição sobre a Sagrada Liturgia Sacrosanctum Concilium afirma que Cristo está “presente por sua Palavra, pois é ele quem fala quando se lê a Escritura na Igreja” (SC 7). Com esta afirmação o Concílio resgata a sacramentalidade da Palavra de Deus na liturgia, pois, quando se proclama a Palavra de Deus na celebração é o próprio Cristo quem nos fala, sacramentalmente agindo naqueles que exercem o ministério da proclamação da Palavra na liturgia. Ainda no mesmo número, a constituição diz que “Cristo está sempre presente à sua Igreja...” (SC 7). Isso significa que ele não somente está presente, mas age através de sua Igreja e de seus ministros.

Portanto, a primeira coisa que devemos tomar consciência é de que quem fala com o povo é o próprio Deus. Quando se proclama as leituras na celebração é Deus falando. Somos apenas instrumentos, ministros seus. Isso confere a quem exerce tal função na liturgia uma responsabilidade grande, pois, não se pode proclamar a Palavra de Deus de qualquer jeito. É preciso se preparar bem para isso.

Quando falamos de Concílio Vaticano II e de sua reforma, temos que ter em mente qual a finalidade dessa reforma. A própria constituição Sacrosanctum Concilium nos dá a resposta: “A Igreja deseja fazer quanto antes uma reforma litúrgica geral, para que o povo cristão aproveite melhor as riquezas da graça contidas na liturgia” (SC 21). Para que essa reforma geral? “Para que o povo cristão as perceba com maior clareza, na medida do possível, e possa participar plena e ativamente da celebração comunitária” (SC 21). Quando o documento conciliar estabelece as normas gerais para a reforma da liturgia, ao tratar da Sagrada Escritura, afirma que: “A Escritura desempenha papel de primordial importância na celebração litúrgica. Fornece as leituras e é explicada na homilia” (SC 24). Para isso prevê a revisão dos livros litúrgicos.

Dentre os livros litúrgicos que devem ser restaurados encontramos os Lecionários (livros da Palavra de Deus na liturgia). O Concílio estabelece que: “restaure-se o uso abundante, variado e bem distribuído da Sagrada Escritura nas celebrações litúrgicas” (SC 35). De fato, com a restauração das leituras no missal romano, acrescentaram-se abundantes e variadas leituras da Sagrada Escritura na missa e nos demais sacramentos, enriquecendo assim os lecionários e proporcionando ao povo que participa da celebração litúrgica um maior contato com a Palavra de Deus. “Quanto mais a Palavra de Deus for oferecida aos fiéis, maior acesso terão aos tesouros da Bíblia. Por isso, deve-se ler uma parte bem maior das Escrituras nos espaços litúrgicos que lhe são reservados cada ano” (SC 51).

2. O Lecionário – livro das leituras na missa

Do latim lectio significa leitura. Lecionário é o livro litúrgico que contém as leituras da Palavra de Deus selecionadas e organizadas para serem proclamadas na celebração litúrgica. O Lecionário “é o modo normal, habitual e próprio por meio do qual a Igreja lê, nas Sagradas Escrituras, a comunicação viva de Deus, à luz do mistério de Cristo”[2].

O papa Paulo VI diz que:

O Lecionário (Ordo Lectionum Missae) é um dos livros do rito romano que se beneficiou muito com a reforma feita depois do Concílio, tanto pelo número de textos que foram acrescentados como pelo valor intrínseco de tais textos: trata-se, com efeito, de textos que contêm a Palavra de Deus, sempre viva e eficaz (cf. Hb 4,12). Essa exuberância de leituras bíblicas permitiu que se expusesse, num ordenado ciclo trienal, toda a história da salvação, e que se apresentasse de uma forma mais completa o mistério de Cristo[3].

A proclamação do Evangelho ocupa o lugar central, pois ele é o ápice da liturgia da Palavra. Por esse motivo, a Igreja desde muito cedo distinguiu os livros destinados a proclamação da Palavra de Deus na liturgia, de modo que temos o Evangeliário que contém os evangelhos, e os Lecionários que contém as demais leituras da missa.

Os lecionários são organizados em três volumes:
Lecionário Dominical (com as leituras para os domingos e festas);
Lecionário Semanal (com as leituras para os dias da semana – feirais);
Lecionário Santoral (com as leituras para as missas dos santos, comuns e diversas circunstâncias).

2.1. Lecionário Dominical

O lecionário dominical está estruturado num período de três anos, seguindo as letras A – B – C. As leituras dos domingos e festas são três ordenadas do seguinte modo: primeira leitura (primeiro testamento – na páscoa é dos Atos dos Apóstolos); segunda leitura (das cartas apostólicas e do apocalipse); e a terceira leitura (Evangelho). Das três o Evangelho ocupa o lugar central.

Ao dividir as leituras num ciclo de três anos facilita para uma leitura mais abundante da Bíblia, voltando os textos a serem lidos somente depois de três anos.

O ano de cada ciclo está organizado pelos evangelhos sinóticos, que no tempo comum é proclamado de modo semicontínuo. Deste modo temos:

Ano A – evangelho de Mateus; Ano B – evangelho de Marcos; Ano C – evangelho de Lucas.

