OLHAR DA JANELA...
Pe. Cristiano Marmelo Pinto
Da janela de meu escritório vejo outras janelas
e imagino que também dessas janelas outras pessoas, assim como eu, estejam
olhando para o horizonte de muitas janelas, para o horizonte da vida. E vida é
imensidão, assim como o horizonte. E cada janela, pequenos pontos nessa
imensidão da vida, possivelmente deve haver olhares de admiração, olhares de
desejos, olhares de alegrias, olhares de tristezas e tantos outros olhares.
Pensar na vida é olhar de uma janela para a imensidão. Olhando para as outras
janelas, quanta curiosidade em saber quem estaria ali, o que estaria passando
lá dentro, dentro de cada olhar. Olhar para fora é mais simples do que olhar
para dentro.
A vida é assim, quando olhamos para fora vemos
com facilidade, mas, quando o olhar se volta para dentro de nós mesmos, para
dentro do próprio olhar, é desafiador e complexo. Olhar para dentro é poder ver
a própria alma, o próprio coração. E não há lugar onde melhor nos escondemos do
que dentro de nós mesmos. Desbravar esse interior desconhecido, reconectar-se
ao coração é nosso maior desafio. Inevitável certamente. Mais cedo ou mais
tarde a vida nos cobra esse olhar interior, essa busca de nós mesmos que tem o
poder de nos provocar uma inteireza do ser, de descobrir-se humano e de
fazer-se melhor.
O olhar para dentro de nós mesmo deve ser
motivado pela mesma curiosidade que nos move ao tentar saber o que se passa
dentro de cada janela perdida no horizonte da cidade, no horizonte da vida. É
preciso perder o medo de se descobrir como se é, perder o receio de dizer para
si mesmo que nos amamos, nos aceitamos e nos respeitamos, pois, cada ser humano
foi criado por Deus com uma luz própria, com beleza
inigualável e que não corresponde aos padrões impostos pela sociedade, nem por
outras razões quaisquer. Se o olho é a porta da alma, é pelo olhar que se deve
entrar na própria alma da gente. Mas um olhar invertido, um olhar para dentro.
Quem assim faz descobre-se parte de um mundo maravilhoso criado por Deus. E
cada um na sua singularidade, na sua diferença, é dom, é pleno da graça.
Sortudo não é quem olhou e contemplou uma rosa no jardim, mas quem descobriu
essa rosa dentro de si mesmo.
Fico aqui olhando da janela do meu escritório
para o horizonte e imaginando a imensidão que há dentro de mim, e que tenho
muito para desbravar no meu interior, pois, o que eu sou não está fora de mim,
mas dentro. Não sou a roupa que visto, o sapato que calço, o carro que uso. Sou
um complexo de perfeições e imperfeições, de virtudes e limites, de
fragilidades e fortalezas. Mas só é possível descobrir olhando para dentro,
para o horizonte da própria alma.
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