quinta-feira, 11 de março de 2010

CANTO E MÚSICA LITÚRGICA NA CELEBRAÇÃO DO MATRIMÔNIIO


“Cantando o Amor de Deus”


Pe. Cristiano Marmelo Pinto


1. Um olhar para a realidade...

Falar da celebração do matrimônio é um desafio para quem se atreve. Infelizmente, o que vemos em nossas comunidades é mais um ato de status do que a celebração do Amor de Deus pela humanidade, celebrada no amor humano. Quando casais de noivos vêm às nossas paróquias para marcar seu casamento, chegam com tudo já estabelecido pela questão social. E não é por menos que surgem conflitos desagradáveis ao se depararem com as orientações da Igreja, a respeito da celebração do matrimônio. Grande parte deles não possuem o mínimo de conhecimento litúrgico sobre o sacramento que irão receber, muito menos sobre as normas litúrgicas e o valor eclesial da celebração deste sacramento. Quando se trata das músicas para a celebração, percebe-se uma total ignorância a esse respeito. Trazem sugestões de músicas que não condizem nem um pouco com a ação ritual. Muitas músicas são escolhidas por questões sentimentais, subjetivas. Está errado. Está tudo errado! Há uma “indústria do matrimônio” que, consciente e/ou inconscientemente, ignoram as orientações litúrgicas do sacramento. Existem também corais especializados em cantar nos casamentos. Nossas paróquias também entraram nesta onda. Por outro lado, muitos padres, para não criarem situações desagradáveis, preferem deixar de lado toda e qualquer orientação litúrgica a respeito do matrimônio, principalmente em relação à música que se deve cantar. Nos cursos de noivos, prefere-se dar mais atenção às questões sobre: planejamento familiar, método natural entre outros assuntos, e quase nada trabalham o aspecto litúrgico do casamento. Também percebe-se pouca produção a este respeito por parte dos liturgistas. São raros os que se atrevem. Mas é inevitável que nos debrucemos sobre este tema, para que possamos promover uma verdadeira ação ritual em torno deste sacramento.

No presente texto, buscaremos clarear um pouco o sentido teológico e litúrgico do sacramento do matrimônio, para depois refletirmos sobre o canto e musica litúrgica na celebração do casamento. É lógico que não faremos um tratado teológico sobre o matrimônio, mas alguns apontamentos para uma melhor compreensão do sacramento.

2. O Matrimônio na Sagrada Escritura

A realidade que a Bíblia aborda em relação ao matrimônio, não é muito diferente daquela que vivemos hoje: infidelidade, adultério, egoísmo, desajustes familiares, falta de diálogo... Lançaram-se para descobrir a origem de tanta desordem na vivência conjugal e, logo de cara, descobriram que no início não foi assim, “Moisés permitiu o divórcio porque vocês são duros de coração. Mas não foi assim desde o início” (Mt 19,8). Contemplaram a grandiosidade do ideal do matrimônio e a missão da família na história humana. Deus criou o homem à sua imagem, “os criou homem e mulher” (Gn 1,27). Deus os criou para a complementariedade. O casal humano adquire, através do ato criador de Deus, a mesma dignidade e identidade de ser: “Deus os abençoou” (Gn 1, 28). “Por isso, o homem deixará seu pai e sua mãe, e os dois serão uma só carne” (Mc 10,7). O homem e a mulher foram criados um para o outro e ambos para Deus. Mas o casal humano experimenta o desvio (cf. Gn 3,4-6). Fecha-se em si, no seu eu, numa liberdade sem referência. Tendo se distanciado de Deus, o casal se desequilibra, perde seu horizonte dentro do plano de Deus (cf. Gn 3,7-10). Este desequilíbrio afeta o relacionamento entre o homem e a mulher (ou: relacionamento do casal) e a própria missão da família no mundo. Começam as acusações, os sofrimentos... “Foi a mulher que tu me deste: ela me apresentou o fruto e comi...” (Gn 3,12).

Diante desta desordem, das infidelidades, Deus segue uma longa pedagogia, fazendo com que o povo amadureça, até abraçar o ideal evangélico trazido por Jesus. A Antiga Aliança reflete bem a “dureza de coração” (Mt 19-8). Mas, mesmo com as inúmeras infidelidades, Israel tem consciência de ser o “povo eleito”. A melhor expressão para revelar o amor de Deus para com seu povo é o amor do esposo para com a esposa (cf. Os 2,21-22). Porém, o povo não é fiel a esta Aliança. Mas Deus, o esposo, é misericordioso, paciente e sempre perdoa essas infidelidades.

Cristo prega a volta às origens. O papa João Paulo II, na “Familiaris Consortio” diz que: “A comunhão entre Deus e os homens encontra o seu definitivo cumprimento em Jesus Cristo, o Esposo que ama e se doa como Salvador” (nº. 13). O matrimônio torna-se, assim, sacramento da Nova Aliança. E é o Espírito Santo que torna o homem e a mulher capazes de se amarem como Cristo nos amou. Esta inserção na Nova Aliança se dá pelo batismo. Em virtude da sacramentalidade do matrimônio, o vínculo estabelecido entre homem e mulher atinge sua indissolubilidade. O amor conjugal é testemunha do Amor Salvador de Cristo pela humanidade, ao doar-se totalmente na Cruz. O sacramento do matrimônio é memória, atualização deste Amor de Cristo por nós. O amor conjugal engloba a totalidade do ser humano: corpo, sentimento, afetividade, aspirações... e dirigi-se a uma unidade profundamente pessoal que, mais do que “uma só carne” os torna “um só coração”.

3. Aspectos Teológicos do Matrimônio

Ao falarmos dos aspectos teológicos do matrimônio, evidentemente estaremos falando da liturgia. Nas origens da Igreja, teologia e liturgia não se separavam. Da mesma forma, não pode haver oposição entre evangelização e sacramentos. Ambos se complementam.

Os sacramentos se destinam ao culto a ser prestado a Deus. Na ação ritual acontece um duplo movimento: o homem glorifica a Deus, seu Criador, e Deus santifica o homem, sua criatura. A Constituição Sacrosanctum Concilium (SC) afirma que: “A liturgia é o cume para o qual tende toda a ação da Igreja e, ao mesmo tempo, a fonte donde emana toda a sua força” (SC 10). Quando falamos em liturgia, pensamos em toda a ação ritual da Igreja. Isto inclui principalmente a celebração dos sacramentos e, no nosso caso, o sacramento do matrimônio. Os sacramentos supõem a fé e ao mesmo tempo a alimenta e fortalece. A graça sacramental exige uma resposta pessoal e só produz efeito quando esta resposta é integral e sincera. Exige uma recepção consciente e ativa. Por isso, é necessária uma boa catequese sobre o sacramento do matrimônio. Os sacramentos não são coisas e nem produzem efeitos mágicos, como às vezes se pensa. Sempre apelam para uma resposta consciente. Exige, pelo menos, fé de quem os recebe.

Teologicamente, os sacramentos são sinais que simbolizam a graça que produzem e conferem. São gestos do amor de Cristo que um dia doou sua própria vida pela salvação da humanidade, que, hoje, é atualizada pela celebração dos sacramentos. Recordam o amor com que Cristo amou a Igreja e se entregou por ela. Esta doação é desinteressada, gratuita. O matrimônio simboliza este amor. Participa dele. Deste modo, os nubentes devem se entregar generosamente, desinteressadamente e radicalmente.

São vários os gestos e símbolos sacramentais no matrimônio: dar as mãos, consentimento, as alianças, etc. Todos estes gestos e sinais nos ajudam a concretizar o que o sacramento significa.
No matrimônio, os ministros são os próprios nubentes. Isto se dá pelo sacerdócio comum conferido no batismo. Sendo ministros do sacramento, exige-se deles a mesma consciência, formação e responsabilidade que se exige dos demais ministros: fé, estado de graça e vivência comunitária.

Portanto, é mais do que urgente pensarmos numa catequese matrimonial adequada, que ajude os casais a celebrar dignamente o matrimônio.

4. A liturgia do Sacramento do Matrimônio

Assim como toda a liturgia, o matrimônio não é um acontecimento que diz respeito apenas a quem se casa. É um acontecimento comunitário. Celebra-se a dimensão cristã e eclesial. Por este motivo, todos os envolvidos na ação ritual devem preparar com a devida atenção a celebração do sacramento. A celebração deve atingir todos na comunidade. A assembléia deve participar escutando com atenção as leituras, a homilia, fazendo silêncio, participando dos gestos previstos, respondendo as aclamações e acompanhando os nubentes naquilo que a eles compete. Embora a celebração do matrimônio comporte um caráter social, ela é essencialmente uma ação eclesial. É a fé da Igreja que se celebra. O presidente da celebração deve favorecer uma participação plena, consciente e ativa de toda a assembléia. É oportuno que a paróquia tenha uma equipe litúrgica que se preocupe com a celebração do matrimônio. A equipe cuidará da preparação da celebração, da ornamentação, orientará e acolherá os nubentes, familiares e convidados, executará os cantos litúrgicos. Esta equipe deverá se reunir algumas vezes para aprofundar a dimensão litúrgica do sacramento do matrimônio e de sua preparação. Cabe também, fazer uma preparação litúrgica com os noivos para que tenham conhecimento do rito do matrimônio. Este encontro, a própria equipe poderá realizar. É necessário também esclarecer a respeito das músicas a serem executadas durante a celebração, conforme as orientações litúrgicas. Devem orientá-los a respeito das fotos, filmagem, etc.

5. O problema da Música na Celebração do Matrimônio

A questão do canto e música na celebração do matrimônio constitui um verdadeiro desafio pastoral para a Igreja hoje. A Instrução Musicam Sacram diz: “nada se introduza de meramente profano ou menos condizente com o culto divino” (43). Esta instrução se aplica de modo especial na celebração do matrimônio. O que vemos nos dias de hoje, é um abuso consciente ou inconsciente, no campo da música na celebração do matrimônio. Utilizam-se músicas que ferem expressamente o caráter sacramental do matrimônio. São músicas das mais estranhas proveniências, tais como: temas de filmes, sucessos das pistas, entre tantas outras, que evocam mais um sentimento subjetivo dos nubentes, do que a própria natureza da liturgia. Gostaria de citar apenas algumas músicas como: “Eu sei que vou te amar”, “Rei Leão”, “Titanic”, “Ghost”, “O Guarda Costas”, “A Bela e a Fera” e “O Fantasma da Ópera”... Tais músicas estão fora de tudo o que é previsto liturgicamente. Mas, para não ter confrontos com os nubentes, muitos padres e equipes preferem não forçar uma música mais adequada para a liturgia. A prevenção da Instrução Musicam Sacram é perfeitamente justificada. Precisamos trabalhar para um repertório litúrgico-musical mais adequado. No fascículo 4, do Hinário Litúrgico da CNBB, podemos encontrar boas sugestões de canto para a celebração do matrimônio. Mas este repertório precisa ser aumentado, com músicas que correspondam mais à nossa época e à cultura do nosso povo. Precisamos compor músicas para cada momento ritual da celebração, que expressem a verdadeira natureza da liturgia e do sacramento em questão. Eis aí uma batalha que precisa ser travada: uma catequese litúrgico-musical com os noivos e, ao mesmo tempo, a ampliação de um repertório específico para o Sacramento do Matrimônio. Se queremos combater os abusos, precisamos ter o que oferecer!

6. O Canto Litúrgico na celebração do Matrimônio

A música participa da mesma finalidade da liturgia: glorificação de Deus e santificação do homem. Ela não é um adorno, mas parte integrante e necessária da ação litúrgica (cf. SC 112). A mesma Constituição afirma que “a música será tanto mais santa quanto mais intimamente estiver unida à ação litúrgica” (SC 112). Isto vale para a música na celebração do matrimônio. Pio X no Motu Proprio Tra Le Sollecitudini diz que o ofício da música litúrgica é “revestir de adequadas melodias o texto litúrgico” (nº. 1). Por isso, a música na celebração do matrimônio submete-se à finalidade última da própria liturgia. “Na medida do possível, celebrar-se-ão com canto os Sacramentos e Sacramentais” (Musicam Sacram, 43).

Quanto às músicas a serem executadas na celebração do matrimônio deve-se obedecer três aspectos:

1. Aspecto Litúrgico: o texto, a forma, o estilo da música deve estar em sintonia com a natureza da liturgia.
2. Aspecto Musical: deve ser técnica, estética e boa.
3. Aspecto Pastoral: a música deve ajudar a assembléia a participar adequadamente da celebração.

A questão é de caráter religioso-litúrgico, isto é, na celebração não se deve fazer música pela música, mas ela deve possibilitar a comunicação profunda com o Mistério da Salvação na liturgia. A música tem uma função ministerial, ela está a serviço da liturgia. O critério fundamental é: quanto mais a música estiver integrada à ação litúrgica, ritual, tanto mais ela será litúrgica e adequada. O Papa João Paulo II, no Quirógrafo sobre a Música Sacra diz: “Os vários momentos litúrgicos exigem, de fato, uma expressão musical própria, sempre apta a fazer emergir a natureza própria de um determinado rito” (nº. 5).

