quinta-feira, 11 de abril de 2019



O DIÁCONO PERMANENTE
E SEU SERVIÇO NA CELEBRAÇÃO DA EUCARISTIA

Pe. Cristiano Marmelo Pinto
Mestre em Teologia Sistemática com
Especialização em Liturgia pela PUC-SP

1. A participação do diácono na celebração da eucaristia

            O diácono possui funções específicas dentro da celebração da eucaristia. Estas funções diferem dos demais ministérios exercidos na celebração da eucaristia. “Sua diaconia junto do altar, tendo a sua origem no sacramento da Ordem, difere essencialmente de qualquer outro ministério litúrgico [...] O ministério litúrgico do diácono difere também do próprio ministério ordenado sacerdotal[1]. O diácono recebe o sacramento da Ordem para o serviço e não para o sacerdócio. Deve-se manter a diferença entre ambos os ministérios e não permitir que a comunidade se confunda. Sendo a liturgia o centro da vida cristã ela é fonte de graça para a vida do diácono. A liturgia torna seu ministério fecundo.

            Na celebração da eucaristia, cabe ao diácono auxiliar e ajudar o bispo ou o presbítero presidente da celebração. Paulo VI, na Carta Apostólica Sacrum diaconatus ordinem, ao enunciar as funções do diácono na liturgia, diz que cabe ao diácono “assistir durante as ações litúrgicas, o bispo e o presbítero em tudo quanto lhe compete, segundo as prescrições dos diferentes livros litúrgicos[2]. Para isso, deve desempenhar somente o que lhe é permitido pelas normas litúrgicas. “Em todas as celebrações litúrgicas, ministros e fiéis, no desempenho de suas funções, façam somente aquilo e tudo aquilo que convém à natureza da ação, de acordo com as normas litúrgicas[3]. A ação litúrgica possui exige uma ordem, uma organização e harmonia entre aqueles que exercem algum ministério. Esta ordem e harmonia só são possíveis se cada um fizer apenas a parte que compete a si, permitindo que os demais ministérios tenham também a sua vez de servir.

            O Diretório do ministério e da vida dos diáconos permanentes enumera o que compete aos diáconos na celebração da eucaristia:

a)      Ao altar presta o serviço do cálice e do livro;
b)     Propõe aos fiéis às intenções da oração;
c)      Convida à troca do sinal da paz;
d)     Proclama o Evangelho;
e)      É ministro ordinário da comunhão[4].

Não é permitido ao diácono:

a)      Pronunciar as palavras da oração eucarística;
b)     Realizar ações e gestos que pertencem somente ao sacerdote presidente[5].

A Instrução Ecclesiae de mysterio afirma que certos abusos tanto da parte de diáconos como de leigos devem ser abandonados. Diz o texto:

para salvaguardar, também neste campo, a identidade eclesial de cada um, devem ser abandonados os abusos de vários tipos que são contrários ao que se prevê no cân. 907, segundo o qual, na celebração eucarística, aos diáconos e aos fiéis não ordenados não é permitido proferir as orações e qualquer outra parte reservada ao sacerdote celebrante – sobretudo a oração eucarística com a doxologia conclusiva – ou realizar ações e gestos que são próprios do mesmo celebrante”[6].

            Nesta parte de nossa reflexão iremos fazer dois caminhos: o primeiro relacionando às funções do diácono na participação na eucaristia, e o segundo, daremos algumas dicas para o bom exercício da diaconia da liturgia exercida pelo diácono.

2. Funções do diácono na celebração da eucaristia

            A Instrução Geral do Missal Romano dedica a participação do diácono na celebração da eucaristia os números 171 ao 186. Também o Cerimonial dos Bispos, ao tratar da função do diácono na liturgia, dedica a este ministério os números 23 a 26. Utilizaremos estes dois textos para nossa reflexão por serem a voz oficial da Igreja no que diz respeito à celebração da eucaristia.

2.1. Missa com diácono (IGMR 171)

a)      Quando na celebração da eucaristia o diácono estiver presente, este deve se revestir com os paramentos próprios de seu ministério, a saber: alva, estola na transversal e dalmática (estes dois últimos na cor litúrgica do tempo);
b)     Cabe ao diácono assistir o sacerdote e caminhar ao seu lado;
c)      No altar, encarrega-se do cálice e do livro;
d)     Proclama o Evangelho e se o presidente permitir, pode fazer a homilia;
e)      Orienta a assembleia com breves exortações e enuncia as intenções da oração universal, caso não haja leitor que as façam;
f)       Auxilia na distribuição da comunhão e recolhe os vasos sagrados;
g)     Caso não haja outros ministros, o diácono assume sua função.
h)     Quando a celebração for presidida pelo bispo, deverá ajudá-lo pelo menos três diáconos: um para proclamar o Evangelho, outro para servir o altar, e dois para assistirem o bispo (Cerimonial dos Bispos, n. 26).

