sexta-feira, 19 de março de 2010

O Canto Litúrgico
no Ciclo Pascal

Ir. Miria T. Kolling


A Instrução Geral sobre o Missal Romano – IGMR, assim nos diz à pág. 110: “Como o Cristo realizou a obra da redenção humana e da perfeita glorificação de Deus principalmente pelo seu mistério pascal, quando morrendo, destruiu a nossa morte e ressuscitando renovou a vida, o sagrado Tríduo Pascal da Paixão e Ressurreição do Senhor resplandece como o ápice de todo o ano litúrgico. Portanto, a solenidade da Páscoa goza no ano litúrgico a mesma culminância do domingo em relação à semana”.

O Tríduo Pascal tem seu início na Missa vespertina da Quinta-Feira Santa, com a memória da última Ceia de Jesus. A sexta-feira da Paixão, o sábado da sepultura e o domingo da ressurreição são chamados por Santo Agostinho de tríduo do “crucificado, sepultado e ressuscitado”, culminando com a Vigília Pascal, na noite santa em que o Senhor ressuscitou. Considerada pelo mesmo santo como a “mãe de todas as vigílias”, é a Celebração Maior do Ano Litúrgico.O tríduo se encerra com as Vésperas do Domingo da Ressurreição.

- É vivamente recomendada a participação do povo: gestos corporais, símbolos e imagens, sobretudo o canto, devido à solenidade desses dias e porque os textos bíblicos e litúrgicos, densos e profundos, adquirem maior força quando são cantados.
- A Quinta-feira Santa tem como centro o Lava-pés e a Ceia, que o Senhor instituiu naquela noite em que foi entregue... Por isso canta-se solenemente o Glória. Pode-se dar destaque à procissão dos dons, sobretudo o pão e o vinho, escolhidos por Jesus para sua doação; a coleta, sinal de solidariedade, é em favor dos necessitados. A Missa termina com o translado do Santíssimo ao lugar da reserva, com o “Tão sublime Sacramento”.
- A Sexta-feira Santa é centralizada na cruz, quando a comunidade proclama a paixão do Senhor, rezando pela humanidade toda. É o dia do silêncio, do jejum, da sobriedade, manifestado na Celebração: início, sem canto, o que seria bom também na Comunhão.
- O Sábado Santo, segundo uma feliz afirmação de Irmã Penha Carpanedo, é o dia de “viver a ausência do Amado”, portanto, de silêncio, meditação e permanência da Igreja junto ao sepulcro, à espera da Ressurreição do Senhor.
- A Vigília Pascal abre o terceiro dia do Tríduo, sendo uma celebração repleta de símbolos: o fogo do início; o círio pascal aceso no fogo novo, sinal do Senhor ressuscitado; a solene procissão até o local da celebração, com a aclamação “A luz de Cristo”; a proclamação jubilosa da feliz noite, no Exultet; a rica liturgia da Palavra, percorrendo a história da salvação; a celebração do Batismo, com a renovação das promessas batismais; e a solene Eucaristia, que como nenhuma outra, faz a memória da Páscoa de Jesus, carregada de sonoros aleluias, cantos festivos e alegres aclamações.
- O Domingo da Ressurreição prolonga a festa pascal ao longo do dia, cantando a vida que se renova no amor e na justiça de Deus.

O Tempo Pascal ou “cinqüentena pascal”, são sete semanas de festa, com a duração de cinqüenta dias, incluindo a Ascensão do Senhor e Pentecostes, último dia da Páscoa: o Espírito Santo é o grande dom do Ressuscitado. Os domingos deste tempo sejam celebrados com alegria e exultação, como se fossem um só dia festivo, “um grande domingo”, segundo Santo Atanásio. É tempo de júbilo, manifestado na cor branca, nas flores e luzes, no Círio aceso, nos instrumentos e nos cantos: dê-se mais realce ao Glória que ao Ato Penitencial; o Aleluia seja o canto vibrante ao Senhor ressuscitado, vivo e glorioso. Valorize-se o rito da aspersão. Boas opções de cantos para este tempo estão no Hinário Litúrgico da CNBB, bem como no livro CANTOS E ORAÇÕES, da Editora Vozes.

Antonio Alcalde bem expressa como deve ser nosso canto pascal:

“Sendo a Páscoa a festa das festas... ocorre fazer com que a liturgia, em seu todo, soe e ressoe como uma grande obra sinfônica: a sinfonia da nova criação em Cristo, com todos os seus instrumentos afinados e vibrantes.


FONTE:
www.irmamiria.com.br

Cantar a Quaresma e a Semana Santa

Ir. Míria T. Kolling


Cada ano, a Igreja se une ao mistério de Jesus no deserto, durante quarenta dias – quaresma -, vivendo um tempo de penitência e austeridade, de conversão pessoal e social, especialmente pelo jejum, a esmola e a oração, conforme o Evangelho de Mateus (Mt 6, 1-6.16-18), proclamado na Quarta-feira de Cinzas, em preparação às festas pascais. São cinco domingos mais o Domingo de Ramos na Paixão do Senhor, que inicia a Semana Santa, também chamada Semana Maior. É este um tempo forte e privilegiado, em que fazemos nosso caminho para a Páscoa, renovando nossa fé e nossos compromissos batismais, cultivando a oração, o amor a Deus e a solidariedade com os irmãos. Tal austeridade deve se manifestar no espaço celebrativo, nos gestos e símbolos, como também no canto, para depois salientar a alegria da ressurreição, que transborda na Páscoa do Senhor:

A cor roxa, as cinzas e a cruz lembram o caráter penitencial, de conversão;

O espaço celebrativo deve ser sóbrio, sem ornamentação nem flores no altar;

Não se recita nem se canta o “Glória”, assim como o “Aleluia”, que são aclamações jubilosas, marcadas pela festa e alegria, o que não combina com a Quaresma;

É tempo de favorecer o silêncio musical. Por isso, os instrumentos devem acompanhar os cantos de forma discreta, somente para sustentar o canto... um teclado ou um violão apenas, silenciando os demais, para manifestar o caráter penitencial desse tempo. Sua função é apenas “prática”, na medida do necessário, para apoiar o canto;

- Cada tempo litúrgico tem seus cantos próprios; assim também a Quaresma. Cantos que expressem o conteúdo, os temas, a Palavra de Deus, enfim o aspecto do mistério pascal que celebramos. É preciso saber escolher bem os cantos, que acentuem a conversão, o perdão, a fraternidade e solidariedade, a vida, a luz, inspirados no Evangelho do dia. Mas sempre com os horizontes voltados para a Páscoa de Jesus, mistério central que celebramos em nossas liturgias.

Neste tempo acontece no Brasil, já há mais de 40 anos, a Campanha da Fraternidade, que propôs, durante muito tempo, também cantos apropriados ao tema de cada ano, o que foi uma riqueza, mas também limitou o repertório dos cantos quaresmais. A partir de 2006 está havendo um esforço para se cantar o espírito e a liturgia da Quaresma, compondo-se apenas um Hino, que pode ser cantado no início ou no final da Celebração. A CNBB, em parceria com a Paulus, tem gravado uma série de CDs do chamado “Hinário Litúrgico”, apropriados para o Ano A, B e C.

Cantos tradicionais e que já estão na memória do povo, devem fazer parte do repertório: Pecador, agora é tempo... O vosso coração de pedra... Prova de amor maior não há...

Não se cante o Abraço da Paz, que aliás nem faz parte do rito, mas valorize-se o canto que acompanha a fração do pão, o “Cordeiro de Deus”, pois Jesus é o Cordeiro que tira o pecado do mundo. O “Senhor, tende piedade de nós” também seja valorizado, além das aclamações e pequenos refrãos orantes. O chamado canto final poderia ser omitido, deixando o povo sair em silêncio. Poderia ser outra também a resposta à Oração dos fiéis, que em geral é “Senhor, escutai a nossa prece”, como por exemplo: “Jesus, Filho de Deus, tem compaixão de nós!” além de outras, sugeridas pelo Missal Dominical.

É importante intensificar o silêncio, criando um clima orante já antes do início da Celebração e ao longo da mesma. Sobretudo no Ato penitencial, na Oração da Coleta, entre as leituras, durante a Narrativa da Última Ceia, após a Comunhão...

A Quaresma desemboca na Semana Santa assim chamada, porque nela celebramos os momentos mais importantes da nossa salvação: “Deus amou de tal forma o mundo, que entregou o seu Filho único... Tendo amado os seus, amou-os até o fim.” (Jo 3,16;13,1). Diz-nos Evair H. Michels, em seu livro “Pastoral da Música Litúrgica – Dicas Práticas”:

“Os ritos da Semana Santa devem ser realizados com particular solenidade, pois este tempo é o coração do ano litúrgico.”
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FONTE:

A ABSOLVIÇÃO

Frei José Ariovaldo da Silva, OFM


A absolvição é uma ação do sacerdote, ação simbólico-sacramental, pela qual, em virtude do mistério pascal e pela ação do Espírito Santo, na mediação eclesial, o penitente é reconciliado com Deus e com a Igreja. A oração que o ministro pronuncia é de uma densidade bíblica e teológica incalculável. É só prestar bem atenção na fórmula:

“Deus, Pai de misericórdia, que, pela morte e ressurreição de seu Filho, reconciliou o mundo consigo e enviou o Espírito Santo para remissão dos pecados, te conceda, pelo ministério da Igreja, o perdão e a paz. E eu te absolvo dos teus pecados, em nome do Pai, e do Filho e do Espírito Santo”.

Primeiro cita-se o nome de Deus. Neste nome podemos vê-lo como o Criador. E, como Criador, ele se revelou como Pai (nosso familiar, portanto). Por isso, o chamamos de Pai. Como familiar nosso (nosso Pai), é caracterizado por um atributo peculiar: misericordioso (Pai de misericórdia, que desce e ouve o clamor da humanidade).

Mas vamos adiante. A humanidade em geral e o pecador que está recebendo o perdão, concretamente, se afastaram do Senhor por sua desobediência e orgulho. Mas Deus, por assim dizer, fica chateado com esta atitude orgulhosa, desobediente e rebelde do ser humano. Assim, “neste transfundo aparece Cristo, que ‘se despojou e se rebaixou até a morte’ (cf. Fl 2,7-8); com sua atitude humilde e obediente, Cristo muda o rosto da humanidade; agora, pela obediência de Cristo, a humanidade é santa e agradável a Deus. O corpo santo de Jesus, destruído na cruz, vem a ser, então, como que a imagem – o ‘símbolo’ ou o ‘sacramento’ – de como foi destruído o pecado dos seres humanos: ‘Carregou nossos pecados em seu corpo sobre o madeiro para que, mortos para o pecado, vivêssemos para a justiça’ (1Pd 2,24). Por isso que a fórmula litúrgica diz: ‘Deus reconciliou o mundo pela morte do seu Filho’. Aquele que não tinha nada a ver com o pecado, diz Paulo, ‘Deus o fez pecado por nós, para que nele fôssemos justiça de Deus’ (2Cor 5,21)”. Mas não só a morte do Senhor!... Também se fala da sua ressurreição. Como afirma Paulo: ele foi “entregue por nossos pecados e ressuscitado para nossa justificação” (Rm 4,25). “Por isso vale a pena insistir que também a ressurreição, aludida na fórmula, é ‘sacramento’ ou símbolo do perdão. Com efeito, se o corpo do Senhor destruído na cruz simboliza o pecado humano destruído, este mesmo corpo glorificado e colocado à direita do Pai – um homem verdadeiro como nós, sentado junto de Deus – simboliza intensamente a reconciliação da humanidade com Deus e é o início da humanidade reconciliada e amiga de Deus: ‘Na pessoa de Cristo Deus nos fez sentar com ele no céu’ (Ef 2,6)”. Como se vê, a Igreja, diante dos sinais de conversão do penitente, “faz o memorial das grandes ações do mistério pascal do Senhor que, em nome da humanidade..., passa deste mundo de pecado ao reino da luz do Pai. E este memorial, tornado presente nas palavras e gestos do ministro, faz com que o Amor de Deus – o Espírito Santo – que ressuscitou Cristo dentre os mortos (Rm 8,10), seja derramado de novo também sobre o pecador. É o que expressa a bonita fórmula de absolvição” , através da qual o pecador acolhe o perdão e a paz que lhe vêm do mistério pascal, sendo libertado da escravidão do pecado para estar livre para Deus.

A oração da fórmula é acompanhada pelo importantíssimo gesto da imposição das mãos, ou pelo menos da mão direita, símbolo da transmissão do Espírito Santo para o perdão dos pecados.

Enfim, a fórmula conclui celebrando o fato de que toda a reconciliação é obra da própria Trindade agindo mediante pessoa do ministro representante da Igreja: “E eu te absolvo em nome do Pai, e do Filho e do Espírito Santo”.


Perguntas para reflexão pessoal ou em grupos:
1. Vamos retomar a fórmula da absolvição e comentar o seu conteúdo.
2. Qual a imagem de Deus que aí transparece? O que a reconciliação faz acontecer em nossa vida?
3. Qual a importância do gesto da imposição das mãos?
Liturgia em Mutirão III - CNBB



TEUS PECADOS ESTÃO PERDOADOS...
VAI EM PAZ!

Frei Faustino Paludo, OFMCap


Jesus disse à pecadora: “eu não te condeno. Podes ir, e não peque mais” (Jo 8,11). O sacramento da Penitência não visa culpabilizar as pessoas, mas absolve-las, isto é, libertá-las, reconciliando-as. “Ao pecador que manifestou sua conversão ao ministro da Igreja, pela confissão sacramental, Deus concede o perdão mediante o sinal da absolvição” (RP n. 6 d). Absolver (latim absolvere) significa perdoar, desligar do pecado. Jesus disse: “Eu lhes garanto: tudo o que vocês desligarem na terra, será desligado no céu” (Mt 18,18; cf Mt 16, 19). “Os pecados daqueles que vocês perdoarem serão perdoados” (Jo 20,23).