7. O que cantar e quando cantar na Celebração do Matrimônio

Até agora nossa reflexão se preocupou com o Sacramento do Matrimônio nos seus aspectos bíblico, teológico e litúrgico. Somente compreendendo a natureza teológica e litúrgica deste sacramento poderemos então, tratar dos cantos específicos na celebração do matrimônio. O ideal é que o matrimônio seja celebrado dentro da missa. Mas a prática pastoral tem reservado este modo de celebrar para aqueles casais que possuem uma vivência eclesial participativa e consciente. Normalmente utiliza-se o Rito do Matrimônio sem Missa. Há várias razões para isto. Uma delas são as celebrações realizadas seqüencialmente e o péssimo costume das noivas atrasarem. Outra razão é que a celebração da eucaristia pressupõe fé e consciência e muitos dos que participam das celebrações de casamentos não a possuem adequadamente. Seria necessária uma catequese e isto nem sempre é possível. Quando o matrimônio é celebrado dentro da missa, as orientações a respeito do canto litúrgico seguem as da missa. Não se deve introduzir nada que seja estranho ao ambiente religioso.

Como a maioria dos matrimônios são celebrados fora da missa, vamos nos concentrar no Rito do Matrimônio sem Missa.

8. Cantar o Sacramento do Matrimônio

Como o Matrimônio se destina ao desenvolvimento e à santidade do povo de Deus, a sua celebração é essencialmente comunitária. A liturgia é o culto público da Igreja. Nela, toda a comunidade é convidada a participar. Por este motivo, não se deve celebrar o Matrimônio em lugares fechados, onde a participação de qualquer fiel seja impedida. Por ser o culto da Igreja reunida, devem-se evitar outros ambientes que não possuam a índole religiosa. Por isso não se celebra o casamento em chácaras, clubes, etc. É celebrado sempre na igreja, lugar oficial do culto da comunidade cristã.

O atual Ritual do Matrimônio se preocupa em apresentar uma celebração mais significativa e participada, criando um ambiente religioso e sagrado, eliminando tudo o que é profano. A música e o canto são meios privilegiados para promover esta participação. “Os cantos escolhidos sejam de acordo com o Rito do Matrimônio, exprimindo a fé da Igreja” (Introdução Geral do Ritual do Matrimônio, 30).

Falar dos cantos litúrgicos na Celebração do Matrimônio é um verdadeiro desafio. Quase não há bibliografia sobre esta matéria. Os autores litúrgicos trabalham exaustivamente a teologia, a liturgia, o rito, menos o canto litúrgico para este sacramento. Com certeza, por falta de uma reflexão adequada e, conseqüentemente, por ignorância de muitos, deram-se os abusos no campo da música, que hoje tentamos corrigir.

Procurarei (As expressões anteriores estão na terceira pessoa do plural – grifadas por mim, na cor rosa. Seria bom padronizar, conforme sua escolha) levar em conta o costume comum e, em relação aos cantos e músicas na celebração do matrimônio, estabelecer, a partir da teologia e da liturgia do sacramento, a função ritual de cada canto. Mas fica o desafio para aqueles que são peritos em liturgia para darem um pouco mais de atenção a este respeito.

8.1. Canto de Entrada dos Noivos:

Este canto é previsto no Ritual do Matrimônio. O ritual prevê que o sacerdote acolha os noivos a porta da igreja. Em seguida, faz-se a procissão de entrada até o altar. Enquanto acontece a procissão, canta-se um canto de entrada. Pastoralmente, isto não tem sido possível. Não é preciso dizer as razões. Mas é ideal que seja segundo a prescrição que está no ritual. O que acontece normalmente é a entrada do noivo, seguida da entrada da noiva, enquanto o sacerdote os espera no altar.

Para a entrada dos noivos, o canto deve expressar o sentido da celebração. No matrimônio humano, celebramos o Amor de Deus pela humanidade inteira. Portanto, o canto de entrada deve expressar este mistério, o mistério do Amor de Deus realizado no amor humano. Este canto tem por finalidade abrir a celebração, unir os corações em torno do mistério do Amor de Deus, que atingiu a plenitude na doação da vida de Jesus Cristo para salvação de todos. Sendo assim, este canto não evoca somente os sentimentos do casal, mas de toda a comunidade reunida. Portando, não se trata de um canto qualquer. Eis um exemplo de canto de entrada:

1. Duas vidas a fé celebrando / a pulsar já num só coração, / para o altar vão na paz caminhando, / na certeza do amor-comunhão.
Refrão: Também Cristo, à Igreja se unindo / no mais santo e sublime esponsal, / fez do amor, entre esposos tão lindo, /sacramento do amor eternal.
2. O Senhor, vindo a nós, na alegria, / na harmonia de um lar quis nascer! / Matrimônio é então liturgia, / que faz vidas em Deus florescer!
(Hinário Litúrgico, Fasc. 4 – CNBB)

Este canto expressa bem a índole do canto de abertura. É a liturgia que celebramos junto com a união dos noivos. Desta união, toda a Igreja participa, alegra-se e abençoa. Deixa bem claro o amor de Cristo pela Igreja e a natureza do matrimônio.

8.2. Salmo Responsorial

A Liturgia da Palavra da celebração do matrimônio é bem rica. “A Liturgia da Palavra tem grande importância para a catequese que se deve fazer sobre o próprio sacramento e os deveres conjugais...” (Ritual do Matrimônio, 34). Além do texto bíblico escolhido para a celebração, é conveniente que se escolha um salmo. O próprio ritual apresenta uma seleção de salmos que podem ser usados na celebração. O salmo é uma resposta orante e por natureza foi composto para ser cantado. É Palavra de Deus e por isso merece toda a atenção assim como as demais leituras. Existem boas melodias para a execução do salmo. O modo mais apropriado e comum entre nós é como responso,: o salmista entoa as estrofes enquanto a assembléia responde com o refrão. Vale mencionar o maravilhoso trabalho feito pela Ir. Miria T. Kolling, no livro “Cantando os salmos e aclamações”. Este material, além das partituras, está gravado em cds.

8.3. Canto de Aclamação ao Evangelho

Antes da proclamação do Evangelho é oportuno entoarmos o canto de aclamação ao evangelho. que, por sua própria natureza, é uma aclamação, um viva a Jesus que vem nos falar. Assim como Jesus está presente na Eucaristia, ele também está presente na Palavra proclamada. A aclamação ao evangelho é uma preparação. Deve criar um clima de expectativa, de prontidão. É um canto vibrante e alegre. A música deve traduzir este entusiasmo. Com ritmo marcado, deve comunicar exultação, alegria... A aclamação deve ser cantada por toda a assembléia.

Exemplo:
Refrão:
Viva Jesus, / que vai agora nos falar,
Mulher e homem, ó Senhor, vem libertar.

Deus é amor, caridade.
Se Deus nos amou deste modo,
Também nós nos devemos amar.
(Hinário Litúrgico, Fasc. 4 – CNBB)

8.4. Bênção das Alianças

O Rito do Matrimônio propriamente dito acontece somente depois da Liturgia da Palavra. O rito consta de: diálogo, consentimento, bênção e entrega das alianças. Neste momento é costume fazer um canto. Normalmente faz-se a Ave Maria. Na verdade não se deveria haver canto neste momento, durante as palavras, que devem ser ouvidas por todos, sem algo que possa atrapalhar. Não existe música de fundo neste momento. Não há lugar também para a Ave Maria na liturgia do matrimônio. Quanto termina a entrega das alianças, aí sim poderia ser feito um canto. Mas este canto deve expressar o verdadeiro significado deste ato. As alianças que os nubentes entregam um ao outro não são apenas sinal de fidelidade e de amor entre ambos, mas significa o amor que Deus sente por todos os homens. São um selo de fidelidade. O casal que se torna fiel no amor conjugal torna-se igualmente fiel ao amor que Deus tem pelo seu povo. Quem é infiel no casamento quebra a Aliança com Deus.

Exemplo:
1. Aliança em meu dedo / é riqueza em minha mão, / ao vê-la, vês meu segredo: / tem dono o meu coração.
Refrão: Ó Pai, fizestes Aliança / com vosso povo na história: / vós sois a nossa esperança / neste momento de glória; / que a vossa fidelidade / encha o nosso coração, / para ser linda verdade / a aliança na nossa mão!
2. A eternidade se esconde / nesta aliança pequenina: / começa, não sabes onde, / nem sabes onde termina.
(Hinário Litúrgico, Fasc. 4 – CNBB)

8.5. Canto de Comunhão (quando houver)
O Ritual do Matrimônio prevê que, quando houver comunhão eucarística, pode-se fazer um canto apropriado. Aqui vale os mesmos princípios para o canto de comunhão na celebração da eucaristia: deve expressar a comunhão das vozes enquanto se comunga. É um canto alegre e de índole comunitária, pois comungar é fazer comunhão com os irmãos e irmãs de fé. O próprio significado do canto de comunhão exige que dele todos participem. Quando há comunhão eucarística, a prática comum é somente o casal comungar. Às vezes, pais e padrinhos também participam da comunhão eucarística. Porém, é bom lembrar que a comunhão eucarística é própria da celebração da missa. Portanto, deve-se conduzir os fiéis para a participação na celebração da eucaristia. O canto deve expressar o amor de Deus no amor do casal, no amor humano.

Exemplo:
1. Os olhos do meu amado / refletem a luz do amor. / Quando os olhos são brilhantes, / são de Deus o esplendor!
Refrão: Eu sou para o meu amado / meu amado é para mim. / O amor faz o casamento, / foi Jesus que quis assim!
2. A face do meu amado / é o sol que me dá calor. / Nós somos imagem de Deus, / demonstrando seu amor!...
(Hinário Litúrgico, Fasc. 4, pág. 69)

8.6. Músicas na hora dos cumprimentos

É costume, enquanto o casal cumprimenta os pais e padrinhos, algumas músicas serem cantadas. Neste momento, principalmente, acontecem grandes abusos. Temas de filmes, músicas espiritualistas, sucessos das pistas, entre outras tantas, são executadas neste momento. Um erro grave que deve ser corrigido com determinação. Os motivos que os noivos dão são muitos: “esta música tocou meu coração”, “marcou o nosso namoro” (tirei o efeito itálico, pois está entre aspas), etc. Mas estes motivos não justificam tamanho abuso. Volto a lembrar o que diz a Instrução Musicam Sacram: “não se introduza na celebração nada que seja puramente profano ou pouco compatível com o culto divino” (MS 43). O que se canta é o Amor de Deus que é testemunhado na união entre o homem e a mulher, no amor conjugal. Porém, a liturgia permite, de certo modo, o uso de músicas instrumentais e algumas obras clássicas na liturgia. Mas, mesmo em relação a estas músicas, devem-se ter critérios para sua escolha. Sobre isto, falaremos mais adiante. Na saída do casal pode-se entoar um outro canto, ou executar uma música instrumental enquanto saem pelo corredor central. O princípio é o mesmo que dos demais cantos.

9. Músicas instrumentais e clássicas na Celebração do Matrimônio

Embora a música instrumental não seja parte necessária e integrante da liturgia, ela pode ser propícia para alguns momentos. A música cristã é, em primeiro lugar, essencialmente vocal. A música instrumental pode se tornar litúrgica em segundo plano, acompanhando o canto, auxiliando no rito. Ela pode promover ricos momentos de quietude e profunda interiorização. Mas fica sempre o primado da voz humana. A música instrumental não pode perturbar os corações e nem desviar as atenções do Mistério celebrado. A admissão da música instrumental na celebração litúrgica não se dá pelas suas próprias características, mas pela relação que ela deve estabelecer com a ação ritual. As condições de sua utilidade devem ser pastorais e litúrgicas, favorecendo a oração, a edificação da assembléia e a dignidade do templo. Mesmo que possa ser mais livre que a música litúrgica, deve participar de sua dignidade e finalidade. Existem várias obras clássicas que podem ser usadas na celebração do matrimônio. O importante é observar as regras gerais, para que não se utilize qualquer música instrumental. Deve-se evitar, por exemplo, músicas dos cantores Enya, Kenny G, entre outros. Estas não se justificam pelo fato de serem praticamente instrumentais. Entre as músicas clássicas que podem ser utilizadas, indico: Messias (G.F. Haendel), Ave-Maria (F. Schubert e Gounod), Pompa e Circunstância (E. Elgar), Adágio em Sol Maior (Albinoni), Jesus alegria dos homens (J. S. Bach), e tantas outras...

10. Os grupos especializados em cantar nos casamentos

Existem hoje muitos grupos, corais e orquestras que se especializaram em cantar e tocar nos casamentos. O problema é que, na maioria dos casos, não possuem uma adequada formação litúrgica para atuarem nas celebrações. São profissionais da música, mas não ministros do canto litúrgico com as devidas qualidades. Sem falar que isto se tornou um negócio rentável. O canto é o meio mais eficaz de se conseguir a participação da assembléia. Mesmo os grupos de cantores devem participar ativamente da ação litúrgica. Em princípio, a animação do canto na celebração do matrimônio, deve ser exercida pelos grupos e coros da própria comunidade. Porém, muitas comunidades ainda não se dispõem de grupos com repertório e formação adequada para atuarem neste campo. Por isso, se recorre aos grupos especializados em músicas para casamentos. A animação da música litúrgica não exige somente competência musical, mas também sensibilidade religiosa, fé e familiaridade com os ritos dos sacramentos. Estas qualidades dificilmente se encontrarão nos grupos especializados. É de suma importância então, fazer uma catequese litúrgica e musical com estes grupos, para que eles possam se adequar à finalidade da própria liturgia. Esta catequese deve aprofundar os elementos dos ritos litúrgicos, o caráter sagrado do culto e do templo, a identidade da música litúrgica e sua função ritual, o repertório para a celebração do matrimônio...

