quinta-feira, 11 de março de 2010

Vivendo a Semana Santa III (Sexta-feira Santa)


SEXTA-FEIRA SANTA

A reforma litúrgica de Pio XII, em 1955, introduz a comunhão aos fiéis. No mais, conservou a maior parte dos costumes anteriores. O Vaticano II fez profundas modificações nessa liturgia. A celebração já tinha sido fixada na parte da tarde pelo ORDO precedente. Havia também a possibilidade de se fazer a liturgia da Palavra na parte da manhã e deixando para tarde a veneração da cruz e a comunhão. Os motivos pastorais, no entanto, exigiram que se fizesse uma só cerimônia, para não obrigar as pessoas a se reunirem duas vezes no mesmo dia.

Nesse dia não há assim celebração da eucaristia - missa, mas apenas a Comemoração da paixão e morte do Senhor. Essa atitude de respeito pelo jejum, abstinência, tristeza e silêncio é feita na Esperança. Pela morte veio a Vida; pelo fracasso aparente, salvação dos homens. Esse Mistério da salvação dos homens pela morte do Filho de Deus é loucura para quem vive numa sociedade de consumo, de produção, de sucesso e de glórias efêmeras. Mas aquilo que é loucura de Deus é mais sábio que os homens, e o que é fraqueza de Deus é mais que os homens (1Cor 1,25).

A celebração da Morte do Senhor consta de leituras bíblicas (Is 52,13 até 53,12; Hb 4,14-16; 5,7-9) e da narração da Paixão do Senhor (Jo 18,1-19,42). Logo após a liturgia da palavra, fazem-se as Preces da Igreja Universal. Essa oração universal mostra a dimensão da catolicidade da Igreja como a grande Comunidade. Seguem-se a Adoração da Cruz e a Liturgia da Comunhão. A Sexta-feira Santa é um convite ao respeito e à simplicidade, recordando a Morte de Senhor. Só entende a Vida quem compreende o Mistério da Dor e do Sofrimento. Comemorar a morte do Senhor é comprometer-se com Cristo Verdade e Vida, que nos dá o sentido do Transcendente e do Eterno.

O Mistério da Redenção ganha sentido maior na ressurreição, ou seja, na passagem do mundo da tristeza para a Alegria, da escravidão para a Liberdade, das trevas para a Luz, do egoísmo do pecado para Vida de Amor.

1. Celebração da Paixão do Senhor

Hoje não celebramos a Eucaristia, porque a Igreja tem esta longa tradição de não Celebrar missa na Sexta-feira Santa. Nós nos reunimos para comemorar e reviver a paixão do Senhor. A Igreja contempla Cristo que, morrendo, se oferece como vítima ao Pai, para libertar toda a humanidade do pecado e da morte. Nós adoramos nesta celebração o mistério de nossa salvação e dispomos nosso coração na fé e no arrependimento, para que possamos ser curados e santificados pelo sacrifício de Cristo.

Aos pés da Cruz, a Igreja em oração quer trazer as dores de toda a humanidade, para que o sangue precioso de Cristo possa curar todos os males e fazer crescer a semente do reino plantada pela sua Palavra, regada com seu sangue e cuidada com a força da sua Ressurreição.

A celebração de hoje tem 4 partes:

• Paixão proclamada: Liturgia da palavra
• Paixão invocada: Solene Oração Universal
• Paixão venerada: Adoração da Cruz
• Paixão comungada: Comunhão eucarística.

Proclamando o acontecimento da Paixão, nós nos tornamos participantes e recebemos a força de sua Cruz. Assim, diante do mistério da morte de Cristo, nós nos sentimos impelidos a não deixar ninguém fora deste sangue que nos liberta e lava. Cheios de amor, veneramos a cruz, num gesto de adoração àquela que se entregou até à última expressão do Amor. Nada faltou da parte de Deus, para nos amar e demonstrar a verdade de sua proposta de vida nova.

Comungando, fazemos um só corpo com ele e com todo o povo de Deus. Como diz a oração final da celebração: “Ó Deus, que nos renovastes pela santa morte e ressurreição do vosso Cristo, conservai em nós obra de vossa misericórdia, para que, pela participação deste mistério, vos consagramos sempre a nossa vida”.