2.2. Funções do diácono nos ritos iniciais (IGMR 172-174)

a)      Na procissão de entrada, os diáconos precedem o sacerdote ou bispo;
b)     O diácono que for conduzir o Evangeliário leva-o um pouco elevado, e precedendo o sacerdote;
c)      Chegando ao altar, quem conduz o Evangeliário coloca-o sobre o mesmo, e com o sacerdote beija o altar;
d)     Se não é conduzido o Evangeliário, o diácono juntamente com o sacerdote faz uma profunda inclinação ao altar, e com ele, beija-o;
e)      Caso o sacrário esteja no centro do presbitério, faz-se a genuflexão e depois se dirige para o altar para beijá-lo;
f)       Se for usado o incenso, o diácono que assiste o sacerdote deve ajudá-lo colocar o incenso e depois segue-o na incensação da cruz e do altar;
g)     Após ter incensado o altar, dirige-se para sua cadeira, colocando-se ao lado do sacerdote;
h)     Após a saudação do sacerdote, o diácono pode, com breves palavras, introduzir a assembléia na missa do dia, motivando para uma boa participação na celebração.

2.3. Funções do diácono na liturgia da Palavra (IGMR 175-177)

a)      Enquanto se faz o canto do Aleluia, o diácono, quando tem incenso, ajuda o sacerdote na imposição do incenso;
b)     Depois, inclina-se diante do sacerdote, e com voz baixa, pede-lhe a bênção, dizendo: “Dá-me a bênção” e aguarde o sacerdote dar a bênção;
c)      Após a bênção do sacerdote, traça o sinal da cruz e responde amém;
d)     Em seguida, faz uma inclinação ao altar e toma o Evangeliário, seguindo com ele elevado até o ambão, precedido do turiferário e dos ceriferários;
e)      Saúda a assembleia dizendo: “O Senhor esteja convosco...” e em seguida as palavras: “Proclamação do Evangelho...” traça o sinal da cruz sobre o livro com o polegar e depois sobre si mesmo;
f)       Feito isto, incensa o livro;
g)     Faz a proclamação do Evangelho que pode ser cantada ou não;
h)     Terminada a proclamação do Evangelho, o diácono aclama: “Palavra da Salvação” e o povo responde: “Glória a vós, Senhor”;
i)        Em seguida o diácono beija o livro e depois pode levá-lo para o sacerdote também beijar;
j)        Quando a celebração for presidida pelo bispo, o diácono dele levar o livro para o bispo beijá-lo e, às vezes, é costume o bispo dar a bênção com o Evangeliário;
k)      Depois, o Evangeliário pode ser colocado ou na credência, ou no próprio ambão, mas não no altar;
l)        Se não houver ministros da leitura, o diácono poderá proclamar as demais leituras da celebração;
m)   Na oração dos fiéis, após uma introdução do presidente, o diácono pode, do ambão, propor as intenções.

