sexta-feira, 22 de fevereiro de 2019


A MORTE COMO CONDIÇÃO PARA VIVER
Para que a páscoa aconteça, a morte deve ser completa.”


Falar da morte como condição para viver soa um tanto estranho, visto que, nossa cultura não possui dimensão para a morte. Queremos viver sem perdas. Mas elas fazem parte da vida e são condições para que a vida flua melhor. Quando se diz: “deixa morrer” geralmente se estranha, pois, morte não cheira bem. Ainda mais quando se diz: “sinto cheiro de morte” parece algo aterrorador.

Freud dizia que: “Se quiseres poder suportar a vida, fica pronto para aceitar a morte.” Somos habituados a pensar na morte somente no campo biológico quando fisicamente deixamos de existir. Mas a morte é um processo em nossa vida. A morte leva, desfaz, extingue. E quantas coisas precisam extinguir em nós! Na vida não é possível levar tudo o que vamos adquirindo nessa jornada. Adquirimos experiências boas e ruins. Abre-se feridas que muitas vezes permanecem sangrando. E quem as carrega corre o risco de abraçar definitivamente a dor.

Além das perdas inevitáveis que a vida nos impõe, é necessário que abramos espaço para aquelas perdas que passam pela nossa decisão de deixar para trás. É preciso deixar morrer mágoas, ranços e tantas outras coisas e sentimentos para seguir em frente, não numa sobrevida, mas para viver plenamente. Por isso a morte é condição para viver. Morrer e deixar morrer é parte necessária desse processo. Como diz a música “Perdas necessárias” do Pe. Fábio de Melo: “Deixa partir o que não te pertence mais, deixa seguir o que não poderá voltar, deixa morrer o que a vida já despediu...”

A vida sempre vai além da morte. Morrer não é o fim e nem deixar morrer o que já deveria ter sido enterrado no passado significa que nossa vida acabou. Só pode ressurgir quem permite-se morrer, quem se torna capaz de deixar para traz coisas, situações, sentimentos e até mesmo pessoas. A ressurreição sempre trará coisas novas, uma vida nova que não será mais aquela de antes. Ter a coragem de permitir-se a esse processo é a arte de aprender viver. E só vive quem deixa morrer.

Paz no coração!
Pe. Cristiano Marmelo Pinto

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