O DIÁCONO PERMANENTE
NA PRESIDÊNCIA DA CELEBRAÇÃO
DA PALAVRA DE DEUS
Pe. Cristiano Marmelo Pinto
Mestre em Teologia Sistemática com
Especialização em Liturgia pela PUC-SP
1. O diácono como presidente da celebração da Palavra
Entra as funções do diácono na
liturgia a Constituição Dogmática Lumen
Gentium diz que cabe a ele presidir o culto e à oração dos fiéis[1].
Nesta presidência do culto evidentemente que podemos e devemos incluir a
celebração da Palavra de Deus na ausência de presbítero. O Diretório para as
celebrações dominicais na ausência do presbítero lembra que, havendo o diácono,
é ele o primeiro a ser chamado para presidir a celebração da Palavra.
Para dirigir estas reuniões
dominicais chamem-se os diáconos, como primeiros colaboradores dos sacerdotes.
Ao diácono, ordenado para apascentar o povo de Deus e para o fazer crescer,
compete dirigir a oração, proclamar o Evangelho, fazer a homilia e distribuir a
eucaristia[2].
Se a comunidade conta, pois,
com a presença do diácono, cabe a este, na ausência do presbítero, presidir a
celebração da Palavra de Deus. Porém, é importante lembrar que a celebração da
eucaristia é o centro da vida da Igreja e cabe a quem preside a celebração da
Palavra direcionar os corações dos fiéis para o desejo de participação plena
nos mistérios do Senhor. Cabe também a quem preside a celebração da Palavra de
Deus não permitir e nada fazer para que se confunda estas celebrações com a
celebração da eucaristia. Deve-se evitar, por exemplo, tudo o que é próprio da
eucaristia.
2. O ministério da presidência da celebração
No Dicionário Larousse Cultural,
presidir significa: “ocupar a
presidência; dirigir como presidente; exercer as funções de presidente;
dirigir, orientar”. A palavra “presidir” vem do latim “praesidire” e significa, literalmente, sentar (sedere) à frente (prae).
Para dirigir a assembleia,
quem preside senta-se à frente. Daí a importância da “cadeira presidencial”. A
presidência existe em função de alguma coisa, a serviço de um determinado
grupo, em determinadas ações, com determinados objetivos.
Não atua em seu próprio nome,
mas em nome do grupo. Não é dono, mas representa. Como em todos os ministérios, quem exerce o
ministério da presidência, deve ter atitude de serviço. Quem preside não atua
sozinho na celebração, existem outras funções que estão em estreita relação com
o ministério da presidência: equipe de liturgia, leitores, cantores, acólitos.
Quem preside uma celebração não pode concentrar para si todas as funções. Deve
fazer somente o que lhe compete. É o que diz a Instrução Geral do Missal
Romano: “Todos, portanto, quer ministros
ordenados, quer fiéis leigos, exercendo suas funções e ministérios, façam tudo
e só aquilo que lhes compete” (n. 91).
2.1. A presidência: uma função eclesial
A Igreja é uma realidade
social. Mas não só. Ela é também uma realidade “mistérica”. Sendo um organismo
social, coletivo, a Igreja precisa de alguém que assuma a função de presidir,
dirigir, coordenar, guiar... Sendo uma realidade “mistérica”, estão presentes e
atuante nela o Pai, Filho e Espírito Santo.
Quem de fato preside a Igreja
é Jesus Cristo. A Igreja como Corpo de Cristo, é guiada pela Cabeça, que é
Jesus. Mas, na Igreja, alguém representa o Cristo-cabeça de seu corpo e o torna
presente de forma simbólico-sacramental. Quem preside a celebração, assume o
papel de Cristo como cabeça da Igreja, e deverá deste modo ter as mesmas
atitudes de Jesus que veio para servir e não ser servido. É o que se espera de
quem preside uma celebração litúrgica: que seja servidor. Sua função é ajudar o povo a tomar parte na
ação litúrgica.
2.2. A presidência: uma função litúrgica
Em primeiro lugar precisamos
ter consciência de que a celebração litúrgica pertence a todo o povo de Deus. É
o povo quem celebra. A liturgia é uma ação eclesial. Como afirma a Constituição
Conciliar sobre a Liturgia: “As ações litúrgicas
não são ações privadas, mas celebrações da Igreja, que é ‘sacramento da
unidade’, [...] As celebrações pertencem a todo o Corpo da Igreja...”[3].
Portanto, não é o padre, nem o
diácono que celebra, mas o povo de Deus.
Quem preside a celebração litúrgica assume o serviço de ser sinal
sacramental de Cristo como Cabeça de seu corpo. A presidência da celebração é
sinal simbólico-sacramental de uma realidade maior. Quem preside, preside em nome de Cristo, fala
e age em nome dele. Ao mesmo tempo fala e age em nome da Igreja ao dirigir-se a
Deus.
2.3. Cristo, único presidente da celebração
Jesus Cristo, Cabeça da
Igreja, é o único mediador entre o Pai e os homens. O ministro da presidência
da celebração deve manifestar a presença reveladora e atuante da pessoa de
Jesus Ressuscitado. O presidente da celebração é, no seu exercício de presidir,
sinal do mesmo Cristo à frente da assembleia. É um autêntico presidente aquele
que pensa e exerce seu ministério em profunda comunhão com Jesus Cristo.
O ministro da presidência
litúrgica age em lugar de Cristo, mas, fundamentalmente, é sempre Jesus, o
ressuscitado quem fala, age e serve à assembleia celebrante. Na medida em que
presencializa a Cristo atuante na história concreta das pessoas e da Igreja, o
ministro da presidência é representante de Cristo. “Aquele que está à frente da assembleia visibiliza o Cristo servidor de
um povo concreto. É sinal da única presidência e da única mediação que há na
comunidade”[4].
A presidência da celebração é
lugar por excelência de Jesus Cristo. É ele quem toma a iniciativa, que preside
e realiza a salvação da comunidade dos fiéis. Por isso, quem preside não pode
considerar seu ministério como uma honra, dignidade ou autopromoção, mas um
serviço à comunidade dos fiéis cujo autêntico presidente é Jesus Cristo. Suas
ações devem transparecer as ações de Cristo.
