sexta-feira, 19 de março de 2010

O Canto Litúrgico
no Ciclo Pascal

Ir. Miria T. Kolling


A Instrução Geral sobre o Missal Romano – IGMR, assim nos diz à pág. 110: “Como o Cristo realizou a obra da redenção humana e da perfeita glorificação de Deus principalmente pelo seu mistério pascal, quando morrendo, destruiu a nossa morte e ressuscitando renovou a vida, o sagrado Tríduo Pascal da Paixão e Ressurreição do Senhor resplandece como o ápice de todo o ano litúrgico. Portanto, a solenidade da Páscoa goza no ano litúrgico a mesma culminância do domingo em relação à semana”.

O Tríduo Pascal tem seu início na Missa vespertina da Quinta-Feira Santa, com a memória da última Ceia de Jesus. A sexta-feira da Paixão, o sábado da sepultura e o domingo da ressurreição são chamados por Santo Agostinho de tríduo do “crucificado, sepultado e ressuscitado”, culminando com a Vigília Pascal, na noite santa em que o Senhor ressuscitou. Considerada pelo mesmo santo como a “mãe de todas as vigílias”, é a Celebração Maior do Ano Litúrgico.O tríduo se encerra com as Vésperas do Domingo da Ressurreição.

- É vivamente recomendada a participação do povo: gestos corporais, símbolos e imagens, sobretudo o canto, devido à solenidade desses dias e porque os textos bíblicos e litúrgicos, densos e profundos, adquirem maior força quando são cantados.
- A Quinta-feira Santa tem como centro o Lava-pés e a Ceia, que o Senhor instituiu naquela noite em que foi entregue... Por isso canta-se solenemente o Glória. Pode-se dar destaque à procissão dos dons, sobretudo o pão e o vinho, escolhidos por Jesus para sua doação; a coleta, sinal de solidariedade, é em favor dos necessitados. A Missa termina com o translado do Santíssimo ao lugar da reserva, com o “Tão sublime Sacramento”.
- A Sexta-feira Santa é centralizada na cruz, quando a comunidade proclama a paixão do Senhor, rezando pela humanidade toda. É o dia do silêncio, do jejum, da sobriedade, manifestado na Celebração: início, sem canto, o que seria bom também na Comunhão.
- O Sábado Santo, segundo uma feliz afirmação de Irmã Penha Carpanedo, é o dia de “viver a ausência do Amado”, portanto, de silêncio, meditação e permanência da Igreja junto ao sepulcro, à espera da Ressurreição do Senhor.
- A Vigília Pascal abre o terceiro dia do Tríduo, sendo uma celebração repleta de símbolos: o fogo do início; o círio pascal aceso no fogo novo, sinal do Senhor ressuscitado; a solene procissão até o local da celebração, com a aclamação “A luz de Cristo”; a proclamação jubilosa da feliz noite, no Exultet; a rica liturgia da Palavra, percorrendo a história da salvação; a celebração do Batismo, com a renovação das promessas batismais; e a solene Eucaristia, que como nenhuma outra, faz a memória da Páscoa de Jesus, carregada de sonoros aleluias, cantos festivos e alegres aclamações.
- O Domingo da Ressurreição prolonga a festa pascal ao longo do dia, cantando a vida que se renova no amor e na justiça de Deus.

O Tempo Pascal ou “cinqüentena pascal”, são sete semanas de festa, com a duração de cinqüenta dias, incluindo a Ascensão do Senhor e Pentecostes, último dia da Páscoa: o Espírito Santo é o grande dom do Ressuscitado. Os domingos deste tempo sejam celebrados com alegria e exultação, como se fossem um só dia festivo, “um grande domingo”, segundo Santo Atanásio. É tempo de júbilo, manifestado na cor branca, nas flores e luzes, no Círio aceso, nos instrumentos e nos cantos: dê-se mais realce ao Glória que ao Ato Penitencial; o Aleluia seja o canto vibrante ao Senhor ressuscitado, vivo e glorioso. Valorize-se o rito da aspersão. Boas opções de cantos para este tempo estão no Hinário Litúrgico da CNBB, bem como no livro CANTOS E ORAÇÕES, da Editora Vozes.

