Eurivaldo Silva Ferreira*
Ao participarmos da dinâmica do Ano Litúrgico, nos colocamos numa atitude de devida reverência com o mistério pascal de Cristo. Este mistério pode ser vivido ao longo do próprio Ano Litúrgico, com suas festas e seus tempos, suas celebrações, seus cantos e suas orações.
Um pequeno gesto ou rito nos introduz nesse mistério, no qual o Espírito é o grande ‘despertador’ da ação que o próprio mistério propõe a fazer em nós. Esta ação, própria do Espírito, provoca em nós uma abertura à força sacramental, força que o próprio tempo ou Ano Litúrgico traz em si. Conduzir-se a isso é propor nossas vidas ao que o mistério quer realizar em nós: fazer-nos seres de esperança, em atitude à vinda do Reino de Deus, Reino este que pode ser já vivido no Hoje da nossa história. O Tempo do Advento tem essa característica, é um tempo em que nos colocamos em atitude de alegre e piedosa expectativa pela vinda do Reino entre nós. Foi assim que viveram os personagens bíblicos, dentre eles Zacarias, Maria, João Batista, Simeão e o próprio Jesus Cristo, protagonista do Reino de Deus.
Ao desenvolver meu trabalho de conclusão de curso de Teologia na Pontifícia Faculdade de Teologia Nossa Senhora da Assunção/PUC-SP, decorri sobre o Tempo do Advento. Com este trabalho não tive o intuito de dar a receita certa para a equalização da realização deste Reino entre nós, do qual falei na introdução deste artigo, mas visa mostrar através dos sinais que são próprios do Tempo do Advento, que, com seu sentido próprio, a música litúrgica, o cântico de Zacarias e outros elementos podem contribuir para se viver o Tempo do Advento e dele tirar proveito espiritual para as nossas vidas e atitudes cristãs, fazendo com que essas atitudes se revertam em exercício para a convivência com o mundo cada vez mais sem esperança e impedido de dar continuidade à realização da vontade de Deus.
O Tempo do Advento, apresentado no início do ano litúrgico, relaciona-se com a proposta da Igreja que se faz presente no mundo. Ela anseia pela vinda do Senhor, mas enquanto sua vinda não se faz plenamente, celebra, louva e distribui os sacramentos, na esperança de sua plena concretização. Por isso este tempo, em preparação ao Natal do Senhor, suscita o desejo de que o Senhor venha. Tanto no Tempo do Advento como no Natal, dá-se a realização plena do mistério pascal de Cristo, tudo pela ótica do seu nascimento e de sua concepção terrena. Eis o sinal sacramental próprio do tempo.
No trabalho também avaliei a proposta da música litúrgica própria to tempo, tendo como subsídio o Canto de Zacarias, que considero como protótipo de música ritual, já que seu texto bíblico canta a espera e a presença do Senhor. Parti do ponto de vista do que a Igreja diz sobre a música litúrgica, também chamada de música ritual (aquela que é o rito ou que acompanha o rito litúrgico). Busquei nas fontes primitivo-cristãs uma análise criteriosa, apoiando-a na Sagrada Escritura e na Tradição. Tomando como referência o próprio Cântico de Zacarias, abordei seu sentido bíblico, destacando elementos exegéticos e de caráter da sua concepção, a fim de que este se torne um canto ritual modelo para outros.
Também me ative na análise do conjunto das leituras das celebrações dos quatro domingos do Tempo do Advento, extraindo delas seu conteúdo pedagógico e de esperança que ajuda as comunidades cristãs a renovar seu fervor missionário de anunciadores do reino messiânico, cujo ápice se mostra com seu natal.
Apresentei como proposta atributos de busca de uma espiritualidade própria do Tempo do Advento, que podem levar os cristãos a vivenciarem melhor esse tempo com sinais de que suas certezas não são em vão, e de que o Reino de Deus, ainda que demore, pode ser uma realidade do hoje, vivendo-se a tensão do “já” e do “ainda não”, como afirma São Bernardo. As atitudes de expectativa, de espera e de esperança da firme concretização do Reino de Deus são índoles da própria Igreja, como já disse, que vive neste mundo sob o influxo do domínio do mal, mas que ‘geme e sofre como que em dores do parto’, esperando a segunda vinda daquele que um dia veio na carne humana, ocasião em que se dará a feliz realização do reino.
Portanto, viver o Advento é viver com uma alegre espera, na feliz expectativa da realização do Reino de Deus entre nós. Mas essa espera é revestida de uma esperança escatológica (escathom, do grego = fim último), em meio a tribulações e sofrimentos, assim como viveu o “Filho do Homem” (Lc 21,27), e que se torna sinal de esperança, sinal de que a salvação de Deus prometida desde a Primeira Aliança (AT) está inserida na história humana, conforme a profecia de Daniel que fala da instauração do Reino de Deus, com a vinda de Jesus.