O Evangelho de João completa as leituras do ano B e é reservado para os tempos da quaresma e páscoa. As demais leituras são escolhidas em acordo com o texto do evangelho do dia e o salmo responsorial em resposta ao texto da primeira leitura.

2.2. Lecionário Semanal (ferial)

Este lecionário é para os textos que são lidos nos demais dias da semana. Durante a semana a celebração da missa apresenta duas leituras: a primeira leitura (tirada do primeiro testamento ou dos apóstolos – no tempo pascal é tirada dos Atos dos Apóstolos) e a segunda leitura que é o Evangelho.

A primeira leitura está organizada para um período de dois anos (anos pares e impares), o Evangelho é repetido todos os anos.

2.3. Lecionário Santoral (para as missas dos santos, comuns e diversas circunstâncias)

O lecionário santoral, ou lecionário para as missas dos santos, votivas e diversas circunstâncias, oferece uma série de leituras bíblicas para as solenidades, festas e memórias, principalmente se para cada uma delas existem textos próprios. Há uma série de leituras que se propõe, com textos próprios para os santos mártires, pastores, santos e santas, etc., e depois outra série que com textos que abordam a santidade de modo geral.

Há também textos conforme a memória do dia, que podem ser utilizados de modo livre. Junto com o lecionário para o comum dos santos, tem uma série de leituras para diversas celebrações rituais, tais como batismo, confirmação, ordenações, matrimônio, defuntos, etc.

O Lecionário Santoral está organizado do seguinte modo: próprio dos santos; formulários do comum (nossa senhora, mártires, pastores, doutores da Igreja, virgens, santos e santas); missas para diversas necessidades (pela Igreja, pelo bem comum, diversas circunstâncias da vida pública; algumas necessidades particulares); missas votivas (Santíssima Trindade, Santa Cruz, Nome de Jesus, Sagrado Coração de Jesus, Nossa Senhora, Santos Anjos, etc.).

3. A organização do Lecionário

Para selecionar e organizar os textos bíblicos para a celebração da missa nos lecionários, foram usados os seguintes critérios:

1) Pretende-se apresentar à assembléia todo o mistério da salvação, de forma integral;
2) É acrescentado ao núcleo central do mistério da salvação – a páscoa de Jesus – outros temas como o Reino de Deus, etc.;
3) A forma prática e ideal de apresentar e desenvolvimento do mistério da salvação na liturgia é o Ano Litúrgico;
4) Os textos mais significativos são reservados para os domingos e festas, os demais para os dias da semana, de modo que em determinado período do ano são lidas ao povo as partes mais importantes da Bíblia;
5) Para os domingos e festas são introduzidas três leituras: uma do primeiro Testamento (palavra profética), outra das Cartas (palavra apostólica) e o Evangelho (palavra evangélica).
6) A primeira leitura no período pascal é tirada dos Atos dos Apóstolos.

A distribuição das leituras seguindo um ciclo de três anos (A-B-C) permite um conhecimento de toda a Palavra de Deus. Durante o ano litúrgico, e especialmente nos tempos da páscoa, quaresma e advento as leituras da Palavra de Deus tendem, de maneira gradual, levar o povo a um conhecimento mais profundo da fé e da história da salvação.

4. Finalidade do Elenco das Leituras da Missa (Ordo Lectionum Missae)

A principal finalidade do Elenco das Leituras da Missa é de cunho pastoral, seguindo o espírito do Concílio Vaticano II. Esta finalidade pastoral pretende uma autêntica celebração da Palavra de Deus pela comunidade. O trabalho da escolha dos textos bíblicos para o Elenco das Leituras da Missa é resultado de um grande esforço que envolveu muitos peritos. “Para conseguir esse fim, não só os princípios em que se baseia o novo Ordo, mas também a escolha dos próprios textos que se colocam a seguir, foram revistos e elaborados várias vezes, com a cooperação de muitas pessoas de todo o mundo, versadas em matérias exegéticas, litúrgicas, catequéticas e pastorais”[4]. Não é por menos que não se deve substituir a leitura da Palavra de Deus por outros textos, tanto pela primazia da Palavra como pelo esforço da Igreja em oferecer uma completa visão da história da salvação por meio dos textos bíblicos usados na celebração litúrgica.

Podemos resumir a finalidade do Elenco das Leituras da Missa do seguinte modo: possibilitar a assembléia celebrante maior contato com a Palavra de Deus na missa e como finalidade última uma melhor participação no mistério da salvação, cuja centralidade é o mistério pascal de Cristo celebrado na liturgia.

Respeitando os textos sugeridos nos lecionários para as leituras na missa, estaremos cumprindo a função de promover a participação plena, ativa, consciente e frutuosa de toda a comunidade na liturgia (cf. SC 11; 14; 21).

5. O Ano Litúrgico

Antes de tratarmos propriamente das leituras nas missas, precisamos trazer à memória a estrutura do ano litúrgico, para que possamos situar os textos bíblicos dentro da finalidade de cada tempo.