No sacramento da Penitência, o sacerdote, impondo as mãos sobre o penitente, diz: “Deus, Pai de misericórdia, que, pela morte e ressurreição de seu Filho, reconciliou o mundo consigo e enviou o Espírito Santo para remissão dos pecados, te conceda, pelo ministério da Igreja, o perdão e a paz. E eu te absolvo dos teus pecados, em nome do Pai, e do Filho e do Espírito Santo”. Aqui, a celebração atinge seu fim: o perdão reconciliador. Pela ação do ministro, a Igreja proclama o perdão misericordioso de Deus, pela morte e ressurreição de Jesus Cristo e pela ação do Espírito Santo. O pecador arrependido é novamente acolhido na comunidade daqueles que ouvem a Palavra e tomam parte na ceia eucarística.

Que beleza! A fórmula da absolvição é uma exclamação de louvor que explicita a ação reconciliadora da Trindade. Observemos que o perdão e a paz, a reconstituição da aliança, são frutos da ação conjunta e solene da Trindade e da Igreja (cf CEC 1449). A reconciliação se traduz no retorno ao Pai, que nos amou por primeiro; a Jesus Cristo, que doou sua vida por nós; e ao Espírito Santo, que foi derramado abundantemente sobre nós. A fórmula da absolvição se constitui numa manifestação do amor sem limites de Deus para com seus filhos e filhas. Ao proclamá-la, o ministro transforma-se num servidor do amor e do perdão que liberta e ressuscita o pecador da morte para a vida.

A absolvição do pecador é dom gratuito do Deus rico em misericórdia. Fique bem claro: o perdão brota da ação misericordiosa de Deus e não de um simples gesto jurídico da Igreja. É expressão do gesto de Jesus que, encontrando a ovelha perdida, coloca-a sobre os ombros e a reconduz ao redil (cf Lc 15, 3-7). É ação do Espírito Santo que renova e santifica aquele que é seu templo (cf RP 6d).

Absolvido, o pecador experimenta em si a alegria da paz. O projeto da vida batismal, desfigurado pelo pecado, é reconstruído pela graça de Deus. O penitente é, agora, uma nova criatura. Por isso que, na opinião do Pe. Härig, “a alegria é a nota mais viva da absolvição”.

Perguntas para reflexão pessoal ou em grupos:
1. Por que há gente que prefere se confessar diretamente a Deus?
2. Quem é que declara ao pecador o perdão de seus pecados?
3. Mas se o Padre é também pecador, em nome de quem ele proclama: “eu te absolvo de teus pecados”?
4. Qual deveria ser a atitude da pessoa perdoada e reconciliada ao concluir a celebração da Penitência?
Liturgia em Mutirão III - CNBB

quinta-feira, 18 de março de 2010


COMENTÁRIO SOBRE A MÚSICA
“FAZ UM MILAGRE EM MIM”


Este artigo do estudante de Teologia Reginaldo Guergolet, faz um comentário crítico a respeito da Música “Faz um milagre em mim” de Regis Danesi. Leia e reflita.


Reginaldo Antonio GHERGOLET

1. Compreendendo a realidade

Temos visto ultimamente a explosão de sucesso na mídia de uma música aparentemente de caráter religioso que aos poucos caiu na graça do povo e tem sido muito utilizada em encontros e liturgias entre católicos muitas vezes desavisados sobre o conteúdo daquilo que estão propagando sem o mínimo de senso crítico a respeito do teor proposto pela canção. Trata-se da música “faz um milagre em mim” de Regis Danesi que ganhou força exatamente por sua índole religiosa e sua suposta fundamentação bíblica que abriu caminho para o sucesso.

Essa crítica é algo que poderia ser deixado de lado sem o mínimo de prejuízo para a doutrina cristã católica, mas devido os constantes questionamentos sobre o assunto e o mau uso dessa música nas liturgias, faz-se necessário um estudo mais aprofundado da mensagem da letra em paralelo a mensagem de Lucas onde o autor imagina ter buscado inspiração. Nada disso precisaria ser feito, mas devido à distância entre as duas mensagens, é interessante esclarecer certos aspectos para que os equívocos com relação ao uso da canção sejam evitados. Afinal de contas, onde seríamos levados por tal mensagem?

Observa-se na letra da música a grande quantidade do uso do pronome possessivo singular que dá idéia de posse indicando a astúcia do autor para o seu sucesso. Vivemos em um tempo onde o individualismo está em alta. Onde a ascensão imediata é adorada como valor absoluto, basta observar os reality shows que são promovidos constantemente. É uma tendência criada pela mídia por interesse do mercado que precisa vender seus produtos. O autor percebeu que a maioria das pessoas que vivem sobre essa realidade e se familiarizam com uma mensagem intimista que acima de tudo tem aspectos de religiosidade, eis o segredo do sucesso.

No campo religioso, não é diferente. Vivemos em um mundo imediatista onde muitas denominações cristãs buscam na religião um consolo individual descompromissado. Agrada a idéia de um “deus” à disposição da vontade humana que está pronto para atender os caprichos dos homens no momento em que precisar. Deus atende aos pedidos sim, mas somente aqueles que vão fazer um bem verdadeiro, ou seja, que vão ajudar na minha salvação e não os puramente interesseiros. É fácil aceitar Jesus, mas os valores cristãos exigem posturas diferentes, por isso sua doutrina acaba sendo rejeitada. O milagre e a cura são sempre bem vindos, mas assumir um compromisso com Jesus não interessa a ninguém. É a religião do proselitismo onde muitos percebem essa realidade e tiram vantagem para atrair adeptos.

Uma pequena reflexão sobre o contexto em que vivemos, mas que abre o caminho para explicar o sucesso da música que vamos analisar em paralelo a mensagem do Evangelho. Lucas tem seu objetivo e Regis Danesi também. A diferença das duas mensagens e a relevância para nossas vidas e para a vida da Igreja será explorada nesse estudo. Resta ainda a pergunta: com qual mensagem vamos ficar? Essa decisão é pessoal. Que Deus abençoe a escolha.

2. As duas mensagens

2.1 Faz um milagre em mim

O título da música evoca toda a intenção do autor e dá para se ter uma idéia do caminho que ele vai percorrer. O que muitos querem é o milagre e isso ele propõe. Não teria problema algum se ele não tivesse utilizado como base de sua mensagem a passagem de Lucas no capítulo 19, 1-10 onde está a narração da conversão de Zaqueu . Lucas narra a caminhada de Jesus que sai da Galiléia e vai até Jerusalém para o cumprimento da missão e nessa caminhada vai encontrando as pessoas que ao perceberem Jesus mudam de vida e passam a viver conforme seus ensinamentos mostrando a riqueza de seu seguimento conforme vemos em Lc 9,51-19 (Cf PIKAZA, 1985, p. 74).

No final dessa caminhada está o episódio de Zaqueu que é exclusividade de Lucas. Nenhum outro evangelista fala sobre Zaqueu, portanto, só podemos chegar à conclusão que foi aqui que o autor da música se inspirou. Nessa passagem Lucas fala abertamente sobre a conversão de Zaqueu e enfatiza suas atitudes após o encontro e como sabemos conversão não é milagre . O termo milagre nem se quer faz parte dos temas teológicos de Lucas que trabalha a conversão, a oração, a universalidade e o Espírito Santo. Marcos é quem contempla essa realidade dos milagres, mas Lucas não, principalmente nessa passagem que o autor em questão se baseou mostrando assim a distância de sua mensagem com o que a Bíblia coloca.

Para Lucas o que interessa é a conduta de Zaqueu e mais nada. Ele sentiu o chamado e foi ao encontro de Jesus, subiu na árvore e desceu para uma vida nova. Converteu-se definitivamente ultrapassando qualquer expectativa. Zaqueu mudou de vida e dá provas disso, pois deu a metade do que tinha aos pobres e ainda prometeu restituir quatro vezes mais o que tinha roubado (Cf. Lc 19,8). Sua conversão foi autêntica, pois o levou ao cumprimento radical das prescrições da Lei (Cf. Ex 21,37; Lev 5,20-26). Não restitui apenas os 120%, mas vai além porque encontrou o amor de Deus em Jesus (Cf. STÖGER, 1973, p 139). Sua atitude mostra decisão e força de vontade. Seguir Jesus requer decisão, não basta dizer “estou são”, não bastam as boas intenções. Da conversão o discurso não serve para nada, são os frutos que interessam e isso o Lucas enfatiza (Cf. PIKAZA, 1985, p. 111). Não vemos nada de milagre, não se dá para entender de onde o autor tirou essa idéia. Sendo assim, podemos ter uma noção do equívoco em comparar as mensagens. Mas isso é só o título, vamos ao restante da letra.

Como Zaqueu eu quero subir
O mais alto que eu puder
Só pra te ver, olhar para ti
E chamar sua atenção para mim

Nessa primeira estrofe o autor se encarna em Zaqueu e tenta reproduzir seus sentimentos ou talvez sentir o que Zaqueu sentiu. Até que a construção poética é bela, mas o objetivo não foi alcançado. Ele fala que como Zaqueu ele quer subir, mas agora fica a pergunta: será que Zaqueu queria subir? Um homem de posição, um ”empresário”, rico e com uma reputação a zelar não se prestaria ao papel de macaquinho apenas por achar bonito subir na árvore. Subir na árvore é perder a dignidade social baseada no poder e na riqueza (Cf. STORNIOLO, 2004, p.167). Talvez Zaqueu preferisse utilizar de sua influência, mas não estava em condições de exigir muita coisa. Zaqueu era considerado como cobrador de impostos pecador para os judeus e sendo rico distante do Reino dos céus para Jesus (Cf Lc 12,33; 18,24-27), portanto, um caso muito difícil de resolver. Assim se conclui que Zaqueu não queria subir na árvore, mas subiu porque precisava subir, porque era de baixa estatura, era pequeno (Cf Lc 9,48), era pecador e precisava de Jesus e tinha a consciência atormentada. É por isso que seu coração palpitava de desejo de ver Jesus (Cf. STÖGER, 1973, p. 139).

O fato é que Zaqueu subiu sim, não se sabe se foi tão alto como fala a música, mas certamente deu para ele ver Jesus. A única coisa que queria era ver Jesus e sentir seu amor porque já ouvira falar coisas boas dele. Mas Jesus não se contenta apenas em ver Zaqueu, vem ao seu encontro e envolve sua vida com a de Zaqueu. Jesus não se contenta, quer ir mais a fundo na questão. Todo mundo só via em cima daquela árvore um pecador, mas Jesus viu um homem de consciência atormentada que precisava de sua ajuda (Cf. BORTOLINI, 2003, p. 55). Entretanto o autor coloca no final da estrofe que queria chamar a atenção só para ele. Com certeza essa não era a vontade de Zaqueu, pois ele não gritou, não escreveu faixas e não fez nada de extraordinário, apenas subiu.

O chamar a atenção só para si revela a religiosidade de interesse e intimista impregnada na mentalidade popular. Como é grande o desejo de muitos de terem um Deus à sua disposição pronto para atender as suas necessidades. É o sonho de muita gente que Jesus fosse um gênio da lâmpada mágica que na hora em que precisasse, era só esfregar e ele aparece para realizar o desejo. A atenção de Jesus só para mim, para mais ninguém. Como se só eu precisasse de Jesus. É a mentalidade de muitas religiões e muitas seitas e pessoas que pensam em enquadrar Jesus a suas necessidades e objetivos. Talvez o autor nem tenha consciência disso, mas está sujeito a esse tipo de ideologia infelizmente comum em nossos dias. O pior é saber que se essa música faz tanto sucesso, não é só ele que está nesse barco, muitos navegam sem saber.

Basta apenas frisar que um dos temas teológicos mais profundos de Lucas é a universalidade, ou seja, Jesus veio para salvar a todos sem distinção e os pecadores são os preferidos de seu coração misericordioso. Portanto, o chamar a atenção só para mim é algo do autor e da mentalidade popular, não de Lucas para quem Jesus é para todos. Não precisa nem dizer que foi mais uma bola fora, talvez a maior delas, mas confiemos, Jesus é misericordioso.

Eu preciso de ti senhor
Eu preciso de ti oh pai
Sou pequeno demais
Me dá tua paz
Largo tudo pra te seguir

Nessa estrofe pode-se concluir que o autor foi mais feliz, mas não tanto assim. Todo mundo precisa de Jesus, Zaqueu eu e você, todos nós. Que bom que essa consciência ainda perdura. Claro que como já vimos, saber que precisa é uma coisa, aceitar Jesus e suas exigências é outra. Mas mesmo assim, é preciso dizer que Jesus não é Pai, mas sim, o Filho, a Segunda Pessoa da Santíssima Trindade. Jesus é Deus tal e qual o Pai, com a mesma substância, mas com missão diferente. É Deus quem fez uma aliança com o povo de Israel e prometeu fidelidade para sempre (Cf. Gn 6,18; Ex 19,9-15). Mas Zaqueu, como o povo de Israel, como eu e como você quebrou essa aliança e caiu na infidelidade. Deus ama e por isso mandou seu Filho que é Jesus para salvar Zaqueu e a nós, e para mostrar a misericórdia divina. A abertura do homem à graça da conversão é obra do Espírito Santo. É a Santíssima Trindade agindo na obra da salvação (Cf. GOMES, 1981, p. 215-221). A missão do Filho que é Jesus ao qual o autor se refere é salvar, mas ele não é o Pai, Pai é Deus (Cf LG nº 3).

Diante do amor de Deus manifestado em Jesus somos todos pequenos, porque amor de Jesus nos constrange (Cf. 2Cor 5,14). Reconhecer a pequenez é um bom caminho e isso tem a ver com a mensagem de Lucas. Foi o que Zaqueu fez. A paz de Jesus também é uma boa, mas a paz de Jesus incomoda e exige (Cf. Mt 10,34-35). A paz que muita gente deseja é a ilusão de que tudo está bem. É isso que muita gente busca na religião, um consolo psicológico apenas, o estar perto de Jesus porque isso faz bem. Adorá-lo, adorá-lo e adorá-lo é o objetivo de muitos. A paz é sim dom de Deus, mas é preciso construí-la. Não apenas se recebe gratuitamente de Jesus porque ela é fruto da justiça (Cf. Is 32,17). É nos pequenos atos de doação, de partilha, de amor que a paz se faz presente, a paz é uma conquista.