11. Uma palavra final

Nota-se de todos os lados pouca atenção para este importante Sacramento da Igreja. É urgente que liturgistas, compositores, padres, agentes da liturgia e da pastoral matrimonial façam uma reflexão séria sobre a celebração e a música na celebração do matrimônio. Embora se exija uma música que seja litúrgica para o casamento, o repertório ainda é muito escasso. O desafio está aí! Precisamos enfrentá-lo com coragem e determinação. Precisamos resgatar o valor sacramental do matrimônio e corrigir os erros e abusos cometidos em sua celebração. Por seu valor não somente religioso, mas para a própria família humana, precisamos dar a devida atenção para o Sacramento do Matrimônio e sua celebração.

Bibliografia

1. Documentos da Igreja sobre a Música Litúrgica. São Paulo: Paulus, 2005.
2. CNBB. Estudo sobre os cantos da missa. Estudo 12. São Paulo: Paulinas, 1976.
3. CNBB. A Música Litúrgica no Brasil. Estudo 79. São Paulo: Paulus, 1999.
4. BECKHÄUSER, Fr. Alberto. Cantar a Liturgia. Petrópolis: Vozes, 2004.
5. CELAM. Manual de Liturgia III. São Paulo: Paulus, 2005.
6. BOROBIO, Dionísio. Pastoral dos Sacramentos. Petrópolis: Vozes, 2000.
7. BORTOLINI, José. Os Sacramentos em sua vida. São Paulo: Paulus, 1981.
8. CHARBONNEAU, Paul-Eugène. Curso de preparação ao casamento. São Paulo: Herder, 1971.
9. SCHEID, Dom Eugênio O. (coord.). Preparação para o casamento e para a vida familiar. Aparecida: Santuário, 1989.

A CELEBRAÇÃO DA EUCARISTIA

Pe. Cristiano Marmelo Pinto


No presente texto quero partilhar com vocês meus amigos e amigas uma reflexão sobre a Celebração de Eucaristia. Ela é o centro da vida do cristão. É o cume para onde tende todas as nossas ações. É na Celebração da Eucaristia que a Igreja se manifesta de maneira visível ao mundo. Congregados no nome do Senhor, a Igreja, Cabeça ( que é Cristo ) e Membros ( todo o povo de Deus ), se une para celebrar o centro de nossa fé: o Mistério Pascal de Cristo. Não iremos nos deter em detalhes, que podem ser buscados nas referências bibliográficas mencionadas no fim desta reflexão. Estudaremos a missa no seu aspecto estrutural. Nosso objetivo é conhecer as partes da missa para nos situarmos dentro de uma celebração.

Não devemos cair num mero seguimento cego e escrupuloso das rubricas litúrgicas. Isto é um exagero! Devemos pois ajudar para que o povo, comunidade de irmãos reunidos possam ter uma participação plena, ativa e consciente nas celebrações litúrgicas como nos pede a Sacrosanctum Concilium, nº 14.

A missa é antes de tudo uma refeição. Cristo a instituiu durante sua última refeição com os discípulos (cf. Mt 26, 26-29). Na Eucaristia, fração do pão, somos alimentados pela Palavra de Deus e pelo próprio Corpo e Sangue do Senhor. Não é uma simples refeição, ela envolve fraternidade, acolhimento e comunhão. Mas é também um sacrifício no qual Cristo se imola por todos nós. Sua vida foi uma constante oblação ao Pai. Mas com seu sacrifício deu-nos novamente a vida. Com o sacrifício da cruz, Cristo estabeleceu uma nova Aliança, agora eterna e inquebrável.
A Eucaristia é Memória da Paixão de Cristo. Ele mesmo nos mandou fazer isto em sua memória (cf. Lc 22-19). Fazer memória significa tornar presente – presencialização – de sua paixão, morte e ressurreição. Na celebração da eucaristia concretizamos a ação redentora de Cristo até o Reino definitivo. Fazer memória envolve a Deus, ao povo, o presente, o passado e o futuro. E a eucaristia possui uma dimensão escatológica, um dia participaremos do banquete definitivo na Casa do Pai.

A missa é composta das seguintes partes:

Ritos Iniciais
Liturgia da Palavra ( rito da palavra )
Liturgia Eucarística ( rito das oferendas, rito da comunhão )
Ritos Finais

I. RITOS INICIAIS

Os ritos iniciais tem como objetivo fazer com que a assembléia entre no clima da celebração. Tem o caráter exórdio, ou seja, de introdução, de preparação. Visa constituir a comunidade celebrante, para se dispor a ouvir a Palavra de Deus e celebrar a Eucaristia. A missa não é uma mera reunião. É muito mais. Ao nos reunirmos manifestamos a Igreja presente (Cabeça e Membros). O próprio Senhor se faz presente: Onde dois ou mais estiverem reunidos em meu nome, aí estarei no meio deles (Mt 18,19-20). A reunião é pois, expressão deste mistério. Estes ritos vai nos ajudar a estarmos na presença do Senhor e dos irmãos, a nos situarmos no mistério celebrado, e a nos dispormos para a própria celebração.

Partes dos Ritos Iniciais:

1. Canto de Abertura ( Procissão de Entrada )
2. Saudação
3. Ato Penitencial
4. Hino de Louvor – Glória
5. Oração da Coleta

1. Canto de Abertura ( Procissão de Entrada )

Este canto acompanha a procissão de entrada do sacerdote, ministros, leitores, coroinhas, etc.. Por isso é também um canto processional. Esta procissão recorda as peregrinações que os judeus faziam a Jerusalém. Também simboliza a nossa peregrinação rumo ao Reino do Céu. A procissão de entrada além de retratar nossa caminhada para o Pai, quer nos ambientar com a celebração. É a primeira das três procissões que acontecem na missa.

O canto deve nos situar no tempo litúrgico, criar assembléia, nos introduzir no mistério celebrado. É um canto de abertura, de acolhimento e processional.

2. Saudação

O presidente da celebração age na pessoa de Cristo “in persona Christi”. É em nome de Cristo que ele do seu lugar, acolhe a todos presentes na celebração. Ele invoca as pessoas da Santíssima Trindade, pois a comunidade se encontra em nome do Senhor. Mesmo que seria simpático dizer “bom dia”, “boa tarde”, “boa noite”, o que deve prevalecer na celebração é uma das saudações tradicional prescrita no missal romano. Não se trata de um encontro qualquer, mas do encontro com o próprio Deus. Isto não significa que na celebração não haja lugar para a espontaneidade, mas ela deve acontecer no lugar devido e com moderação, respeitando o rito prescrito. O presidente pode após a saudação, introduzir a comunidade nos motivos da celebração. Isto ajudará numa participação ativa e consciente.

3. Ato Penitencial

O Ato Penitencial tem como função preparar a comunidade para ouvir atentamente a Palavra de Deus e participar da comunhão do Corpo do Senhor. É um momento importante na missa. É um momento para se fazer a experiência da misericórdia de Deus. O perdão é gratuito. Por isso, uma atitude coerente é nos colocarmos suplicantes diante de Deus para pedir-lhe a sua misericórdia. “Procure o presidente despertar o sentido pessoal e comunitário da penitência, dando ênfase ao louvor da misericórdia e fazendo um apelo à conversão da Igreja para Cristo” (CNBB, Doc. 2. Pastoral da Eucaristia, p. 29.). Importantíssimo termos em mente, que no ato penitencial não se deve ficar falando muito do pecado, com um certo moralismo, mas deve ressaltar a misericórdia de Deus. Esta é mais importante!

4. Hino de Louvor – Glória

O Glória é um hino antiquíssimo! Já se encontra presente nas celebrações desde os primeiros séculos. É um hino cristológico, isto é, exalta mais os atributos de Cristo, embora haja referências a Deus Pai e ao Espírito Santo. Porém, não é trinitário. Não constitui um louvor a Santíssima Trindade. No glória, a Igreja, como Corpo de Cristo Total, Cabeça e Membros, presta culto à divindade através de seu Mediador. Por ser hino, deveria ser cantado sempre. Infelizmente a letra oficial que temos da tradição não é muito fácil para se cantar. Por esse motivo, a CNBB, providenciou uma letra que pode ser canta com facilidade. Falo da letra oficial da CNBB, que pode ser musicada por qualquer um, desde que obedeça sua função ritual e sua característica de hino. Não se deve substitui-lo por letras abreviadas, como por exemplo: Glória ao Pai, ao Filho e ao Espírito Santo..., nem por outros cantos como “Glória, glória, aleluia...”. Desta forma perde-se a riqueza da letra que a tradição nos deixou. Este hino não se canta nos tempos do Advento e nem da Quaresma, assim como nas missas celebradas durante a semana, a não ser na comemoração de uma festa ou solenidade.

5. Oração da Coleta

Com esta oração conclui-se os ritos iniciais. Esta oração se chama “coleta” pelo fato de que, após o convite do presidente da celebração, cada um coloca suas intenções silenciosa, e em seguida ele coleta todas numa única intenção e eleva ao Pai. É uma oração própria de cada festa, de cada celebração. Ela é móvel, ou seja, muda conforme a festa, o dia.

II. LITURGIA DA PALAVRA

É a primeira parte essencial da Celebração Eucarística. Não é uma preparação para a Liturgia Eucarística, e nem mais importante. As duas estão intimamente unidas. Na Celebração Eucarística comungamos o Pão da Palavra e o Pão do Corpo e Sangue do Senhor. Ela é um diálogo amoroso do Pai para com seus filhos reunidos. Por isso, exige de nós uma verdadeira atitude de fé, de respeito e acolhimento à Palavra de Deus. “A Liturgia da Palavra não pode reduzir-se ao simples escutar de algumas leituras com a respectiva explicação. A Palavra proclamada não só instrui e revela o mistério da redenção e salvação realizado através da história (cf. SC 33) mas torna o Senhor realmente presente no meio do seu povo (SC 7)” ( CNBB. Doc. 2. Pastoral da Eucaristia, p. 32.). É o próprio Deus quem fala através de seus ministros. As leituras não devem ser simplesmente lidas, mas proclamadas. Ela é constituída de várias partes. Vejamos:

Primeira Leitura
Salmo Responsorial
Segunda Leitura
Aclamação ao Evangelho
Proclamação do Evangelho
Homilia
Profissão de Fé (Creio)
Preces da Comunidade (Oração dos Fiéis – Oração Universal)

1. Primeira Leitura

Referindo-se em geral ao Antigo Testamento, Deus apresenta um fato ou um acontecimento, ou uma profecia que sirva de base – como exemplo ou motivação – para o assunto do dia. No tempo da Páscoa, tiramos esta leitura do livro dos Atos dos Apóstolos ou do Apocalipse de São João. Ela serve para nos situar na expectativa do povo eleito para a vinda do Messias.

2. Salmo Responsorial

Entre as leituras, cantamos o salmo de resposta. Ele tem como finalidade4 favorecer a meditação da palavra escutada. Está ligado a primeira leitura. Como o salmo é Palavra de Deus, ele faz parte integrante da liturgia da Palavra. Não pode ser substituído por outro canto qualquer. Ele ajuda a aprofundar o tema da primeira leitura. Deve ser sempre cantado. E para isto deve-se desenvolver na comunidade o ministério do salmista, ou seja, aquele ou aquela que vai entoar o salmo, enquanto a comunidade participa com o refrão.

3. Segunda Leitura

Utilizando-se em geral uma Carta Bíblica do Novo Testamento, o Pai leva o assunto à vida prática de cada dia, aplicando os seus ensinamentos ao nosso modo de viver. Nos dias da semana, não se faz esta Segunda leitura, porém, nas celebrações dominicais nunca se deve omiti-la.

4. Aclamação ao Evangelho

A palavra “Aleluia” significa: “exultemos a Jávé”. Esta aclamação é para preparar os corações ao Senhor que pela Palavra. Ela visa preparar a assembléia para o momento mais importante da liturgia da Palavra: o Evangelho. A aclamação tem cunho festivo, ao contrário do salmo responsorial que é meditativo. Ao anúncio de que o próprio Cristo irá falar, a comunidade põe-se de pé para aclamar sua Palavra.

5. Proclamação do Evangelho

Evangelho significa: Boa Nova, Mensagem, Boa Notícia. Nele é o próprio Jesus que vem nos falar. É o centro, o ponto alto do diálogo, pois Jesus Cristo é o melhor interprete da vontade do Pai. Se nas demais leituras as ouvimos sentados, agora de pé, ouvimos atentamente o Evangelho em sinal de aceitação desta boa notícia.