A liturgia é a celebração do mistério pascal de Cristo. A páscoa constitui o centro, o núcleo fundamental de nossa fé. Em torno dele celebramos no ano litúrgico a memória do Ressuscitado na vida da comunidade e de cada um de nós. No ano litúrgico “o mistério de Cristo se desdobra por todo o ciclo anual, desde sua encarnação e nascimento até a ascensão, pentecostes e a expectativa, da vinda do Senhor” (SC 102). No decorrer do ano litúrgico a Igreja nos propõe um caminho espiritual, uma vivência da graça própria de cada aspecto do mistério de Cristo, presente e operante nas diversas festas e nos diversos tempos litúrgicos (cf. Normas sobre o Ano Litúrgico e o Calendário – NALC 1).

O ano litúrgico segue três ritmos: o ritmo diário (nele situa-se principalmente a liturgia das horas), o ritmo semanal, marcado pelo domingo, dia do Senhor, dia por excelência do encontro da comunidade cristã com o Senhor na celebração da eucaristia, e o ritmo anual, onde se situa os ciclos dos tempos litúrgicos. A nós interessa apenas no momento o ritmo anual.

O ano litúrgico compreende dois tempos fortes: o ciclo pascal, tendo o tríduo pascal como centro, a quaresma como preparação e o tempo pascal como prolongamento, encerrando com pentecostes. O ciclo do natal, que tem o advento como preparação e seu prolongamento até a festa do batismo do Senhor. Esses são os tempos fortes do ano litúrgico. Depois, temos o tempo comum que começa no dia seguinte a festa do batismo do Senhor, indo até a terça-feira antes de cinzas. Recomeça na segunda feita após pentecostes e se prolonga até a solenidade de Cristo Rei, encerrando nas vésperas do primeiro domingo do Advento.

Ciclo Pascal: Quaresma (preparação); Tríduo Pascal (centro); Tempo Pascal (prolongamento).

Ciclo do Natal: Advento (preparação); Natal (centro); Tempo do Natal (prolongamento).

Tempo Comum.

6. A leitura da Palavra de Deus ao longo do Ano Litúrgico

Nesta parte de nossa reflexão vamos procurar trabalhar as leituras bíblicas ao longo do ano litúrgico, seguindo os tempos litúrgicos. Iremos seguir a ordem proposta pelo calendário litúrgico, iniciando pelo advento e seguintes. É importante dizer que não faremos uma análise dos textos em si, pois para isso seria necessário mais tempo. Queremos apenas as características e finalidades das leituras bíblicas conforme o tempo litúrgico.

6.1. A leitura da Palavra de Deus no tempo do Advento

O tempo do advento é composto por quatro domingos. A finalidade deste tempo é preparar a celebração do natal do Senhor.

Nos domingos as leituras do Evangelho têm uma característica própria: referem-se à vinda do Senhor no final dos tempos (1º domingo), a João Batista (2º e 3º domingo) e aos acontecimentos próximos ao nascimento de Jesus (4º domingo).

As primeiras leituras são do Primeiro Testamento, são profecias sobre o Messias e o tempo messiânico. Essas leituras são tiradas do livro do profeta Isaías.

As segundas leituras, tiradas dos apóstolos, contêm exortações e ensinamentos relativos às diversas características do tempo do advento.

A. Bergamini diz que:

O conteúdo das leituras, especialmente do Evangelho, focaliza para os domingos um tema específico, em cada um dos três ciclos litúrgicos: a vigilância na espera de Cristo (1º domingo); um urgente convite a conversão, contido na pregação de João batista (2º domingo); o testemunho dado a Jesus pelo seu precursor (3º domingo); o anúncio do nascimento de Jesus a José e Maria (4º domingo)[5].

O primeiro domingo do advento nos orienta para a parusia final, ou seja, a última vinda do Senhor. O segundo e o terceiro nos chama a atenção para a vinda cotidiana do Senhor, em nosso dia a dia. O quarto domingo nos prepara para o nascimento de Jesus.

Durante os dias da semana, há duas séries de leituras: uma que vai do início até o dia 16 de dezembro, e outra que vai do dia 17 ao dia 24 de dezembro.

A série das leituras feriais, na primeira parte do advento, apresentam os sinais e as características do reino messiânico e as condições para nele entrar; na segunda parte (as férias entre os dias 17 e 24 de dezembro), há uma preparação direta ao Natal... As duas leituras, a profética e a evangélica, foram escolhidas de modo a evidenciar a relação de unidade e cumprimento entre Primeiro e Segundo Testamento[6].

Na primeira série lê-se o livro de Isaías, segundo a ordem do livro, incluindo os textos lidos nos domingos. Os textos do Evangelho destes dias estão relacionados com a primeira leitura. A partir da quinta-feira da segunda semana do advento, começam as leituras do Evangelho sobre João Batista e a primeira leitura é continuação do livro de Isaías ou outro texto relacionado com o Evangelho.

Na última semana antes do Natal, lêem-se os acontecimentos que preparam o nascimento de Jesus, tirados dos evangelhos de Mateus (capítulo 1) e de Lucas (capítulo 1). Para a primeira leitura lê-se diversos textos do Primeiro Testamento, levando em conta o Evangelho do dia.

6.2. A leitura da Palavra de Deus no tempo do Natal

Os textos bíblicos da missa da vigília do natal e das três missas do natal (noite, aurora e do dia), tanto os proféticos como os demais, foram tirados da tradição da igreja de Roma. Os textos dos dias festivos do tempo do natal (Natal, Epifania, Mãe de Deus...) nos ajudam a sintonizar com o mistério.