O autor ainda coloca que larga tudo para seguir Jesus. É uma promessa um pouco leviana e contraditória do autor a não ser que estivéssemos falando de um Francisco de Assis. Mas Jesus em Lucas não quer apenas seguidores atrás de si sem nada para oferecer (Cf. Lc 8,1–3). Ele quer pessoas generosas que mesmo tendo alguma coisa, sabem partilhar aquilo que tem (Cf. Lc 21,1-4). Devemos seguir Jesus sim, mas com o que temos e com o que somos, no lugar em que estamos. O deixar tudo (Cf. Lc 5,11) para Lucas é colocar tudo a serviço do seguimento de Jesus continuando sua palavra e ação no mundo (Cf. STORNIOLO, 2004, p.55). Largar tudo não é a vontade de Jesus, mas sim o amor que leva a pessoa a se doar pela causa do Reino.

Entra na minha casa
Entra na minha vida
Mexe com minha estrutura
Sara todas as feridas
Me ensina a ter santidade
Quero amar somente a ti
Porque meu senhor é meu bem maior
Faz um milagre em mim

Pelo que parece, esse é o refrão da música e certamente nele esta as “grandes verdades” do autor. Mas o que percebemos é que ele nem sequer leu o Evangelho no qual ele pensa que se baseou. Algo que angustia é saber que Lucas de todas as formas enfatiza as atitudes de conversão de Zaqueu e as iniciativas que tomou. Aqui, o que vemos é alguém exigindo um monte de coisa de Jesus. Ao invés de servir Jesus como propõe o Evangelho, aqui Jesus é feito de empregado com um monte de tarefa a cumprir. É alguém dando ordens e esperando tudo de braços cruzados como se as pessoas não precisassem fazer nada. É o que o mundo quer, é o que o autor propõe por isso faz sucesso.

A primeira ordem é: entra na minha casa, entra na minha vida. No Evangelho não houve isso. Zaqueu nem sequer abriu a boca. Não chamou Jesus e nem exigiu nada. Jesus gratuitamente se apresentou e chamou Zaqueu pelo nome. Jesus conhece o pecador, conhece o coração, conhece a necessidade, por isso se aproxima. Mais ainda, Zaqueu não convida Jesus para entrar em sua casa, Jesus se oferece espontaneamente (Cf. Lc 19.5). Ele vai não porque o pecador chama, mas porque o pecador precisa dele. Para Zaqueu bastou apenas descer da árvore e recebe-lo com alegria. Descer da árvore é mais importante que subir porque indica a aceitação de Jesus. Com a acolhida de Jesus e das exigências que sua presença supõe tudo mais acontece.

As ordens continuam: Mexe com minha estrutura, sara todas as feridas. São pedidos interessantes, mas exigentes. Jesus não mexeu na estrutura de Zaqueu. Ele mesmo tomou consciência de seu pecado, depois disso mudou de vida e tomou as atitudes que tomou. Não é preciso mexer com as estruturas, é perigoso desmoronar tudo. Basta perceber a presença de Jesus e tomar consciência, tomar vergonha dos erros e querer melhorar. Mexer nas estruturas é função minha não de Jesus. Foi o que Zaqueu fez, é o que Lucas transmite.

A outra ordem para Jesus também é reveladora: sara todas as feridas. É o que muita gente pensa, reduz Jesus a Curandeiro como se essa fosse sua única função ao se encarnar no mundo. É inegável que Jesus fazia milagres, realizava curas, o próprio Lucas relata isso (Cf. Lc 5,17-25; 6,6-11), mas sua maior função é salvar a humanidade, foi por isso que ele fez o caminho e morreu na cruz.

Quando o autor fala de todas as feridas se referindo a Zaqueu, certamente ele está falando do pecado. A cura de todas as feridas (pecado) não depende somente de Jesus, depende de mim, da minha força de vontade de sair da situação de pecado, de me arrepender e buscar o perdão de Deus. As piores feridas que carregamos existem em função do pecado e da falta de perdão. Zaqueu buscou o perdão de Deus e experimentou a sua misericórdia. Dar ordens para Jesus não adianta nada, é preciso aceitar o remédio e esse - para surtir efeito - às vezes causa dor. Não foi fácil para Zaqueu tomar as atitudes que tomou. A cura depende também de quem está doente.

Me ensina ter santidade, mais uma ordem. Jesus já ensinou e continua ensinando. Basta ler os evangelhos (Cf. Mt 5,1-12). O maior ensinamento de Jesus é o amor a Deus e ao próximo, eis o caminho da santidade. Zaqueu percebeu isso. Depois aparece uma atitude típica da religiosidade atual. Uma contradição com a primeira proposição. Santidade é amar a Deus e aos irmãos, como é que agora aparece esse desejo de amar somente Jesus?

Jesus não quer apenas pessoas ajoelhadas diante de si para adorá-lo. Quer pessoas dispostas a aprender a mansidão e a bondade de coração que ele transmite e pessoas que tenham coragem de ajoelhar aos pés dos irmãos para lavar-lhes os pés (Cf. Jo 13,2-11). Se não acreditamos nisso, podemos rasgar os Evangelhos de nossas Bíblias que não irão fazer falta alguma. Não dá para ser santo amando apenas Jesus, isso é um absurdo, pois seu maior mandamento é amar uns aos outros como ele próprio amou, isso todos os evangelistas falam (Cf. Mt 22,39; Mc 12,30-31; Lc 10,27-28; Jo 13,34).

Por fim, uma coisa interessante. O senhor é meu bem maior. Ainda bem que a música termina com uma afirmação verdadeira. Ter consciência que Jesus é o bem maior deve produzir atitudes em nós que valorizem esse bem. Zaqueu assim o fez e Lucas cravou na história essa passagem para mostrar a todos nós o que deve ser feito. Se Jesus é um bem, deve ser buscado como um bem, não por interesse apenas. Zaqueu subiu na árvore, se esforçou. Quais esforços realizamos para adquirir esse bem? E o autor finaliza com o tema da música que já estudamos.

3. Finalizando

É inegável o sucesso da música e a grande aceitação popular de sua mensagem. Não se pode questionar o talento de Regis Danese que soube utilizar as expectativas atuais para lançar suas idéias. Certamente tinha o objetivo de evangelizar e o fez segundo a proposta de seu segmento religioso. Não podemos exigir dele o conhecimento bíblico que acabamos de verificar. Mas dos pastores e agentes pastorais da Igreja Católica que utilizam essa música em suas liturgias, é preciso exigir o mínimo de senso crítico. Para isso foi feito e estudo do Evangelho em contraponto a letra da música.

A música em si é bela e as coisas belas fazem bem a alma, mas a ideologia que transmite nem sempre é benéfica. É por isso que o senso crítico é necessário. Nossa Igreja é rica em conteúdo, temos uma tradição grande e belíssimos cânticos com amplas mensagens fiéis às escrituras, não há motivos para se rebaixar ao gosto popular. Seguir o modismo não é critério sábio para quem deseja fazer uma boa evangelização. De intimismo e individualismo o mundo está cheio, o que precisamos é do amor de Deus e de uma liturgia lúcida que transmita esse amor. Para isso temos nossos cantos, nossa tradição, temos bons compositores que são fiéis às Sagradas Escrituras, não precisamos recorrer e depender do modismo e suas peripécias.

Podemos depois de tudo encontrar alguém que venha dizer: “mas essa música me faz bem”. Diante disso basta apresentar a mensagem do Evangelho. Se a música faz bem, Deus age até por meios imperfeitos, mas se queremos “um bem maior”, devemos buscar Jesus e isso os evangelistas oferecem em seus evangelhos com mensagens verdadeiras. Entre Regis Danese e Lucas, fiquemos com o Evangelista porque sua mensagem, apesar de exigir conversão e atitudes verdadeiramente cristãs, produz efeitos benéficos na vida dos homens e da Igreja. Esses são os efeitos queridos por Deus ao enviar seu filho Jesus Cristo ao mundo para morrer por nossos pecados.

Esses efeitos não são passageiros como os da música porque tem o objetivo de produzir em nós a salvação eterna. Em poucos dias ninguém mais se lembrará dessa música, enquanto Lucas com sua mensagem já atravessou milênios. Jesus misericordioso de Lucas nos ama incondicionalmente e está pronto a nos ajudar na conversão que deve ser diária e constante. O Milagre ele já fez, assumiu nossa condição e nos resgatou da morte e do pecado. Não precisamos pedir mais milagre, precisamos da graça de acolhê-lo e deixar sua presença nos transformar em verdadeiros discípulos e missionários. Esse efeito, tal música não produzirá na vida da Igreja de Cristo.

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Referências

BÍBLIA. Bíblia em Português. A Bíblia de Jerusalém: nova edição, revista. Evangelho de Lucas. São Paulo: Paulinas, 1973. p. 1926- 1978.

BORN, A. Van Den (org.) Dicionário Enciclopédico da Bíblia. 6.ed. Tradução Frederico Stein. Petrópolis, Rj: Vozes, 2004.

BORTOLINI, José. Meditando com os pecadores e pecadoras do Evangelho. 2.ed. São Paulo: Paulus, 2003.

CONCÍLIO VATICANO II. Constituição Dogmática “Lumen Gentium” sobre a constituição hierárquica da Igreja (7-12-1965). 11 ed. Petrópolis, RJ: Vozes, 1974.

FONSATTI, José Carlos. Introdução aos Evangelhos: cadernos temáticos para evangelização. Petrópolis, RJ: Vozes, 2004.

GOMES, Cirilo Folch. Riquezas da mensagem cristã. Lúmen Chisti. Mosteiro de São Bento Rio de Janeiro, 1981.

LANCELOTTI, Bocali. Comentário ao Evangelho segundo São Lucas. 2 ed. Tradução de Antonio Angonese e Ephraim Ferreira Alves. Petrópolis, RJ: Vozes, 1983.

PIKAZA, Xavier. A teologia de Lucas. v.3. Coleção Teologia do Evangelho de Lucas. Tradução José Raimundo Vidigal, CSsR. São Paulo: Paulinas, 1977.

STÖGER, Alois. Evangelho Segundo São Lucas. v.3.2. Traduzido por: Frei Álvaro Machado, O.F.M. Petrópolis, RJ: Vozes, 1973.

STORNIOLO, Ivo. Como ler o Evangelho de Lucas: os pobres constroem seu caminho. Coleção Como ler a Bíblia. São Paulo: Paulus, 1992.

WILFRID, J. Harrington. Chave para Bíblia: a revelação, a promessa e a realização. 4 ed. Tradução Josué Xavier e Alexandre Macintyre São Paulo: Paulus, 1985.

quarta-feira, 17 de março de 2010


O caráter evangelizador da música cristã


Santo Agostinho dizia: “quer saber no que cremos, venha ouvir o que cantamos”. Já no século V do cristianismo era claro para todos que a música cristã deveria conter a fé professada por todos e seu caráter evangelizador. Esta é sem dúvida a finalidade de qualquer música que se denomina cristã: conter a mensagem do Evangelho e a doutrina professada pelos cristãos. Mas, diante dessa finalidade surge uma polêmica em sempre tratada com a devida seriedade: por que várias músicas atuais não possuem conteúdo nenhum?

Eu fico horrorizado com determinadas músicas compostas sem critério algum e o que é pior, ao invés de transmitir a mensagem do Evangelho de Jesus Cristo, mais parecem uma “massagem egocêntrica” do próprio “eu” de quem a compõe. O que o cristão deve transmitir? O Evangelho de Nosso Senhor Jesus Cristo, ou seus próprios sentimentos? E por que temos medo de tratar essas questões com a devida seriedade que merecem?

Sem sombra de dúvida, o individualismo e o subjetivismo parecem uma praga na Igreja de hoje, que nós, por mais que denunciemos, não conseguimos vencer. O caráter eclesial da fé sofre em detrimento de uma lógica de mercado “religioso” de procura e oferta, onde o indivíduo não satisfeito com o que encontra, sai a procura da “mercadoria” desejada. E muitas comunidades e igrejas embarcando nessa lógica estampam seus slogan “O que você quer? Nós temos para oferecer pelo melhor preço.”

A música religiosa tem embarcado nessa lógica. Oferta-se um sentimentalismo egocêntrico numa lei de oferta e procura, deixando de lado seu caráter evangelizador, para satisfazer os desejos de quem procura. Será que por meio da música não estamos promovendo um “culto” ao próprio ego, ao invés do verdadeiro culto a Deus?

Muitos grupos ou bandas que existem por aí deveriam se perguntar antes de compor qualquer música: qual a nossa fé? no que cremos? E qual a missão de todo cristão? Talvez isso nos ajudariam a evitar a propagação de músicas subjetivistas, que enaltecem o caráter individualista e egocêntrico, violando o mandato do Senhor: “Ide por todo o mundo e evangelizai” (Mc 16,15). Como poderemos dizer como Santo Agostinho, se muitas músicas não possuem conteúdo evangélico e doutrinário nenhum? Pense nisso!



Pe. Cristiano Marmelo Pinto

sexta-feira, 12 de março de 2010


A FUNÇÃO DA BELEZA NA RELIGIÃO

Dietrich Von Hildebrand



A beleza desempenha importante papel no culto religioso. O ato mesmo de adoração à divindade encerra o desejo de envolver o culto com a beleza. Estigmatizar a preocupação com o belo no culto religioso como "esteticismo" — como fizeram recentemente, com crescente acrimônia, alguns católicos — é revelar uma concepção deformada do culto religioso e da natureza do belo.

É o que se vê claramente quando se considera a natureza do "esteticismo", em vez de se usar o termo apenas com slogan destruidor.