2.4. Funções do diácono na liturgia eucarística (IGMR 178 a 183)

a)      Na preparação das oferendas, o diácono prepara o altar com a ajuda do acólito;
b)     Cabe ao diácono: cuidar dos vasos sagrados e assistir o sacerdote na recepção dos dons;
c)      O diácono prepara a mesa, estendendo sobre ela o corporal, colocando sobre ele as âmbulas com as partículas, em seguida entrega ao sacerdote a patena com a hóstia grande;
d)     O diácono prepara o cálice, derramando nele o vinho e depois derrama um pouco d’água no cálice, dizendo: “pelo mistério desta água...”;
e)      Em seguida entrega-o ao sacerdote;
f)       A preparação do cálice pode ser feita no altar ou na própria credência, conforme a conveniência;
g)     Durante a oração eucarística, o diácono permanece de pé junto ao sacerdote, mas um pouco atrás, para cuidar do cálice e do missal;
h)     A IGMR diz que a partir da epiclese até a apresentação do cálice, o diácono normalmente permanece de joelhos. Porém não é muito prático. Melhor é que o diácono que assiste o sacerdote permaneça de pé um pouco atrás dele;
i)        Na doxologia final da oração eucarística, de pé ao lado do sacerdote, o diácono eleva o cálice, enquanto o sacerdote eleva a patena com a hóstia, até que o povo diga: amém;
j)        Após o sacerdote pronunciar a oração da paz e “a paz esteja convosco”, e o povo responder, o diácono, de mãos unidas, e voltado para o povo, convida ao abraço da paz com uma das fórmulas propostas pelo missal;
k)      O diácono recebe do sacerdote a paz e depois a oferece aos demais que estiverem próximos;
l)        Após o sacerdote comungar, o diácono recebe dele a comunhão, sob as duas espécies, [ou conforme o costume, comunga no altar] e depois o ajuda a distribuir ao povo;
m)   Terminada a distribuição da comunhão, o diácono volta para o altar e consome o restante do cálice, podendo oferecer ao sacerdote ou a outros diáconos, e depois faz a purificação dos vasos sagrados;
n)     A IGMR diz que a purificação deve ser feita na credência, mas nem sempre o espaço é conveniente. Conforme o costume, pode fazer a purificação no próprio altar, porém deve ser ágil e prático, sem se demorar muito;
o)     Pode-se também deixar os vasos na credência, sobre o corporal, e fazer a purificação após o término da celebração;

2.5. Funções do diácono nos ritos finais (IGMR 184-186)

a)      Terminada a oração depois da comunhão, caso não seja o sacerdote ou outra pessoa, o diácono pode fazer as comunicações, os avisos;
b)     Se for usada a oração sobre o povo ou a fórmula solene de bênção, o diácono diz: “inclinai-vos para receber a bênção”;
c)      Dada a bênção pelo sacerdote, o diácono despede o povo conforme uma das fórmulas propostas pelo missal;
d)     [Antes da bênção final, caso seja conveniente, o diácono pode fazer uma breve exortação ao povo, a partir do mistério celebrado, para que possam vivenciar no dia-a-dia, o que celebraram];
e)      Após despedir o povo, o diácono, junto com o sacerdote beija o altar, faz um profunda inclinação, e depois retira-se do presbitério [podendo sair pelo corredor central, ou diretamente para a sacristia].

3. Algumas dicas para a vivência e boa participação na celebração da eucaristia

            As dicas que daremos a seguir são tiradas do livro Presbíteros: Palavra e Liturgia, de Enzo Bianchi[7] e que mesmo sendo direcionado aos presbíteros vale também para os diáconos, seja quando estão presidindo a celebração da Palavra de Deus ou exercendo seu ministério na celebração da eucaristia. Serão feitos alguns acréscimos para aplicação na vivência do ministério diaconal. Fica uma boa dica de leitura.

