O CRISTÃO E A RESPONSABILIDADE SOCIAL
Pe.
Cristiano Marmelo Pinto
Hoje
é crescente a preocupação quanto à fome. Prevê-se que em algumas poucas décadas
o número dos famintos aumentará consideravelmente no mundo. É já sabemos que a
fome está presente em muitas realidades. Isto levanta um sério questionamento:
o porquê da fome no mundo se existe tantas terras a serem cultivadas. O Brasil
é um dos grandes produtores de alimento no mundo e como ainda existe gente
passando fome entre nós? Há uma resposta simples: a má distribuição de renda; e
outra resposta mais complexa e profunda que leva a resposta da primeira: a
ganância, a concentração desonesta nas mãos de uns poucos faz com que os
famintos desta terra não tenham acesso ao necessário para viver com dignidade.
É aí que entra a liturgia da Palavra de hoje.
A
princípio podemos dizer que São Tiago faz uma dura crítica aos ricos que
concentram os bens e não se importam com os pobres. Mais também aqueles que se
dizem cristãos, porém, vivem num individualismo cruel e muitas vezes são
causadores de tantas injustiças. E como tem gente que se preocupam com seus
bens e não se importam com os outros, com os famintos, com os pobres. No dia do
juízo, seus próprios bens, tomados pela ferrugem e pelas traças (cf. Tg 5,2-3),
serão seus acusadores. Tiago não chama a atenção apenas para a questão da
injustiça social, mas, junto com ela, também caminha a omissão de muitos que
relutam em promover um mundo mais justo e solidário. Ai todos nós entramos. Se
nossa atitude for de passividade, de irresponsabilidade, de recusa de serviço
ao necessitado, também incorreremos as consequentes penalidades, no dia do
juízo. Em sintonia com o a liturgia de hoje, o Concílio Vaticano II insiste na
urgência em socorrer os necessitados e famintos desde mundo (cf. GS 69). Não
podemos jogar a culpa somente nas autoridades públicas que deveriam prover
melhores condições de vida para o nosso povo, mas também nós somos culpados,
visto que, além de nossa omissão, também somos nós que escolhemos nossos
políticos.
A
incoerência cristã leva a morte de muitos. É o que nos chamou a atenção o papa
Francisco em sua homilia de hoje. E esta incoerência não se dá apenas no campo
moral entendido na área da sexualidade, como muitas vezes nos atemos, mas
principalmente no campo social. Infelizmente hoje na Igreja perdemos o senso de
pecado social. Consideramos somente o pecado do indivíduo no sentido moral e
não nos preocupamos com nossa possível contribuição para a desgraça de muitos
em nossa sociedade. Isto é o que Jesus no evangelho chama de escândalo. Diz
Ele: “Se alguém escandalizar um destes pequeninos que creem, melhor seria que
fosse jogado no mar com uma pedra de moinho amarrada no pescoço” (Mc 9,42).
Estes pequeninos são os pobres e famintos. São aqueles que são feitos
“invisíveis” aos olhos de nossa sociedade e de nós cristãos. Por que ainda
temos que insistir em nossas igrejas para que a comunidade traga alimentos para
serem destinados aos famintos? E mesmo assim, muitos não trazem! É sério o que
Jesus está dizendo: “melhor ser jogado no mar”, ou seja, atirado fora, porque
não vale pra nada. Uma fé egoísta, individualista, insensível ao sofrimento do
outro não serve para nada. Melhor mesmo que seja jogado fora, porque isto é
escandaloso diante do projeto de Deus, que deseja vida para todos. É
escandaloso dizer-se cristão, e permanecer com o coração fechado para as
necessidades dos pobres. É escandaloso um cristão não partilhar. Certa vez foi
perguntado para uma pessoa de “igreja” o que ela poderia fazer se um pobre lhe
pedisse ajuda. E ela respondeu que só poderia rezar. Isto é escandaloso e esta
oração não vale nada. Não vale nada ter as duas mãos elevadas para os céus,
enquanto ao nosso lado os famintos morrem de fome e de sede de justiça.
Precisamos
ser sal, como diz Jesus (cf. Mc 9,50). Sal que dá sabor ao mundo. Sal que
transforma a realidade injusta de nossa sociedade num mundo melhor e mais justo
para todos. Cristão de verdade possui um profundo senso de responsabilidade
social, senão, nossa fé é em vão, pois o mesmo São Tiago nos diz que, sem as
obras nossa fé é morta (cf. Tg 2,17).
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