2. Liturgia

2.1. Início da Celebração

Os celebrantes e ministros aproximam-se em silêncio do altar.
Todo o povo se ajoelha.
Os celebrantes podem prostrar-se ou ajoelhar-se, em sinal de profunda reflexão e compenetração no mistério que vão celebrar. Após alguns instantes, levantam-se e dirigem-se aos seus lugares.
O povo fica de pé.
Voltando para o povo, o celebrante que preside reza a oração.

2.2. Oração

Pedimos a Deus que, pelo sangue de Cristo derramado na cruz, se lembre de suas misericórdias e nos santifique pela sua constante proteção.

3. A Paixão Proclamada (Liturgia da Palavra)

3.1. Primeira Leitura ( Is 52,13-53,12)

A Palavra de Deus apresenta o cântico do Servo de Javé, uma profecia sobre o Cristo sofredor que assumiu nossas dores, curando-nos por suas chagas. Ele ofereceu sua vida como expiação. Sua morte é vida para todos nós, pecadores. O salmo reza com Jesus na Cruz sua entrega a Deus: “Em vossas mãos, Senhor, entrego o meu espírito”. A morte de Jesus culmina num grande grito de certeza de vida que está nas mãos de Deus: “ Senhor, eu ponho em vós minha esperança”. No servo sofredor estamos todos nós, também para viver. (Pág. 141, no 4)

3.2. Segunda Leitura

A Palavra de Deus desta leitura explica quem é servo de Javé, sofredor: Ele é o sumo sacerdote, aquele que nos dá plena segurança de nos aproximarmos do trono da graça, “para conseguirmos misericórdia e alcançarmos a graça de um auxílio no momento oportuno”. Ele é o mediador e sabe entender nossas enfermidades, pois passou por elas, menos no pecado. Pela sua obediência, teve seus clamores ouvidos. Deus o ressuscita. Dá-nos assim garantia que nossa luta contra todo mal será ouvida e temos uma ressurreição semelhante à sua. “Por isso Deus o elevou acima de tudo”, nos diz São Paulo (F12,9). Por meio de seu sofrimento e morte temos na casa do Pai um medidor, da nossa parte, a nos garantir.

3.3. Evangelho - Paixão do Senhor (Jo 18,1 - 19,42)

João narra a Paixão não somente um fim trágico de Cristo, mas como o caminho de sua glorificação. Jesus dizia: Quando for exaltado da terra atrairei todos a mim. Jesus não morre empurrado por um sistema. Tem plena consciência de sua missão de unir todos os dispersos. Tem plena consciência de sua missão de unir todos os dispersos. Tem força suficiente para crer que sua paixão e morte são Revelação do amor do Pai: O Pai amou tanto o mundo que deu seu Filho.

Esta morte está direcionado exercendo total influxo na Igreja, figurada por Maria ao pé da Cruz recebendo o discípulo. Ali nascem os sacramentos do sangue, Eucaristia e água, batismo. Ele culmina com o Dom do Espírito: Inclinando a cabeça, entregou o Espírito. Bem dizem os santos padres: Do lado de Cristo adormecido na Cruz nasceu a nova Eva, a Igreja, fecundada pelo Espírito, gerando filhos para Deus.

4. Paixão Invocada, Venerada e Comungada

4.1. Oração Universal

No dia da celebração da paixão de Cristo para a salvação de todos, a Igreja abre os braços e o coração para realizar uma oração de intercessão pela salvação do mundo, A Igreja, que tem por cabeça o Cristo Sacerdote, em nome e por meio dela apresenta ao Pai suas grandes intenções. Toda a humanidade é trazida nesta oração aos pés da Cruz, na qual Cristo morre. É o primeiro resultado da morte de Cristo: abrir-se e preocupar-se com o mundo inteiro.

4.2. Paixão Venerada (Adoração da Cruz)

A liturgia está centrada no sacrifício de Cristo. Por isso se apresenta a Cruz para a adoração. Não adoramos a madeira da Cruz, mas a pessoa de Cristo crucificado e o mistério significado por esta morte por nós. Mesmo sendo um momento de morte, liturgia não deixa de estabelecer que Cristo está vivo e ressuscitado.

Adoramos vossa Cruz, Senhor, louvamos e glorificamos vossa santa Ressurreição, pois pelo lenho da Cruz veio a alegria ao mundo inteiro. A Cruz é sinal da vitória de Cristo que arrebenta as portas do mal. É a expressão máxima do amor do Pai: “Deus tanto amou o mundo, que lhe deu o seu único Filho” (Jo 3,16).
A Cruz é a árvore da vida, cujo fruto bendito nos faz viver eternamente. Não podemos esquecer que na Cruz está o projeto de morte de todos os males do mundo. Ela é libertação.