O esteticismo é uma perversão na maneira de considerar a beleza. O esteta saboreia coisas belas como quem saboreia vinho. Não as trata com o respeito e a compreensão do valor intrínseco que requer uma resposta adequada, mas como fontes de satisfação meramente subjetiva. Mesmo dotado de refinado bom gosto, mesmo que seja um notável connaisseur, o tratamento do esteta não pode fazer de maneira alguma justiça à natureza do belo. Acima de tudo, é indiferente a todos os demais valores inerentes ao objeto. Qualquer que seja o tema de uma situação, vê-o somente do seu ponto de vista da satisfação e do prazer estético. Não consiste sua falha em superestimar o valor da beleza, mas em ignorar os outros valores fundamentais, sobretudo os morais.

Tratar uma situação de um ponto de vista que não corresponde ao seu tema objetivo é sempre uma grande perversão. Por exemplo, é perverso que um homem trate de um drama humano que exige compaixão, simpatia e ajuda, como se fosse mero objeto de estudo psicológico. Fazer da análise científica o único ponto de vista em qualquer assunto é radicalmente antiobjetivo e até mesmo repulsivo; é desrespeitar e anular o tema objetivo. Além de ignorar qualquer ponto de vista que não seja o "estético" e qualquer outro tema que não seja o da beleza, o esteta também deforma a natureza real da beleza em sua profundidade e grandeza. Como já mostramos em outros livros, toda idolatria de um bem necessariamente exclui a compreensão de seu verdadeiro valor. A maior e mais autêntica apreciação de um bem somente é possível se o vemos em seu lugar objetivo na hierarquia dos seres, disposta por Deus.

Se alguém se recusasse a ir à missa porque a igreja é feia e a música medíocre, seria culpado de esteticismo, pois estaria substituindo o ponto de vista estético ao ponto de vista religioso. Antítese do esteticismo é apreciar a elevada função da beleza na religião, é compreender o legítimo papel que lhe cabe desempenhar no culto e o desejo das pessoas religiosas em revestir de grande beleza tudo o que se refere ao culto divino. Esta apreciação justa da beleza é até um crescimento orgânico da reverência, do amor a Cristo, do ato mesmo de adoração.

Infelizmente alguns católicos dizem, hoje, que o desejo de dotar de beleza o culto se opõe à pobreza evangélica. É um erro grave e que parece freqüentemente inspirado em sentimento de culpa por terem eles sido indiferentes às injustiças sociais e negligenciado os legítimos reclamos da pobreza. É então em nome da pobreza evangélica que nos dizem que as igrejas devem ser graves, simples, despojadas de todos os adornos necessários.

Os católicos que fazem essa sugestão confundem a pobreza evangélica com o caráter prosaico e monótono do mundo moderno. Deixaram de ver que a substituição da beleza pelo conforto, e do luxo que muitas vezes o acompanha, é muito mais antitético à pobreza evangélica do que a beleza — mesmo esta em sua forma mais exuberante. A noção funcionalista do que é supérfluo é muito ambígua, simples seqüela do utilitarismo. Contradiz as palavras do Senhor: Nem só de pão vive o homem. No livro Nova Torre de Babel, procuramos mostrar que a cultura é um bem superabundante, algo que necessariamente parece supérfluo à mentalidade utilitarista. Graças a Deus, esta não foi a atitude da Igreja e dos fiéis através dos séculos. São Francisco, que em sua própria vida praticou a pobreza evangélica ao extremo, jamais afirmou que as igrejas devessem ser vazias, despojadas, sem beleza. Pelo contrário, igreja e altar nunca seriam suficientemente belos para ele. Diga-se o mesmo de Cura d'Ars, São João Batista Vianney.

Acontece um ridículo paradoxo quando, em nome da pobreza evangélica, são demolidas e substituídas as igrejas mais preciosas artisticamente — e a que custo! — por igrejas prosaicas e monótonas. Não é a beleza e o esplendor da igreja, a casa de Deus, que são incompatíveis com o espírito de pobreza evangélica e que escandalizam o pobre; são muito mais o luxo e o conforto desnecessários, hoje tão em voga. Se o clero deseja retornar à pobreza evangélica, deve reconhecer que em regiões como nos Estados Unidos e na Alemanha o clero possui os carros mais elegantes, as melhores máquinas fotográficas, os aparelhos mais modernos de TV. Beber e fumar muito é, certamente, oposto à pobreza evangélica; mas não, decerto, a beleza e o esplendor das igrejas.

De um lado, afirmar-se que as igrejas deveriam ser despojadas, porém, ao mesmo tempo, paróquias e campus de escolas católicas estão levantando feios edifícios para assuntos sociais, dotados de todo tipo de luxo desnecessário. Isto é feito em nome de problemas sociais e do espírito de comunidade. Até mesmo nos conventos verifica-se desenvolvimento análogo. Essas novas estruturas não são apenas opostas à pobreza evangélica; criam, também, uma atmosfera tipicamente mundana. Cadeiras reclináveis e tapetes espessos com maciez não muito saudável. Esses edifícios reúnem, artificialmente, três propriedades negativas: dispendiosos (o que diretamente se opõe à pobreza evangélica), feios e convidativos a concessões pessoais, típicas da degeneração que, hoje, ameaça os homens.

Por vezes os argumentos iconoclastas tomam outra feição. Ouve-se, ocasionalmente, algum vigário dizer que a missa é algo abstrato e que as igrejas, especialmente o altar, deveriam ser despojados. Na verdade, a Santa Missa é um mistério surpreendente e que transcende a toda compreensão pela só razão, mas não é, absolutamente, abstrato.

Abstrato é algo especificamente racional; opõe-se a real, concreto, individual. O mundo do sobrenatural, a realidade revelada, transcende o mundo da razão, mas não implica nenhuma oposição ao real e ao concreto. É, pelo contrário, realidade definitiva e absoluta, se bem que invisível. A Missa é, assim, um epítome da realidade concreta, do nunc (agora), pois o próprio Cristo se faz verdadeiramente presente.

A força e o impacto existencial da Sagrada Liturgia têm suas raízes exatamente no fato de não ser abstrato e dirigir-se não só à nossa inteligência ou simplesmente à fé, mas, sobretudo, de falar, de inúmeras maneiras, à totalidade da pessoa humana. Imerge o fiel na sagrada atmosfera do Cristo, pela beleza e esplendor sagrado das igrejas, pelo colorido e beleza das vestimentas, pelo estilo de linguagem e sublimidade musical do Cantochão.

Católicos progressistas dizem, às vezes, que aqueles que combatem a iconoclastia, se ocupam do "inessencial".

De fato, não é essencial que seja bonita a igreja, onde se celebra a Santa Missa e distribui a Comunhão aos fiéis. São essenciais apenas as palavras que perfazem a transubstanciação. Sendo este o sentido da frase, nada objetaremos. Se o termo "inessencial" significar "sem significação", então se está querendo dizer que coisas como a beleza das igrejas, a Liturgia e a música são "triviais" e a acusação é completamente errada, porque existe uma relação profunda entre a essência de alguma coisa e sua expressão adequada. A respeito da Santa Missa esta observação é particularmente verdadeira.

O modo como é apresentado esse mistério, sua visível manifestação, desempenha papel definido e não pode ser considerado sujeito a mudanças arbitrárias, apesar de ser incomparavelmente mais importante aquilo que se expressa do que sua expressão. Se bem que o tema efetivo da Missa seja tornar presente o mistério do Sacrifício de Cristo na Cruz e o Mistério da Eucaristia, deve-se dar grande peso à atmosfera sagrada criada pelas palavras, ações, acompanhamento musical e igreja onde se celebra. nada disso pode ser considerado de interesse meramente estético.

Contrapõe-se a todo esse menosprezo gnóstico do conteúdo e da forma externa o princípio especificamente cristão de que as atitudes espirituais devem encontrar também expressão adequada na conduta do corpo, nos seus movimentos e no estilo de nossas palavras. A Liturgia inteira está penetrada desse princípio. Analogamente, o salão e o edifício onde se desenrolam cerimônias sagradas devem irradiar uma atmosfera que lhe corresponda. É certo que a realidade dos mistérios nada sofre se a sua expressão for inadequada. Há, contudo, um valor específico em dar-lhe expressão adequada.

Como se erra, portanto, ao considerar a beleza das igrejas e da Liturgia como coisas que nos podem distrair e afastar do tema real dos mistérios litúrgicos para algo superficial! Quem diz que igreja não é museu e que o homem realmente piedoso é indiferente a essas coisas acidentais, apenas revela sua cegueira à magnífica função desempenhada pela expressão adequada (e bela). Em última análise, trata-se de uma cegueira à própria natureza humana. Mesmo que essas pessoas se proclamem "existencialistas", continuam muito abstratas. Esquecem que a beleza autêntica encerra mensagem específica de Deus, que nos eleva as almas. Como dizia Platão: "À vista da beleza, crescem asas às nossas almas". Mais ainda: da beleza sagrada relacionada à Liturgia nunca se afirma que seja temática, como nas obras de arte; pelo contrário, como expressão, têm a função de servir. Longe de obnubilar ou de se substituir ao tema religioso da Liturgia, ajuda a torná-lo fulgurante.

Valor não é sinônimo de "ser indispensável". O princípio básico da superabundância em toda a criação e em todas as culturas manifesta-se, exatamente, nos valores não indispensáveis a certa finalidade ou tema. A beleza da natureza não é indispensável à economia da natureza. Nem a beleza da arquitetura é indispensável para nossas vidas. Mas, o valor da beleza, na natureza e na arquitetura não é diminuído pelo fato de ser um dom, que de muito transcende a mera utilidade. Desse modo, a beleza é importante não só quando é ela mesma o tema (caso da obra de arte), mas também quando a serviço de outro tema. Destacar que a Liturgia deve ser bela não é colorir religião com tratamento estético. A aspiração pela beleza, na Liturgia, nasce do sentido do valor específico que se apóia na adequação da expressão.

A beleza e a sagrada atmosfera da Liturgia são algo não só precioso e valioso por si mesmo (na qualidade de expressões adequadas dos atos religiosos de adoração), mas são, também, de grande importância para o desenvolvimento espiritual das almas e dos fiéis. Repetimos: aqueles que, no movimento litúrgico, têm insistido na afirmação de que orações e hinos cansativos denominam o ethos religioso dos fiéis, apelando para o que no interior humano está longe do que é religioso, lançam-no em uma atmosfera que obscurece e embaça o semblante de Cristo. É de enorme importância a beleza sagrada para a formação do verdadeiro ethos do fiel. No livro Liturgia e Personalidade, falamos em detalhe da função profunda da Liturgia em nossa santificação, sem sacrifício de ser o culto de Deus seu tema central. Na Liturgia louvamos e agradecemos a Deus, associamo-nos ao sacrifício e à prece do Cristo. Convidando-nos a orar a Deus com o Cristo, a Liturgia exerce papel fundamental em nossa transformação em Cristo. Esse papel não se restringe ao aspecto sobrenatural da Liturgia. Integra, também, sua forma, a sagrada beleza que toma corpo nas palavras e na música da Santa Missa ou do Ofício Divino. Desprezar esse fato é sinal de grande primitivismo, mediocridade e falta de realismo.

Um dos maiores objetivos do movimento litúrgico tem sido o de substituir orações e hinos inadequados por textos sagrados das preces litúrgicas oficiais e pelo Canto Gregoriano. Assistimos, hoje, a uma deformação do movimento litúrgico quando muitos tentam substituir os sublimes textos latinos da Liturgia por traduções nativas, com gírias. Chegam mesmo a mudar, arbitrariamente, a Liturgia no intuito de "adaptá-la aos nossos tempos". O Canto Gregoriano vai dando lugar, na melhor hipótese, à música medíocre, quando não ao jazz ou ao rock and roll. Essas grotescas substituições empanam o espírito de Cristo incomparavelmente mais do que o fizeram certos tipos antigos e sentimentais de devoção. Esses eram inadequados. Aqueles, além de inadequados, são antitéticos à sagrada atmosfera da Liturgia. É mais do que uma deformação; isso lança o homem em uma atmosfera tipicamente mundana. Apela no homem para algo que o torna surdo à mensagem de Cristo.

Mesmo quando se substitui a beleza sagrada, já não pela vulgaridade profana, mas por abstração neutra, incorre-se em sérias conseqüências para as vidas dos fiéis, pois, como indicamos, a Liturgia católica se dirige à personalidade total do fiel. O fiel não é atraído ao mundo de Cristo apenas por sua crença ou por símbolos estritos. São levados a um mundo mais alto pela beleza do altar, pelo ritmo dos textos litúrgicos, pela sublimidade do Canto Gregoriano ou por músicas verdadeiramente sacras, tais como a Missa de Mozart ou de Bach. Até mesmo o perfume do incenso tem função significativa, nesse sentido. O emprego de todos os canais capazes de introduzir-nos no Santuário é profundamente realista e profundamente católico. É autenticamente existencial e realiza função notável em ajudar-nos a elevar nossos corações.

Se é verdade que considerações de cunho pastoral poderão recomendar como desejável o uso do vernáculo, o Latim da Missa — na missa silenciosa, dialogada e, especialmente, cantada com o Gregoriano — jamais deveria ser abandonado. Não se trata de guardar o latim de Missa por certo tempo até que os fiéis se habituem à missa em vernáculo. Como a Constituição da Sagrada Liturgia claramente determina, é permitido o uso do vernáculo, mas a Missa em Latim e o Canto Gregoriano conservam toda sua importância. Foi essa a intenção do motu proprio de São Pio X, que afirmou ser o Latim da missa, como o Canto Gregoriano, responsável também pela formação da piedade dos fiéis, através da atmosfera sagrada e única gerada por sua dicção. Assim, os anseios de muitos católicos e do movimento Una Voce não se dirigem contra o uso do vernáculo, mas contra a eliminação da Missa em Latim e do Canto Gregoriano. Eles apenas estão pedindo que se cumpra, realmente, a Constituição da Sagrada Litugia.