Antonio Alcalde bem expressa como deve ser nosso canto pascal:

“Sendo a Páscoa a festa das festas... ocorre fazer com que a liturgia, em seu todo, soe e ressoe como uma grande obra sinfônica: a sinfonia da nova criação em Cristo, com todos os seus instrumentos afinados e vibrantes.


FONTE:
www.irmamiria.com.br

Cantar a Quaresma e a Semana Santa

Ir. Míria T. Kolling


Cada ano, a Igreja se une ao mistério de Jesus no deserto, durante quarenta dias – quaresma -, vivendo um tempo de penitência e austeridade, de conversão pessoal e social, especialmente pelo jejum, a esmola e a oração, conforme o Evangelho de Mateus (Mt 6, 1-6.16-18), proclamado na Quarta-feira de Cinzas, em preparação às festas pascais. São cinco domingos mais o Domingo de Ramos na Paixão do Senhor, que inicia a Semana Santa, também chamada Semana Maior. É este um tempo forte e privilegiado, em que fazemos nosso caminho para a Páscoa, renovando nossa fé e nossos compromissos batismais, cultivando a oração, o amor a Deus e a solidariedade com os irmãos. Tal austeridade deve se manifestar no espaço celebrativo, nos gestos e símbolos, como também no canto, para depois salientar a alegria da ressurreição, que transborda na Páscoa do Senhor:

A cor roxa, as cinzas e a cruz lembram o caráter penitencial, de conversão;

O espaço celebrativo deve ser sóbrio, sem ornamentação nem flores no altar;

Não se recita nem se canta o “Glória”, assim como o “Aleluia”, que são aclamações jubilosas, marcadas pela festa e alegria, o que não combina com a Quaresma;

É tempo de favorecer o silêncio musical. Por isso, os instrumentos devem acompanhar os cantos de forma discreta, somente para sustentar o canto... um teclado ou um violão apenas, silenciando os demais, para manifestar o caráter penitencial desse tempo. Sua função é apenas “prática”, na medida do necessário, para apoiar o canto;

- Cada tempo litúrgico tem seus cantos próprios; assim também a Quaresma. Cantos que expressem o conteúdo, os temas, a Palavra de Deus, enfim o aspecto do mistério pascal que celebramos. É preciso saber escolher bem os cantos, que acentuem a conversão, o perdão, a fraternidade e solidariedade, a vida, a luz, inspirados no Evangelho do dia. Mas sempre com os horizontes voltados para a Páscoa de Jesus, mistério central que celebramos em nossas liturgias.

Neste tempo acontece no Brasil, já há mais de 40 anos, a Campanha da Fraternidade, que propôs, durante muito tempo, também cantos apropriados ao tema de cada ano, o que foi uma riqueza, mas também limitou o repertório dos cantos quaresmais. A partir de 2006 está havendo um esforço para se cantar o espírito e a liturgia da Quaresma, compondo-se apenas um Hino, que pode ser cantado no início ou no final da Celebração. A CNBB, em parceria com a Paulus, tem gravado uma série de CDs do chamado “Hinário Litúrgico”, apropriados para o Ano A, B e C.

Cantos tradicionais e que já estão na memória do povo, devem fazer parte do repertório: Pecador, agora é tempo... O vosso coração de pedra... Prova de amor maior não há...

Não se cante o Abraço da Paz, que aliás nem faz parte do rito, mas valorize-se o canto que acompanha a fração do pão, o “Cordeiro de Deus”, pois Jesus é o Cordeiro que tira o pecado do mundo. O “Senhor, tende piedade de nós” também seja valorizado, além das aclamações e pequenos refrãos orantes. O chamado canto final poderia ser omitido, deixando o povo sair em silêncio. Poderia ser outra também a resposta à Oração dos fiéis, que em geral é “Senhor, escutai a nossa prece”, como por exemplo: “Jesus, Filho de Deus, tem compaixão de nós!” além de outras, sugeridas pelo Missal Dominical.

É importante intensificar o silêncio, criando um clima orante já antes do início da Celebração e ao longo da mesma. Sobretudo no Ato penitencial, na Oração da Coleta, entre as leituras, durante a Narrativa da Última Ceia, após a Comunhão...