No Tempo do Advento, nossa atitude é de termos a cabeça erguida, de estarmos despertos e acordados, como diz São Paulo na Carta aos Romanos, a fim de que percebamos no decorrer da história os sinais de libertação, sobretudo nos acontecimentos históricos, cujas imagens simbólicas próprias do tempo nos ajudam a compreender como é que se deu no passado, trazendo para o ‘hoje’, tendo como atitudes os princípios da vigilância e da oração, conseqüência da santidade (frutos próprios do tempo). Essas atitudes preparam o coração para a grande vinda, a escatológica (última vinda), e nos conforta sua presença misteriosa através da ação litúrgica (memória da primeira vinda) e através dos pequenos gestos realizados em prol do/a outro/a (vinda intermediária de Cristo), mas que com o auxílio de Deus, isso é possível.
A segunda vinda de Cristo nos concede os bens prometidos na plenitude. Essa salvação é concedida a todas as pessoas, ao mundo, ao cosmos, por isso homem/a mulher são os responsáveis por acolherem a salvação, primeiro ‘abrindo o coração’, ‘aplainando os caminhos’, ‘abaixando as montanhas’. As leituras deste tempo mostram isso, a alegria do povo que se volta, que espera, que permanece fiel, na expectativa da vinda do Messias.
Por isso, posso dizer que celebrar no Tempo do Advento é manifestar no rito e na vida um momento novo para a humanidade nova, para o mundo novo. De fato, a Igreja diz que é necessário se viver num eterno advento, afastando o mal, pois Deus age como um agricultor que recolhe os grãos no celeiro, ou como um lenhador, que coloca o machado ao toco, pronto para cumprir sua missão.
Maria, a imagem da Igreja é a portadora da Arca da Aliança, no seu ventre, sinal da salvação, por isso se entrega totalmente ao projeto de salvação de Deus. Os personagens deste tempo nos ajudam a compreender como é que Deus age em prol da humanidade a fim de salvá-la, guardando-a do mal, mostrando a todos o verdadeiro Sol do Oriente, que ilumina todos os povos que andam por entre as trevas, conforme canta Zacarias.
Ao participarmos da dinâmica do Ano Litúrgico, nos colocamos numa atitude de devida reverência com o mistério pascal de Cristo. Este mistério pode ser vivido ao longo do próprio Ano Litúrgico, com suas festas e seus tempos, suas celebrações, seus cantos e suas orações.
Um pequeno gesto ou rito nos introduz nesse mistério, no qual o Espírito é o grande ‘despertador’ da ação que o próprio mistério propõe a fazer em nós. Esta ação, própria do Espírito, provoca em nós uma abertura à força sacramental, força que o próprio tempo ou Ano Litúrgico traz em si. Conduzir-se a isso é propor nossas vidas ao que o mistério quer realizar em nós: fazer-nos seres de esperança, em atitude à vinda do Reino de Deus, Reino este que pode ser já vivido no Hoje da nossa história. O Tempo do Advento tem essa característica, é um tempo em que nos colocamos em atitude de alegre e piedosa expectativa pela vinda do Reino entre nós. Foi assim que viveram os personagens bíblicos, dentre eles Zacarias, Maria, João Batista, Simeão e o próprio Jesus Cristo, protagonista do Reino de Deus.
Ao desenvolver meu trabalho de conclusão de curso de Teologia na Pontifícia Faculdade de Teologia Nossa Senhora da Assunção/PUC-SP, decorri sobre o Tempo do Advento. Com este trabalho não tive o intuito de dar a receita certa para a equalização da realização deste Reino entre nós, do qual falei na introdução deste artigo, mas visa mostrar através dos sinais que são próprios do Tempo do Advento, que, com seu sentido próprio, a música litúrgica, o cântico de Zacarias e outros elementos podem contribuir para se viver o Tempo do Advento e dele tirar proveito espiritual para as nossas vidas e atitudes cristãs, fazendo com que essas atitudes se revertam em exercício para a convivência com o mundo cada vez mais sem esperança e impedido de dar continuidade à realização da vontade de Deus.
O Tempo do Advento, apresentado no início do ano litúrgico, relaciona-se com a proposta da Igreja que se faz presente no mundo. Ela anseia pela vinda do Senhor, mas enquanto sua vinda não se faz plenamente, celebra, louva e distribui os sacramentos, na esperança de sua plena concretização. Por isso este tempo, em preparação ao Natal do Senhor, suscita o desejo de que o Senhor venha. Tanto no Tempo do Advento como no Natal, dá-se a realização plena do mistério pascal de Cristo, tudo pela ótica do seu nascimento e de sua concepção terrena. Eis o sinal sacramental próprio do tempo.