O evangelista que tem a primazia na solenidade do natal é Lucas, que narra a infância de Jesus. As leituras das três missas do natal são testemunhos dos evangelistas sobre o mistério. J. C. Cervera a este respeito escreve:

Lucas, o narrador do Evangelho da infância, oferece a proclamação da narrativa do nascimento do Messias e da adoração dos pastores, com textos que adquire uma súplica espiritual na missa da noite. João com a leitura do Prólogo que nos faz percorrer o caminho do Verbo que estava com o Pai e se fez carne[7].

Paulo fala da revelação da graça de Deus e de seu amor pelos homens, a caridade que se manifesta no natal. O autor da carta aos Hebreus mostra em Cristo a Palavra definitiva do Pai que nos fala no Filho.

A. Bergamini afirma que:

O texto da carta aos Hebreus apresenta-nos um quadro sintético da história da salvação, na qual Deus falou continuamente ao homem, até o dia em que a sua Palavra revelou-se completamente em Cristo, Filho de Deus encarnado. Partindo desse evento, o autor nos introduz no mistério da pessoa do recém-nascido Redentor, contemplado já sob a luz da Páscoa[8].

G. Ramis diz que: “o tema fundamental do lecionário das festas e férias do ciclo do natal-epifania é o da manifestação do Senhor: manifesta-se o Senhor para salvar-nos. Todas as leituras desenvolvem, explicam e ilustram esse tema em torno do qual estão estruturadas”[9].

Durante os dias da semana o Ordo Lectionum Missae diz o seguinte:

Desde o dia 29 de dezembro, faz-se uma leitura contínua de toda a primeira carta de São João, que já se começou a ler no dia 27 de dezembro, festa do mesmo São João, e no dia seguinte, festa dos santos inocentes. Os Evangelhos referem-se às manifestações do Senhor. Lêem-se os acontecimentos da infância de Jesus, tirados do evangelho de São Lucas (dias 29 e 30 de dezembro), o primeiro capítulo do evangelho de São João (31 de dezembro e 5 de janeiro), e as principais manifestações do Senhor, retiradas dos quatro evangelhos (7 a 12 de janeiro)[10].

6.3. A leitura da Palavra de Deus no tempo da Quaresma

O tempo da quaresma tem por finalidade prepara a festa da Páscoa. A liturgia da quaresma conduz a comunidade para a celebração do mistério pascal de Jesus Cristo, lembrando o batismo e a penitência. A quaresma tem seu início na quarta-feira de cinzas e encerramento na quinta-feira da Ceia do Senhor. Este tempo é composto por cinco domingos da quaresma, sento que no sexto domingo da quaresma celebra-se o domingo de ramos e da paixão do Senhor. Na quinta-feira santa, a noite, tem início o tríduo pascal.

O Lecionário dominical é muito amplo e articulado nos três ciclos anuais (A-B-C). Nos cinco domingos que precedem a semana santa, são proclamados quarenta e cinco textos bíblicos.

As leituras do Primeiro Testamento podem ser distribuídas em três grupos:

1. Textos que apresentam a história da salvação (a aliança; a vocação de Abraão; o êxodo; o deserto e a história de Israel);
2. Textos que proclamam a lei, ou seja, os deveres para com a aliança;
3. Textos com os apelos dos profetas em relação a conversão e ao arrependimento.

O Ordo Lectionum Missae em relação às leituras do Primeiro Testamento diz o seguinte: “As leituras do Primeiro Testamento referem-se à história da salvação que é um dos temas próprios da catequese quaresmal. Cada ano há uma série de textos que apresentam os principais elementos desta história, desde o princípio até a promessa da nova aliança”[11].

As leituras das cartas dos Apóstolos foram escolhidas de modo que tenha relação com as leituras do Evangelho e do Primeiro Testamento, para que haja conexão entre elas. Elas devem concordar tematicamente com as demais leituras.
As leituras do Evangelho no tempo da quaresma nos dois primeiros domingos estão centrados em Cristo tentado e transfigurado; nos demais domingos nos preparam mais diretamente para o batismo e para a renovação das promessas na noite pascal. O Lecionário Dominical para o tempo da quaresma nos propõe três itinerários:

1. Ano A – Quaresma batismal: retoma os grandes temas batismais do antigo lecionário romano;
2. Ano B – Quaresma cristocêntrica: propõe uma série de textos centrados no mistério da cruz gloriosa de Jesus Cristo segundo o evangelho de João.
3. Ano C – Quaresma penitencial: com textos de Lucas, coloca em relevo a misericórdia de Deus e o convite para acolhê-la e converter-se.

Para as leituras do domingo de ramos (sexto domingo da quaresma), foram escolhidos textos que fazem referência a entrada solene de Jesus em Jerusalém para a procissão de ramos. A proclamação da paixão de Jesus neste domingo é tirada dos evangelhos sinóticos (Mateus, Marcos e Lucas) segundo o ciclo anual (A-B-C). O relato da paixão segundo João ficou reservado para a sexta-feira santa de cada ano.