Contudo, certos católicos de hoje manifestam o desejo de mudar a forma exterior da Liturgia, adaptando-a ao estilo de vida de nossa época dessacralizada. Esse desejo denota cegueira com relação à natureza da Liturgia, bem como ausência de respeito reverencial e gratidão pelos dons sublimes de dois mil anos de vida cristã. Acreditar que as formas tradicionais podem ceder o lugar a algo melhor é dar provas de uma ridícula auto-suficiência. E esse conceito é particularmente incongruente nos que acusam a Igreja de "triunfalismo". De um lado, eles consideram falta de humildade a Igreja proclamar que Ela só é detentora da plena revelação divina (em vez de perceber que essa proclamação se fundamenta da natureza da Igreja e decorre de sua missão divina). De outro lado, demonstram ridículo orgulho quando simplesmente assumem que nossa época moderna é superior às anteriores.

Podem-se ouvir, hoje, razões de protesto declarando, por exemplo, que o texto do Glória e de outras partes da Missa estão repleto de expressões cansativas de louvor e glorificação a Deus, quando deveriam fazer mais referências a nossas vidas. É um contra-senso que revela como tinha razão Lichtemberg ao dizer que, se fosse dado a um macaco ler as epístolas de São Paulo, ele veria sua própria imagem refletida nelas. Admiram-se os nossos "teólogos" modernos não apresentarem, dentro em breve, uma nova versão do "Pai Nosso", como o fez Hitler. O "Pai Nosso" claramente enfatiza o primado absoluto de Deus, tão distante da mentalidade típica moderna. Um único pedido diz respeito ao bem-estar terrestre: "o pão nosso de cada dia"... O restante diz respeito ao próprio Deus, a seu Reino, a nosso bem-estar eterno.



(Extraído de "Cavalo de Tróia na Cidade de Deus". Publicado em PERMANÊNCIA, Nos. 142-143 Set-Out. 1980)

quinta-feira, 11 de março de 2010

CANTO E MÚSICA LITÚRGICA NA CELEBRAÇÃO DO MATRIMÔNIIO


“Cantando o Amor de Deus”


Pe. Cristiano Marmelo Pinto


1. Um olhar para a realidade...

Falar da celebração do matrimônio é um desafio para quem se atreve. Infelizmente, o que vemos em nossas comunidades é mais um ato de status do que a celebração do Amor de Deus pela humanidade, celebrada no amor humano. Quando casais de noivos vêm às nossas paróquias para marcar seu casamento, chegam com tudo já estabelecido pela questão social. E não é por menos que surgem conflitos desagradáveis ao se depararem com as orientações da Igreja, a respeito da celebração do matrimônio. Grande parte deles não possuem o mínimo de conhecimento litúrgico sobre o sacramento que irão receber, muito menos sobre as normas litúrgicas e o valor eclesial da celebração deste sacramento. Quando se trata das músicas para a celebração, percebe-se uma total ignorância a esse respeito. Trazem sugestões de músicas que não condizem nem um pouco com a ação ritual. Muitas músicas são escolhidas por questões sentimentais, subjetivas. Está errado. Está tudo errado! Há uma “indústria do matrimônio” que, consciente e/ou inconscientemente, ignoram as orientações litúrgicas do sacramento. Existem também corais especializados em cantar nos casamentos. Nossas paróquias também entraram nesta onda. Por outro lado, muitos padres, para não criarem situações desagradáveis, preferem deixar de lado toda e qualquer orientação litúrgica a respeito do matrimônio, principalmente em relação à música que se deve cantar. Nos cursos de noivos, prefere-se dar mais atenção às questões sobre: planejamento familiar, método natural entre outros assuntos, e quase nada trabalham o aspecto litúrgico do casamento. Também percebe-se pouca produção a este respeito por parte dos liturgistas. São raros os que se atrevem. Mas é inevitável que nos debrucemos sobre este tema, para que possamos promover uma verdadeira ação ritual em torno deste sacramento.

No presente texto, buscaremos clarear um pouco o sentido teológico e litúrgico do sacramento do matrimônio, para depois refletirmos sobre o canto e musica litúrgica na celebração do casamento. É lógico que não faremos um tratado teológico sobre o matrimônio, mas alguns apontamentos para uma melhor compreensão do sacramento.

2. O Matrimônio na Sagrada Escritura

A realidade que a Bíblia aborda em relação ao matrimônio, não é muito diferente daquela que vivemos hoje: infidelidade, adultério, egoísmo, desajustes familiares, falta de diálogo... Lançaram-se para descobrir a origem de tanta desordem na vivência conjugal e, logo de cara, descobriram que no início não foi assim, “Moisés permitiu o divórcio porque vocês são duros de coração. Mas não foi assim desde o início” (Mt 19,8). Contemplaram a grandiosidade do ideal do matrimônio e a missão da família na história humana. Deus criou o homem à sua imagem, “os criou homem e mulher” (Gn 1,27). Deus os criou para a complementariedade. O casal humano adquire, através do ato criador de Deus, a mesma dignidade e identidade de ser: “Deus os abençoou” (Gn 1, 28). “Por isso, o homem deixará seu pai e sua mãe, e os dois serão uma só carne” (Mc 10,7). O homem e a mulher foram criados um para o outro e ambos para Deus. Mas o casal humano experimenta o desvio (cf. Gn 3,4-6). Fecha-se em si, no seu eu, numa liberdade sem referência. Tendo se distanciado de Deus, o casal se desequilibra, perde seu horizonte dentro do plano de Deus (cf. Gn 3,7-10). Este desequilíbrio afeta o relacionamento entre o homem e a mulher (ou: relacionamento do casal) e a própria missão da família no mundo. Começam as acusações, os sofrimentos... “Foi a mulher que tu me deste: ela me apresentou o fruto e comi...” (Gn 3,12).

Diante desta desordem, das infidelidades, Deus segue uma longa pedagogia, fazendo com que o povo amadureça, até abraçar o ideal evangélico trazido por Jesus. A Antiga Aliança reflete bem a “dureza de coração” (Mt 19-8). Mas, mesmo com as inúmeras infidelidades, Israel tem consciência de ser o “povo eleito”. A melhor expressão para revelar o amor de Deus para com seu povo é o amor do esposo para com a esposa (cf. Os 2,21-22). Porém, o povo não é fiel a esta Aliança. Mas Deus, o esposo, é misericordioso, paciente e sempre perdoa essas infidelidades.

Cristo prega a volta às origens. O papa João Paulo II, na “Familiaris Consortio” diz que: “A comunhão entre Deus e os homens encontra o seu definitivo cumprimento em Jesus Cristo, o Esposo que ama e se doa como Salvador” (nº. 13). O matrimônio torna-se, assim, sacramento da Nova Aliança. E é o Espírito Santo que torna o homem e a mulher capazes de se amarem como Cristo nos amou. Esta inserção na Nova Aliança se dá pelo batismo. Em virtude da sacramentalidade do matrimônio, o vínculo estabelecido entre homem e mulher atinge sua indissolubilidade. O amor conjugal é testemunha do Amor Salvador de Cristo pela humanidade, ao doar-se totalmente na Cruz. O sacramento do matrimônio é memória, atualização deste Amor de Cristo por nós. O amor conjugal engloba a totalidade do ser humano: corpo, sentimento, afetividade, aspirações... e dirigi-se a uma unidade profundamente pessoal que, mais do que “uma só carne” os torna “um só coração”.

3. Aspectos Teológicos do Matrimônio

Ao falarmos dos aspectos teológicos do matrimônio, evidentemente estaremos falando da liturgia. Nas origens da Igreja, teologia e liturgia não se separavam. Da mesma forma, não pode haver oposição entre evangelização e sacramentos. Ambos se complementam.

Os sacramentos se destinam ao culto a ser prestado a Deus. Na ação ritual acontece um duplo movimento: o homem glorifica a Deus, seu Criador, e Deus santifica o homem, sua criatura. A Constituição Sacrosanctum Concilium (SC) afirma que: “A liturgia é o cume para o qual tende toda a ação da Igreja e, ao mesmo tempo, a fonte donde emana toda a sua força” (SC 10). Quando falamos em liturgia, pensamos em toda a ação ritual da Igreja. Isto inclui principalmente a celebração dos sacramentos e, no nosso caso, o sacramento do matrimônio. Os sacramentos supõem a fé e ao mesmo tempo a alimenta e fortalece. A graça sacramental exige uma resposta pessoal e só produz efeito quando esta resposta é integral e sincera. Exige uma recepção consciente e ativa. Por isso, é necessária uma boa catequese sobre o sacramento do matrimônio. Os sacramentos não são coisas e nem produzem efeitos mágicos, como às vezes se pensa. Sempre apelam para uma resposta consciente. Exige, pelo menos, fé de quem os recebe.

Teologicamente, os sacramentos são sinais que simbolizam a graça que produzem e conferem. São gestos do amor de Cristo que um dia doou sua própria vida pela salvação da humanidade, que, hoje, é atualizada pela celebração dos sacramentos. Recordam o amor com que Cristo amou a Igreja e se entregou por ela. Esta doação é desinteressada, gratuita. O matrimônio simboliza este amor. Participa dele. Deste modo, os nubentes devem se entregar generosamente, desinteressadamente e radicalmente.

São vários os gestos e símbolos sacramentais no matrimônio: dar as mãos, consentimento, as alianças, etc. Todos estes gestos e sinais nos ajudam a concretizar o que o sacramento significa.
No matrimônio, os ministros são os próprios nubentes. Isto se dá pelo sacerdócio comum conferido no batismo. Sendo ministros do sacramento, exige-se deles a mesma consciência, formação e responsabilidade que se exige dos demais ministros: fé, estado de graça e vivência comunitária.

Portanto, é mais do que urgente pensarmos numa catequese matrimonial adequada, que ajude os casais a celebrar dignamente o matrimônio.

4. A liturgia do Sacramento do Matrimônio

Assim como toda a liturgia, o matrimônio não é um acontecimento que diz respeito apenas a quem se casa. É um acontecimento comunitário. Celebra-se a dimensão cristã e eclesial. Por este motivo, todos os envolvidos na ação ritual devem preparar com a devida atenção a celebração do sacramento. A celebração deve atingir todos na comunidade. A assembléia deve participar escutando com atenção as leituras, a homilia, fazendo silêncio, participando dos gestos previstos, respondendo as aclamações e acompanhando os nubentes naquilo que a eles compete. Embora a celebração do matrimônio comporte um caráter social, ela é essencialmente uma ação eclesial. É a fé da Igreja que se celebra. O presidente da celebração deve favorecer uma participação plena, consciente e ativa de toda a assembléia. É oportuno que a paróquia tenha uma equipe litúrgica que se preocupe com a celebração do matrimônio. A equipe cuidará da preparação da celebração, da ornamentação, orientará e acolherá os nubentes, familiares e convidados, executará os cantos litúrgicos. Esta equipe deverá se reunir algumas vezes para aprofundar a dimensão litúrgica do sacramento do matrimônio e de sua preparação. Cabe também, fazer uma preparação litúrgica com os noivos para que tenham conhecimento do rito do matrimônio. Este encontro, a própria equipe poderá realizar. É necessário também esclarecer a respeito das músicas a serem executadas durante a celebração, conforme as orientações litúrgicas. Devem orientá-los a respeito das fotos, filmagem, etc.

5. O problema da Música na Celebração do Matrimônio

A questão do canto e música na celebração do matrimônio constitui um verdadeiro desafio pastoral para a Igreja hoje. A Instrução Musicam Sacram diz: “nada se introduza de meramente profano ou menos condizente com o culto divino” (43). Esta instrução se aplica de modo especial na celebração do matrimônio. O que vemos nos dias de hoje, é um abuso consciente ou inconsciente, no campo da música na celebração do matrimônio. Utilizam-se músicas que ferem expressamente o caráter sacramental do matrimônio. São músicas das mais estranhas proveniências, tais como: temas de filmes, sucessos das pistas, entre tantas outras, que evocam mais um sentimento subjetivo dos nubentes, do que a própria natureza da liturgia. Gostaria de citar apenas algumas músicas como: “Eu sei que vou te amar”, “Rei Leão”, “Titanic”, “Ghost”, “O Guarda Costas”, “A Bela e a Fera” e “O Fantasma da Ópera”... Tais músicas estão fora de tudo o que é previsto liturgicamente. Mas, para não ter confrontos com os nubentes, muitos padres e equipes preferem não forçar uma música mais adequada para a liturgia. A prevenção da Instrução Musicam Sacram é perfeitamente justificada. Precisamos trabalhar para um repertório litúrgico-musical mais adequado. No fascículo 4, do Hinário Litúrgico da CNBB, podemos encontrar boas sugestões de canto para a celebração do matrimônio. Mas este repertório precisa ser aumentado, com músicas que correspondam mais à nossa época e à cultura do nosso povo. Precisamos compor músicas para cada momento ritual da celebração, que expressem a verdadeira natureza da liturgia e do sacramento em questão. Eis aí uma batalha que precisa ser travada: uma catequese litúrgico-musical com os noivos e, ao mesmo tempo, a ampliação de um repertório específico para o Sacramento do Matrimônio. Se queremos combater os abusos, precisamos ter o que oferecer!

6. O Canto Litúrgico na celebração do Matrimônio

A música participa da mesma finalidade da liturgia: glorificação de Deus e santificação do homem. Ela não é um adorno, mas parte integrante e necessária da ação litúrgica (cf. SC 112). A mesma Constituição afirma que “a música será tanto mais santa quanto mais intimamente estiver unida à ação litúrgica” (SC 112). Isto vale para a música na celebração do matrimônio. Pio X no Motu Proprio Tra Le Sollecitudini diz que o ofício da música litúrgica é “revestir de adequadas melodias o texto litúrgico” (nº. 1). Por isso, a música na celebração do matrimônio submete-se à finalidade última da própria liturgia. “Na medida do possível, celebrar-se-ão com canto os Sacramentos e Sacramentais” (Musicam Sacram, 43).

Quanto às músicas a serem executadas na celebração do matrimônio deve-se obedecer três aspectos:

1. Aspecto Litúrgico: o texto, a forma, o estilo da música deve estar em sintonia com a natureza da liturgia.
2. Aspecto Musical: deve ser técnica, estética e boa.
3. Aspecto Pastoral: a música deve ajudar a assembléia a participar adequadamente da celebração.