2.4. Dizer “convosco” ou “conosco”?
Quem preside representa o
Cristo-Cabeça da Igreja. Não age em seu próprio nome, mas em nome de Cristo.
Deste modo, quem saúda, acolhe, preside, fala e envia é o próprio Cristo. Ao
usar a saudação “O Senhor esteja convosco” quem preside não remete a si
próprio, mas ao próprio Jesus Cristo.
Segundo o teólogo liturgista
Pe. Gregório Lutz, expoente da reflexão da teologia litúrgica no Brasil, não há
nenhum problema em dizer: “O Senhor
esteja com vocês” ou “O Senhor esteja
convosco”. O problema está em dizer: “O
Senhor esteja conosco”, pois assim, Jesus, não aparece mais como Cabeça de
seu corpo. E mais ainda, não aparece a Igreja comunidade que precisa de alguém
que a presida, que a coordene[5].
Conforme Pe. Gregório, é coerente um leigo que presida a celebração da Palavra
dizer “convosco”, pois, não fere ao
fato de que os ministros ordenados serem colocados como legítimos
representantes de Cristo-Cabeça da comunidade.
Por outro lado, não seria uma
boa solução dizer que só os padres e bispos podem dizer “convosco”, porque assim não ficaria claro que a Igreja é um corpo
com vários membros e uma única Cabeça – Cristo[6].
2.5. O lugar da presidência
O lugar da presidência da
celebração é a cadeira presidencial. Esta cadeira evoca a presença de Cristo
como aquele que, na verdade, preside a celebração litúrgica na pessoa do
ministro da presidência. O sentido e o valor litúrgico da cadeira presidencial foi
resgatado pelo Concílio Vaticano II, pois estavam esquecidos há séculos.
O lugar mais apropriado para a
cadeira presidencial é de frente para o povo. Trata-se de uma cadeira especial
e própria para a função de quem, na pessoa de Cristo, preside a celebração.
Embora seja recomendado que ela se destaque das demais, não se deve chegar ao
exagero de transformá-la em um trono, pois a cadeira presidencial deve
expressar o sentido do Cristo que serve, visto que a presidência é antes de
tudo um serviço.
O lugar da presidência da
celebração, representado pela cadeira, evoca a presença de Cristo, na pessoa de
quem preside. A teologia da cadeira da presidência está expressa na oração de
bênção: “Senhor Jesus Cristo, que
ensinastes os pastores da Igreja procurar servir os irmãos e não serem
servidos, concedei aos que ocupam esta cadeira proclamarem com ardor a vossa
Palavra, celebrarem os vossos mistérios...”[7].
2.6. O lugar da Palavra de Deus: a mesa da Palavra
Infelizmente nós católicos por
muito tempo não valorizamos o lugar da Palavra de Deus. Ainda damos pouca
importância à “mesa da Palavra”. O Concílio Vaticano II resgata a consciência
da importância da Palavra de Deus como presença real de Cristo[8]. O
Concílio resgata a tradição do primeiro milênio cristão, que dava à Palavra o
mesmo valor que a Eucaristia.
A Igreja sempre venerou as
divinas Escrituras, da mesma forma como sempre venerou o próprio Corpo do
Senhor, porque, de fato, principalmente na sagrada liturgia, não cessa de tomar
e entregar aos fiéis o pão da vida, da mesa, tanto da Palavra de Deus como do
corpo de Cristo[9].
A Instrução Geral do Missal
Romano (IGMR) diz que a dignidade da Palavra de Deus requer um lugar condigno
(n. 309). Este lugar é a Mesa da Palavra, o ambão. Quando a IGMR fala de “lugar
condigno”, significa proporcional ao mérito, ao valor. Por causa da dignidade
da Palavra de Deus, requer um lugar à altura desta dignidade.
A palavra “ambão” vem do grego
“anabaino”, que significa subir, porque costuma estar em posição elevada, mais
alta, de onde Deus fala. Do ambão ou mesa da Palavra são proclamadas as
leituras, canta-se o salmo, faz-se a homilia e as preces. Não convêm, porém,
que se façam os avisos.
A celebração da Palavra de
Deus está centrada na proclamação da Palavra. Assim sendo, convém que seja
realizada na mesa da Palavra os ritos iniciais. É recomendado somente usar a
mesa da eucaristia no momento de ação de graças ou louvação, e quando houver
distribuição da comunhão. Tudo isso para diferenciar-se uma mesa da outra,
também para deixar claro que o centro da celebração é a Palavra e não a
eucaristia.
2.7. O beijo no altar
Em primeiro lugar é preciso
saber que em cada gesto litúrgico tem um significado e por que não uma
teologia. Muitos gestos e símbolos da vida do povo foram sendo incorporados à
liturgia e ganhando novo significado.
O beijo no altar também tem
sua origem. Provavelmente este gesto de beijar o altar venha do costume de em
casa beijar a mesa da refeição, por ser considerada sagrada. Na Roma antiga era
também costume reverenciar o templo das divindades beijando o altar. Mas parece
que não seja esta a origem do beijo cristão no altar, pois os primeiros
cristãos rejeitavam tudo que vinha do paganismo. A origem provável seja a
primeira.
O que significa beijar o
altar? Trata-se de um sinal de veneração pela mesa comum, na qual se celebra a
ceia do Senhor. Aos poucos o altar cristão foi sendo identificado com Cristo e
seu beijo dado ao próprio Cristo. É a Igreja (esposa) que beija o Cristo
(esposo).
O Concílio Vaticano II
recuperou o significado do beijo no altar como simples sinal de veneração, e se
limita ao beijo no início e fim da celebração. Um gesto reservado aos ministros
ordenados.
3. O pensamento da Igreja sobre a celebração da Palavra
Muitos documentos da Igreja
falam da celebração da Palavra de Deus. Veremos a partir de agora alguns
documentos que são importantes para nossa reflexão.
As diretrizes e orientações
expostas nos documentos da Igreja serviram para suscitar iniciativas pastorais
adequadas nos lugares que sofriam carência de padre, de modo que as comunidades
podiam se reunir ao domingo para a celebração da Palavra de Deus.