4.3. Paixão Comungada (Comunhão)

O momento da comunhão é a profissão de fé no Cristo que está vivo e que, pela comunhão, nos torna um só corpo com ele. O sangue que nos remiu nos livrou da morte e do mal, afastou o tentador, que queria dominar sobre nós e estabelecer em nós o mal, e introduziu-nos no Reino de justiça, de amor e de paz.
Assim nós estamos em comunhão com Cristo e com toda Igreja, e fazemos de nossa vida a vida de Cristo. Comungando Cristo, comungamos seus sentimentos, ao se entregar ao Pai, e comungarmos a vida que ressurge.

5. Encerramento

5.1. Oração depois da Comunhão

Pedimos a Deus que, pela nossa participação no mistério da paixão e morte de Cristo, conserve em nós a obra de sua misericórdia.

5.2. Oração sobre o povo

O sacerdote pede para o povo a bênção de Deus, perdão, consolo e crescimento na fé, e que a redenção se confirme em nós. Assim termina esta celebração, mas a vivência do Tríduo Pascal continua. Mesmo a celebração das tradições populares da Procissão do Enterro e das Dores de Maria não devem nos desviar daquele pensamento central da Igreja para os dias de hoje e de amanhã: meditação, silêncio e reflexão diante do túmulo de Jesus, que morreu e “desceu à mansão dos mortos” como rezamos no Creio. É a solidariedade de Cristo com todos os mortos, como foi solidário com todos os vivos. Significa que Cristo é Salvação de todos, em todos os tempos. Sua morte é uma vez por todas. Sejamos solidários com Cristo que é solidário conosco.

6. Preparação da Celebração

6.1. Preparar

- paramentos de cor vermelha
- a cruz ( coberta com o véu; para prender o véu, usa-se alfinete ou fita crepe);
- dois castiçais;
- tapete, almofadas ou genuflexórios desguarnecidos (para a prostração);
- Missal;
- Lecionários;
- toalhas;
- corporais.

6.2. Pessoal e Serviços

- Arrumadoras da cruz para a procissão;
- Preparadoras do lugar para a celebração da Paixão do Senhor;
- Leitores(as): uma leitura do Antigo testamento (profeta Isaías) e as leituras do Novo Testamento: Epístola aos Hebreus e a história da Paixão do Senhor;
- Salmista ou cantor;
- Transportadores (acólitos) dos castiçais;
- Carregadores(as) da cruz para adoração;
- Apresentadores(as) da cruz para a assembléia;
- Arrumadeiras do altar (serviço de mesa);
- Transportadores(as) do pão consagrado para a distribuição aos fiéis.

6.3. Sugestões para Preparar a Celebração

a) Por mais austera que pareça a Celebração da Sexta-feira Santa, é preciso cuidar bem para que seja comunicativa e participada.
b) Um cuidado especial com as Leituras, principalmente a da Paixão: é importante ilustrá-las, visualizá-las, fazer participar através de intervenções de cantos, aclamações, cartazes, slides, símbolos, ou até representação semiteatral. Mais uma vez, é pedagógico que as crianças tenham uma Celebração da Palavra em outro local, adaptada a elas.
c) Sendo a Cruz o símbolo central deste dia, as várias comunidades ou segmentos da Paróquia podem ser convidadas a trazer uma pequena cruz de madeira, com inscrições que apontam os seus sofrimentos e pecados atuais. No momento da Oração universal, cada um apresenta a sua cruz com uma súplica correspondente. Mesmo as pessoas podem ser convidadas a trazer seu pequeno crucifixo para serem bentos no final da Celebração.
d) Na Oração universal : distinguir entre quem convida e o Presidente que recita a oração. Pessoas diversas encarregar-se-ão do convite e, durante a pequena pausa, podem colocar um pouco de incenso sobre o turíbulo ou recipiente fixo, significando a súplica que sobe até Deus. Se não houver incenso (serve também resina de manqueira), cada pessoa traz uma vela acesa e permanece segurando-a até o fim da Oração universal.
e) É importante valorizar a Adoração da Cruz, dando tempo para que o para que o povo possa tocar a Cruz e fazer de fato a sua homenagem pessoal durante a própria Celebração. Se de fato parecer cansativo demais para a Comunidade, fazer com que venham por famílias ou então em grupos, conforme as associações, movimentos, setores, ministérios etc. para um instante de adoração.

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