6. Homilia

Homilia é uma palavra grega que significa: explicação, explanação. A homilia é o momento da missa destinado para a explicação dos mistérios da fé. É um momento de profundo diálogo, onde a Palavra de Deus proclamada vai ao encontro com a nossa vida. A homilia atualiza esta Palavra nos motivando a levar adiante o projeto de Jesus. Não pode ser um sermão moralizante, nem uma aula de teologia bíblica, mas deve traduzir a Palavra de Deus no dia-a-dia da comunidade celebrante. Deve porém, levar a comunidade para um compromisso com o mundo de transformá-lo a partir da mensagem de Cristo. Não pode ser longa, mas objetiva.

7. Profissão de Fé (Creio)

O “Símbolo” ou “Profissão de Fé” tem por objetivo levar os participantes da celebração a dar seu assentimento e resposta à Palavra de Deus ouvida nas leituras e na homilia. O Creio nasceu da profissão de fé que se fazia por ocasião do batismo. Com o tempo foi introduzido na missa como acolhimento, aceitação da Palavra de Deus. Ele é a declaração pública, consciente e firme de nossa fé. É um resumo das verdades que nos foram anunciadas pelo Pai, através de Jesus Cristo, na inspiração do Espírito Santo. É uma profissão de fé trinitária e eclesial. Cremos na Trindade Santa e na Igreja, nascida do seio da Trindade. É portanto, um abuso substituí-lo por formulações que não expressam nossa fé. O Credo é a expressão de uma comunidade ligada por uma aliança e por uma tradição de séculos. Por isso, deve ser respeitado.

8. Preces da Comunidade (Oração dos Fiéis)

Depois de termos sido alimentados pela Palavra de Deus nas leituras e homilia, a comunidade ergue a Deus sua súplica. É o momento de olharmos para a realidade que nos cerca, para as necessidades da humanidade inteira. Nesta oração de todos por todos, mostra-se a universalidade da Igreja. Não é um momento de oração meramente pessoal, mas comunitário. Deus que nos instruiu para atuarmos na realidade concreta da vida, agora é suplicado para nos ajudar a realizar nossa missão transformadora.

III. LITURGIA EUCARÍSTICA

Juntamente com a Liturgia da Palavra, esta é a segunda parte essencial da missa: a Liturgia Eucarística. Não devemos confundi-la com a Oração Eucarística. Nesta parte, a Igreja faz o mesmo que Cristo fez na última Ceia.

“Tomou o pão, o cálice”: Preparação dos dons (oferendas)
“Deu graças”: Oração Eucarística
“Partiu o pão”: Fração do pão
“Deu”: Rito de Comunhão

Esta é a estrutura fundamental da Liturgia Eucarística. Ela é a própria realização do ritual da Páscoa de Jesus. É a renovação dos gestos de Cristo na última Ceia. No Ofertório há a oferenda dos dons, na Oração Eucarística, a transformação dos dons, e na Comunhão, a consumação do Corpo e Sangue de Cristo.

1. Apresentação dos Dons (Oferendas)

No inicio da liturgia eucarística são levados ao altar os dons que serão convertidos no Corpo e no Sangue de Cristo. O que se oferta neste momento são os elementos materiais escolhidos por Cristo para o sacramento: pão e vinho. Mas podemos colocar também nossa vida, nosso trabalho. Este é um momento de reconhecimento e gratidão por tudo que recebemos de Deus. Daí a inspiração do gesto de solidariedade e partilha. Também colocamos o fruto no nosso suor (coletas) para a obra da evangelização e da caridade. Trazemos neste momento os mantimentos para ajudar nossos irmãos carentes. Tudo o que ofertamos neste momento é para o sustento da Igreja e dos pobres.

É neste momento que acontece a segunda procissão na missa. Saímos de nossos lugares para colocar aos pés do altar nossos dons, nossas ofertas. Trazemos também o pão e o vinho para serem consagrados. Neste momento é oportuno um canto. Este canto acompanha a procissão. Sua duração deveria ser apenas enquanto durar a procissão. Depois a comunidade participa da preparação dos dons.

2. Oração sobre as Oferendas

Para encerrar o rito do ofertório e passar para a fase seguinte, o presidente convida a comunidade para a oração. Neste momento, o sacerdote pede a Deus que aceite nossas oferendas. Esta oração é própria do dia.

3. Oração Eucarística

A missa é toda ela uma eucaristia, ou seja, ação de graças. Porém a Oração Eucarística ocupa um lugar central dentro da liturgia eucarística. Antigamente era chamada de cânon, que significa “regra”, é a regra eucarística. Ela forma um todo que comporta vários elementos:

Diálogo
Prefácio
Santo
Narrativa da Instituição (Consagração)
Anamnese (Memória)
Intercessões
Doxologia Final (O Grande Amém!)

A Oração Eucarística é o cume de toda a celebração. O presidente deve chamar a atenção da comunidade para esta centralidade e para a participação ativa neste momento da missa, no qual torna-se presente o sacrifício de Cristo na Ceia Eucarística. Para isso é importantíssimo que haja uma forte comunicação entre o sacerdote e a comunidade, que é chamada para participar através das aclamações. Pode-se valorizar o canto nesta parte da missa.

3.1. Diálogo

Antes do prefácio há um belo diálogo entre o presidente e os participantes da celebração. É mais que uma saudação, é uma profissão de fé.
Presidente: O Senhor esteja convosco.
Povo: Ele está no meio de nós.
Presidente: Corações ao alto.
Povo: O nosso coração está em Deus.
Presidente: Demos graças ao Senhor, nosso Deus.
Povo: É nosso dever e nossa salvação.
A Comunidade é convidada pelo presidente a prestar atenção e se elevar ao mistério celebrado. Este diálogo é a abertura da grande oração de “Ação de Graças”, a Oração Eucarística.

3.2. Prefácio

O prefácio constitui-se uma belíssimo hino de exaltação a Deus. Nele se louva, agradece a Deus juntamente com toda a Igreja Celestial. O texto do prefácio faz alusão ao mistério que está sendo celebrado. Deste modo celebramos durante o ano toda a história da salvação. O prefácio é parte móvel da missa. Cada celebração, conforme o mistério celebrado, temos um prefácio próprio. Prefácio do Natal, da Quaresma, da Páscoa, de Nossa Senhora, dos Defuntos, etc.. Ele é encerrado com a grande aclamação do Santo.

3.3. Santo

Um hino exultante, cuja composição nos recorda que a liturgia é obra ao mesmo tempo terrestre e celeste – “céus e terra proclamam a vossa glória”. O versículo de Isaías 6,3 acrescido da citação de Mateus 21, 9, que está baseado no Salmo 118, 25-26, formam a aclamação que transmite não somente a santidade de Deus, mas também a de sua plenitude. Por ser uma aclamação, deveria ser sempre cantado. O santo é um canto de toda a comunidade. Nunca deve privá-la de sua participação.

3.4. Narrativa da Instituição ( Consagração )

Antes da Consagração, invoca-se o Espírito Santo sobre as oferendas. Chamamos de “Epiclese”. Para que o pão e o vinho sejam transformados no Corpo e no Sangue do Senhor, é preciso que sejam santificados. Por isso invoca-se o Espírito Santo.
A Narrativa da Instituição da Eucaristia é um memorial sacramental daquilo que Jesus disse e realizou tanto na ceia quanto na cruz. Pelas palavras da consagração torna-se presente o próprio Cristo nas espécies do pão e do vinho. A fé nos ensina que não é mais pão e vinho, mas o Corpo e o Sangue do Senhor.

3.5. Anamnese ( Memória )

Após a consagração tem lugar a “anamnese”, uma recordação do preceito do Senhor. Ela está ligada a Consagração. A Comunidade deve participar desta aclamação que pode ser cantada.
Presidente: Eis o Mistério da Fé!
Povo: Anunciamos, Senhor, a vossa morte e proclamamos a vossa ressurreição. Vinde, Senhor Jesus!

Ela se prolonga em forma de prece, que pode variar conforme a Oração Eucarística. Nela se oferece ao Pai o sacrifício de Cristo, agora no pão e no vinho. Roga-se para que participando deste sacrifício, leve-nos a união por meio do Espírito Santo.

4.6. Intercessões

Dentro da Oração Eucarística são feitas intercessões. Pede-se pela Igreja peregrina, pelo Povo de Deus, pelo Papa, Bispos, Padres. Enfim, reza-se por toda a Igreja terrestre e celeste, vivos e mortos. As intercessões nos levam a uma comunhão com todos os que já atingiram a santidade.

4.7. Doxologia Final ( O Grande Amém! )

Encerramos a Oração Eucarística com uma grande profissão de fé. Com uma fórmula trinitária que quer ser louvor, glorificação, honra, bênção e adoração. O “Por Cristo, com Cristo e em Cristo...” é uma síntese eucarística. É um louvor solene proclamado pelo presidente da celebração. O presidente eleva a hóstia e o cálice e proclama o “Por Cristo...” A comunidade participa com o “Amém”, que pode ser cantado. É neste momento que acontece o verdadeiro ofertório na missa.

IV. RITO DA COMUNHÃO

Após a Oração Eucarística, acontece a terceira parte da Liturgia Eucarística: o Rito de Comunhão. Mesmo sendo breve, este rito conta com várias partes:

Pai-nosso
A Saudação de Paz ( Abraço da Paz )
Fração do Pão
Cordeiro de Deus
A Comunhão ( Canto de Comunhão )
Oração após a Comunhão

1. Pai-nosso

A Oração do Pai-nosso é o primeiro elemento que constitui o rito de comunhão. É a melhor preparação para a comunhão. Primeiro porque não é qualquer oração, foi o próprio Senhor quem nos ensinou, depois, porque ela faz referência ao pão que não é somente o pão material, mas também o pão que alimenta nossa fé. Ao Pai-nosso segue uma súplica onde se pede perdão dos pecados. O “Livrai-nos de todos os males, ó Pai...” é um prolongamento do Pai-nosso.

2. A Saudação de Paz ( Abraço da Paz )

Este gesto nos chegou de diversas tradições. Quanto ao lugar deste gesto na missa, havia diferenças: no início, no começo da liturgia eucarística ou no momento antes da comunhão, como fazemos nós. Para podermos comungar é necessário que haja uma verdadeira paz entre nós. Esta paz deve ser expressão de nossa unidade, que é capaz de superar tudo que nos divide e separa. Caso contrário, a comunhão se torna um contra testemunho de nossa fé. Seria muito bom pensar nisto!

3. Fração do Pão

O presidente parte a hóstia e coloca um “pedacinho” da mesma dentro do cálice com o vinho consagrado. Este gesto chama-se “fração do pão”. Antigamente era necessário este gesto. Os fiéis traziam de suas casas o pão para ser consagrado. Na hora da comunhão eles partiam o pão num gesto belíssimo de fraternidade (cf. 1Cor 10, 16-17). Este gesto nos lembra duas coisas: que Jesus partiu o pão com seus discípulos e que nós devemos partir o pão entre nós.

4. Cordeiro de Deus

O Cordeiro acompanha a Fração do Pão. Ele é cantado logo após o abraço da paz. É um canto da assembléia. O cordeiro é símbolo da vítima oferecida por Deus no sacrifício pascal. O Cordeiro é Cristo, que morreu na cruz para nós salvar.

5. A Comunhão ( Canto de Comunhão )

Após uma oração silenciosa, o presidente apresenta a hóstia consagrada para a comunidade. Logo em seguida ele comunga. Neste momento inicia-se o Canto de Comunhão. A procissão para a comunhão é a terceira procissão na missa. Ela possui um significado importante: vamos ao encontro do Senhor que se faz nosso alimento. Ao mesmo tempo, as procissões na celebração eucarísticas tem o sentido de peregrinação para o Reino de Deus.. Os fiéis colocam-se em procissão para receber o Senhor na hóstia consagrada. O canto neste momento deve ser tranqüilo e acompanha esta procissão. Este é um momento sério no qual testemunhamos nossa comunhão com Cristo e com os irmãos. Por isso não devemos comungar de qualquer jeito.

6. Oração após a Comunhão

Terminada a comunhão, depois de um momento de silêncio, o presidente convida a comunidade para a oração. Esta oração pós-comunhão encerra o rito da comunhão e a Liturgia Eucarística. Ela é bem semelhante a oração da coleta e a das oferendas. Nesta oração depois da comunhão, o presidente implora os frutos do mistério celebrado. Pede que, aquilo que celebramos tenha efeito em nossa vida. A comunidade participa com o amém.

V. RITOS FINAIS

Os ritos finais são breves e singelos. É um momento de despedida. Porém, é o início de nossa missão no cotidiano da vida. Na estrutura da missa segundo o Rito Romano, os ritos finais é composto da Bênção Final e da despedida. Mas nós introduzimos neste momento alguns elementos novos. Antes da Bênção, costumamos fazer alguns avisos comunitários. Após a Bênção, é costume nosso fazer um canto. Seguindo este esquema podemos dizer que os Ritos Finais é composto de:

Avisos
Bênção Final
Despedida
Canto de Dispersão

1. Avisos

É apropriado neste momento, após a Oração depois da Comunhão, fazer os avisos da comunidade. Estes avisos devem ser breves e objetivos. Também é neste momento que pode-se fazer homenagens, cantar parabéns para os aniversariantes, etc. Não deve ser um momento muito prolongado. Lembre-se que nos Ritos Finais o mais importante é a Bênção Final.