1)     O diácono deve preparar-se para a celebração da eucaristia através da oração. No dia anterior à celebração deve aproximar-se da liturgia que irá celebrar, com uma oração de escuta;
2)     Também nós que exercemos um ministério na celebração da eucaristia fazemos parte da assembleia, portanto, também participamos como Igreja junto com o povo. Como diz E. Bianchi: “se você não estiver evangelizado, não poderá evangelizar; se não morar em você a Palavra, não poderá comunicá-la para a assembleia[8];
3)     Você precisa acolher a Palavra no coração, na inteligência, no espírito, discerni-la, antes de tudo, como alimento para sua fé;
4)     Chegue sempre com antecedência para a celebração;
5)     Enquanto se reveste dos paramentos diaconais, peça ao Espírito Santo que venha habitar em você e o revista com a beleza de Cristo, aliás, é isto que as vestes litúrgicas devem transparecer;
6)     As vestes litúrgicas devem manifestar que você é sinal de Cristo e não um exibicionista;
7)     As vestes com sua cor indicam o tempo litúrgico, a festa, etc.;
8)     Na procissão de entrada, entre serenamente, em paz, disposto, sem pressa. A procissão de entrada deve manifestar o Cristo que está chegando;
9)     Você não substitui Cristo, é apenas sinal. É ele quem deve aparecer. Evite chamar a atenção para você, seja discreto nas suas ações, porém, faça-as com profundidade;
10) Chegando à frente do altar, faça profunda inclinação, plena de veneração, e beije com amor o altar, sinal de Cristo;
11) Tudo na liturgia começa com o sinal da cruz. Faça-o solenemente e não de qualquer jeito, com superficialidade ou apressadamente;
12) No ato penitencial, procure junto com a assembleia, sentir-se como voz da Igreja que invoca a misericórdia de Deus;
13) Os ritos iniciais atingem o cume na oração da coleta. Acompanhe em silêncio esta oração. Sinta-se unido com o sacerdote e toda a assembleia nesta oração;
14) Na liturgia da Palavra você estará sentado e ouvindo a proclamação das leituras e também fará a proclamação do Evangelho. Acolha a Palavra proclamada no coração. “Como todos os outros participantes da celebração, você também ouve, recebe e abre o coração para a Palavra[9];
15) Antes de ir para o ambão proclamar o Evangelho, incline-se profundamente pedindo ao Senhor que purifique o coração e os lábios para você poder proclamar com dignidade o Evangelho. “O Senhor cumpre em você o que você não é capaz de cumprir: ele purifica os seus lábios e lhe confere a autoridade e a missão de anunciar o evangelho dele[10];
16) Você proclama a Palavra no poder do Espírito Santo. Não confie na sua própria palavra, mas na Palavra de Deus e do Evangelho. E proclamando o Evangelho, seja você o primeiro ouvinte;
17) Reserve um lugar para o silêncio. A Palavra precisa de um momento de silêncio para ser interiorizada, ruminada, guardada no coração;
18) Na profissão de fé, faça junto com o povo, pronunciando pausadamente as palavras e meditando-as no coração. O Credo confessa a nossa unidade na fé;
19) Ao preparar as oferendas, faça com profunda reverência. Não precisa correr e nem ser muito devagar. Que o povo perceba que ao exercer seu ministério você está serenamente ali prestando o seu serviço;
20) Auxilie o padre sem porém tumultuar o espaço;
21) Esteja atento ao padre para que, caso ele necessite de algo, você possa atendê-lo;
22) Na oração eucarística, além de exercer suas funções, participe junto com a comunidade, respondendo as aclamações. O único que não faz as aclamações é o sacerdote e se tiver os concelebrantes;
23) Reze o Pai-nosso junto com o povo, pausadamente;
24) O Missal Romano diz que o abraço da paz deve ser um gesto discreto e breve. Não estenda este momento mais do que o necessário. Na celebração da eucaristia não se disperse querendo cumprimentar todos que estão na igreja, cumprimente apenas quem estiver ao seu redor, ou mais próximo;
25) Você não é ministro extraordinário da comunhão, mas ordinário. Procure distribuir a comunhão com alegria, pois você está distribuindo o Corpo do Senhor que se dá como alimento sob o sinal sacramental do pão consagrado, e isto é motivo de alegria. Sorria para a pessoa a quem você dará a comunhão, mesmo que sobriamente, isto faz com que quem recebe a comunhão também sinta a alegria de receber o Senhor;
26) Não esqueça daqueles que têm dificuldades de caminhar. Se for preciso, vá até eles;
27) Quando presidir a celebração da Palavra de Deus, no momento da comunhão, faça de tudo para que a comunidade perceba a necessidade de participar do Corpo do Senhor por meio da eucaristia;
28) Na comunhão acontece um maravilhoso metabolismo: nos tornamos aquilo que comemos, ou seja, tornamo-nos corpo do Senhor;
29) Se presidir a celebração da Palavra, deixe espaço para o silêncio após a comunhão. Silêncio para você e para a comunidade;
30) No momento da purificação, caso seja feita sobre o altar, procure ser prático e breve. Não demore muito para purificar os vasos sagrados;


[1] CONGREGAÇÃO PARA O CLERO. Diretório do ministério e da vida dos diáconos permanentes. n. 28.
[2] PAULO VI, Carta Apostólica Sacrum diaconatus ordinem, V, 22.a.
[3] Constituição Conciliar Sacrosanctum Concilium, n. 28; Cf. também IGMR, n. 91.
[4] Cf. CONGREGAÇÃO PARA O CLERO. Diretório do ministério e da vida dos diáconos permanentes. n. 32.
[5] “Na celebração da Eucaristia, não é lícito aos diáconos e leigos proferir as orações, especialmente a oração eucarística, ou executar as ações próprias do sacerdote celebrante” (CIC, cân. 907).
[6] CONGREGAÇÃO PARA O CLERO. Instrução Ecclesiae de mysterio, art. 6,2.
[7] BIANCHI, Enzo. Presbítero: palavra e liturgia. São Paulo: Paulus, 2010.
[8] BIANCHI, Enzo. Presbítero: palavra e liturgia. p. 9.
[9] Ibidem, p. 18.
[10] Ibidem, p. 19.

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