A questão é de caráter religioso-litúrgico, isto é, na celebração não se deve fazer música pela música, mas ela deve possibilitar a comunicação profunda com o Mistério da Salvação na liturgia. A música tem uma função ministerial, ela está a serviço da liturgia. O critério fundamental é: quanto mais a música estiver integrada à ação litúrgica, ritual, tanto mais ela será litúrgica e adequada. O Papa João Paulo II, no Quirógrafo sobre a Música Sacra diz: “Os vários momentos litúrgicos exigem, de fato, uma expressão musical própria, sempre apta a fazer emergir a natureza própria de um determinado rito” (nº. 5).

7. O que cantar e quando cantar na Celebração do Matrimônio

Até agora nossa reflexão se preocupou com o Sacramento do Matrimônio nos seus aspectos bíblico, teológico e litúrgico. Somente compreendendo a natureza teológica e litúrgica deste sacramento poderemos então, tratar dos cantos específicos na celebração do matrimônio. O ideal é que o matrimônio seja celebrado dentro da missa. Mas a prática pastoral tem reservado este modo de celebrar para aqueles casais que possuem uma vivência eclesial participativa e consciente. Normalmente utiliza-se o Rito do Matrimônio sem Missa. Há várias razões para isto. Uma delas são as celebrações realizadas seqüencialmente e o péssimo costume das noivas atrasarem. Outra razão é que a celebração da eucaristia pressupõe fé e consciência e muitos dos que participam das celebrações de casamentos não a possuem adequadamente. Seria necessária uma catequese e isto nem sempre é possível. Quando o matrimônio é celebrado dentro da missa, as orientações a respeito do canto litúrgico seguem as da missa. Não se deve introduzir nada que seja estranho ao ambiente religioso.

Como a maioria dos matrimônios são celebrados fora da missa, vamos nos concentrar no Rito do Matrimônio sem Missa.

8. Cantar o Sacramento do Matrimônio

Como o Matrimônio se destina ao desenvolvimento e à santidade do povo de Deus, a sua celebração é essencialmente comunitária. A liturgia é o culto público da Igreja. Nela, toda a comunidade é convidada a participar. Por este motivo, não se deve celebrar o Matrimônio em lugares fechados, onde a participação de qualquer fiel seja impedida. Por ser o culto da Igreja reunida, devem-se evitar outros ambientes que não possuam a índole religiosa. Por isso não se celebra o casamento em chácaras, clubes, etc. É celebrado sempre na igreja, lugar oficial do culto da comunidade cristã.

O atual Ritual do Matrimônio se preocupa em apresentar uma celebração mais significativa e participada, criando um ambiente religioso e sagrado, eliminando tudo o que é profano. A música e o canto são meios privilegiados para promover esta participação. “Os cantos escolhidos sejam de acordo com o Rito do Matrimônio, exprimindo a fé da Igreja” (Introdução Geral do Ritual do Matrimônio, 30).

Falar dos cantos litúrgicos na Celebração do Matrimônio é um verdadeiro desafio. Quase não há bibliografia sobre esta matéria. Os autores litúrgicos trabalham exaustivamente a teologia, a liturgia, o rito, menos o canto litúrgico para este sacramento. Com certeza, por falta de uma reflexão adequada e, conseqüentemente, por ignorância de muitos, deram-se os abusos no campo da música, que hoje tentamos corrigir.

Procurarei (As expressões anteriores estão na terceira pessoa do plural – grifadas por mim, na cor rosa. Seria bom padronizar, conforme sua escolha) levar em conta o costume comum e, em relação aos cantos e músicas na celebração do matrimônio, estabelecer, a partir da teologia e da liturgia do sacramento, a função ritual de cada canto. Mas fica o desafio para aqueles que são peritos em liturgia para darem um pouco mais de atenção a este respeito.

8.1. Canto de Entrada dos Noivos:

Este canto é previsto no Ritual do Matrimônio. O ritual prevê que o sacerdote acolha os noivos a porta da igreja. Em seguida, faz-se a procissão de entrada até o altar. Enquanto acontece a procissão, canta-se um canto de entrada. Pastoralmente, isto não tem sido possível. Não é preciso dizer as razões. Mas é ideal que seja segundo a prescrição que está no ritual. O que acontece normalmente é a entrada do noivo, seguida da entrada da noiva, enquanto o sacerdote os espera no altar.

Para a entrada dos noivos, o canto deve expressar o sentido da celebração. No matrimônio humano, celebramos o Amor de Deus pela humanidade inteira. Portanto, o canto de entrada deve expressar este mistério, o mistério do Amor de Deus realizado no amor humano. Este canto tem por finalidade abrir a celebração, unir os corações em torno do mistério do Amor de Deus, que atingiu a plenitude na doação da vida de Jesus Cristo para salvação de todos. Sendo assim, este canto não evoca somente os sentimentos do casal, mas de toda a comunidade reunida. Portando, não se trata de um canto qualquer. Eis um exemplo de canto de entrada:

1. Duas vidas a fé celebrando / a pulsar já num só coração, / para o altar vão na paz caminhando, / na certeza do amor-comunhão.
Refrão: Também Cristo, à Igreja se unindo / no mais santo e sublime esponsal, / fez do amor, entre esposos tão lindo, /sacramento do amor eternal.
2. O Senhor, vindo a nós, na alegria, / na harmonia de um lar quis nascer! / Matrimônio é então liturgia, / que faz vidas em Deus florescer!
(Hinário Litúrgico, Fasc. 4 – CNBB)

Este canto expressa bem a índole do canto de abertura. É a liturgia que celebramos junto com a união dos noivos. Desta união, toda a Igreja participa, alegra-se e abençoa. Deixa bem claro o amor de Cristo pela Igreja e a natureza do matrimônio.

8.2. Salmo Responsorial

A Liturgia da Palavra da celebração do matrimônio é bem rica. “A Liturgia da Palavra tem grande importância para a catequese que se deve fazer sobre o próprio sacramento e os deveres conjugais...” (Ritual do Matrimônio, 34). Além do texto bíblico escolhido para a celebração, é conveniente que se escolha um salmo. O próprio ritual apresenta uma seleção de salmos que podem ser usados na celebração. O salmo é uma resposta orante e por natureza foi composto para ser cantado. É Palavra de Deus e por isso merece toda a atenção assim como as demais leituras. Existem boas melodias para a execução do salmo. O modo mais apropriado e comum entre nós é como responso,: o salmista entoa as estrofes enquanto a assembléia responde com o refrão. Vale mencionar o maravilhoso trabalho feito pela Ir. Miria T. Kolling, no livro “Cantando os salmos e aclamações”. Este material, além das partituras, está gravado em cds.

8.3. Canto de Aclamação ao Evangelho

Antes da proclamação do Evangelho é oportuno entoarmos o canto de aclamação ao evangelho. que, por sua própria natureza, é uma aclamação, um viva a Jesus que vem nos falar. Assim como Jesus está presente na Eucaristia, ele também está presente na Palavra proclamada. A aclamação ao evangelho é uma preparação. Deve criar um clima de expectativa, de prontidão. É um canto vibrante e alegre. A música deve traduzir este entusiasmo. Com ritmo marcado, deve comunicar exultação, alegria... A aclamação deve ser cantada por toda a assembléia.

Exemplo:
Refrão:
Viva Jesus, / que vai agora nos falar,
Mulher e homem, ó Senhor, vem libertar.

Deus é amor, caridade.
Se Deus nos amou deste modo,
Também nós nos devemos amar.
(Hinário Litúrgico, Fasc. 4 – CNBB)

8.4. Bênção das Alianças

O Rito do Matrimônio propriamente dito acontece somente depois da Liturgia da Palavra. O rito consta de: diálogo, consentimento, bênção e entrega das alianças. Neste momento é costume fazer um canto. Normalmente faz-se a Ave Maria. Na verdade não se deveria haver canto neste momento, durante as palavras, que devem ser ouvidas por todos, sem algo que possa atrapalhar. Não existe música de fundo neste momento. Não há lugar também para a Ave Maria na liturgia do matrimônio. Quanto termina a entrega das alianças, aí sim poderia ser feito um canto. Mas este canto deve expressar o verdadeiro significado deste ato. As alianças que os nubentes entregam um ao outro não são apenas sinal de fidelidade e de amor entre ambos, mas significa o amor que Deus sente por todos os homens. São um selo de fidelidade. O casal que se torna fiel no amor conjugal torna-se igualmente fiel ao amor que Deus tem pelo seu povo. Quem é infiel no casamento quebra a Aliança com Deus.

Exemplo:
1. Aliança em meu dedo / é riqueza em minha mão, / ao vê-la, vês meu segredo: / tem dono o meu coração.
Refrão: Ó Pai, fizestes Aliança / com vosso povo na história: / vós sois a nossa esperança / neste momento de glória; / que a vossa fidelidade / encha o nosso coração, / para ser linda verdade / a aliança na nossa mão!
2. A eternidade se esconde / nesta aliança pequenina: / começa, não sabes onde, / nem sabes onde termina.
(Hinário Litúrgico, Fasc. 4 – CNBB)

8.5. Canto de Comunhão (quando houver)
O Ritual do Matrimônio prevê que, quando houver comunhão eucarística, pode-se fazer um canto apropriado. Aqui vale os mesmos princípios para o canto de comunhão na celebração da eucaristia: deve expressar a comunhão das vozes enquanto se comunga. É um canto alegre e de índole comunitária, pois comungar é fazer comunhão com os irmãos e irmãs de fé. O próprio significado do canto de comunhão exige que dele todos participem. Quando há comunhão eucarística, a prática comum é somente o casal comungar. Às vezes, pais e padrinhos também participam da comunhão eucarística. Porém, é bom lembrar que a comunhão eucarística é própria da celebração da missa. Portanto, deve-se conduzir os fiéis para a participação na celebração da eucaristia. O canto deve expressar o amor de Deus no amor do casal, no amor humano.

Exemplo:
1. Os olhos do meu amado / refletem a luz do amor. / Quando os olhos são brilhantes, / são de Deus o esplendor!
Refrão: Eu sou para o meu amado / meu amado é para mim. / O amor faz o casamento, / foi Jesus que quis assim!
2. A face do meu amado / é o sol que me dá calor. / Nós somos imagem de Deus, / demonstrando seu amor!...
(Hinário Litúrgico, Fasc. 4, pág. 69)

8.6. Músicas na hora dos cumprimentos

É costume, enquanto o casal cumprimenta os pais e padrinhos, algumas músicas serem cantadas. Neste momento, principalmente, acontecem grandes abusos. Temas de filmes, músicas espiritualistas, sucessos das pistas, entre outras tantas, são executadas neste momento. Um erro grave que deve ser corrigido com determinação. Os motivos que os noivos dão são muitos: “esta música tocou meu coração”, “marcou o nosso namoro” (tirei o efeito itálico, pois está entre aspas), etc. Mas estes motivos não justificam tamanho abuso. Volto a lembrar o que diz a Instrução Musicam Sacram: “não se introduza na celebração nada que seja puramente profano ou pouco compatível com o culto divino” (MS 43). O que se canta é o Amor de Deus que é testemunhado na união entre o homem e a mulher, no amor conjugal. Porém, a liturgia permite, de certo modo, o uso de músicas instrumentais e algumas obras clássicas na liturgia. Mas, mesmo em relação a estas músicas, devem-se ter critérios para sua escolha. Sobre isto, falaremos mais adiante. Na saída do casal pode-se entoar um outro canto, ou executar uma música instrumental enquanto saem pelo corredor central. O princípio é o mesmo que dos demais cantos.

9. Músicas instrumentais e clássicas na Celebração do Matrimônio

Embora a música instrumental não seja parte necessária e integrante da liturgia, ela pode ser propícia para alguns momentos. A música cristã é, em primeiro lugar, essencialmente vocal. A música instrumental pode se tornar litúrgica em segundo plano, acompanhando o canto, auxiliando no rito. Ela pode promover ricos momentos de quietude e profunda interiorização. Mas fica sempre o primado da voz humana. A música instrumental não pode perturbar os corações e nem desviar as atenções do Mistério celebrado. A admissão da música instrumental na celebração litúrgica não se dá pelas suas próprias características, mas pela relação que ela deve estabelecer com a ação ritual. As condições de sua utilidade devem ser pastorais e litúrgicas, favorecendo a oração, a edificação da assembléia e a dignidade do templo. Mesmo que possa ser mais livre que a música litúrgica, deve participar de sua dignidade e finalidade. Existem várias obras clássicas que podem ser usadas na celebração do matrimônio. O importante é observar as regras gerais, para que não se utilize qualquer música instrumental. Deve-se evitar, por exemplo, músicas dos cantores Enya, Kenny G, entre outros. Estas não se justificam pelo fato de serem praticamente instrumentais. Entre as músicas clássicas que podem ser utilizadas, indico: Messias (G.F. Haendel), Ave-Maria (F. Schubert e Gounod), Pompa e Circunstância (E. Elgar), Adágio em Sol Maior (Albinoni), Jesus alegria dos homens (J. S. Bach), e tantas outras...

10. Os grupos especializados em cantar nos casamentos

Existem hoje muitos grupos, corais e orquestras que se especializaram em cantar e tocar nos casamentos. O problema é que, na maioria dos casos, não possuem uma adequada formação litúrgica para atuarem nas celebrações. São profissionais da música, mas não ministros do canto litúrgico com as devidas qualidades. Sem falar que isto se tornou um negócio rentável. O canto é o meio mais eficaz de se conseguir a participação da assembléia. Mesmo os grupos de cantores devem participar ativamente da ação litúrgica. Em princípio, a animação do canto na celebração do matrimônio, deve ser exercida pelos grupos e coros da própria comunidade. Porém, muitas comunidades ainda não se dispõem de grupos com repertório e formação adequada para atuarem neste campo. Por isso, se recorre aos grupos especializados em músicas para casamentos. A animação da música litúrgica não exige somente competência musical, mas também sensibilidade religiosa, fé e familiaridade com os ritos dos sacramentos. Estas qualidades dificilmente se encontrarão nos grupos especializados. É de suma importância então, fazer uma catequese litúrgica e musical com estes grupos, para que eles possam se adequar à finalidade da própria liturgia. Esta catequese deve aprofundar os elementos dos ritos litúrgicos, o caráter sagrado do culto e do templo, a identidade da música litúrgica e sua função ritual, o repertório para a celebração do matrimônio...

