sexta-feira, 22 de fevereiro de 2019


OLHAR DA JANELA...

Pe. Cristiano Marmelo Pinto


Da janela de meu escritório vejo outras janelas e imagino que também dessas janelas outras pessoas, assim como eu, estejam olhando para o horizonte de muitas janelas, para o horizonte da vida. E vida é imensidão, assim como o horizonte. E cada janela, pequenos pontos nessa imensidão da vida, possivelmente deve haver olhares de admiração, olhares de desejos, olhares de alegrias, olhares de tristezas e tantos outros olhares. Pensar na vida é olhar de uma janela para a imensidão. Olhando para as outras janelas, quanta curiosidade em saber quem estaria ali, o que estaria passando lá dentro, dentro de cada olhar. Olhar para fora é mais simples do que olhar para dentro.

A vida é assim, quando olhamos para fora vemos com facilidade, mas, quando o olhar se volta para dentro de nós mesmos, para dentro do próprio olhar, é desafiador e complexo. Olhar para dentro é poder ver a própria alma, o próprio coração. E não há lugar onde melhor nos escondemos do que dentro de nós mesmos. Desbravar esse interior desconhecido, reconectar-se ao coração é nosso maior desafio. Inevitável certamente. Mais cedo ou mais tarde a vida nos cobra esse olhar interior, essa busca de nós mesmos que tem o poder de nos provocar uma inteireza do ser, de descobrir-se humano e de fazer-se melhor.

O olhar para dentro de nós mesmo deve ser motivado pela mesma curiosidade que nos move ao tentar saber o que se passa dentro de cada janela perdida no horizonte da cidade, no horizonte da vida. É preciso perder o medo de se descobrir como se é, perder o receio de dizer para si mesmo que nos amamos, nos aceitamos e nos respeitamos, pois, cada ser humano foi criado por Deus com uma luz própria, com beleza inigualável e que não corresponde aos padrões impostos pela sociedade, nem por outras razões quaisquer. Se o olho é a porta da alma, é pelo olhar que se deve entrar na própria alma da gente. Mas um olhar invertido, um olhar para dentro. Quem assim faz descobre-se parte de um mundo maravilhoso criado por Deus. E cada um na sua singularidade, na sua diferença, é dom, é pleno da graça. Sortudo não é quem olhou e contemplou uma rosa no jardim, mas quem descobriu essa rosa dentro de si mesmo.

Fico aqui olhando da janela do meu escritório para o horizonte e imaginando a imensidão que há dentro de mim, e que tenho muito para desbravar no meu interior, pois, o que eu sou não está fora de mim, mas dentro. Não sou a roupa que visto, o sapato que calço, o carro que uso. Sou um complexo de perfeições e imperfeições, de virtudes e limites, de fragilidades e fortalezas. Mas só é possível descobrir olhando para dentro, para o horizonte da própria alma.

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