Para os dias da semana, o Lecionário Semanal é bastante variado na escolha dos textos bíblicos. Nas primeiras três semanas são apresentados os grandes temas quaresmais: caridade, jejum, perdão, serviço, humildade, etc. Os textos do Primeiro Testamento estão sempre em relação com o Evangelho.

Nas duas últimas semanas, com a leitura do evangelho de João, a temática está centrada na pessoa de Jesus Cristo, suas palavras e obras. A leitura do quarto evangelho combinando com os textos do Primeiro Testamento que apresentam a figura do servo sofredor, nos convidam a celebrar a paixão do Senhor.

6.4. A leitura da Palavra de Deus no Tríduo Pascal (Ceia do Senhor, Paixão e Vigília Pascal)

6.4.1. Quinta-feira Santa: Ceia do Senhor

As leituras nos falam do rito pascal do Primeiro e do Segundo Testamento, tendo como centro a ceia pascal que Jesus celebrou com seus discípulos.

Na quinta-feira santa, na missa vespertina, a recordação do banquete que precedeu o êxodo ilumina, de maneira especial, o exemplo de Cristo ao lavar os pés dos discípulos e as palavras de Paulo sobre a instituição da Páscoa cristã na Eucaristia[12].

E. Aliaga diz que: “As leituras falam-nos do rito pascal do Primeiro e do Segundo Testamento tendo como núcleo a ceia pascal celebrada por Jesus com seus discípulos, que serve de eixo a páscoa hebraica e a cristã”[13].

A primeira leitura narra a instituição do rito memorial dos acontecimentos do Êxodo, que anunciaram e prefiguraram a Páscoa de Cristo; na segunda leitura Paulo nos dá a descrição e o sentido da instituição da ceia pascal cristã, celebrada por ordem do Senhor. O Evangelho está intimamente ligado as duas leituras anteriores, e as ilumina com a figura de Cristo, que se fez servo lavando os pés de seus discípulos.

6.4.2. Sexta-feira Santa: Paixão do Senhor

A ação litúrgica deste dia comporta três partes: liturgia da Palavra, adoração da cruz e comunhão dos fiéis. Neste dia não se celebra a eucaristia. São distribuídas as hóstias consagradas na noite anterior na missa da ceia.
A liturgia da Palavra possui três leituras: a primeira do profeta Isaías, a segunda da carta de Paulo aos Hebreus e no Evangelho é proclamado o relato da paixão segundo João.

O Ordo Lectionum Missae diz que: “A ação litúrgica da sexta-feira santa chega ao seu momento culminante no relato segundo São João da paixão daquele que, como o Servo do Senhor, anunciado no livro de Isaías, tornou-se realmente o único sacerdote a oferecer-se a si mesmo ao Pai”[14].

A primeira leitura é o quarto cântico do servo do Senhor, o justo que morreu pelo povo. O Segundo Testamento verá nesse servo sofredor o próprio Cristo que dá sua vida pela salvação da humanidade. Na segunda leitura tirada da carta aos Hebreus afirma-se que Jesus viveu a profundeza da desolação humana, mas por sua obediência foi atendido por Deus. O Evangelho é tirado do relato da paixão segundo João. Este texto não é somente o relato da história da paixão de Jesus, não diz apenas o que aconteceu, mas, sobretudo, o que significa.

6.4.3. Vigília Pascal

A vigília pascal, celebrada na noite de sábado, nos propõe sete leituras do Primeiro Testamento, que lembram as maravilhas de Deus na história da salvação, duas do Segundo Testamento da carta de São Paulo e o anúncio da ressurreição, segundo os três evangelhos sinóticos[15].

Conforme Bergamini, “estas leituras nos introduzem no significado e na relevância que a Páscoa tem na vida da Igreja e de todo cristão”[16]. Cada uma das nove leituras desta missa é acompanhada por um responsório: um salmo ou um cântico do Primeiro Testamento.

Na primeira leitura lemos o relato da criação; na segunda leitura o sacrifício de Isaac; na terceira leitura a passagem do Mar Vermelho; na quarta leitura a renovação das núpcias de Deus com Israel – a nova Jerusalém; na quinta leitura a salvação oferecida gratuitamente a todos os homens; na sexta leitura Israel volta para Deus, fonte de sabedoria; na sétima leitura, dispersão, reunião e purificação de Israel – um novo coração; a oitava leitura é tirada de Paulo aos Romanos e faz uma relação entre o batismo e a ressurreição de Jesus. O texto do Evangelho é mudado conforme o ciclo anual: ano A é lido o texto de Mateus, no ano B Marcos e no ano C lemos o texto de Lucas.

Para compreender este quadro de leituras é preciso também ter em mente a estrutura da própria celebração da vigília pascal: a liturgia da luz, em torno do círio pascal; a liturgia da Palavra com suas nove leituras, podendo ser reduzidas apenas por verdadeiras necessidades, pois a Palavra de Deus nesta celebração é de fundamental importância; a liturgia batismal e a liturgia eucarística.

6.4.4. O Domingo da Páscoa

A liturgia do dia da Páscoa celebra o evento pascal. As leituras bíblicas contêm o anuncio pascal e um chamado ao empenho da vida nova em Cristo ressuscitado.