2. Bênção Final

A Bênção faz parte do encerramento da missa. Quem abençoa é o sacerdote, como mediador de Jesus Cristo. O Sacerdote agiu na celebração em nome de Jesus Cristo e agora também em nome de Cristo ele abençoa. Assim como abriu a celebração com a invocação a Santíssima Trindade, em nome dela ele encerra a celebração. O sacerdote é mediador e por isso ele não se inclui na bênção. Ele não invoca a bênção, ela abençoa em nome de Deus.

3. Despedida

Em seguida vem a despedida. Com esta despedida o presidente nos envia para nossa vida com a missão de evangelizar o mundo. “Glorificai o Senhor com vossas vidas. Ide em paz, o Senhor vos acompanhe”. Todos respondem: “Graças a Deus”. A riqueza desta despedida é que voltamos para nossas atividades, agora louvando e bendizendo a Deus em nossas vidas. Devemos levar para o mundo a paz que Jesus nos deu. Transformar a sociedade, o mundo, eis nossa missão.

4. Canto de Dispersão.

Nosso costume introduziu este canto no final da celebração. Ele não constitui um “Canto Final”. A missa já terminou com a Bênção e a Despedida. Este canto deve fazer com que nossa saída da Igreja seja alegre e missionária. É um canto para a comunidade se dispersar. Não se pode prender as pessoas na igreja para cantar. O correto é cantar saindo. Por isso Canto de Dispersão e não Canto Final.




Indicações Bibliográficas:

CNBB. Pastoral da Eucaristia. Doc. 2. São Paulo: Paulinas, 1974, p. 87.
CNBB. Diretório para Missas com grupos populares. Doc. 11. São Paulo: Paulinas, 1977, p.46.
CNBB. Animação da vida litúrgica no Brasil. Doc. 43. São Paulo: Paulinas, 1990, p. 116.
BUYST6, Ione. A Missa: memória de Jesus no coração da vida. Petrópolis: Vozes, 1999, p.116.
BECKHÄUSER, Frei Alberto. A Liturgia da Missa: Teologia e Espiritualidade da Eucaristia. Petrópolis: Vozes, 1990, p.141.
ODORISSIO, Mauro. Missa: mistério-celebração-organização. São Paulo: Ave Maria, 1994, p.119.
CECHINATO, Pe. Luiz. A Missa parte por parte. 25ªed. Petrópolis: Vozes, 1996, p.142.
JÚNIOR, Pe. Joviano de Lima. A Eucaristia que Celebramos: explicação popilar da missa. São Paulo: Paulinas, 1982, p. 121.
SCHNITZLER, Theodor. Missa mensagem de vida: entenda a missa para participar melhor: São Paulo: Paulinas, 1978, p. 326.
ROUET, Albert. A Missa na História. São Paulo: Paulinas, 1981, p.129.

Vivendo a Semana Santa IV (Vigília Pascal)


VIGÍLIA PASCAL

1. A Vigília Pascal

Antes da reforma litúrgica de 1955, a primeira parte da liturgia era reservada quase ao clero e aos ministros. Essa cerimônia tinha participação de apenas um grupo restrito de fiéis. Após a reforma de Pio XII e do Vaticano II, essas celebrações foram reformuladas.

A celebração da noite do Sábado Santo abrange diversas partes: 1. A celebração da luz; 2. A Celebração Do Círio; 3. A Celebração da palavra; 4. A liturgia Batismal; 5. A liturgia eucarística.

1.1. A celebração da luz

É o início da comemoração da Ressurreição do Senhor. Esse fato é a Nossa Vitória, garantia de nossa fé. As cerimônias são um convite á Alegria, à Esperança. A bênção do fogo novo, tirado da pedra, é símbolo da luz, da fé que procede de Cristo, pedra Fundamental da Igreja. Dele sai o fogo que ilumina e abrasa os corações. É um costume que se originou na Gália (França) e pretende ser um sacramental substitutivo das fogueiras pagãs, que se acendiam no início da primavera, em louvor da divindade Votan, com a finalidade de se obter uma colheita dos frutos da terra.

O costume de se extrair fogo, golpeando uma pedra, provém da Antigüidade germânica pagã. A pedra passa a ser símbolo do Cristo que ilumina e abrasa os corações. Ele é a pedra angular que, sob os golpes da cruz, jorrou sobre nós o Espírito Santo.

1.2. O Círio Pascal

O círio pascal provém do costume romano de iluminar a noite com muitas lâmpadas. Esses lâmpadas passam a ser símbolos do Senhor Ressuscitado dentro da noite da morte. Originalmente o círio tinha a altura de um homem, simbolizando Cristo-luz que brilha nas trevas.

Os teólogos francos e galicanos enriquecem-no com elementos simbólicos. Aparecem assim as inscrições de Cristo, ontem e hoje, Princípio e Fim, e a primeira e a última letra do alfabeto grego (alfa e ômega). Coloca-se ainda o ano litúrgico corrente, pois Cristo é o centro da História e a ele compete o tempo, a eternidade, a glória e o poder pelos séculos.

Colocam-se, ainda, cinco grãos de incenso, nunca espécie de cravo de cera vermelha, rezando: Por suas santas chagas, suas chagas gloriosas, Cristo Senhor nos proteja e nos guarde. Amém. O sacerdote acende depois o círio, que é a Luz de Cristo. Entoa-se o refrão: Eis a luz de Cristo. E todos respondem: Demos graças a Deus!
À porta de igreja ergue-se o círio e canta-se pela Segunda vez: Eis a luz de Cristo! E todos respondem: Demos graças a Deus!

Todos acendem suas velas no fogo do círio pascal e a procissão entra pela nave da igreja, que está nas trevas. Chegando ao altar, entoa-se pela terceira vez o canto: Eis a luz de Cristo! E o povo responde: Demos graças a Deus!

Acendem-se então todas as luzes da Igreja. O cortejo, que se forma atrás do círio pascal, é repleto de símbolos. É alusão às palavras de João: Eu sou a Luz do mundo; o que me segue não caminhará nas trevas, mas terá a luz da vida (Jo 8,12). O círio, conduzido à frente, recorda a coluna de fogo pela qual Javé precedia na escuridão da noite o povo de Israel, ao sair da escravidão do Egito, e lhe mostrava o caminho (Êx 13,21).

Chegado ao altar, depois da solene entronização e incensação do círio, o sacerdote entoa a Proclamação solene da Páscoa, cantando o Exultet, tirado da palavra latina inicial desse canto solene. As idéias centrais desse canto, de autor desconhecido, são tiradas dos pensamentos de Santo Agostinho e de Santo Ambrósio. Canta as maravilhas da libertação do Senhor, vindo em socorro da humanidade e protegendo seu povo eleito. É um canto de louvor, ação de graças a Deus pelas maravilhas operadas na libertação do Egito. Esses fatos maravilhosos atingem sua plenitude pela vida, morte e ressurreição de Jesus, única Luz que ilumina todo o homem que vem a este mundo. É o cântico da Vitória de Cristo que realizou a Passagem, a Páscoa, para a vida do amor e da fraternidade.

1.3. A liturgia da palavra

A liturgia da palavra abrange as leituras bíblicas, sendo duas do Novo Testamento, a Epístola e o Evangelho. É uma alusão ao mistério de nossa Libertação. Por razões de ordem pastoral, é aconselhável a omissão de algumas leituras. Pode-se diminuir o número de leitores do Antigo Testamento, mas nunca se deve omitir a narração da passagem do Mar Vermelho, pelo seu caráter de figura tipológica do mistério Pascal. Para cada leitura há um Salmo Responsorial e uma oração. Após a sétima leitura, que é a última do Antigo Testamento, acendem-se as velas do altar e o sacerdote entoa o canto Gloria in excelsis, juntando ao canto o som festivo dos sinos da igreja.

Após a primeira leitura do Novo Testamento (Epístola), o sacerdote (ou outra pessoa indicada, ou o coral) entoa o cântico solene do Aleluia, quebrando o clima de tristeza que acompanha o tempo da Quaresma. Esse canto solene, repetido gradativamente três vezes, em tom cada vez mais alto, representa a saída de Cristo da sepultura e a entrada solene no mundo da glória e da luz dos céus. Por fim, proclama-se o evangelho, contando o relato da ressurreição, fato central da fé cristã.

1.4. A liturgia batismal

Após a liturgia da palavra segue-se o batismo de alguns fiéis perante a comunidade. É o momento justo para a celebração do sacramento do batismo, como entrada solene na comunidade daqueles que acreditam no Cristo ressuscitado.

A apresentação dos candidatos à comunidade e o cântico da ladainha de Todos os Santos mostram a universalidade da Igreja. A bênção da água batismal é feita com o simbolismo do mergulho do círio pascal na água, dando-lhe a força do Espírito Santo.

A renúncia do mal e a profissão solene de fé dão um caráter participativo à comunidade. Caso haja batizado de adultos, eles recebem também o sacramento da confirmação pela imposição das mãos do ministro do batismo, caso o bispo esteja presidindo a celebração. Quando não há batismo-confirmação, sempre se benze a água, que é levada solenemente até a pia batismal. É feita ainda a aspersão da água benta, recordando o batismo que deve ser renovado pela contínua inserção na fé e renúncia ao mal.

1.5. Liturgia eucarística

A liturgia eucarística, com a apresentação das oferendas e a prece, atinge o clímax da celebração pascal. O prefácio exalta o verdadeiro Cordeiro, que morrendo, destruiu a Morte e, ressuscitando, deu-nos uma vida Nova. Toda a prece eucarística é plena de alegria, louvor e ação de graças, pois Cristo se faz presente pessoalmente e não apenas nos sinais-símbolos.

A presença do Ressuscitado se faz atuante no ósculo da Paz, recordando Jesus que dirigi a saudação aos discípulos na tarde do dia da Ressurreição.

1.6. O Domingo da Páscoa

No início do cristianismo, o Domingo de Páscoa não tinha uma liturgia própria, porque, a celebração pascal se desenvolvia até a madrugada. Após a reforma litúrgica de 1955 e 1970, o Domingo passa a ser considerado como uma festividade verdadeira e própria.

A celebração desse dia é plena de alegria e esperança. As leituras são sempre as mesmas em todos os ciclos anuais. A seqüência pascal marca a emoção e a espera da comunidade. Jesus Cristo é vencedor da Morte. Ele rompeu as barreiras do tempo e do espaço. Ele é um convite à nossa ressurreição.
Em muitas comunidades, muitos fiéis não tomaram parte no Tríduo Sacro. Por isso os sacerdotes e a comunidade precisam tomar consciência da unidade da morte e ressurreição de Cristo como sendo um todo do Mistério Pascal.

2. A Celebração da Vigília Pascal

Noite mais clara que o dia! Assim canta a Igreja na Vigília Pascal, mãe de todas as celebrações da Igreja. Com o acender do círio pascal, na noite escura, dá-se início á celebração. Assim a Ressurreição de Jesus dentre os mortos ilumina o mundo com a serenidade de sua luz.

A Vigília Pascal foi restaurada, mas ainda não se tem consciência de sua riqueza e necessidade. A “Semana Santa” não termina com a sepultura de Jesus, nem a Páscoa consiste seu sentido a partir da Ressurreição da Jesus. Nela também nasce e toma sentido toda a vida cristã. Celebrar esta noite santíssima é ressuscitar com Cristo. A vitória de Cristo é a vitória de todo o cristão.

A Páscoa cristã tem sua história no Antigo Testamento. A ordem de Deus era que fosse celebrada sempre. Recordando as maravilhas operadas por Deus na História da salvação Olhamos também para o futuro: a realização de todas as promessas garantidas pela Ressurreição e a realização da vida nova e vida de cada um que nasceu de novo.

A celebração da Vigília Pascal tem quatro momentos:

Liturgia da Luz
Liturgia da Palavra
Liturgia Batismal
Liturgia Eucarística

2.1. Liturgia da Luz

Bênção do fogo e preparação do Círio

Segundo antiga tradição, o fogo aceso com pederneira (tirando da pedra), simboliza o Cristo, a luz que sai do túmulo de pedra. Com ele se acende o Círio Pascal. Ele é a imagem e símbolo de Cristo ressuscitado, luz do mundo, que entra pela Igreja escura e vai iluminando lentamente, até atingir o clarão total. A luz é Cristo.

O Círio é preparado: faz-se nele uma cruz explicando que Cristo salvou pela Cruz. São colocadas as letras A e Z, dizendo que Cristo nos salva pelas suas chagas. Acende-se o Círio e se inicia a procissão em direção ao altar. É a coluna de fogo que guia o novo povo resgatado de uma escravidão e salvo pelas águas do batismo. Entrando no Reino de Deus, presente na Eucaristia.

Proclamação da Páscoa

Canto da proclamação da Páscoa (Perônio): na alegria de Cristo Ressuscitado são proclamadas as festas pascais. Celebram-se as maravilhas de Deus nesta noite. Celebra-se a alegria da luz. Não se esquece da abelhinha que produziu a cera com a qual foi feito o Círio, imagem e símbolo de Cristo que conduz o seu povo.