No trabalho também avaliei a proposta da música litúrgica própria to tempo, tendo como subsídio o Canto de Zacarias, que considero como protótipo de música ritual, já que seu texto bíblico canta a espera e a presença do Senhor. Parti do ponto de vista do que a Igreja diz sobre a música litúrgica, também chamada de música ritual (aquela que é o rito ou que acompanha o rito litúrgico). Busquei nas fontes primitivo-cristãs uma análise criteriosa, apoiando-a na Sagrada Escritura e na Tradição. Tomando como referência o próprio Cântico de Zacarias, abordei seu sentido bíblico, destacando elementos exegéticos e de caráter da sua concepção, a fim de que este se torne um canto ritual modelo para outros.
Também me ative na análise do conjunto das leituras das celebrações dos quatro domingos do Tempo do Advento, extraindo delas seu conteúdo pedagógico e de esperança que ajuda as comunidades cristãs a renovar seu fervor missionário de anunciadores do reino messiânico, cujo ápice se mostra com seu natal.
Apresentei como proposta atributos de busca de uma espiritualidade própria do Tempo do Advento, que podem levar os cristãos a vivenciarem melhor esse tempo com sinais de que suas certezas não são em vão, e de que o Reino de Deus, ainda que demore, pode ser uma realidade do hoje, vivendo-se a tensão do “já” e do “ainda não”, como afirma São Bernardo. As atitudes de expectativa, de espera e de esperança da firme concretização do Reino de Deus são índoles da própria Igreja, como já disse, que vive neste mundo sob o influxo do domínio do mal, mas que ‘geme e sofre como que em dores do parto’, esperando a segunda vinda daquele que um dia veio na carne humana, ocasião em que se dará a feliz realização do reino.
Portanto, viver o Advento é viver com uma alegre espera, na feliz expectativa da realização do Reino de Deus entre nós. Mas essa espera é revestida de uma esperança escatológica (escathom, do grego = fim último), em meio a tribulações e sofrimentos, assim como viveu o “Filho do Homem” (Lc 21,27), e que se torna sinal de esperança, sinal de que a salvação de Deus prometida desde a Primeira Aliança (AT) está inserida na história humana, conforme a profecia de Daniel que fala da instauração do Reino de Deus, com a vinda de Jesus.
No Tempo do Advento, nossa atitude é de termos a cabeça erguida, de estarmos despertos e acordados, como diz São Paulo na Carta aos Romanos, a fim de que percebamos no decorrer da história os sinais de libertação, sobretudo nos acontecimentos históricos, cujas imagens simbólicas próprias do tempo nos ajudam a compreender como é que se deu no passado, trazendo para o ‘hoje’, tendo como atitudes os princípios da vigilância e da oração, conseqüência da santidade (frutos próprios do tempo). Essas atitudes preparam o coração para a grande vinda, a escatológica (última vinda), e nos conforta sua presença misteriosa através da ação litúrgica (memória da primeira vinda) e através dos pequenos gestos realizados em prol do/a outro/a (vinda intermediária de Cristo), mas que com o auxílio de Deus, isso é possível.
A segunda vinda de Cristo nos concede os bens prometidos na plenitude. Essa salvação é concedida a todas as pessoas, ao mundo, ao cosmos, por isso homem/a mulher são os responsáveis por acolherem a salvação, primeiro ‘abrindo o coração’, ‘aplainando os caminhos’, ‘abaixando as montanhas’. As leituras deste tempo mostram isso, a alegria do povo que se volta, que espera, que permanece fiel, na expectativa da vinda do Messias.
Por isso, posso dizer que celebrar no Tempo do Advento é manifestar no rito e na vida um momento novo para a humanidade nova, para o mundo novo. De fato, a Igreja diz que é necessário se viver num eterno advento, afastando o mal, pois Deus age como um agricultor que recolhe os grãos no celeiro, ou como um lenhador, que coloca o machado ao toco, pronto para cumprir sua missão.
Maria, a imagem da Igreja é a portadora da Arca da Aliança, no seu ventre, sinal da salvação, por isso se entrega totalmente ao projeto de salvação de Deus. Os personagens deste tempo nos ajudam a compreender como é que Deus age em prol da humanidade a fim de salvá-la, guardando-a do mal, mostrando a todos o verdadeiro Sol do Oriente, que ilumina todos os povos que andam por entre as trevas, conforme canta Zacarias.
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*É teólogo, formado pela Pontifícia Faculdade de Teologia Nossa Senhora da Assunção/PUC-SP, músico e atua na Rede Celebra de animação litúrgica.
*É teólogo, formado pela Pontifícia Faculdade de Teologia Nossa Senhora da Assunção/PUC-SP, músico e atua na Rede Celebra de animação litúrgica.
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