Para a missa do dia da Páscoa propõe-se a leitura do Evangelho de São João sobre o sepulcro vazio. Pode-se ler também, caso se prefira, os textos dos evangelhos propostos para a noite santa, ou, quando houver missa vespertina, a narração de Lucas sobre a aparição aos discípulos que iam para Emaús. A primeira leitura é retirada dos Atos dos Apóstolos, que se lêem durante o tempo pascal, em vez da leitura do Segundo Testamento. A leitora dos Apóstolos refere-se ao mistério da Páscoa vivido na Igreja[17].


6.5. A leitura da Palavra de Deus no Tempo Pascal

É importante dizer que os domingos que seguem o domingo da Ressurreição, não são chamados “domingos depois da páscoa” mas sim “domingos da Páscoa”. Isto quer dizer que nesses domingos a Páscoa é prolongada durante cinqüenta dias, encerrando com a solenidade de pentecostes.

Nestes domingos temos a predominância do evangelho de João nos três anos do ciclo anual. Os Atos dos Apóstolos na primeira leitura; na segunda leitura, no ano A faz-se a leitura da primeira carta de Pedro; no ano B faz-se a leitura da primeira carta de João e no ano C faz-se a leitura do Apocalipse de João.

O tempo pascal é composto por sete domingos, sendo que no Brasil celebramos a solenidade da Ascensão do Senhor no sétimo domingo da páscoa. No domingo seguinte ao sétimo, celebra-se a solenidade de pentecostes, encerrando o período pascal.

Vale-nos aqui as indicações do Ordo Lectionum Missae:

Até o terceiro domingo da Páscoa, as leituras do Evangelho relatam as aparições de Cristo ressuscitado. As leituras do bom Pastor são proclamadas no quarto domingo da Páscoa. No quinto, sexto e sétimo domingo da Páscoa lêem-se passagens escolhidas do discurso e da oração do Senhor depois da última ceia.
A primeira leitura é tirada dos Atos dos Apóstolos, no ciclo dos três anos, de modo paralelo e progressivo; dessa forma, em cada ano oferecem-se algumas manifestações da vida, testemunho e progresso da Igreja primitiva.
Para a leitura apostólica, no ano A, lê-se a primeira epístola de São Pedro; no ano B, a primeira epístola de São João, e no ano C, o Apocalipse; estes textos estão de acordo com o espírito de uma fé alegre e uma firme esperança, próprios deste tempo[18].

Para os dias da semana a primeira leitura é tirada dos Atos dos Apóstolos, como nos domingos. No Evangelho, dentro da oitava da Páscoa, lêem-se os relatos das aparições do Senhor. Depois, faz-se a leitura semicontínua do evangelho de João, dos textos de cunho pascal, para completar a leitura já começada na quaresma. Ocupa grande parte, nessa leitura pascal, o discurso e a oração de Jesus depois da ceia.

6.5.1. Solenidade da Ascensão do Senhor

Como já havíamos falado, a solenidade da Ascensão do Senhor é celebrada aqui no Brasil no dia de domingo, ocupando deste modo o sétimo domingo da páscoa.

A solenidade da Ascensão conserva como primeira leitura a narração do evento segundo os Atos dos Apóstolos, e este texto é completado pelas leituras apostólicas acerca do Cristo elevado à direita do Pai. Na leitura do Evangelho cada ciclo apresenta o texto próprio segundo as variantes de cada evangelista[19].

A primeira leitura dos Atos dos Apóstolos contém a narrativa da Ascensão de Jesus com a promessa do Espírito Santo. A segunda leitura, da carta aos Efésios, dá à festa da Ascensão o mesmo sentido eclesial já notado para a Páscoa. Para a leitura do Evangelho são propostos três textos seguindo o ciclo anual: ano A é lido o texto de Mateus; no ano B, lê-se Marcos e no ano C Lucas.

6.5.2. Solenidade de Pentecostes

A solenidade de Pentecostes encerra o ciclo pascal. Nele celebra-se a vinda do Espírito Santo sobre os apóstolos. A Palavra de Deus proclamada nesta solenidade nos dá a dimensão de Pentecostes: um evento divino acontecido na história através de sinais externos e internos:
1. Sinais externos: por meio do vento impetuoso, do fogo, da compreensão das línguas e da primeira manifestação da Igreja;
2. Sinais internos: todos aqueles que são batizados no único Espírito obtêm a remissão dos pecados e formam um só corpo, o Corpo de Cristo.

O Lecionário Dominical nos oferece textos bíblicos para as duas missas que se celebra nessa solenidade: a missa da vigília e a missa do dia.

Na missa que se celebra na tarde da vigília de Pentecostes oferecem-se quatro textos do Primeiro Testamento, para que se escolha um deles, que ilustram o múltiplo significado da solenidade. A leitura apostólica explica como o Espírito realiza a sua função na Igreja. Finalmente, a leitura evangélica recorda a promessa do Espírito feita por Cristo, quando ainda não havia sido glorificado.

Na missa do dia, toma-se como primeira leitura a narração que nos fazem os Atos dos Apóstolos do grande acontecimento de Pentecostes, ao passo que os textos dos apóstolos manifestam os efeitos da atuação do Espírito na vida da Igreja. a leitura evangélica traz à memória como Jesus, na tarde do dia da Páscoa, torna os discípulos participantes do Espírito, ao passo que os outros textos opcionais tratam da ação do Espírito nos discípulos e na Igreja[20].