3.1. Constituição Conciliar Sacrosanctum
Concilium
“Incentive-se a celebração da Palavra de Deus
nas vigílias das festas mais solenes, em algumas férias do advento e da
quaresma, bem como aos domingos e dias santos, sobretudo aqueles lugares onde
falta sacerdote” (SC 35,4).
O documento conciliar além de
assumir as celebrações da Palavra de Deus, incentiva-as. É importantíssima para
as celebrações da Palavra a afirmação do Concílio, quando fala das presenças de
Cristo na liturgia, principalmente na Palavra: “Presente está pela Palavra, pois é Ele mesmo que fala quando se leem as
Sagradas Escrituras na igreja”[10].
A celebração da Palavra de
Deus é recomendada vivamente pela constituição sobre a liturgia. O Concílio
coloca um selo oficial na prática das celebrações da Palavra. Porém, ele não
criou normas sobre a realização da celebração da Palavra. Limitou-se apenas em
dizer que o dirigente seja um diácono ou um leigo delegado pelo bispo.
3.2. Instrução Inter
Oecumenici
A Instrução Inter Oecumenici, de setembro de 1964,
dedicada para a execução da constituição Sacrosanctum
Concilium, nos números 37 a
39, desenvolve o pensamento conciliar sobre as celebrações da Palavra de Deus,
apresentando principalmente a sua estrutura e dinâmica. Ela também indica as
circunstâncias destas celebrações:
Nos lugares onde não haja padre e não se
possa celebrar a missa, nos domingos e dias de preceito, organiza-se, a juízo
do ordinário, uma sagrada celebração da Palavra de Deus, presidida por um
diácono ou inclusive por um leigo, especialmente delegado. A estrutura desta
celebração será semelhante a da liturgia da Palavra da missa (37). Para que
estas celebrações se façam com dignidade e devoção, procurem as comissões
litúrgicas diocesanas sugerir e preparar os convenientes subsídios[11].
A estrutura ritual proposta
pela Instrução dá a possibilidade de rezar na celebração dominical da Palavra
de Deus: “Leiam-se normalmente na língua
vernácula a Epístola e o Evangelho da missa do dia, precedidos e intercalados
com cânticos, salmos; o presidente faz a homilia, e encerra-se toda a
celebração com a ‘oração comum’ e a oração dominical”[12].
3.3. Instrução Eucharisticum
Mysterium
A Instrução Eucatisticum Mysterium, de 25 de maio de
1967, abriu caminho à administração da comunhão eucarística por um ministro
leigo que tivesse essa faculdade. “Quando
se distribui a comunhão fora da missa em horas previamente determinadas, pode
fazer-se preceder, se se julgar oportuno, de uma breve celebração da Palavra de
Deus, segundo as normas da Instrução Inter Oecumenici”[13].
Notemos que a Instrução em
relação à estrutura da celebração da Palavra, remete à Instrução Inter Oecumenici, nos números 37-39. A Instrução Eucharisticum Mysterium acrescentou mais
um elemento na celebração da Palavra, a distribuição da comunhão. Esta
permissão aos leigos de distribuir a comunhão foi providencial, de modo que a
prática evoluiu, transformando as celebrações da Palavra, agora com a
distribuição da comunhão eucarística.
3.4. Medellín
A segunda conferência do
episcopado latino-americano, em Medellín, aos mesmo tempo que destaca o valor
das celebrações da Palavra de Deus, realça sua relação com as celebrações
sacramentais, “fomentem-se as sagradas
celebrações da Palavra, conservando sua relação com os sacramentos, com os
quais ela alcança sua máxima eficácia, particularmente com a eucaristia”[14].
3.5. Puebla
O documento reconhece as
celebrações da Palavra de Deus e o culto dominical como autênticos momentos da
litúrgica da Igreja. Reconhece também que a falta de ministros ordenados e o
crescimento populacional e a situação geográfica da América Latina, fizerem
crescer a consciência da utilidade das celebrações da Palavra de Deus[15].
Por este motivo, o documento reconhece as celebrações da Palavra de Deus
presididas pelos diáconos ou leigos. “As
celebrações da Palavra, com uma leitura variada, abundante e bem escolhida da
Sagrada Escritura, são de grande proveito para a comunidade, principalmente
onde não há presbíteros e, sobretudo, para a celebração dominical”[16].
3.6. Santo Domingo
Em 1992, acontece na cidade de
Santo Domingo, na República Dominicana, a quarta conferência do episcopado
latino-americano e caribenho. O documento originário desta conferência trata a
liturgia em vários momentos, porém, o que nos interessa é o que diz o número
51, que fala da celebração da Palavra de Deus. Estas celebrações são
mencionadas quando o documento fala da formação litúrgica.
Deve-se promover uma séria e
permanente formação litúrgica do povo de Deus em todos os seus níveis, a fim de
que ele possa viver a liturgia espiritual consciente e ativamente. Preocupação
especial deve ser promover e dar uma formação a quem esteja encarregado de
dirigir a oração e a celebração da Palavra na ausência do presbítero[17].
É interessante notar que a
formação para os que presidem a celebração da Palavra de Deus é uma preocupação
especial. Com uma boa formação dos ministros e ministras da Palavra de Deus,
certamente, tais celebrações serão mais litúrgicas, mais orantes, conscientes e
participadas.
3.7. Código de Direito Canônico
O Código de Direito Canônico
irá tratar do assunto no cânon 1.248, artigo 2. O Código não vai tratar
especificamente da celebração da Palavra como tal, mas irá falar de liturgia da
Palavra.
Por falta de ministro sagrado
ou por outra grave causa, se a participação na celebração eucarística se tornar
impossível, recomenda-se vivamente que os fiéis participem da liturgia da
palavra, se houver, na igreja paroquial ou em outro lugar sagrado, celebrada de
acordo com as prescrições do bispo diocesano[18].
Esse cânon só admite a
celebração da Palavra nos seguintes casos:
a) Na falta do ministro sagrado ou outra grave
causa;
b) Se for impossível a participação na
celebração eucarística.
3.8. Diretório para as celebrações dominicais da Palavra de Deus na
ausência de presbítero.
Em 2 de junho de 1988, a pedido das
Conferências Episcopais, a Congregação para o Culto Divino publicou o Diretório
para as celebrações da Palavra de Deus. Este Diretório pretende dar orientações
em relação à celebração da Palavra.
