UNIDADE NA DIVERSIDADE
Pe. Cristiano Marmelo Pinto
Hoje
vivemos numa sociedade plural, diversa. Há por todo canto reivindicações pelo
direito a diversidade em suas mais diferentes expressões. E isto constitui uma
riqueza para toda a humanidade. O fato é que somos diferentes. As culturas são
diferentes. E na diferença podem e devem se complementar. Deus criou o ser
humano diferente, os fez homem e mulher (cf. Gn 1,27). Os fez assim para se
complementarem. É o que afirma São Paulo quando diz que “Assim como num só corpo temos muitos membros, e os membros não tem
todos a mesma função, de modo análogo, nós somos muitos e formamos um só corpo
em Cristo” (Rm 12,5). São Paulo ressalta que os membros são diferentes, não
possuem as mesmas funções, porém, formam uma unidade, um só corpo.
A
pluralidade ou, a diversidade, não pode ser vir como divisor que nos separa uns
dos outros, mas sim, que nos aproxima, que nos une, formando uma unidade no
todo. Isto equivale dizer que na sociedade a diversidade se for vista na ótica
da unidade e não da uniformidade, é uma riqueza para todos, pois, na
complementaridade o benefício é de todos. O mesmo podemos dizer sobre a Igreja.
A complementaridade na diversidade deve nos levar a unidade e não a
uniformidade. A unidade enriquece, a uniformidade empobrece.
Olhando
para a história da Igreja, vê-se claramente como a diversidade enriqueceu a fé
cristã, aproximou povos, culturas, etc. O surgimento das ordens religiosas,
cada qual diferente uma das outras, com espiritualidade própria, formou um
leque de opções na busca da vivência da perfeição evangélica. Ainda hoje, o
Senhor faz despertar diferentes movimentos, grupos e comunidades, todos
diferentes, porém, unidos na busca de viver mais perfeitamente o Evangelho de
Jesus. O Evangelho, levado pelos missionários, vai se inculturando nas mais
diferentes culturas e povos, falando novas linguagens e enriquecendo todo o
corpo, que é a Igreja.
No
campo do pensamento cristão, surgem diferentes escolas teológicas, cada qual,
lendo o Evangelho a partir de uma realidade concreta, promovendo a adesão ao
Projeto de Jesus e a transformação da sociedade, implantando o Reino de Deus.
Tudo
isso é sadio e necessário. A uniformidade só nos trás prejuízo. É como disse o
papa Francisco em sua homilia de hoje que, a ditadura de um pensamento único
mata a liberdade e a consciência dos povos. O papa adverte que o erro dos
fariseus foi o de se terem fechado o coração para a novidade de Jesus. E num
coração fechado nada entra, nem Deus. Como disse o papa: “É um pensamento
fechado que não está aberto ao diálogo, à possibilidade de que haja uma outra
coisa, à possibilidade de que Deus nos fale, nos diga como é o seu caminho,
como fez com os profetas. Esta gente não tinha escutado os profetas e não escutava
Jesus.” E o papa vai além, dizendo que nessa ditadura do pensamento único “Não
há possibilidade de diálogo, não há possibilidade de abrir-se às novidades que
Deus trás com os profetas. Fecharam os profetas, esta gente; fecham a porta à
promessa de Deus. E quando na história da humanidade vem este fenômeno do
pensamento único, quantas desgraças. No século passado nós vimos todos as
ditaduras do pensamento único que acabaram por matar tanta gente...”
É
o que se vê acontecer na Igreja nestes últimos tempos com grupos cada vez mais
fechados, considerando-se donos de uma “verdade única”, não dispostos ao
diálogo, muito menos a diversidade de pensamentos. E segundo o papa Francisco,
este fenômeno do pensamento único é uma desgraça. Estes grupos são mais focados
na doutrinação do que na evangelização. E nós sabemos, isto comprovado na
história, o que a doutrinação pura criou na Igreja: uma massa de cristãos que
até conhecem as normas da Igreja e sua doutrina, mas que não vive o Evangelho.
É por isso que nos últimos tempos fala-se tanto de re-evangelização, ou de nova
evangelização. Esta nova evangelização é direcionada em primeira instância aos
cristãos que não vivem sua fé, tanto os que estão fora, como os que estão
dentro da Igreja. Não é justo falar somente nos cristãos afastados da vivência
comunitária, pois sabemos que, muitos que permanecem na comunidade ainda estão
longe de viver plenamente o Evangelho de Jesus Cristo.
A
teologia nas suas mais diferentes expressões e escolas, procura responder a
necessidade desta nova evangelização. Enriquece a Igreja e a fé, encarnando o
Evangelho nas diferentes culturas, elaborando novas linguagens para a
compreensão da fé em Jesus Cristo, e respondendo aos anseios e aos clamores dos
povos. Uniformizar isto é criar uma “ditadura de um pensamento único”. É
empobrecer a experiência de fé que se dá de modo diferente em todas as
culturas.
Por
isso, a unidade deve levar em conta a diversidade de pensamentos teológicos, e
a diversidade deve levar a unidade na fé. Abrir-se a novidade de Deus que fala
de modos diferentes (cf. Hb 1,1). E como diz certa canção: “Nós somos muitos,
mas formamos um só corpo, que é o Corpo do Senhor, a sua Igreja, pois todos nós
participamos do mesmo pão da unidade, que é o Corpo do Senhor, a comunhão”
(letra de Pe. José Weber).