2.2. Liturgia da Palavra

A celebração da Vigília Pascal tem um elemento forte: a liturgia da Palavra. Nela celebra-se o Cristo que é Palavra do Pai, luz do mundo. Ele está presente na Palavra lida na comunidade. É a proclamação da História da Salvação e das maravilhas realizadas por Deus, até chegar a Cristo, maravilha que permanece não como uma história passada, mas como vida da qual participamos. São 7 (sete) leituras do Antigo Testamento, sendo uma da Carta de São Paulo aos Romanos e outra dos Evangelhos. Do Antigo Testamento não é obrigatório ler todas. Recomenda-se, porém , que sejam escolhidas pelo menos três. E a leitura do Êxodo (14,15-15,1) não pode ser omitida. A Igreja recomenda que o critério de escolha das leituras seja o pastoral e não a comunidade. Elas são uma excelente catequese do Ministério Pascal de Cristo.

a) Primeira Leitura (Gn 1,1-2,2 ou 1,1.26-31a)

A Criação do mundo e do homem, primeiro gesto de salvação de Deus: Criação e Ressurreição vêm juntas, pois em Cristo ressuscita se faz presente a nova criação. A criação em Cristo encontra seu 7o dia, dia do repouso, e o homem, o ingresso no Paraíso. Em Cristo todas as coisas se fazem novas. Todo o mundo criado, juntamente com o povo fiel, canta a glória do Cristo. O homem é o centro da criação. Em Cristo, novo homem, novo Adão da história, a criação e toda a humanidade tomam novo sentido e têm nele sua garantia. O mundo é o lugar da salvação.

b) Segunda Leitura (Gn 22,1-18 ou 22,1-2.9a.10-13.15-18)

O Sacrifício de Abraão, nosso Pai na Fé. Abraão é chamado por Deus a constituir o povo de Deus. Tantas são as promessas. Mas Abraão é colocado à prova. Responde com fé e generosidade! O povo de Deus é nascido não do sangue, mas da fé no Deus que chama a compartilhar de seu plano de vida. Cristo é o novo cordeiro que está em nosso lugar, na resposta total e fiel a Deus. Sua descendência será grande como as areis da praia.

c) Terceira Leitura (Ex 14,15-15,1)

Passagem do Mar Vermelho. O povo de Deus tem uma forte experiência de libertação através das águas do mar. São as maravilhas de Deus que acompanham a criação e formação do povo de Deus. O novo povo passa pelas águas do batismo, que lhe dão não uma liberdade humana, mas a passagem da morte de cada cristão através de sua passagem com Cristo nos sacramentos.

d) Quarta Leitura (Is 54,5-14)

A Nova Jerusalém caminha para o esplendor da luz do Senhor. A Nova Jerusalém é figura da Igreja, novo povo de Deus, reunido em Cristo numa só família pelo seu sacrifício pascal. Novo povo, na unidade do Pai, do Filho e do Espírito, é instruído pela Palavra de Deus. Será povo Santo.

e) Quinta Leitura (Is 55,1-11)

A salvação é oferecida gratuitamente a todos os povos. O povo de Deus não isolado e fechado. A salvação é como um banquete oferecido a todos os povos. É uma aliança prometida a todos. Deus é generoso em sua promessa, sua Palavra não cai em vão, mas produz sempre o fruto.

f) Sexta Leitura (Br 3,9-15.32-4,4)

Fonte de vida e sabedoria. Fazemos parte de um povo novo pelo Batismo. Somos constantemente chamados a procurar a sabedoria e a caminhar na luz de sua lei, que é um jugo suave e de leve peso. A lei dos ressuscitados é o amor de Cristo.

g) Sétima Leitura (Ez 36,16-17a.18-28)

Um coração novo e um Espírito novo. Pela Ressurreição de Cristo todos serão transformados e reunidos em um único povo purificado pela água do Batismo. O coração transformado receberá um Espírito novo, estabelecendo-se uma aliança de amor e de mútua pertença, fruto da Páscoa. A oração que segue a leitura evoca a ação de Jesus restaurador de todas as coisas. A Igreja reunida é o ponto de chegada de todo o caminho de salvação iniciando no gesto criador de Deus.

h) Hino de Louvor

Canto do Glória. Depois de uma longa Quaresma, tempo de reflexão e penitência, chegamos ao momento de celebrar a alegria da Ressurreição. É o hino de louvor e adoração ao Cristo vivo, na unidade do Pai e do Espírito.

i) Oração

Rezemos a alegria desta noite santíssima iluminada pela Ressurreição. Pedimos a Deus o espírito filial e o reavivamento da comunidade cristã.

j) Oitava Leitura - Epístola (Rm 6,3-11)

Cristo ressuscitado dos mortos não morre mais. Pelo Batismo estamos unidos à morte de Cristo, com ele caminhamos na Vida nova. Somos semelhantes a ele. A morte não tem mais domínio sobre ele. Consideremo-nos mortos ao pecado e vivos para Deus.

l) Aclamação ao Evangelho

Aleluia! Louvado seja Deus! O sacerdote entoa solenemente a Aleluia que significa: Louvores a Deus. É o momento da explosão de alegria. Santo Agostinho dizia ao seu povo: com o canto do Aleluia nós exprimimos o tempo da alegria, do repouso e do triunfo representados pelos dias pascais. Não temos ainda o objetivo de nosso louvor, ma caminhamos para ele, o Cristo, no seu reino definitivo.

m) Evangelho

Ano A: (Mt 28,1-10)
Ao raiar do dia, surge a nova luz. O anúncio feito às mulheres é simples: “Sei que procurais Jesus, que foi crucificado. Ele não está aqui! Ressuscitou, como havia dito”. Tornam-se elas as primeiras anunciadoras: “Ide depressa contar aos discípulos que ele ressuscitou dos mortos”.

Ano B: (Mc 16, 1-7)
As mulheres entram no túmulo e viram um jovem vestido de branco. Tiveram medo. Disse ele: “Vós procurais Jesus de Nazaré, que foi crucificado? Ele ressuscitou, não está aqui. Vede o lugar onde o puseram. Ide, dizei aos discípulos e a Pedro que ele irá à vossa frente, para Galiléia. Lá o vereis”.

Ano C: (Lc 24, 1-12)
“Por que estais procurando entre os mortos aquele que está vivo? Ele não está aqui. Ressuscitou!” Voltaram as mulheres do túmulo e foram contar aos discípulos. Pedro correu ao túmulo e foram contar aos discípulos. Pedro correu ao túmulo, debruçou-se, mas só viu as ligaduras. Voltou para casa admirado com o sucedido.

2.3. Liturgia Batismal

a) Exortação

A Igreja, desde os primeiros séculos, ligou a noite pascal com a celebração do Batismo. Toda a celebração é estruturada sobre o tema do Batismo e nossa vida em Cristo Ressuscitado. Baseia-se no pensamento de Paulo que o Batismo é uma imersão em Cristo, na sua morte e o ressurgimento com Cristo na sua ressurreição.
Nas comunidades de muitos catecúmenos, neste momento da celebração recebem o Batismo aqueles que devem se batizados.

Se houver Batismo de adultos, estes recebem também a Crisma e Eucaristia. Batismo, Crisma e Eucaristia formam um só sacramento da iniciação cristã.
Com palavras próprias ou seguindo a fórmula do Missal Romano, o Celebrante faz breve exportação ao povo sobre o significado e a importância do Batismo.

b) Ladainha de todos os Santos

O rito da Liturgia Batismal inicia-se com a ladainha de todos os santos. Invocamos a presença de toda Igreja celeste e terrestre para que esteja orando junto, implorando o Dom do Batismo não é algo pessoal, mas pertence a todo o povo de Deus no qual é inserido o batizado. Todos enxertados em Cristo.

c) Bênção da água batismal

A solene bênção relembra e faz memória de todas as maravilhas operadas por Deus mediante a água do Jordão.
Coloca-se o Círio dentro da água, pedindo ao Cristo que infunda nesta água a força do Espírito Santo, para que quem nela for batizado seja sepultado na morte com Cristo e ressuscite com ele para a vida. Segue-se o rito do Batismo, se houver pessoas para serem batizadas.

d) Renovação das Promessas do Batismo

Terminado o rito do Batismo, a comunidade faz a renovação de suas promessas batismais e de seu aprofundamento na fé. É o momento em que nos inserimos mais profundamente no mistério da Cristo Ressuscitado, através dos ritos da Igreja. Ficam todos de pé com as velas acesas.

2.4. Liturgia Eucarística

a) Oração Eucarística

É o momento culminante da celebração. A comunidade, reunida em torno da Páscoa, renova o mistério da imolação e glorificação de Cristo.

Batizados em Cristo, ungidos por seu Espírito, entramos em comunhão total com ele, fazendo sua a nossa vida, participando do seu mistério.

Transformados em homens e mulheres novos, nesta noite santíssima fazemos uma ação de Graças a Deus, pelo que Deus realizou em Cristo: ele é o cordeiro de Deus que tirou o pecado do mundo; morrendo, destruiu a morte e, ressuscitando, restaurou-nos a vida.

Vivos em Cristo, com ele viveremos no amor. O abraço da paz será o símbolo da paz instaurada por Cristo. Paz que dá testemunho ao mundo da vitória do Ressuscitado. As promessas se cumpriram: surgiu um novo céu e uma nova terra no gesto de amor e de fraternidade universal.

3. Preparação da Celebração

Esta é uma noite sacramental. A proclamação da Ressurreição do Senhor, mais do que um ato de fé, deve ser celebrada como uma atualização da Graça Pascal para a Comunidade. A História da Salvação, resumida nas diversas Leituras, converge para a alegria e a certeza de uma participação atual no Projeto Pascal de Deus.

Celebrar é integrar-se nessa mesma História, é tornar-se hoje personagem vivo de uma Salvação que continua acontecendo através da presença viva de Jesus Ressuscitado. Daí, a centralidade e a importância da Liturgia Batismal, que significa este mergulho do homem no mistério da Morte e Ressurreição do Senhor.

A Eucaristia une-se fortemente ao Batismo, como parte de uma só realidade sacramental: tornar-se um só Corpo com o Senhor Ressuscitado. A própria Liturgia do Sábado Santo, quando bem celebrada e participada, evidencia por si mesma a melhor Mensagem de Páscoa, que dispensa uma Homilia especial.

3.1. Sugestões

a) Fazer uma verdadeira fogueira, suficientemente distante da igreja, para que possibilite uma procissão de todos os fiéis. Cada família pode ser convidada a trazer algum pedaço de madeira ou um graveto, que juntará à fogueira, com o sentido de participar na realização deste fogo novo.
b) Ao proclamar as palavras que acompanham a incisão do Círio, o Celebrante deve fazê-lo recitando ou cantando, convidando a Comunidade a repeti-las.
c) Círio Pascal: cantar o Precônio às luz das velas, fazendo com que a Comunidade participe do canto através de aclamações. (P. Ex.: Vem, amigo, vem, irmão,/ hoje é Páscoa do Senhor./ Vem, Senhor Jesus. Amém.)
d) Liturgia da Palavra: preparar de tal forma que não seja cansativa, seja participada e comunicativa.
- fazer uma entrada solene da Bíblia, que será colocada perto do Círio Pascal e incensada antes de começar as Leituras. Se possível, fazer entrar 2 Bíblias, ama aberta no Antigo Testamento, e outra no Novo Testamento.
- fazer as leituras em forma dialogada.
- alternar entre ler, contar espontaneamente ou até cantar o conteúdo das Leituras.
- usar slides, cartazes com os temas, representação visual, corporal.
- cantar os Salmos de meditação ou substituir por cantos conhecidos, que expressem o tema da Leitura proclamada.
e) antes do Glória, montar e enfeitar o altar principal, fazendo uma procissão.
f) mais uma vez, enquanto possível, levar as crianças para um outro local onde tenham uma Celebração da Palavra adaptada a elas. Fazê-las irromper na Comunidade no momento do Glória, com cantos e gritos de alegria.
g) Liturgia Batismal: deve ser feita de tal modo que realmente seja percebida como parte integrante da Celebração Pascal. É a Ressurreição de Jesus que se comunica sacramentalmente ao ser humano.
O melhor é realizar um verdadeiro Batizado, principalmente se for de adulto. O sentido da Vigília pascal se expressa melhor no Batismo de imersão, que poderia ser feito principalmente com crianças, à semelhança da imersão do Círio Pascal. Na Ladainha de todos os Santos, acrescentar também os Santos de devoção da Comunidade. Se não for cantada, fazer com que pessoas ou grupos de pessoas façam as invocações de alguns Santos. Na renovação das promessas do Batismo, ao invés de aspergir com água benta, providenciar algumas vasilhas nas quais a água batismal seja distribuída e apresentada à Comunidade, para que possa fazer o Sinal da Cruz.
h) O abraço da Paz pode ser dado no fim da Celebração, de modo que permita uma troca
alegre e demorada de Feliz Páscoa entre todos os participantes da Celebração.