O Diretório, além da
introdução geral se desdobra em três partes:
1. Fala do domingo e sua santificação, tomando
como ponto de partida o número 106 da Constituição Sacrosanctum Concilium;
2. Apresenta as condições para as celebrações
dominicais na ausência do presbítero;
3. Descreve brevemente como deve ser o rito das
celebrações da Palavra de Deus.
O Diretório sintetiza a
teologia subentendida nessa prática, esclarece alguns dos seus aspectos
problemáticos como a homilia e apresenta sugestões sobre o modo como celebrá-la
adequadamente. Ele deixou a possibilidade aberta às Conferências Episcopais, e
a cada bispo, de adaptar o documento de acordo com a realidade de cada região.
Na fase de preparação e promulgação deste documento, a Conferência Nacional dos
Bispos do Brasil (CNBB) já estava refletindo sobre as celebrações da Palavra.
Uma das vantagens do Diretório
é a de propor um esquema de celebrações que resgata o seu caráter de oração
litúrgica: “O rito da celebração deve ser
organizado de tal modo que favoreça totalmente a oração e dê a imagem duma assembleia
e não duma simples reunião”[19].
Isto fica claro no esquema
apresentado:
1. Ritos Iniciais;
2. Liturgia da Palavra;
3. Ação de Graças;
4. Rito de Comunhão;
5. Ritos Finais.
3.9. Documento 43 da CNBB: “Animação
da vida litúrgica no Brasil”
O documento 43 possui um
caráter pastoral e tem o objetivo de promover e animar da vida litúrgica da
Igreja no Brasil. Ele trata das celebrações na ausência do presbítero, nos
números 93-102. De forma sintética, ele aprofunda o assunto e oferece
orientações para as comunidades. Aponta também o valor destas celebrações.
O documento dá a descrição dos
elementos que integram as celebrações da Palavra: reunião dos fiéis;
proclamação da Palavra e atualização; orações, louvor, cantos e agradecimento;
distribuição da eucaristia. “A celebração
da Palavra tem seus próprios valores nos vários elementos que a integram”[20].
O documento também chama a
atenção para a presidência da celebração: “A
coordenação desses elementos exige um serviço de presidência”[21]. O
documento ainda valoriza o sacerdócio comum dos fiéis quando trata da questão
da presidência da celebração: “Quando não
houver diácono ou ministro instituído, todo o cristão leigo, homem e mulher,
por força de seu batismo e confirmação, assume legitimamente este serviço”[22].
No n. 101 retoma os elementos
rituais da celebração da Palavra:
a) Ritos Iniciais;
b) Liturgia da Palavra;
c) Ação de Graças;
d) Comunhão Eucarística;
e) Ritos Finais.
O documento conclui no n. 102,
indicando o valor educativo das celebrações da Palavra de Deus e o compromisso
que ela suscita: “A celebração da Palavra
tem uma ampla dimensão educativa, levando o povo à sadia criatividade, à
valorização dos ministérios, ao compromisso com o Reino e ao amor à Eucaristia,
como expressão da plena comunhão eclesial”[23].
3.10. Documento 52 da CNBB: “Orientações
para as celebrações da Palavra de Deus”
O documento 52 da CNBB nasceu
de uma pesquisa sobre as celebrações da Palavra, realizada entre 1989 e 1990.
Um número significativo de dioceses respondeu ao questionário, ou seja, 159
dioceses, cerca de 65% do total. Foi constatado que 70% das comunidades
realizavam a celebração da Palavra, e que 90% delas eram presididas por leigos
e leigas.
Constatou também que a maioria
das comunidades que celebravam a Palavra era de pessoas simples, espontâneas e
criativas, e que uniam facilmente Palavra de Deus e vida. Com o resultado da
pesquisa em mãos, a dimensão litúrgica da CNBB começou a elaborar o documento
52. Ele foi aprovado na Assembleia Geral da CNBB, em abril de 1994, com o
título: “Orientações para a Celebração da Palavra de Deus”.
O documento está dividido em
duas partes e um anexo.
1) A primeira parte desenvolve o sentido litúrgico da
celebração da Palavra de Deus.
2) A segunda parte trabalha os elementos para o
roteiro da celebração.
3) Anexos: apresenta oito roteiros para a celebração
da Palavra de Deus.
O documento menciona outros
elementos que devem ser considerados na celebração da Palavra: a equipe de
celebração (cf. n. 42-43) e o espaço celebrativo (cf. n. 44-49). Também recorda
a dinâmica da celebração litúrgica: “O
Senhor convida e reúne, o povo atende e se apresenta; o Senhor fala, a assembleia
responde professando sua fé, suplicando e rezando, louvando e bendizendo”[24].
O documento ainda propõe então
os elementos para o roteiro da celebração: ritos iniciais (cf. 57-65); Liturgia
da Palavra (cf. 66-82); momento de louvor / ação de graças (cf. 83-86); rito de
comunhão (cf. 87-91); e ritos finais (cf. 92-94).
3.11. Considerações
De modo geral, as celebrações
da Palavra de Deus são vistas com bons olhos pela Igreja. Elas salvaguardam os
valores do dia do Senhor, tais como: a reunião, a oração em comunidade, o
mistério pascal, a escuta da Palavra, a participação na comunhão do Corpo do
Senhor, e valorizam os ministérios.
Percebemos em alguns
documentos e pronunciamentos uma certa dificuldade em aceitar a presidência dos
leigos e leigas nas celebrações da Palavra. Há diversas recomendações e
restrições quando a presidência é realizada por um leigo. É importante a
constatação de que aos poucos a celebração da Palavra foi ganhando um caráter
litúrgico.
Em linhas gerais as
contribuições que os documentos oferecem para as celebrações da Palavra de Deus
são:
1. O caráter litúrgico;
5. O louvor e ação de graças como momento ritual da
celebração.
4. Fundamentos litúrgico-teológicos da celebração da Palavra
4.1. Celebração Eucarística e Celebração da Palavra
As celebrações da Palavra como
verdadeira ação litúrgica possuem força sacramental. Cristo se faz presente e
nos faz participantes de seu mistério pascal através da reunião da comunidade,
da proclamação da Palavra, por meio de cânticos e orações. Ao valorizar as
celebrações da Palavra não podemos deixar de salientar que a celebração da
eucaristia é a expressão máxima de nossa fé. A Eucaristia é a fonte e o centro
de toda a vida cristã.