11. Uma palavra final

Nota-se de todos os lados pouca atenção para este importante Sacramento da Igreja. É urgente que liturgistas, compositores, padres, agentes da liturgia e da pastoral matrimonial façam uma reflexão séria sobre a celebração e a música na celebração do matrimônio. Embora se exija uma música que seja litúrgica para o casamento, o repertório ainda é muito escasso. O desafio está aí! Precisamos enfrentá-lo com coragem e determinação. Precisamos resgatar o valor sacramental do matrimônio e corrigir os erros e abusos cometidos em sua celebração. Por seu valor não somente religioso, mas para a própria família humana, precisamos dar a devida atenção para o Sacramento do Matrimônio e sua celebração.

Bibliografia

1. Documentos da Igreja sobre a Música Litúrgica. São Paulo: Paulus, 2005.
2. CNBB. Estudo sobre os cantos da missa. Estudo 12. São Paulo: Paulinas, 1976.
3. CNBB. A Música Litúrgica no Brasil. Estudo 79. São Paulo: Paulus, 1999.
4. BECKHÄUSER, Fr. Alberto. Cantar a Liturgia. Petrópolis: Vozes, 2004.
5. CELAM. Manual de Liturgia III. São Paulo: Paulus, 2005.
6. BOROBIO, Dionísio. Pastoral dos Sacramentos. Petrópolis: Vozes, 2000.
7. BORTOLINI, José. Os Sacramentos em sua vida. São Paulo: Paulus, 1981.
8. CHARBONNEAU, Paul-Eugène. Curso de preparação ao casamento. São Paulo: Herder, 1971.
9. SCHEID, Dom Eugênio O. (coord.). Preparação para o casamento e para a vida familiar. Aparecida: Santuário, 1989.

A CELEBRAÇÃO DA EUCARISTIA

Pe. Cristiano Marmelo Pinto


No presente texto quero partilhar com vocês meus amigos e amigas uma reflexão sobre a Celebração de Eucaristia. Ela é o centro da vida do cristão. É o cume para onde tende todas as nossas ações. É na Celebração da Eucaristia que a Igreja se manifesta de maneira visível ao mundo. Congregados no nome do Senhor, a Igreja, Cabeça ( que é Cristo ) e Membros ( todo o povo de Deus ), se une para celebrar o centro de nossa fé: o Mistério Pascal de Cristo. Não iremos nos deter em detalhes, que podem ser buscados nas referências bibliográficas mencionadas no fim desta reflexão. Estudaremos a missa no seu aspecto estrutural. Nosso objetivo é conhecer as partes da missa para nos situarmos dentro de uma celebração.

Não devemos cair num mero seguimento cego e escrupuloso das rubricas litúrgicas. Isto é um exagero! Devemos pois ajudar para que o povo, comunidade de irmãos reunidos possam ter uma participação plena, ativa e consciente nas celebrações litúrgicas como nos pede a Sacrosanctum Concilium, nº 14.

A missa é antes de tudo uma refeição. Cristo a instituiu durante sua última refeição com os discípulos (cf. Mt 26, 26-29). Na Eucaristia, fração do pão, somos alimentados pela Palavra de Deus e pelo próprio Corpo e Sangue do Senhor. Não é uma simples refeição, ela envolve fraternidade, acolhimento e comunhão. Mas é também um sacrifício no qual Cristo se imola por todos nós. Sua vida foi uma constante oblação ao Pai. Mas com seu sacrifício deu-nos novamente a vida. Com o sacrifício da cruz, Cristo estabeleceu uma nova Aliança, agora eterna e inquebrável.
A Eucaristia é Memória da Paixão de Cristo. Ele mesmo nos mandou fazer isto em sua memória (cf. Lc 22-19). Fazer memória significa tornar presente – presencialização – de sua paixão, morte e ressurreição. Na celebração da eucaristia concretizamos a ação redentora de Cristo até o Reino definitivo. Fazer memória envolve a Deus, ao povo, o presente, o passado e o futuro. E a eucaristia possui uma dimensão escatológica, um dia participaremos do banquete definitivo na Casa do Pai.

A missa é composta das seguintes partes:

Ritos Iniciais
Liturgia da Palavra ( rito da palavra )
Liturgia Eucarística ( rito das oferendas, rito da comunhão )
Ritos Finais

I. RITOS INICIAIS

Os ritos iniciais tem como objetivo fazer com que a assembléia entre no clima da celebração. Tem o caráter exórdio, ou seja, de introdução, de preparação. Visa constituir a comunidade celebrante, para se dispor a ouvir a Palavra de Deus e celebrar a Eucaristia. A missa não é uma mera reunião. É muito mais. Ao nos reunirmos manifestamos a Igreja presente (Cabeça e Membros). O próprio Senhor se faz presente: Onde dois ou mais estiverem reunidos em meu nome, aí estarei no meio deles (Mt 18,19-20). A reunião é pois, expressão deste mistério. Estes ritos vai nos ajudar a estarmos na presença do Senhor e dos irmãos, a nos situarmos no mistério celebrado, e a nos dispormos para a própria celebração.

Partes dos Ritos Iniciais:

1. Canto de Abertura ( Procissão de Entrada )
2. Saudação
3. Ato Penitencial
4. Hino de Louvor – Glória
5. Oração da Coleta

1. Canto de Abertura ( Procissão de Entrada )

Este canto acompanha a procissão de entrada do sacerdote, ministros, leitores, coroinhas, etc.. Por isso é também um canto processional. Esta procissão recorda as peregrinações que os judeus faziam a Jerusalém. Também simboliza a nossa peregrinação rumo ao Reino do Céu. A procissão de entrada além de retratar nossa caminhada para o Pai, quer nos ambientar com a celebração. É a primeira das três procissões que acontecem na missa.

O canto deve nos situar no tempo litúrgico, criar assembléia, nos introduzir no mistério celebrado. É um canto de abertura, de acolhimento e processional.

2. Saudação

O presidente da celebração age na pessoa de Cristo “in persona Christi”. É em nome de Cristo que ele do seu lugar, acolhe a todos presentes na celebração. Ele invoca as pessoas da Santíssima Trindade, pois a comunidade se encontra em nome do Senhor. Mesmo que seria simpático dizer “bom dia”, “boa tarde”, “boa noite”, o que deve prevalecer na celebração é uma das saudações tradicional prescrita no missal romano. Não se trata de um encontro qualquer, mas do encontro com o próprio Deus. Isto não significa que na celebração não haja lugar para a espontaneidade, mas ela deve acontecer no lugar devido e com moderação, respeitando o rito prescrito. O presidente pode após a saudação, introduzir a comunidade nos motivos da celebração. Isto ajudará numa participação ativa e consciente.

3. Ato Penitencial

O Ato Penitencial tem como função preparar a comunidade para ouvir atentamente a Palavra de Deus e participar da comunhão do Corpo do Senhor. É um momento importante na missa. É um momento para se fazer a experiência da misericórdia de Deus. O perdão é gratuito. Por isso, uma atitude coerente é nos colocarmos suplicantes diante de Deus para pedir-lhe a sua misericórdia. “Procure o presidente despertar o sentido pessoal e comunitário da penitência, dando ênfase ao louvor da misericórdia e fazendo um apelo à conversão da Igreja para Cristo” (CNBB, Doc. 2. Pastoral da Eucaristia, p. 29.). Importantíssimo termos em mente, que no ato penitencial não se deve ficar falando muito do pecado, com um certo moralismo, mas deve ressaltar a misericórdia de Deus. Esta é mais importante!

4. Hino de Louvor – Glória

O Glória é um hino antiquíssimo! Já se encontra presente nas celebrações desde os primeiros séculos. É um hino cristológico, isto é, exalta mais os atributos de Cristo, embora haja referências a Deus Pai e ao Espírito Santo. Porém, não é trinitário. Não constitui um louvor a Santíssima Trindade. No glória, a Igreja, como Corpo de Cristo Total, Cabeça e Membros, presta culto à divindade através de seu Mediador. Por ser hino, deveria ser cantado sempre. Infelizmente a letra oficial que temos da tradição não é muito fácil para se cantar. Por esse motivo, a CNBB, providenciou uma letra que pode ser canta com facilidade. Falo da letra oficial da CNBB, que pode ser musicada por qualquer um, desde que obedeça sua função ritual e sua característica de hino. Não se deve substitui-lo por letras abreviadas, como por exemplo: Glória ao Pai, ao Filho e ao Espírito Santo..., nem por outros cantos como “Glória, glória, aleluia...”. Desta forma perde-se a riqueza da letra que a tradição nos deixou. Este hino não se canta nos tempos do Advento e nem da Quaresma, assim como nas missas celebradas durante a semana, a não ser na comemoração de uma festa ou solenidade.

5. Oração da Coleta

Com esta oração conclui-se os ritos iniciais. Esta oração se chama “coleta” pelo fato de que, após o convite do presidente da celebração, cada um coloca suas intenções silenciosa, e em seguida ele coleta todas numa única intenção e eleva ao Pai. É uma oração própria de cada festa, de cada celebração. Ela é móvel, ou seja, muda conforme a festa, o dia.

II. LITURGIA DA PALAVRA

É a primeira parte essencial da Celebração Eucarística. Não é uma preparação para a Liturgia Eucarística, e nem mais importante. As duas estão intimamente unidas. Na Celebração Eucarística comungamos o Pão da Palavra e o Pão do Corpo e Sangue do Senhor. Ela é um diálogo amoroso do Pai para com seus filhos reunidos. Por isso, exige de nós uma verdadeira atitude de fé, de respeito e acolhimento à Palavra de Deus. “A Liturgia da Palavra não pode reduzir-se ao simples escutar de algumas leituras com a respectiva explicação. A Palavra proclamada não só instrui e revela o mistério da redenção e salvação realizado através da história (cf. SC 33) mas torna o Senhor realmente presente no meio do seu povo (SC 7)” ( CNBB. Doc. 2. Pastoral da Eucaristia, p. 32.). É o próprio Deus quem fala através de seus ministros. As leituras não devem ser simplesmente lidas, mas proclamadas. Ela é constituída de várias partes. Vejamos:

Primeira Leitura
Salmo Responsorial
Segunda Leitura
Aclamação ao Evangelho
Proclamação do Evangelho
Homilia
Profissão de Fé (Creio)
Preces da Comunidade (Oração dos Fiéis – Oração Universal)

1. Primeira Leitura

Referindo-se em geral ao Antigo Testamento, Deus apresenta um fato ou um acontecimento, ou uma profecia que sirva de base – como exemplo ou motivação – para o assunto do dia. No tempo da Páscoa, tiramos esta leitura do livro dos Atos dos Apóstolos ou do Apocalipse de São João. Ela serve para nos situar na expectativa do povo eleito para a vinda do Messias.

2. Salmo Responsorial

Entre as leituras, cantamos o salmo de resposta. Ele tem como finalidade4 favorecer a meditação da palavra escutada. Está ligado a primeira leitura. Como o salmo é Palavra de Deus, ele faz parte integrante da liturgia da Palavra. Não pode ser substituído por outro canto qualquer. Ele ajuda a aprofundar o tema da primeira leitura. Deve ser sempre cantado. E para isto deve-se desenvolver na comunidade o ministério do salmista, ou seja, aquele ou aquela que vai entoar o salmo, enquanto a comunidade participa com o refrão.

3. Segunda Leitura

Utilizando-se em geral uma Carta Bíblica do Novo Testamento, o Pai leva o assunto à vida prática de cada dia, aplicando os seus ensinamentos ao nosso modo de viver. Nos dias da semana, não se faz esta Segunda leitura, porém, nas celebrações dominicais nunca se deve omiti-la.

4. Aclamação ao Evangelho

A palavra “Aleluia” significa: “exultemos a Jávé”. Esta aclamação é para preparar os corações ao Senhor que pela Palavra. Ela visa preparar a assembléia para o momento mais importante da liturgia da Palavra: o Evangelho. A aclamação tem cunho festivo, ao contrário do salmo responsorial que é meditativo. Ao anúncio de que o próprio Cristo irá falar, a comunidade põe-se de pé para aclamar sua Palavra.

5. Proclamação do Evangelho

Evangelho significa: Boa Nova, Mensagem, Boa Notícia. Nele é o próprio Jesus que vem nos falar. É o centro, o ponto alto do diálogo, pois Jesus Cristo é o melhor interprete da vontade do Pai. Se nas demais leituras as ouvimos sentados, agora de pé, ouvimos atentamente o Evangelho em sinal de aceitação desta boa notícia.

6. Homilia

Homilia é uma palavra grega que significa: explicação, explanação. A homilia é o momento da missa destinado para a explicação dos mistérios da fé. É um momento de profundo diálogo, onde a Palavra de Deus proclamada vai ao encontro com a nossa vida. A homilia atualiza esta Palavra nos motivando a levar adiante o projeto de Jesus. Não pode ser um sermão moralizante, nem uma aula de teologia bíblica, mas deve traduzir a Palavra de Deus no dia-a-dia da comunidade celebrante. Deve porém, levar a comunidade para um compromisso com o mundo de transformá-lo a partir da mensagem de Cristo. Não pode ser longa, mas objetiva.

7. Profissão de Fé (Creio)

O “Símbolo” ou “Profissão de Fé” tem por objetivo levar os participantes da celebração a dar seu assentimento e resposta à Palavra de Deus ouvida nas leituras e na homilia. O Creio nasceu da profissão de fé que se fazia por ocasião do batismo. Com o tempo foi introduzido na missa como acolhimento, aceitação da Palavra de Deus. Ele é a declaração pública, consciente e firme de nossa fé. É um resumo das verdades que nos foram anunciadas pelo Pai, através de Jesus Cristo, na inspiração do Espírito Santo. É uma profissão de fé trinitária e eclesial. Cremos na Trindade Santa e na Igreja, nascida do seio da Trindade. É portanto, um abuso substituí-lo por formulações que não expressam nossa fé. O Credo é a expressão de uma comunidade ligada por uma aliança e por uma tradição de séculos. Por isso, deve ser respeitado.