A Quaresma desemboca na Semana Santa assim chamada, porque nela celebramos os momentos mais importantes da nossa salvação: “Deus amou de tal forma o mundo, que entregou o seu Filho único... Tendo amado os seus, amou-os até o fim.” (Jo 3,16;13,1). Diz-nos Evair H. Michels, em seu livro “Pastoral da Música Litúrgica – Dicas Práticas”:

“Os ritos da Semana Santa devem ser realizados com particular solenidade, pois este tempo é o coração do ano litúrgico.”
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FONTE:

A ABSOLVIÇÃO

Frei José Ariovaldo da Silva, OFM


A absolvição é uma ação do sacerdote, ação simbólico-sacramental, pela qual, em virtude do mistério pascal e pela ação do Espírito Santo, na mediação eclesial, o penitente é reconciliado com Deus e com a Igreja. A oração que o ministro pronuncia é de uma densidade bíblica e teológica incalculável. É só prestar bem atenção na fórmula:

“Deus, Pai de misericórdia, que, pela morte e ressurreição de seu Filho, reconciliou o mundo consigo e enviou o Espírito Santo para remissão dos pecados, te conceda, pelo ministério da Igreja, o perdão e a paz. E eu te absolvo dos teus pecados, em nome do Pai, e do Filho e do Espírito Santo”.

Primeiro cita-se o nome de Deus. Neste nome podemos vê-lo como o Criador. E, como Criador, ele se revelou como Pai (nosso familiar, portanto). Por isso, o chamamos de Pai. Como familiar nosso (nosso Pai), é caracterizado por um atributo peculiar: misericordioso (Pai de misericórdia, que desce e ouve o clamor da humanidade).

Mas vamos adiante. A humanidade em geral e o pecador que está recebendo o perdão, concretamente, se afastaram do Senhor por sua desobediência e orgulho. Mas Deus, por assim dizer, fica chateado com esta atitude orgulhosa, desobediente e rebelde do ser humano. Assim, “neste transfundo aparece Cristo, que ‘se despojou e se rebaixou até a morte’ (cf. Fl 2,7-8); com sua atitude humilde e obediente, Cristo muda o rosto da humanidade; agora, pela obediência de Cristo, a humanidade é santa e agradável a Deus. O corpo santo de Jesus, destruído na cruz, vem a ser, então, como que a imagem – o ‘símbolo’ ou o ‘sacramento’ – de como foi destruído o pecado dos seres humanos: ‘Carregou nossos pecados em seu corpo sobre o madeiro para que, mortos para o pecado, vivêssemos para a justiça’ (1Pd 2,24). Por isso que a fórmula litúrgica diz: ‘Deus reconciliou o mundo pela morte do seu Filho’. Aquele que não tinha nada a ver com o pecado, diz Paulo, ‘Deus o fez pecado por nós, para que nele fôssemos justiça de Deus’ (2Cor 5,21)”. Mas não só a morte do Senhor!... Também se fala da sua ressurreição. Como afirma Paulo: ele foi “entregue por nossos pecados e ressuscitado para nossa justificação” (Rm 4,25). “Por isso vale a pena insistir que também a ressurreição, aludida na fórmula, é ‘sacramento’ ou símbolo do perdão. Com efeito, se o corpo do Senhor destruído na cruz simboliza o pecado humano destruído, este mesmo corpo glorificado e colocado à direita do Pai – um homem verdadeiro como nós, sentado junto de Deus – simboliza intensamente a reconciliação da humanidade com Deus e é o início da humanidade reconciliada e amiga de Deus: ‘Na pessoa de Cristo Deus nos fez sentar com ele no céu’ (Ef 2,6)”. Como se vê, a Igreja, diante dos sinais de conversão do penitente, “faz o memorial das grandes ações do mistério pascal do Senhor que, em nome da humanidade..., passa deste mundo de pecado ao reino da luz do Pai. E este memorial, tornado presente nas palavras e gestos do ministro, faz com que o Amor de Deus – o Espírito Santo – que ressuscitou Cristo dentre os mortos (Rm 8,10), seja derramado de novo também sobre o pecador. É o que expressa a bonita fórmula de absolvição” , através da qual o pecador acolhe o perdão e a paz que lhe vêm do mistério pascal, sendo libertado da escravidão do pecado para estar livre para Deus.