A celebração da Palavra é
também o memorial da presença e da ação de Jesus Cristo. A Palavra e a Eucaristia
são duas maneiras diferentes, mas complementares, da presença real de Jesus no
meio da comunidade reunida para celebrar o mistério pascal. Deste modo,
Eucaristia e Palavra são igualmente o Pão da Vida – Jesus Cristo. O mistério da
salvação, que a Palavra de Deus não cessa de recordar e prolongar, alcança seu
mais pleno significado na ação litúrgica.
A Igreja cresce e se edifica
ao escutar a Palavra de Deus e celebrar a eucaristia como memorial da
paixão-morte-ressurreição de Jesus Cristo. A Palavra proclamada conduz à
plenitude do mistério pascal. A Igreja se alimenta do Pão da Vida na mesa da
Palavra e na mesa do pão eucarístico. Na Palavra se recorda a história da
salvação, e na Eucaristia a mesma história se expressa por meio de sinais
sacramentais. A Palavra de Deus conduz e se realiza na Eucaristia. Por outro
lado, a Eucaristia tem seu fundamento na Palavra. “A celebração da Eucaristia é o centro de toda a vida cristã [...]. Os
demais sacramentos, bem como os demais mistérios eclesiais e as tarefas,
ligam-se estreitamente à Sagrada Eucaristia e a ela se ordenam”[25].
4.2. A celebração da Palavra: ação litúrgica
A grande contribuição do
Concílio Vaticano II na constituição Sacrosanctum
Concilium, foi a de reconhecer a celebração da Palavra como uma verdadeira
ação litúrgica. Quais são as razões teológico-litúrgicas que fazem dela uma
autêntica ação litúrgica?
1. É uma ação comunitária;
2. É memorial e presença de Cristo;
4. É uma ação simbólica;
5. É ação ministerial da Igreja.
a) Ação Comunitária
A liturgia é uma ação
comunitária da Igreja. Por sua própria natureza, toda celebração litúrgica
necessita de uma assembleia. A celebração inicia com uma reunião e consiste
numa reunião. A ação litúrgica é um fazer eclesial da assembleia reunida, na
qual todos os membros são envolvidos. Para ser uma assembleia litúrgica
autêntica é necessária a presença de uma comunidade que viva a “comum-união”,
onde todos “são um só em Cristo”[26].
O verdadeiro sujeito da liturgia
não é um indivíduo, mas sim uma comunidade reunida, a Igreja. É o batismo quem
dá o direito a todo cristão de participar plenamente da liturgia. “A principal manifestação da Igreja é a
participação plena e ativa de todo o povo de Deus nas celebrações”[27].
b) Memorial e presença de Cristo
O centro e o cume da Sagrada
Escritura e de toda a liturgia é Jesus Cristo. A presença de Cristo fortalece a
celebração da Palavra. A liturgia é a celebração da obra redentora de Cristo. “Muitas vezes e de muitos modos Deus falou no
passado a nossos pais por meio dos profetas; nestes últimos tempos, falou-nos
por meio de seu Filho” (Hb 1,1-2).
Se a Palavra celebrada é a
presença e a ação de Cristo na comunidade, ela vivifica, ressuscita, purifica,
anuncia e denuncia. “As celebrações da
Palavra de Deus na liturgia são a presença de Cristo que atua aqui e agora, com
sua proposta divina, que aguarda uma resposta concreta e generosa”[28]. A
Palavra convida a conversão e à comunhão com Deus e com os irmãos e irmãs. A
celebração da Palavra realiza o memorial do mistério de Cristo, fazendo dos
fiéis participantes do mistério pascal.
c) Presença e atuação do Espírito Santo
A presença e a ação do
Espírito Santo na celebração da Palavra imprimem nesta uma dinâmica especial,
de modo que a Palavra proclamada realiza seus efeitos. “Ela não voltará para mim sem fruto; sem que tenha realizado o que me
agrada e tenha cumprido aquilo para o qual a enviei” (Is 55,11).
A Palavra requer ser acolhida
e vivida pelas pessoas que participam da ação litúrgica. Essa acolhida e essa
vivência da Palavra de Deus na assembleia litúrgica acontecem sob a inspiração
do Espírito Santo. Para que a Palavra realize o que foi proclamado, requer a
ação do Espírito Santo.
A celebração da Palavra é
vivificada pela ação do Espírito Santo. A acolhida da Palavra, a prece de
louvor, de ação de graças e de súplica também são frutos da ação do Espírito
Santo. A homilia como momento de atualização da Palavra é também ação do
Espírito Santo. Ele age mediante a ação de pessoas que atuam na celebração:
presidente, leitores, salmistas, etc.
A ação celebrativa da Palavra
de Deus evidencia a relação que existe entre a Palavra proclamada, celebrada,
vivida e a ação do Espírito Santo. A escuta da Palavra de Deus também se torna
compromisso de fé e de conduta cristã pela força do Espírito Santo.
d) Ação simbólica
Deus e as pessoas expressam
suas relações por meio de sinais, símbolos, gestos e objetos. A celebração da
Palavra, como toda celebração litúrgica, acontece por meio de sinais sensíveis.
A participação da comunidade na celebração se dá por meio de palavras, gestos,
ações e ritos, portanto através de ações simbólicas, assim como na eucaristia.
O desafio é superar a mentalidade racionalista e prática com muitos comentários
e explicações.
A celebração da Palavra é o
clima adequado para a vivência do simbólico. A expressão simbólica da
celebração exprime e estimula os pensamentos e os sentimentos dos
participantes. Através de nossa participação nas ações simbólicas, temos acesso
à realidade que existe para além do sensível, para a qual os símbolos e ações
simbólicas nos remetem. É preciso que a celebração litúrgica seja vivida por
nós como ação ritual, simbólico-sacramental, onde cada elemento tem o seu
significado e realiza o que significa[29].
e) Ação ministerial
A celebração da Palavra de
Deus é uma realidade ministerial[30]. A
Igreja é constituída de vários membros, com diversos serviços, funções e
ministérios. As celebrações da Palavra de Deus são espaços privilegiados para o
surgimento, desenvolvimento e amadurecimento dos ministérios e serviços
litúrgicos exercidos por leigos e leigas.