6.6. A leitura da Palavra de Deus no Tempo Comum

No Ano Litúrgico além dos dois ciclos fortes (Ciclo do Natal e Ciclo Pascal), temos o Tempo Comum. A. Bergamini diz que:

Além dos tempos que possuem características próprias, existem trinta e três ou trinta e quatro semanas, durante o curso do ano, nas quais não se celebram aspectos particulares do mistério de Cristo; nelas, o mistério é venerado em sua globalidade, especialmente nos domingos. Este período chama tempo “per annum”[21].

O tempo comum está dividido em duas partes: a primeira inicia na segunda-feira após o Batismo do Senhor e encerra na terça-feira antes da celebração de cinzas. Retorna na segunda-feira depois de Pentecostes e termina com as vésperas do primeiro domingo do Advento.

6.6.1. As leituras dominicais

O Lecionário Dominical possui leituras para os trinta e quatro domingos do Tempo Comum. Nesse tempo vamos encontrar algumas solenidades que são celebradas em dia de domingo. Elas substituem o domingo do tempo comum. Quanto a estas celebrações não entraremos em detalhes pois, mereceria muito mais tempo para nos dedicarmos a cada uma em particular.

a) Os Evangelhos dominicais

No segundo domingo do Tempo Comum, o evangelho ainda faz referência à manifestação do Senhor, celebrada na Epifania, alternando-se nos três anos do ciclo anual. A partir do terceiro domingo faz-se uma leitura semicontínua dos evangelhos sinóticos (Mateus – ano A, Marcos – ano B e Lucas – ano C), que acompanha o sucessivo desenvolvimento da vida e pregação de Jesus. Aproximando-se o fim do Ano Litúrgico, as leituras terão caráter escatológico nos últimos domingos.
No ano B (Marcos), são inseridos depois do décimo sexto domingo alguns textos tirados do evangelho de João, especificamente o capítulo 6, discurso sobre o pão da vida.



b) As leituras do Primeiro Testamento (primeira leitura)

Os textos bíblicos tirados do Primeiro Testamento foram escolhidos de modo a terem ligação com os evangelhos. São leituras breves e fáceis. Foram inseridos no Lecionário sem uma ordem lógica, para que pudessem ter facilmente referência com o texto do Evangelho.

Ao selecionar as leituras procurou-se, na medida do possível, fazer que fossem breves e fáceis. Mas previu-se, também, que nos domingos fosse lido o maior número possível dos textos mais importantes do Primeiro Testamento. Estes textos foram distribuídos sem uma ordem lógica, atendendo apenas à sua relação com o Evangelho; todavia, o tesouro da Palavra de Deus ficará de tal forma aberto que todos os que participam da missa dominical conhecerão quase todas as passagens mais importantes do Primeiro Testamento[22]

c) As leituras das Cartas dos Apóstolos (segunda leitura)

Para a segunda leitura dominical, é feita a leitura semicontínua das cartas de Paulo e Tiago. As cartas de Pedro e João são lidas no tempo pascal e no tempo do natal.

A primeira carta aos Coríntios, por ser longa, foi distribuída nos três anos do ciclo, no início do Tempo Comum. A carta aos Hebreus também foi dividida em duas partes, uma para o ano B e outra para o ano C.

Os textos bíblicos das cartas dos Apóstolos escolhidos para os domingos do Tempo Comum são breves e não muito difíceis, para facilitar a compreensão de todos. Para perceber como estão distribuídas no Lecionário, basta recorrer a tabela que se encontra no mesmo[23].

6.6.2. As leituras nos dias da semana

O Lecionário Semanal divide a primeira leitura num ciclo de dois anos (anos pares e anos ímpares). Os textos dos Evangelhos são repetidos todos os anos.

Os Evangelhos estão organizados de tal modo que se lê em primeiro lugar o evangelho de Marcos (1ª a 9ª semana). Lê-se dos capítulos 1 a 12 de Marcos por inteiro, com exceção de alguns versículos do capítulo 6. Depois é lido o evangelho de Mateus (10ª a 21ª semana), e finalmente faz-se a leitura do evangelho de Lucas (22ª a 34ª semana). De Mateus e Lucas são lidos tudo o que não se encontra em Marcos.

Na primeira leitura serão alternados textos tanto do Primeiro como do Segundo Testamento, várias semanas cada um, conforme a extensão dos livros lidos.

Cartas dos Apóstolos: são lidas partes amplas das cartas dos Apóstolos, de modo que se possa captar o seu conteúdo essencial. São deixados de lado trechos quem possuem pouca utilidade pastoral. “Dos livros do Segundo Testamento lê-se uma parte bastante notável, procurando dar uma visão substancial de cada uma das cartas”[24].

Para os textos do Primeiro Testamento deu-se preferência aos trechos que ressaltam melhor a característica própria de cada livro. Quase todos os livros do Primeiro Testamento aparecem no Lecionário. Foram deixados de lado os livros de Abdias, Sofonias, Cântico dos Cânticos, Ester e Judite. Porém alguns trechos destes livros são lidos nos demais tempos litúrgicos. Podemos encontrar uma tabela com os livros do Primeiro Testamento lidos na primeira leitura dos dias da semana no Lecionário Dominical[25].