3.2. Preparar

a) para a bênção do fogo:
- uma fogueira (num lugar fora da igreja, onde o povo se reúne);
- o Círio Pascal;
- cinco grãos de incenso; um estilete;
- utensílio adequado para acender a vela com o fogo novo;
- lanterna para iluminar os textos a serem lidos;
- velas para os que participam da vigília;
- incenso; talha de barro ou turíbulo;
- utensílio para se tirar as brasas acesas do fogo novo e deitá-las na talha de barro ou turíbulo;
- tochas (acompanharão o Círio Pascal).

b) para a proclamação da Páscoa ( Exultet) e para a liturgia da palavra:
- candelabro para o Círio Pascal, posto junto à mesa da Palavra;
- uma estante para o (a) cantor(a) proclamar o Exulte e para os leitores da liturgia da palavra;
- Lecionários;
- foguetes e sino.

c) para a liturgia batismal:
- potes, jarros ou recipientes adequados, com água;
- aspérgio ou um ramo apropriado para se lançar a água benta;
- quando se administram os sacramentos da Iniciação cristã: óleo dos catecúmenos, santo crisma,
vela batismal, Ritual do Batismo.

3.3. Pessoal e Serviços

- Montadores da fogueira;
- Acendedora do fogo novo;
- Carregador(a) do Círio Pascal;
- Carregadores das tochas ( acompanharão o Círio Pascal );
- Carregadores(as) das talhas de barro ou dos turíbulos;
- Apagadores e acendedores das luzes da igreja;
- Cantor(a) da proclamação da Páscoa (Exulte);
- Leitores; são propostas nove leituras: sete do Antigo Testamento e duas do Novo Testamento (Epístola e Evangelho). Por razões pastorais pode-se diminuir o número de leituras do Antigo Testamento, sendo que a terceira (Êx 14,15-15,1) não pode ser omitida;
- Salmista(s) ou cantor(es) para os Salmos Responsoriais das Leituras;
- Arrumadeiras do altar (enfeites e adornos apropriados, no momento em que se entoa o Hino de Louvor);
- Batedores de Sinos;
- Soltadores de foguetes; (ao entoar o hino Glória a Deus nas alturas, tocam-se os sinos e soltam-se os foguetes);
- Carregadoras dos jarros ou potes, com água;
- Benzedeiras, (ministras ou ministros) para aspergirem a assembléia com a água benta;
- Apresentadores(as) dos catecúmenos;
- Organizadores(as) da procissão até a pia batismal ou ao batistério;
- Servidoras(es) da mesa do pão.

Vivendo a Semana Santa III (Sexta-feira Santa)


SEXTA-FEIRA SANTA

A reforma litúrgica de Pio XII, em 1955, introduz a comunhão aos fiéis. No mais, conservou a maior parte dos costumes anteriores. O Vaticano II fez profundas modificações nessa liturgia. A celebração já tinha sido fixada na parte da tarde pelo ORDO precedente. Havia também a possibilidade de se fazer a liturgia da Palavra na parte da manhã e deixando para tarde a veneração da cruz e a comunhão. Os motivos pastorais, no entanto, exigiram que se fizesse uma só cerimônia, para não obrigar as pessoas a se reunirem duas vezes no mesmo dia.

Nesse dia não há assim celebração da eucaristia - missa, mas apenas a Comemoração da paixão e morte do Senhor. Essa atitude de respeito pelo jejum, abstinência, tristeza e silêncio é feita na Esperança. Pela morte veio a Vida; pelo fracasso aparente, salvação dos homens. Esse Mistério da salvação dos homens pela morte do Filho de Deus é loucura para quem vive numa sociedade de consumo, de produção, de sucesso e de glórias efêmeras. Mas aquilo que é loucura de Deus é mais sábio que os homens, e o que é fraqueza de Deus é mais que os homens (1Cor 1,25).

A celebração da Morte do Senhor consta de leituras bíblicas (Is 52,13 até 53,12; Hb 4,14-16; 5,7-9) e da narração da Paixão do Senhor (Jo 18,1-19,42). Logo após a liturgia da palavra, fazem-se as Preces da Igreja Universal. Essa oração universal mostra a dimensão da catolicidade da Igreja como a grande Comunidade. Seguem-se a Adoração da Cruz e a Liturgia da Comunhão. A Sexta-feira Santa é um convite ao respeito e à simplicidade, recordando a Morte de Senhor. Só entende a Vida quem compreende o Mistério da Dor e do Sofrimento. Comemorar a morte do Senhor é comprometer-se com Cristo Verdade e Vida, que nos dá o sentido do Transcendente e do Eterno.

O Mistério da Redenção ganha sentido maior na ressurreição, ou seja, na passagem do mundo da tristeza para a Alegria, da escravidão para a Liberdade, das trevas para a Luz, do egoísmo do pecado para Vida de Amor.

1. Celebração da Paixão do Senhor

Hoje não celebramos a Eucaristia, porque a Igreja tem esta longa tradição de não Celebrar missa na Sexta-feira Santa. Nós nos reunimos para comemorar e reviver a paixão do Senhor. A Igreja contempla Cristo que, morrendo, se oferece como vítima ao Pai, para libertar toda a humanidade do pecado e da morte. Nós adoramos nesta celebração o mistério de nossa salvação e dispomos nosso coração na fé e no arrependimento, para que possamos ser curados e santificados pelo sacrifício de Cristo.

Aos pés da Cruz, a Igreja em oração quer trazer as dores de toda a humanidade, para que o sangue precioso de Cristo possa curar todos os males e fazer crescer a semente do reino plantada pela sua Palavra, regada com seu sangue e cuidada com a força da sua Ressurreição.

A celebração de hoje tem 4 partes:

• Paixão proclamada: Liturgia da palavra
• Paixão invocada: Solene Oração Universal
• Paixão venerada: Adoração da Cruz
• Paixão comungada: Comunhão eucarística.

Proclamando o acontecimento da Paixão, nós nos tornamos participantes e recebemos a força de sua Cruz. Assim, diante do mistério da morte de Cristo, nós nos sentimos impelidos a não deixar ninguém fora deste sangue que nos liberta e lava. Cheios de amor, veneramos a cruz, num gesto de adoração àquela que se entregou até à última expressão do Amor. Nada faltou da parte de Deus, para nos amar e demonstrar a verdade de sua proposta de vida nova.

Comungando, fazemos um só corpo com ele e com todo o povo de Deus. Como diz a oração final da celebração: “Ó Deus, que nos renovastes pela santa morte e ressurreição do vosso Cristo, conservai em nós obra de vossa misericórdia, para que, pela participação deste mistério, vos consagramos sempre a nossa vida”.

2. Liturgia

2.1. Início da Celebração

Os celebrantes e ministros aproximam-se em silêncio do altar.
Todo o povo se ajoelha.
Os celebrantes podem prostrar-se ou ajoelhar-se, em sinal de profunda reflexão e compenetração no mistério que vão celebrar. Após alguns instantes, levantam-se e dirigem-se aos seus lugares.
O povo fica de pé.
Voltando para o povo, o celebrante que preside reza a oração.

2.2. Oração

Pedimos a Deus que, pelo sangue de Cristo derramado na cruz, se lembre de suas misericórdias e nos santifique pela sua constante proteção.

3. A Paixão Proclamada (Liturgia da Palavra)

3.1. Primeira Leitura ( Is 52,13-53,12)

A Palavra de Deus apresenta o cântico do Servo de Javé, uma profecia sobre o Cristo sofredor que assumiu nossas dores, curando-nos por suas chagas. Ele ofereceu sua vida como expiação. Sua morte é vida para todos nós, pecadores. O salmo reza com Jesus na Cruz sua entrega a Deus: “Em vossas mãos, Senhor, entrego o meu espírito”. A morte de Jesus culmina num grande grito de certeza de vida que está nas mãos de Deus: “ Senhor, eu ponho em vós minha esperança”. No servo sofredor estamos todos nós, também para viver. (Pág. 141, no 4)

3.2. Segunda Leitura

A Palavra de Deus desta leitura explica quem é servo de Javé, sofredor: Ele é o sumo sacerdote, aquele que nos dá plena segurança de nos aproximarmos do trono da graça, “para conseguirmos misericórdia e alcançarmos a graça de um auxílio no momento oportuno”. Ele é o mediador e sabe entender nossas enfermidades, pois passou por elas, menos no pecado. Pela sua obediência, teve seus clamores ouvidos. Deus o ressuscita. Dá-nos assim garantia que nossa luta contra todo mal será ouvida e temos uma ressurreição semelhante à sua. “Por isso Deus o elevou acima de tudo”, nos diz São Paulo (F12,9). Por meio de seu sofrimento e morte temos na casa do Pai um medidor, da nossa parte, a nos garantir.

3.3. Evangelho - Paixão do Senhor (Jo 18,1 - 19,42)

João narra a Paixão não somente um fim trágico de Cristo, mas como o caminho de sua glorificação. Jesus dizia: Quando for exaltado da terra atrairei todos a mim. Jesus não morre empurrado por um sistema. Tem plena consciência de sua missão de unir todos os dispersos. Tem plena consciência de sua missão de unir todos os dispersos. Tem força suficiente para crer que sua paixão e morte são Revelação do amor do Pai: O Pai amou tanto o mundo que deu seu Filho.

Esta morte está direcionado exercendo total influxo na Igreja, figurada por Maria ao pé da Cruz recebendo o discípulo. Ali nascem os sacramentos do sangue, Eucaristia e água, batismo. Ele culmina com o Dom do Espírito: Inclinando a cabeça, entregou o Espírito. Bem dizem os santos padres: Do lado de Cristo adormecido na Cruz nasceu a nova Eva, a Igreja, fecundada pelo Espírito, gerando filhos para Deus.

4. Paixão Invocada, Venerada e Comungada

4.1. Oração Universal

No dia da celebração da paixão de Cristo para a salvação de todos, a Igreja abre os braços e o coração para realizar uma oração de intercessão pela salvação do mundo, A Igreja, que tem por cabeça o Cristo Sacerdote, em nome e por meio dela apresenta ao Pai suas grandes intenções. Toda a humanidade é trazida nesta oração aos pés da Cruz, na qual Cristo morre. É o primeiro resultado da morte de Cristo: abrir-se e preocupar-se com o mundo inteiro.

4.2. Paixão Venerada (Adoração da Cruz)

A liturgia está centrada no sacrifício de Cristo. Por isso se apresenta a Cruz para a adoração. Não adoramos a madeira da Cruz, mas a pessoa de Cristo crucificado e o mistério significado por esta morte por nós. Mesmo sendo um momento de morte, liturgia não deixa de estabelecer que Cristo está vivo e ressuscitado.

Adoramos vossa Cruz, Senhor, louvamos e glorificamos vossa santa Ressurreição, pois pelo lenho da Cruz veio a alegria ao mundo inteiro. A Cruz é sinal da vitória de Cristo que arrebenta as portas do mal. É a expressão máxima do amor do Pai: “Deus tanto amou o mundo, que lhe deu o seu único Filho” (Jo 3,16).
A Cruz é a árvore da vida, cujo fruto bendito nos faz viver eternamente. Não podemos esquecer que na Cruz está o projeto de morte de todos os males do mundo. Ela é libertação.

4.3. Paixão Comungada (Comunhão)

O momento da comunhão é a profissão de fé no Cristo que está vivo e que, pela comunhão, nos torna um só corpo com ele. O sangue que nos remiu nos livrou da morte e do mal, afastou o tentador, que queria dominar sobre nós e estabelecer em nós o mal, e introduziu-nos no Reino de justiça, de amor e de paz.
Assim nós estamos em comunhão com Cristo e com toda Igreja, e fazemos de nossa vida a vida de Cristo. Comungando Cristo, comungamos seus sentimentos, ao se entregar ao Pai, e comungarmos a vida que ressurge.

5. Encerramento

5.1. Oração depois da Comunhão

Pedimos a Deus que, pela nossa participação no mistério da paixão e morte de Cristo, conserve em nós a obra de sua misericórdia.

5.2. Oração sobre o povo

O sacerdote pede para o povo a bênção de Deus, perdão, consolo e crescimento na fé, e que a redenção se confirme em nós. Assim termina esta celebração, mas a vivência do Tríduo Pascal continua. Mesmo a celebração das tradições populares da Procissão do Enterro e das Dores de Maria não devem nos desviar daquele pensamento central da Igreja para os dias de hoje e de amanhã: meditação, silêncio e reflexão diante do túmulo de Jesus, que morreu e “desceu à mansão dos mortos” como rezamos no Creio. É a solidariedade de Cristo com todos os mortos, como foi solidário com todos os vivos. Significa que Cristo é Salvação de todos, em todos os tempos. Sua morte é uma vez por todas. Sejamos solidários com Cristo que é solidário conosco.

6. Preparação da Celebração

6.1. Preparar

- paramentos de cor vermelha
- a cruz ( coberta com o véu; para prender o véu, usa-se alfinete ou fita crepe);
- dois castiçais;
- tapete, almofadas ou genuflexórios desguarnecidos (para a prostração);
- Missal;
- Lecionários;
- toalhas;
- corporais.

6.2. Pessoal e Serviços

- Arrumadoras da cruz para a procissão;
- Preparadoras do lugar para a celebração da Paixão do Senhor;
- Leitores(as): uma leitura do Antigo testamento (profeta Isaías) e as leituras do Novo Testamento: Epístola aos Hebreus e a história da Paixão do Senhor;
- Salmista ou cantor;
- Transportadores (acólitos) dos castiçais;
- Carregadores(as) da cruz para adoração;
- Apresentadores(as) da cruz para a assembléia;
- Arrumadeiras do altar (serviço de mesa);
- Transportadores(as) do pão consagrado para a distribuição aos fiéis.