Em primeiro lugar é bom
lembrar que o diácono não é um ministro extraordinário do culto e da Palavra,
mas pelo sacramento da ordem ele é ministro ordinário da Igreja. É neste
sentido que os Documentos sempre colocam o diácono como o primeiro responsável
na presidência da celebração da palavra. Ele o faz não de uma forma extraordinária,
mas ordinária, ou seja, está entre as suas funções dentro da diaconia da
liturgia. É também importante salientar que a celebração da Palavra não é uma
espécie de “mini missa”. Seja o diácono ou outros ministros que presida a
celebração, tem o dever de deixar transparecer esta diferença. Não é um culto
eucarístico, mas o centro está na Palavra, mesmo que tenha a distribuição da
eucaristia.
Dito isto, queremos realçar
alguns pontos no que refere à atuação do diácono na presidência da celebração
da Palavra. Sobre o sentido litúrgico-teológico do ministério da presidência já
trabalhamos em pontos anteriores. O que faremos a partir de agora é apresentar
alguns pontos e dicas para o bom exercício da presidência da celebração.
A celebração da Palavra de Deus
não possui um rito próprio. Embora os Documentos da Igreja apontem os elementos
que podem constituir a estrutura ritual da celebração, os esquemas podem ser
muito diversificados. Mas iremos manter a estrutura proposta pela Igreja, por
serem pronunciamentos oficiais e por isso seguros. É claro que nas diversas
comunidades pode haver outros modelos rituais, mais creio ser o esquema que
propomos aqui o mais adequado.
5.1. O antes da celebração
Toda celebração tem um antes e
um depois. Ela não começa apenas quando inicia o canto de abertura, mas, desde
o momento em que a comunidade se dispõe a se reunir para celebrar já podemos
dizer que o clima da celebração já começa a ser desenhado. Por isso é bom que
haja uma preparação e depois uma avaliação da celebração. Deve-se levar em
conta a equipe de celebração, os demais ministros que irão atuar na celebração
e a comunidade que se reúne em assembleia.
Para a nossa reflexão irei
utilizar um texto de Ione Buyst sobre a presidência da celebração[31].
Alguns pontos a serem
observados a quem irá presidir:
a) Prepare a celebração com a equipe e
prepare-se pessoalmente mediante a leitura da Palavra de Deus a ser proclamada,
prepare-se bem para a homilia. Junto com a proclamação da Palavra, esta
constitui o coração da celebração;
b) Acolha o povo que chega para celebrar, isso
cria relação, quebra barreiras, facilita o contato e cria o clima que terá toda
a celebração da Palavra;
c) Quem preside faz parte de um povo celebrante.
Celebra com o povo e não para o povo. Você é parte da comunidade. Observe que
todas as orações litúrgicas estão sempre na primeira pessoa do plural (nós);
d) Não queira se tornar o centro da celebração.
O centro é Jesus Cristo! Por isso, não chame muito a atenção para você, seja o
mais discreto possível. Como dizia João Batista: “É preciso que o Cristo cresça
e eu desapareça” (Jo 3,30);
e) Quando estiver presidindo a celebração não se
deixe levar por tensões, problemas, angústias, etc. Presida com serenidade,
entregue-se ao mistério que é celebrado, experimente-o;
f)
Quem
preside deve zelar pela harmonia e unidade da celebração e de todos. Procure
favorecer a unidade de todos na celebração. Valorize os demais ministérios. Não
queira fazer tudo sozinho;
g) Proclame e celebre a Páscoa do Senhor na
páscoa de cada um no dia a dia. Indique caminhos, luzes, para a comunidade
poder continuar sua missão no mundo;
h) Que seu estilo de presidir seja pessoal,
natural, autêntico, sem ser artificial, excêntrico ou teatral. Não fique
tentando imitar outras pessoas, muito menos o padre. Cada um tem seu estilo;
i)
Não
confunda liturgia com show, com espetáculo. Quem preside não deve agir como se
estivesse animando um auditório ou programa de divertimento;
j)
Como um
simples servidor, deixe-se conduzir pelo Espírito Santo;
k) Festa no sentido litúrgico não é
necessariamente barulhenta, movimentada, exaltada. Não confunda a alegria com
excitação, com euforia;
l)
Quem
preside deve ser sinal da presença de Jesus Cristo e da atuação do Espírito
Santo. Seja de fato sinal sacramental desta presença. O povo vem celebrar para
se encontrar com Deus e com os irmãos e não por causa do padre tal, ou do
diácono fulano...
5.2. A presidência nos ritos iniciais
A celebração comunitária da
Palavra preparada num clima de acolhida mútua, simplicidade, alegria, espontaneidade,
favorece a comunhão e participação na escuta da Palavra e na oração (cf. Doc.
52, 57). Toda celebração cristã é ação simbólica e ritual, uma reunião festiva,
um encontro e não uma simples reza ou ação devocional.
É a Trindade que toma a
iniciativa. É o próprio Deus que nos acolhe. É o próprio Jesus Cristo que na
pessoa de quem preside nos saúda, abre a reunião... Nossa primeira resposta à
convocação de Deus é uma bendição: “Bendito
seja Deus que nos reuniu no amor de Cristo”. O encontro não é só de Deus
com seu povo, mas de irmãos entre si e destes com Deus.
Mas, qual a finalidade dos
Ritos Iniciais? O Documento 43 da CNBB diz que “esses ritos têm por finalidade fazer com que os fiéis reunidos
constituam a comunidade celebrante, se disponham a ouvir atentamente a Palavra
de Deus e celebrar dignamente”[32].
Também a Instrução Geral do Missal Romano
diz qual a finalidade destes ritos iniciais na celebração: “As partes que precedem a Liturgia da
Palavra, isto é, entrada, saudação, ato penitencial, glória e oração do dia,
tem caráter exórdio, introdutório e de preparação”[33]. Os
elementos dos Ritos Iniciais são: canto de abertura e procissão; saudação; ato
Penitencial; glória e oração do dia, também chamada de “coleta”.