8. Preces da Comunidade (Oração dos Fiéis)

Depois de termos sido alimentados pela Palavra de Deus nas leituras e homilia, a comunidade ergue a Deus sua súplica. É o momento de olharmos para a realidade que nos cerca, para as necessidades da humanidade inteira. Nesta oração de todos por todos, mostra-se a universalidade da Igreja. Não é um momento de oração meramente pessoal, mas comunitário. Deus que nos instruiu para atuarmos na realidade concreta da vida, agora é suplicado para nos ajudar a realizar nossa missão transformadora.

III. LITURGIA EUCARÍSTICA

Juntamente com a Liturgia da Palavra, esta é a segunda parte essencial da missa: a Liturgia Eucarística. Não devemos confundi-la com a Oração Eucarística. Nesta parte, a Igreja faz o mesmo que Cristo fez na última Ceia.

“Tomou o pão, o cálice”: Preparação dos dons (oferendas)
“Deu graças”: Oração Eucarística
“Partiu o pão”: Fração do pão
“Deu”: Rito de Comunhão

Esta é a estrutura fundamental da Liturgia Eucarística. Ela é a própria realização do ritual da Páscoa de Jesus. É a renovação dos gestos de Cristo na última Ceia. No Ofertório há a oferenda dos dons, na Oração Eucarística, a transformação dos dons, e na Comunhão, a consumação do Corpo e Sangue de Cristo.

1. Apresentação dos Dons (Oferendas)

No inicio da liturgia eucarística são levados ao altar os dons que serão convertidos no Corpo e no Sangue de Cristo. O que se oferta neste momento são os elementos materiais escolhidos por Cristo para o sacramento: pão e vinho. Mas podemos colocar também nossa vida, nosso trabalho. Este é um momento de reconhecimento e gratidão por tudo que recebemos de Deus. Daí a inspiração do gesto de solidariedade e partilha. Também colocamos o fruto no nosso suor (coletas) para a obra da evangelização e da caridade. Trazemos neste momento os mantimentos para ajudar nossos irmãos carentes. Tudo o que ofertamos neste momento é para o sustento da Igreja e dos pobres.

É neste momento que acontece a segunda procissão na missa. Saímos de nossos lugares para colocar aos pés do altar nossos dons, nossas ofertas. Trazemos também o pão e o vinho para serem consagrados. Neste momento é oportuno um canto. Este canto acompanha a procissão. Sua duração deveria ser apenas enquanto durar a procissão. Depois a comunidade participa da preparação dos dons.

2. Oração sobre as Oferendas

Para encerrar o rito do ofertório e passar para a fase seguinte, o presidente convida a comunidade para a oração. Neste momento, o sacerdote pede a Deus que aceite nossas oferendas. Esta oração é própria do dia.

3. Oração Eucarística

A missa é toda ela uma eucaristia, ou seja, ação de graças. Porém a Oração Eucarística ocupa um lugar central dentro da liturgia eucarística. Antigamente era chamada de cânon, que significa “regra”, é a regra eucarística. Ela forma um todo que comporta vários elementos:

Diálogo
Prefácio
Santo
Narrativa da Instituição (Consagração)
Anamnese (Memória)
Intercessões
Doxologia Final (O Grande Amém!)

A Oração Eucarística é o cume de toda a celebração. O presidente deve chamar a atenção da comunidade para esta centralidade e para a participação ativa neste momento da missa, no qual torna-se presente o sacrifício de Cristo na Ceia Eucarística. Para isso é importantíssimo que haja uma forte comunicação entre o sacerdote e a comunidade, que é chamada para participar através das aclamações. Pode-se valorizar o canto nesta parte da missa.

3.1. Diálogo

Antes do prefácio há um belo diálogo entre o presidente e os participantes da celebração. É mais que uma saudação, é uma profissão de fé.
Presidente: O Senhor esteja convosco.
Povo: Ele está no meio de nós.
Presidente: Corações ao alto.
Povo: O nosso coração está em Deus.
Presidente: Demos graças ao Senhor, nosso Deus.
Povo: É nosso dever e nossa salvação.
A Comunidade é convidada pelo presidente a prestar atenção e se elevar ao mistério celebrado. Este diálogo é a abertura da grande oração de “Ação de Graças”, a Oração Eucarística.

3.2. Prefácio

O prefácio constitui-se uma belíssimo hino de exaltação a Deus. Nele se louva, agradece a Deus juntamente com toda a Igreja Celestial. O texto do prefácio faz alusão ao mistério que está sendo celebrado. Deste modo celebramos durante o ano toda a história da salvação. O prefácio é parte móvel da missa. Cada celebração, conforme o mistério celebrado, temos um prefácio próprio. Prefácio do Natal, da Quaresma, da Páscoa, de Nossa Senhora, dos Defuntos, etc.. Ele é encerrado com a grande aclamação do Santo.

3.3. Santo

Um hino exultante, cuja composição nos recorda que a liturgia é obra ao mesmo tempo terrestre e celeste – “céus e terra proclamam a vossa glória”. O versículo de Isaías 6,3 acrescido da citação de Mateus 21, 9, que está baseado no Salmo 118, 25-26, formam a aclamação que transmite não somente a santidade de Deus, mas também a de sua plenitude. Por ser uma aclamação, deveria ser sempre cantado. O santo é um canto de toda a comunidade. Nunca deve privá-la de sua participação.

3.4. Narrativa da Instituição ( Consagração )

Antes da Consagração, invoca-se o Espírito Santo sobre as oferendas. Chamamos de “Epiclese”. Para que o pão e o vinho sejam transformados no Corpo e no Sangue do Senhor, é preciso que sejam santificados. Por isso invoca-se o Espírito Santo.
A Narrativa da Instituição da Eucaristia é um memorial sacramental daquilo que Jesus disse e realizou tanto na ceia quanto na cruz. Pelas palavras da consagração torna-se presente o próprio Cristo nas espécies do pão e do vinho. A fé nos ensina que não é mais pão e vinho, mas o Corpo e o Sangue do Senhor.

3.5. Anamnese ( Memória )

Após a consagração tem lugar a “anamnese”, uma recordação do preceito do Senhor. Ela está ligada a Consagração. A Comunidade deve participar desta aclamação que pode ser cantada.
Presidente: Eis o Mistério da Fé!
Povo: Anunciamos, Senhor, a vossa morte e proclamamos a vossa ressurreição. Vinde, Senhor Jesus!

Ela se prolonga em forma de prece, que pode variar conforme a Oração Eucarística. Nela se oferece ao Pai o sacrifício de Cristo, agora no pão e no vinho. Roga-se para que participando deste sacrifício, leve-nos a união por meio do Espírito Santo.

4.6. Intercessões

Dentro da Oração Eucarística são feitas intercessões. Pede-se pela Igreja peregrina, pelo Povo de Deus, pelo Papa, Bispos, Padres. Enfim, reza-se por toda a Igreja terrestre e celeste, vivos e mortos. As intercessões nos levam a uma comunhão com todos os que já atingiram a santidade.

4.7. Doxologia Final ( O Grande Amém! )

Encerramos a Oração Eucarística com uma grande profissão de fé. Com uma fórmula trinitária que quer ser louvor, glorificação, honra, bênção e adoração. O “Por Cristo, com Cristo e em Cristo...” é uma síntese eucarística. É um louvor solene proclamado pelo presidente da celebração. O presidente eleva a hóstia e o cálice e proclama o “Por Cristo...” A comunidade participa com o “Amém”, que pode ser cantado. É neste momento que acontece o verdadeiro ofertório na missa.

IV. RITO DA COMUNHÃO

Após a Oração Eucarística, acontece a terceira parte da Liturgia Eucarística: o Rito de Comunhão. Mesmo sendo breve, este rito conta com várias partes:

Pai-nosso
A Saudação de Paz ( Abraço da Paz )
Fração do Pão
Cordeiro de Deus
A Comunhão ( Canto de Comunhão )
Oração após a Comunhão

1. Pai-nosso

A Oração do Pai-nosso é o primeiro elemento que constitui o rito de comunhão. É a melhor preparação para a comunhão. Primeiro porque não é qualquer oração, foi o próprio Senhor quem nos ensinou, depois, porque ela faz referência ao pão que não é somente o pão material, mas também o pão que alimenta nossa fé. Ao Pai-nosso segue uma súplica onde se pede perdão dos pecados. O “Livrai-nos de todos os males, ó Pai...” é um prolongamento do Pai-nosso.

2. A Saudação de Paz ( Abraço da Paz )

Este gesto nos chegou de diversas tradições. Quanto ao lugar deste gesto na missa, havia diferenças: no início, no começo da liturgia eucarística ou no momento antes da comunhão, como fazemos nós. Para podermos comungar é necessário que haja uma verdadeira paz entre nós. Esta paz deve ser expressão de nossa unidade, que é capaz de superar tudo que nos divide e separa. Caso contrário, a comunhão se torna um contra testemunho de nossa fé. Seria muito bom pensar nisto!

3. Fração do Pão

O presidente parte a hóstia e coloca um “pedacinho” da mesma dentro do cálice com o vinho consagrado. Este gesto chama-se “fração do pão”. Antigamente era necessário este gesto. Os fiéis traziam de suas casas o pão para ser consagrado. Na hora da comunhão eles partiam o pão num gesto belíssimo de fraternidade (cf. 1Cor 10, 16-17). Este gesto nos lembra duas coisas: que Jesus partiu o pão com seus discípulos e que nós devemos partir o pão entre nós.

4. Cordeiro de Deus

O Cordeiro acompanha a Fração do Pão. Ele é cantado logo após o abraço da paz. É um canto da assembléia. O cordeiro é símbolo da vítima oferecida por Deus no sacrifício pascal. O Cordeiro é Cristo, que morreu na cruz para nós salvar.

5. A Comunhão ( Canto de Comunhão )

Após uma oração silenciosa, o presidente apresenta a hóstia consagrada para a comunidade. Logo em seguida ele comunga. Neste momento inicia-se o Canto de Comunhão. A procissão para a comunhão é a terceira procissão na missa. Ela possui um significado importante: vamos ao encontro do Senhor que se faz nosso alimento. Ao mesmo tempo, as procissões na celebração eucarísticas tem o sentido de peregrinação para o Reino de Deus.. Os fiéis colocam-se em procissão para receber o Senhor na hóstia consagrada. O canto neste momento deve ser tranqüilo e acompanha esta procissão. Este é um momento sério no qual testemunhamos nossa comunhão com Cristo e com os irmãos. Por isso não devemos comungar de qualquer jeito.

6. Oração após a Comunhão

Terminada a comunhão, depois de um momento de silêncio, o presidente convida a comunidade para a oração. Esta oração pós-comunhão encerra o rito da comunhão e a Liturgia Eucarística. Ela é bem semelhante a oração da coleta e a das oferendas. Nesta oração depois da comunhão, o presidente implora os frutos do mistério celebrado. Pede que, aquilo que celebramos tenha efeito em nossa vida. A comunidade participa com o amém.

V. RITOS FINAIS

Os ritos finais são breves e singelos. É um momento de despedida. Porém, é o início de nossa missão no cotidiano da vida. Na estrutura da missa segundo o Rito Romano, os ritos finais é composto da Bênção Final e da despedida. Mas nós introduzimos neste momento alguns elementos novos. Antes da Bênção, costumamos fazer alguns avisos comunitários. Após a Bênção, é costume nosso fazer um canto. Seguindo este esquema podemos dizer que os Ritos Finais é composto de:

Avisos
Bênção Final
Despedida
Canto de Dispersão

1. Avisos

É apropriado neste momento, após a Oração depois da Comunhão, fazer os avisos da comunidade. Estes avisos devem ser breves e objetivos. Também é neste momento que pode-se fazer homenagens, cantar parabéns para os aniversariantes, etc. Não deve ser um momento muito prolongado. Lembre-se que nos Ritos Finais o mais importante é a Bênção Final.

2. Bênção Final

A Bênção faz parte do encerramento da missa. Quem abençoa é o sacerdote, como mediador de Jesus Cristo. O Sacerdote agiu na celebração em nome de Jesus Cristo e agora também em nome de Cristo ele abençoa. Assim como abriu a celebração com a invocação a Santíssima Trindade, em nome dela ele encerra a celebração. O sacerdote é mediador e por isso ele não se inclui na bênção. Ele não invoca a bênção, ela abençoa em nome de Deus.

3. Despedida

Em seguida vem a despedida. Com esta despedida o presidente nos envia para nossa vida com a missão de evangelizar o mundo. “Glorificai o Senhor com vossas vidas. Ide em paz, o Senhor vos acompanhe”. Todos respondem: “Graças a Deus”. A riqueza desta despedida é que voltamos para nossas atividades, agora louvando e bendizendo a Deus em nossas vidas. Devemos levar para o mundo a paz que Jesus nos deu. Transformar a sociedade, o mundo, eis nossa missão.

4. Canto de Dispersão.

Nosso costume introduziu este canto no final da celebração. Ele não constitui um “Canto Final”. A missa já terminou com a Bênção e a Despedida. Este canto deve fazer com que nossa saída da Igreja seja alegre e missionária. É um canto para a comunidade se dispersar. Não se pode prender as pessoas na igreja para cantar. O correto é cantar saindo. Por isso Canto de Dispersão e não Canto Final.




Indicações Bibliográficas:

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BECKHÄUSER, Frei Alberto. A Liturgia da Missa: Teologia e Espiritualidade da Eucaristia. Petrópolis: Vozes, 1990, p.141.
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CECHINATO, Pe. Luiz. A Missa parte por parte. 25ªed. Petrópolis: Vozes, 1996, p.142.
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