A MORTE COMO CONDIÇÃO PARA VIVER
“Para que a páscoa aconteça, a morte deve ser completa.”
Falar
da morte como condição para viver soa um tanto estranho, visto que, nossa
cultura não possui dimensão para a morte. Queremos viver sem perdas. Mas elas
fazem parte da vida e são condições para que a vida flua melhor. Quando se diz:
“deixa morrer” geralmente se estranha, pois, morte não cheira bem. Ainda mais
quando se diz: “sinto cheiro de morte” parece algo aterrorador.
Freud
dizia que: “Se quiseres poder suportar a vida, fica pronto para aceitar a
morte.” Somos habituados a pensar na morte somente no campo biológico quando
fisicamente deixamos de existir. Mas a morte é um processo em nossa vida. A
morte leva, desfaz, extingue. E quantas coisas precisam extinguir em nós! Na
vida não é possível levar tudo o que vamos adquirindo nessa jornada. Adquirimos
experiências boas e ruins. Abre-se feridas que muitas vezes permanecem
sangrando. E quem as carrega corre o risco de abraçar definitivamente a dor.
Além
das perdas inevitáveis que a vida nos impõe, é necessário que abramos espaço
para aquelas perdas que passam pela nossa decisão de deixar para trás. É
preciso deixar morrer mágoas, ranços e tantas outras coisas e sentimentos para
seguir em frente, não numa sobrevida, mas para viver plenamente. Por isso a
morte é condição para viver. Morrer e deixar morrer é parte necessária desse
processo. Como diz a música “Perdas necessárias” do Pe. Fábio de Melo: “Deixa
partir o que não te pertence mais, deixa seguir o que não poderá voltar, deixa
morrer o que a vida já despediu...”
A
vida sempre vai além da morte. Morrer não é o fim e nem deixar morrer o que já
deveria ter sido enterrado no passado significa que nossa vida acabou. Só pode
ressurgir quem permite-se morrer, quem se torna capaz de deixar para traz
coisas, situações, sentimentos e até mesmo pessoas. A ressurreição sempre trará
coisas novas, uma vida nova que não será mais aquela de antes. Ter a coragem de
permitir-se a esse processo é a arte de aprender viver. E só vive quem deixa
morrer.
Paz
no coração!
Pe.
Cristiano Marmelo Pinto
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