Os ritos iniciais devem
expressar que somos uma comunidade de irmãos reunida para celebrar o mistério
do Senhor, sua páscoa na páscoa nossa de cada dia. No dia-a-dia somos dispersos
em meio aos nossos afazeres. Quando nos reunimos para celebrar formamos um
corpo, uma assembleia litúrgica. Os ritos iniciais devem formar este corpo e
nos introduzir no mistério que iremos celebrar. Lembre-se, um mal começo de
celebração pode comprometer toda ela. Por isso a necessidade de prepará-lo e
realizá-lo da melhor forma possível.
Vejamos o que cabe à presidência
nos ritos iniciais:
a) Tem como responsabilidade criar um clima
favorável para a celebração, congregar, formar assembleia, criar na comunidade
reunida disposição e abertura para ouvir a Palavra e celebrar o mistério do
Senhor;
b) Se houver procissão de entrada, quem preside
vai atrás de todos. Nenhum dos ministros (leitores, ministros extraordinários
da comunhão, coroinhas...) devem ficar de fora da procissão. Chegando diante do
altar fazem reverência e se encaminham para os seus respectivos lugares;
c) Quem preside a celebração faz também uma
reverência diante do altar e depois pode dar o beijo do altar em sinal de
reverência ao Cristo que se faz altar;
d) É louvável que antes da saudação inicial,
quem preside faça uma breve introdução ao mistério celebrado, acolha a
comunidade e dê o tom da celebração;
e) A saudação inicial é de responsabilidade de
quem preside. Também o convite ao ato penitencial pode ser feito pela
presidência da celebração, bem como o convite ao hino de louvor;
f)
A oração
da coleta é realizada pela presidência da celebração, sempre.
5.3. A presidência na liturgia da Palavra
A Liturgia da Palavra
compõe-se de vários elementos: leituras bíblicas tiradas da Sagrada Escritura,
salmo, aclamação ao evangelho, Evangelho, homilia, profissão de fé, preces e
apresentação das oferendas (aqui é o momento da comunidade motivada pela
Palavra, partilhar seus dons). É o próprio Cristo que, por meio de sua Palavra,
fala com a comunidade.
A parte principal da Liturgia
da Palavra é constituída pelas leituras da Sagrada Escritura e pelos cantos que
ocorrem entre elas, sendo desenvolvida e concluída com a homilia, a profissão
de fé e as preces. Em toda celebração cristã, a Proclamação da Palavra de Deus
ocupa um lugar privilegiado. A Liturgia da Palavra celebra o diálogo de Deus
com o seu povo.
Nas leituras explanadas pela
homilia, Deus fala ao seu povo, revela o mistério da redenção e da salvação, e
oferece alimento espiritual; e o próprio Cristo, por sua Palavra, se acha
presente no meio dos fiéis. Pelos cânticos, o povo se apropria dessa Palavra de
Deus e a Ele adere pela profissão de fé[34].
A proclamação do Evangelho
deve aparecer como ponto alto da liturgia da Palavra. Entre a Primeira Leitura
e o Evangelho existe uma íntima unidade que evidencia a relação das promessas
de Deus no Primeiro e no Segundo Testamento. Também faz parte da Liturgia da
Palavra um momento de meditação, de silêncio. A Palavra de Deus a ser
proclamada e a dimensão comunitária da celebração requerem dos ministros da
Palavra uma adequada preparação bíblica. Litúrgica e técnica.
A estrutura ritual da Liturgia
da Palavra é a seguinte: primeira Leitura; Salmo Responsorial; segunda Leitura;
aclamação; Evangelho; homilia; profissão de fé; preces da comunidade e partilha
dos dons.
O que cabe a quem preside na
liturgia da Palavra?
a) Antes de tudo, quem preside também é ouvinte
da Palavra. Por isso deve prestar atenção na proclamação da Palavra de Deus
assim como toda a comunidade. “Com toda a
comunidade, responde ao Senhor com o refrão do salmo, com a profissão de fé, e
acompanhando de maneira fervorosa as preces dos fiéis”[35];
b) Se não houver outra pessoa apta, cabe a quem
preside a proclamação do Evangelho e a homilia;
c) No que diz respeito à homilia, ela tem um
caráter exortativo, de aconselhamento, deve estimular a comunidade a colocar em
prática a Palavra proclamada. Não pode ser um momento de passar sermão na
comunidade ou de dar “aula” de catecismo ou teologia;
d) Ainda em relação à homilia, deve levar em
conta além das leituras proclamadas, o tempo litúrgico, a festa que está sendo
celebrada e a vida concreta da comunidade, todos os acontecimentos, sejam eles
de alegria ou de tristeza;
e) Cabe ainda a presidência da celebração o
convite à profissão de fé e à oração dos fiéis.
5.4. A presidência da celebração na liturgia de ação de graças e
comunhão
A expressão mais significativa
e completa de ação de graças é a liturgia eucarística. O domingo é por
excelência dia da Eucaristia, do louvor, da ação de graças pela ressurreição do
Senhor que nos deu esperança e nova vida. Sendo o domingo dia de ação de
graças, como expressar esse louvor na celebração da Palavra de Deus? “Um dos elementos fundamentais da celebração
comunitária é o ‘rito de louvor’, com a qual se bendiz a Deus pela sua imensa
glória”[36]
(Doc. 52, 83). O Senhor ouve e atende. O
povo fica agradecido, festeja, louva e bendiz.
No Novo Testamento, o louvor
brota da ressurreição de Jesus e do Reino de Deus inaugurado por ele, da
Palavra pregada e da vida nova brotada pela força do Espírito Santo. O louvor
está presente no conjunto da celebração, mas é neste momento que explicitamos
melhor esta dimensão.
Não é permitido rezar neste
momento nem fazer a oração eucarística. Não tem nenhum sentido pronunciar a
oração eucarística, pois é uma oração própria da missa. Nem convém tirar alguns
trechos da oração eucarística para adaptá-la à celebração. Tampouco deve-se
substituir a ação de graças pela adoração ao Santíssimo Sacramento. Lembre-se:
a Palavra é o centro da celebração e não a Eucaristia. Este momento de ação de
graças ajuda a manter a tradição litúrgica do domingo cristão de dar graças a
Deus, de bendizer o Senhor.