6.7.3. Leituras para as Solenidades do Senhor no Tempo Comum

Algumas solenidades e festas do Senhor não possuem data fixa no calendário litúrgico. Por sua natureza e pelo que motivou sua origem, elas não estão ligadas aos tempos fortes do ano litúrgico, e por isso, são celebradas no decorrer do Tempo Comum.

O Ordo Lectionum Missae a respeito destas solenidades diz o seguinte:

Para as solenidades da Santíssima Trindade, do Santíssimo Sacramento do Corpo e do Sangue de Cristo e do Sagrado Coração de Jesus escolheram-se alguns textos que correspondem às principais características destas celebrações. As leituras do 34º e último domingo celebram Jesus Cristo, Rei do Universo, esboçado na figura de Davi, proclamado no meio das humilhações da paixão e da cruz, reinante na Igreja, e que deve voltar no fim dos tempos[26].

7. Conclusão

Vamos deixar de lado a leitura da Palavra de Deus nas solenidades de Nossa Senhora e no culto aos Santos. Compreendendo bem o que refletimos a cima, ficará mais fácil entender os textos escolhidos para estas solenidades e festas. Eles se encontram distribuídos nos Lecionários Dominical e Santoral. Para o conhecimento dos textos bíblicos destas celebrações basta recorrer aos referidos lecionários.

Não buscamos refletir os textos bíblicos em si. Ficaria muito extenso nosso trabalho. Nem foi preocupação a citação das passagens bíblicas de cada domingo ou dia da semana. Para isso, procurem manusear os próprios lecionários.

Nossa intenção foi a de compreender a lógica da escolha dos textos bíblicos para as celebrações no decorrer do Ano Litúrgico e sua finalidade. Espero que isso possa ajudá-los no desenvolvimento de tão importante ministério na Igreja: de proclamadores da Palavra de Deus na liturgia.

Que o Senhor esteja na mente de cada um de vocês, para que possam compreender sua Palavra, em seus corações, para vivê-la, e em suas bocas, para que vocês possam proclamá-la com dignidade.

Paz!
















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VV.AA. El lector: historia, documentación, diretorio litúrgico-pastoral, preparación técnica. Cuaderno Phase 81. Barcelona (Espanha): Centre de Pastoral Litúrgica, 1997.

VV.AA. Al filo del año litúrgico: el misterio de Cristo en el tiempo “per annum”. Cuadernos Phase 121. Barcelona (Espanha): Centre de Pastoral Litúrgica, 2002.


[1] Presbítero da Diocese de Santo André – SP, Especialista em Liturgia pelo Centro de Liturgia e Mestrando em Liturgia pela Pontifícia Universidade Católica de São Paulo – PUC-SP.
[2] PALUDO, Faustino e D’ANNIBALE, Miguel Angel. A Palavra de Deus na celebração. In: CELAM. Manual de Liturgia II. São Paulo: Paulus, 2005, p.176.
[3] PAULO VI, Exortação Apostólica Marialis Cultus, n. 12.
[4] CNBB. Introdução geral do Missal Romano e Introdução ao Lecionário – texto oficial. Brasília: Ed. CNBB, 2008, p. 219.
[5] BERGAMINI, Augusto. Cristo, festa da Igreja: o Ano Litúrgico. São Paulo: Paulinas, 1994, p. 180.
[6] Ibidem., p. 180.
[7] CERVERA, Jesús Castellano. L’Anno Liturgico: memoriale di Cristo e mistagogia della chiesa. Roma: “Mater Eccelsiae”, 1987, p. 164.
[8] BERGAMINI, Augusto. Cristo, festa da Igreja. p. 201.
[9] RAMIS, G. Ano Litúrgico: ciclo do Advento – Natal – Epifania. In: BOROBIO, Dionisio. A celebração na Igreja 3: ritmos e tempos da celebração. São Paulo: Loyola, 2000, p. 170.
[10] CNBB. Introdução Geral ao Missal Romano... p. 239.
[11] Ibidem., p. 240.
[12] CNBB. Introdução Geral do Missal Romano... p. 241.
[13] ALIAGA, E. O Tríduo Pascal. In: A celebração na Igreja 3. p. 104.
[14] CNBB. Introdução Geral do Missal Romano... p. 241.
[15] Cf. CNBB. Introdução Geral do Missal Romano... p. 241.
[16] BERGAMINI, A. Cristo, festa da Igreja... p. 359.
[17] CNBB. Introdução Geral do Missal Romano... p. 242.
[18] CNBB. Introdução Geral do Missal Romano... p. 242.
[19] Ibidem., p. 243.
[20] CNBB. Introdução Geral do Missal Romano... p. 243.
[21] BERGAMINI, A. Cristo, festa da Igreja... p. 415.
[22] CNBB. Introdução Geral do Missal Romano... p. 246.
[23] Cf. Lecionário Dominical, Tabela II. p. 46.
[24] CNBB. Introdução Geral do Missal Romano... p. 248.
[25] Cf. Lecionário Dominical, Tabela III. p. 47.
[26] CNBB. Introdução Geral do Missal Romano... p. 247.