A oração da fórmula é acompanhada pelo importantíssimo gesto da imposição das mãos, ou pelo menos da mão direita, símbolo da transmissão do Espírito Santo para o perdão dos pecados.

Enfim, a fórmula conclui celebrando o fato de que toda a reconciliação é obra da própria Trindade agindo mediante pessoa do ministro representante da Igreja: “E eu te absolvo em nome do Pai, e do Filho e do Espírito Santo”.


Perguntas para reflexão pessoal ou em grupos:
1. Vamos retomar a fórmula da absolvição e comentar o seu conteúdo.
2. Qual a imagem de Deus que aí transparece? O que a reconciliação faz acontecer em nossa vida?
3. Qual a importância do gesto da imposição das mãos?
Liturgia em Mutirão III - CNBB



TEUS PECADOS ESTÃO PERDOADOS...
VAI EM PAZ!

Frei Faustino Paludo, OFMCap


Jesus disse à pecadora: “eu não te condeno. Podes ir, e não peque mais” (Jo 8,11). O sacramento da Penitência não visa culpabilizar as pessoas, mas absolve-las, isto é, libertá-las, reconciliando-as. “Ao pecador que manifestou sua conversão ao ministro da Igreja, pela confissão sacramental, Deus concede o perdão mediante o sinal da absolvição” (RP n. 6 d). Absolver (latim absolvere) significa perdoar, desligar do pecado. Jesus disse: “Eu lhes garanto: tudo o que vocês desligarem na terra, será desligado no céu” (Mt 18,18; cf Mt 16, 19). “Os pecados daqueles que vocês perdoarem serão perdoados” (Jo 20,23).

No sacramento da Penitência, o sacerdote, impondo as mãos sobre o penitente, diz: “Deus, Pai de misericórdia, que, pela morte e ressurreição de seu Filho, reconciliou o mundo consigo e enviou o Espírito Santo para remissão dos pecados, te conceda, pelo ministério da Igreja, o perdão e a paz. E eu te absolvo dos teus pecados, em nome do Pai, e do Filho e do Espírito Santo”. Aqui, a celebração atinge seu fim: o perdão reconciliador. Pela ação do ministro, a Igreja proclama o perdão misericordioso de Deus, pela morte e ressurreição de Jesus Cristo e pela ação do Espírito Santo. O pecador arrependido é novamente acolhido na comunidade daqueles que ouvem a Palavra e tomam parte na ceia eucarística.

Que beleza! A fórmula da absolvição é uma exclamação de louvor que explicita a ação reconciliadora da Trindade. Observemos que o perdão e a paz, a reconstituição da aliança, são frutos da ação conjunta e solene da Trindade e da Igreja (cf CEC 1449). A reconciliação se traduz no retorno ao Pai, que nos amou por primeiro; a Jesus Cristo, que doou sua vida por nós; e ao Espírito Santo, que foi derramado abundantemente sobre nós. A fórmula da absolvição se constitui numa manifestação do amor sem limites de Deus para com seus filhos e filhas. Ao proclamá-la, o ministro transforma-se num servidor do amor e do perdão que liberta e ressuscita o pecador da morte para a vida.

A absolvição do pecador é dom gratuito do Deus rico em misericórdia. Fique bem claro: o perdão brota da ação misericordiosa de Deus e não de um simples gesto jurídico da Igreja. É expressão do gesto de Jesus que, encontrando a ovelha perdida, coloca-a sobre os ombros e a reconduz ao redil (cf Lc 15, 3-7). É ação do Espírito Santo que renova e santifica aquele que é seu templo (cf RP 6d).

Absolvido, o pecador experimenta em si a alegria da paz. O projeto da vida batismal, desfigurado pelo pecado, é reconstruído pela graça de Deus. O penitente é, agora, uma nova criatura. Por isso que, na opinião do Pe. Härig, “a alegria é a nota mais viva da absolvição”.

Perguntas para reflexão pessoal ou em grupos:
1. Por que há gente que prefere se confessar diretamente a Deus?
2. Quem é que declara ao pecador o perdão de seus pecados?
3. Mas se o Padre é também pecador, em nome de quem ele proclama: “eu te absolvo de teus pecados”?
4. Qual deveria ser a atitude da pessoa perdoada e reconciliada ao concluir a celebração da Penitência?
Liturgia em Mutirão III - CNBB