Se a cada momento de nossa
vida temos muitos motivos para dar graças, o domingo é para nós, cristãos, um
dia especial de render graças ao Senhor. É dia da reunião da comunidade e dia
de fazer memória do mistério pascal de Jesus. Por este motivo, no domingo não
pode faltar este elemento da liturgia: a ação de graças. Mas não deve se
confundir ou dar a entender que é a oração eucarística, própria da missa.
Quem faz a oração de ação de
graças é quem preside a celebração. Poderá sugerir gestos ou símbolos que
acompanham a ação de graças: braços abertos, voltados para o céu; queima de
incenso, etc. Porém, é necessário garantir também a participação da comunidade.
Esta participação pode se dar por meio de refrãos ou aclamações durante a
oração de ação de graças. A proposta que apresentaremos possui uma série de
aclamações que o povo poderá fazer.
A quem se dirige a ação de
graças? É dirigida ao Pai (por Cristo, com Cristo e em Cristo, na unidade do
Espírito Santo). Qual é o motivo principal? Será sempre Jesus Cristo e o
mistério de sua páscoa e nossa inserção nele. A ação de graças relaciona-se com
os tempos e festas do ano litúrgico, com o mistério celebrado e até mesmo com
as leituras bíblicas.
O que cabe à presidência?
a) Cabe fazer o momento de ação de graças;
b) Quem preside pode colocar-se diante da mesa
para realizar a ação de graças;
c) Não é conveniente expor o Santíssimo neste
momento, visto que o centro não é a Eucaristia, ela é apenas distribuída, mas
se for costume da comunidade deve-se cuidar para que não se transforme num
momento de adoração ao Santíssimo;
d) Presidir não significa fazer tudo sozinho,
deve-se valorizar a participação da comunidade mesmo que seja nas aclamações;
e) A motivação da ação de graças é feita por
quem preside (O Senhor esteja convosco...);
f)
A ação
de graças deve ser feita em tom de exultação, alegria pascal.
g) Após a oração de ação de graças ou louvor,
quem preside faz o convite ao Pai-nosso e ao abraço da paz;
h) Depois do abraço da paz, faz-se a exposição
da Eucaristia se já não foi antes da ação de graças;
i)
Neste
momento não se faz o rito da fração do pão. Este é próprio da celebração da
eucaristia. Faz-se apenas a apresentação do Pão Eucarístico (Felizes os convidados para a Ceia do Senhor.
Eis o Cordeiro de Deus, que tira o pecado do mundo);
j)
Quem
preside deve dar a comunhão junto com os outros ministros;
k) Terminada a comunhão, quem preside faz a
oração após a comunhão.
Vejamos agora um exemplo de
oração de ação de graças.
5.5. Presidir os ritos finais da celebração
Pelos ritos finais a assembleia
toma consciência de que é enviada a viver e testemunhar a Aliança no seu
dia-a-dia e nos serviços concretos na edificação do Reino (Doc. 52, 92). Os
ritos finais e os ritos iniciais estão ligados entre si e expressam nosso jeito
de compreender e ser Igreja, tendo a Trindade como fonte e horizonte. Somos
povo convocado pelo Pai, reunidos no amor de Cristo e animados pela força do
Espírito Santo e enviados por ele para a missão. Somos chamados a permanecer
com Ele e ser enviados em missão para evangelizar.
A sequência dos ritos finais
costuma ser a seguinte: avisos, bênção e canto de louvor final, dispersão ou
despedida.
Cabe a quem preside nos ritos
finais:
a) Se não houver outra pessoa da comunidade mais
indicada, dar os avisos;
b) Invocar a bênção de Deus e despedir o povo.
[1]
Cf. Lumen Gentium, n. 29.
[2]
Congregação do Culto Divino. Diretório para as celebrações dominicais na
ausência do presbítero. n. 29. In: LELO, Antônio Francisco (org.). Eucaristia: teologia e celebração.
Documentos pontifícios, ecumênicos e da CNBB (1963-2005). São Paulo: Paulinas,
2006, p. 709.
[3]
Constituição Conciliar Sacrocanctum
Concilium, n. 26.
[4] Cf.
Presbyterorum Ordinis, n. 12.
[5]
Cf. Revista de Liturgia. 1998, n. 150, p. 27.
[6]
Op. ct. p. 27.
[8]
Cf. SC 7.
[9]
Constituição Dogmática sobre a revelação Divina Dei Verbum, n. 21.
[10] Sacrosanctum Concilium, n. 7.
[11]
Instrução Inter Oecumenici, n. 39.
[12] Ibidem, n. 37.
[13]
Instrução Eucatisticum Mysterium, n.
33.
[14]
Medellín, 9,14.
[15] Cf.
Puebla, n. 900.
[16]
Puebla, n. 929.
[17]
Santo Domingo, 51.
[18]
CIC, cânon n. 1248, 2.
[19]
Diretório para as celebrações da Palavra de Deus, n. 35.
[20]
CNBB. Animação da vida litúrgica no
Brasil. (Doc. 43), n. 99.
[21] Ibidem, n. 100.
[22] Ibidem, n. 100.
[23] Ibidem, n. 102.
[24]
CNBB. Orientações para as celebrações da
Palavra de Deus. (Doc. 52), n. 52.
[25] Presbyterorum Ordinis, n. 5.
[26]
Cf. Gl 3,28.
[27] Sacrosanctum Concilium, n. 41.
[28] CNBB.
Animação da vida litúrgica no Brasil.
(Doc. 43), n. 78.
[29]
Cf. Sacrosanctum Concilium, n. 7.
[30]
Cf. CNBB. Orientações para as celebrações
da Palavra de Deus. (Doc. 52), n. 21.
[31]
BUYST, Ione. Presidir a celebração do dia
do Senhor. São Paulo: Paulinas, 2004.
[32]
CNBB. Animação da vida litúrgica no
Brasil. (Doc. 43), n. 233.
[33] Instrução Geral do Missal Romano, n. 24.
[34] Instrução Geral do Missal Romano, n. 55.
[35]
BUYST, Ione. Presidir a celebração do dia
do Senhor. p. 43.
[36]
CNBB. Orientações para a celebração da
Palavra de Deus. (Doc. 52), n. 83.