6.3. Sugestões para Preparar a Celebração

a) Por mais austera que pareça a Celebração da Sexta-feira Santa, é preciso cuidar bem para que seja comunicativa e participada.
b) Um cuidado especial com as Leituras, principalmente a da Paixão: é importante ilustrá-las, visualizá-las, fazer participar através de intervenções de cantos, aclamações, cartazes, slides, símbolos, ou até representação semiteatral. Mais uma vez, é pedagógico que as crianças tenham uma Celebração da Palavra em outro local, adaptada a elas.
c) Sendo a Cruz o símbolo central deste dia, as várias comunidades ou segmentos da Paróquia podem ser convidadas a trazer uma pequena cruz de madeira, com inscrições que apontam os seus sofrimentos e pecados atuais. No momento da Oração universal, cada um apresenta a sua cruz com uma súplica correspondente. Mesmo as pessoas podem ser convidadas a trazer seu pequeno crucifixo para serem bentos no final da Celebração.
d) Na Oração universal : distinguir entre quem convida e o Presidente que recita a oração. Pessoas diversas encarregar-se-ão do convite e, durante a pequena pausa, podem colocar um pouco de incenso sobre o turíbulo ou recipiente fixo, significando a súplica que sobe até Deus. Se não houver incenso (serve também resina de manqueira), cada pessoa traz uma vela acesa e permanece segurando-a até o fim da Oração universal.
e) É importante valorizar a Adoração da Cruz, dando tempo para que o para que o povo possa tocar a Cruz e fazer de fato a sua homenagem pessoal durante a própria Celebração. Se de fato parecer cansativo demais para a Comunidade, fazer com que venham por famílias ou então em grupos, conforme as associações, movimentos, setores, ministérios etc. para um instante de adoração.

Vivendo a Semana Santa II (Quinta-Feira Santa - Ceia do Senhor)


QUINTA-FEIRA SANTA

As reformas litúrgicas do Papa Pio XII, em 1955, já tinham reintroduzido, à noitinha, ou ao menos depois das 4 horas da tarde, uma celebração eucarística para recordar a instituição da Ceia do Senhor. As leituras ficaram as mesmas e não existia ainda a concelebração, a não ser na ordenação episcopal ou sacerdotal.

O Vaticano II fez uma reforma mais profunda. Alterou-se a oração inicial, ressaltando o fato da última Ceia; as leituras procuraram centrar-se sobre o fato da Ceia do Senhor. A primeira leitura recorda a celebração da Pesha judaica (Êx 12,1-8.11-14) que será “transformada pelo novo Cordeiro Pascal, criando um novo povo”. A segunda leitura conta-nos a Ceia do Senhor conforme o relatório de São Paulo (1Cor 11,23-26). O Evangelho nos relata a cena do Lava-pés dos discípulos (Jo 13,1-5), tornando-se um sinal claro do amor de Jesus pelos que seguiam.

O costume do Lava-pés, imitando o gesto de Jesus, era antigo na Tradição da Igreja. Desde o século IV apareceu em todas as liturgias. O concílio de Toledo (634) o exige com firmeza, mostrando ser uma obrigação em todas as igrejas da Espanha e da Sicília. A reforma do Missal, em 1970, tornou-o obrigatório em todas as celebrações da Ceia do Senhor, constituindo parte integrante do gesto de doação de Jesus, ato a ser recordado e atualizado nas comunidades de hoje. A adoração ao Santíssimo Sacramento, que se faz ao fim da Ceia do Senhor, permaneceu como costume de acompanhar a memória de Jesus na angústia e na agonia daquela noite de Quinta-feira Santa.

1. Missa vespertina da Ceia do Senhor

A celebração abre o Tríduo Pascal e é início dos acontecimentos do Mistério Pascal de Cristo. Estão presentes nesta celebração todos aqueles momentos pelos quais passou o Senhor Jesus e aos quais ele associa sua Igreja. Nesta noite, temos diversos elementos que encontramos na Palavra de Deus e nas orações: lembramos aquela Ceia Pascal que já, desde o Egito, é celebrada pelo povo de Deus. Cristo, dentro desta Ceia, continua a caminhada de seu povo e lhe dá novo sentido. Não será mais o memorial da saída da escravidão do Egito, como veneramos na primeira leitura, onde Cristo que, com seu sangue na cruz e sua ressurreição, realiza a nova passagem da morte para a vida.

Jesus celebra uma ceia que contém não somente um passado e um presente, onde ele atualiza de maneira ritual seu mistério, mas o futuro. Já se celebram o Corpo que é entregue e o Sangue que é derramado para a vida e salvação de todos. Nós celebramos a eucaristia e temos fé no memorial que ela realiza, tornando presente tudo o que Cristo fez para nos levar ao Reino de Deus, seu Pai. Jesus, ao celebrar sua Ceia Pascal, antecipa e torna presente tudo o que ele realizará nos próximos dias. Vemos aí a unidade do Mistério Pascal: uno na sua realidade e diverso na sua realização.

O Cristo, sumo sacerdote, associa a si os seus, para que continuem fazendo o que ele fez: “Fazei isto em memória de mim”. Todas as vezes que comemos o pão e bebemos o vinho, anunciamos a morte do Senhor, proclamamos sua presença salvadora e santificadora. Nisto associa a si os apóstolos, como continuadores de sua missão sacerdotal, sacerdotes a serviço do povo sacerdotal naquelas coisas que se referem a Deus.

Dentro desta Ceia ele dá um mandamento, que é o seu, o único: o que vos mando é que vos ameis uns aos outros e que sejais um. O corpo unido dos fiéis conservará a memória. Sua Eucaristia e amor se reduzem a um gesto que Ele mesmo fez: tomou uma bacia e lavou os pés do discípulos. Quem não aceita este modo de ser não tem parte com ele como diz a Pedro. E seremos seus discípulos se fizermos como ele fez. O amor que faz ser autêntica a Eucaristia será o serviço humilde e dedicado, o modo de ser dos ministros de Cristo, o que Cristo foi como sacerdote. Sua presença permanente no Santíssimo Sacramento nos estimula e anima a viver sempre os frutos salutares de sua paixão para chegar à Ressurreição .

2. Oração

Deus constituiu Cristo Sacerdote para seu povo. Unidos a Ele vivemos seu mistério. (Pág. 121, no 7)

3. Liturgia da Palavra

3.1. Primeira Leitura (Ex 2,1-8.11-14)

A Saída do Egito, libertação do povo de Deus, é lembrada no memorial da Ceia Pascal que continua tornando presente a ação libertadora de Deus. É prefiguração da Eucaristia que é memorial do Cristo que salva e liberta seu povo. Nós, no Salmo Responsorial, damos graças a Deus oferecendo o cálice da salvação.

3.2. Segunda Leitura (1 Cor 11,23-26)
No ambiente de fraternidade de uma Ceia, Jesus institui a Eucaristia. Oferece à Igreja o mais preciso Dom: no sinal do pão e do vinho dá seu Corpo e Sangue e sua entrega a Deus. Participando da Eucaristia, sacrifício que ele oferece e do qual participamos, entramos em comunhão com Deus e com os irmãos.

3.3. Evangelho (Jo 13,1-15)

Cristo manifesta o fundamental de sua pessoa: o servo que se humilha e se põe a serviço inaugurando um novo modo de ser diante de Deus, mostrando o sentido de sua missão redentora: um serviço a Deus e aos homens, que se realiza na sua paixão morte. Chama à imitação: “Dei-vos o exemplo, para que façais a mesma coisa que eu fiz”. Só serão reais no mundo a morte e ressurreição do Senhor no momento em que o serviço fraterno e caridoso se tiverem implantado. Aí teremos passado da morte para a vida.

Lava-pés: No momento central da celebração há a memória do gesto de Jesus que dá sentido a todo o seu mistério. É a escola de ser cristão e de atingir a maturidade da fé cristã: descobrir o serviço fraterno como o elemento que nos faz unidos ao mistério de Cristo.

4. Oração Eucarística

A oração que agora fazemos, acompanhando o sacerdote, é a Grande Ação de Graças (Eucaristia) pela obra de Jesus no seu mistério de Morte e Ressurreição. Nela, por Cristo no Espírito damos glória ao Pai. A oferta, a oblação que fazemos, como diz a prece eucarística, é para honrar o dia em que Cristo confiou aos seus discípulos a celebração dos mistérios de Seu Corpo e Sangue (Cânon Romano). Acentua-se o hoje da celebração: Celebramos o dia santíssimo no qual Jesus Cristo foi entregue á morte por nós.

5. Transladação da Eucaristia

Terminada a celebração eucarística, o Santíssimo Sacramento é levado para o altar, onde ficará para a adoração dos fiéis. É um gesto necessário para a celebração da Sexta-feira Santa. A comunidade assume este momento para manifestar sua adoração e agradecimento pelo imenso Dom de Cristo presente e permanente entre nós. A Eucaristia conservada para levar aos doentes é uma oportunidade no mundo a que seja fraterno.

6. Desnudação do altar

A cerimônia que encerra a celebração da Ceia do Senhor e dá o sentido para o dia seguinte é a manifestação exterior da mente da Igreja: despojar-se de tudo para se centrar no Cristo sofredor que faz sua imolação. São retirados do altar todos os objetos e enfeites, ficando completamente despojado de tudo. O Centro é Cristo no seu mistério de total abaixamento. É o modo como devem viver os cristãos nestes dois dias: reflexão, recolhimento, deixando de lado a distração e ocupar-se só com Cristo.

7. Sugestões para preparar a Celebração

Eucaristia, Sacerdócio, Mandamento do Amor costumam marcar esta celebração nitidamente pascal. A Quinta feira santa não deveria ser sentida como um hiato de alegria durante a Semana Santa, mas como a abertura do Tríduo Pascal. Ele oferece o rito que antecede, confere significação e perpetua o acontecimento pascal.

A Adoração e o silêncio que enceram a celebração não devem aparecer como expressão penitencial, mas como convite à interiorização e contemplação da novidade e da perfeição da Nova Páscoa realizada por Jesus e oferecida a nós em forma de Sacramento.

a) O Pão é um símbolo adequado para esta celebração. Criar um momento de Bênção e de Partilha do pão pela Comunidade, talvez no final.
b) No início da celebração eucarística, fazer uma entronização solene do Óleo do Cristo, benzido na Missa do Crisma. É interessante que seja trazido por cristãos adultos e comprometidos pastoralmente. Talvez a comunidade possa ser convidada a fazer algum gesto evocativo do sacramento da Crisma, com um pequeno diálogo ou oração de renovação.
c) Fazer com que a cerimônia do Lava-pés seja significativa para a Comunidade; evitar uma simples execução de rito feita com alguns coroinhas. Uma forma é fazer com que os diversos ministérios eclesiais (catequistas, coordenadores de pastorais), as diversas relações de família, as diferentes profissões e serviços na sociedade (professores, médicos, funcionários etc.) sejam vistos dentro da dimensão do Lava-pés: 12 pares lavam-se os pés, a começar pelo Presidente da celebração. Ou então, o próprio Presidente lava os pés de 12 pessoas representativas dos diversos ministérios praticados na comunidade: doentes, idosos, crianças, pobres, etc. O tema da CF pode inspirar outras modalidades ou personagens para esta cerimônia.
d) Enquanto possível, nesta Eucaristia possibilite-se ao maior número possível de fiéis a Comunhão sob duas espécies. Se não for possível oferecer a todos, ao menos a todos os responsáveis diretos pelas pastorais.
e) O rito de Desnudamento do altar, no final da celebração, deve constituir um gesto litúrgico visível e bem participado pela Comunidade: convidar alguns Leigos para que ajudem a fazê-lo.

I. Preparar

a) em lugar conveniente do presbitério:
- vaso(s) ou âmbula(s) com partículas consagrar para a comunhão do dia seguinte;
- véu de ombros;
- carvão, incenso;
- talha de barro ou turíbulo;
- tochas e velas.

b) no lugar onde se faz o lava-pés:
- assentos para as pessoas designadas;
- jarro com água e bacia;
- toalhas para enxugar os pés;
- toalha (ou gremial de linho) para o celebrante cingir a cintura;
- material necessário para se lavarem as mãos após o lava-pés.

c) na capela onde guarda o Santíssimo Sacramento:
- sacrário ou cofre para a reposição;
- luzes (velas, lamparina);
- flores e outros ornamentos adequados.

II. Pessoal e Serviços

- Pessoas designadas para o rito do lava-pés;
- Ministros que auxiliam o sacerdote, ou Representante, no lava-pés;
- Tocadores do sino (durante o canto do Glória, tocam-se os sinos, que permanecerão depois silenciosos até a Vigília Pascal);
- Arrumadeiras do lugar da reposição do Santíssimo Sacramento;
- Carregadores (acólitos) que levam os castiçais com as velas acesas;
- Carregador(a) da talha de barro ou do turíbulo;
- Transportadores das tochas ( ladeando o Santíssimo Sacramento);
- Desnudadoras do altar: o serviço da mesa deve ser feito logo em seguida da procissão com o Santíssimo Sacramento;
- Tiradores das cruzes da igreja (não sendo possível tirar as cruzes, é conveniente cobri-las).