HOMILIA DO QUINTO DOMINGO DA QUARESMA
(Is 43,16-21; Sl 125; Fl 3,8-14; Jo
8,1-11)
São Maximiliano Kolbe, um santo franciscano
vítima do nazismo dizia: “O meu olhar está constantemente voltado para novos
horizontes.” Foi um homem de uma visão que ia além do seu tempo. Só
caminha para frente quem se torna capaz de olhar para o horizonte, para frente.
Quem olha para trás não caminha. Quem fica preso ao seu passado dificilmente
também conseguirá caminhar.
A liturgia de hoje fala disso: precisamos
deixar o passado no seu lugar e começarmos a olhar para frente. Não viver do
passado, mas no presente para o futuro. Muitos ficam tão presos ao passado, remoendo
seus traumas, suas frustrações, suas derrotas e decepções, e se esquece de
viver, se seguir em frente. A liturgia de hoje tem uma receita para isso: para
nos libertarmos e nos curarmos de nossos traumas e sofrimentos passados é
preciso perdoar.
Mais uma vez na liturgia a palavra-chave é perdão. Porém, a
novidade de hoje é que a liturgia fala do perdão em três estágios: ser perdoado
por Deus (já vimos que ele nos perdoa); ser perdoado pelo outro, e perdoar-se a
si mesmo. Precisamos passar por estas três fases do perdão
Se queremos seguir em frente.
Precisamos ouvir os apelos da primeira e
segunda leitura de hoje. Em Isaías diz-se: “Não relembreis coisas passadas, não olheis para fatos
antigos. Eis que eu farei coisas novas e
que já estão surgindo” (Is
43,18-19); e São Paulo diz na Carta aos Filipenses: “Esquecendo o que fica para trás, eu me
lanço para o que está na frente” (Fl 3,13).
Estamos já bem próximos da Páscoa. E Páscoa é
vida nova! É hora de esquecer o passado e começar uma vida nova, vida de
pessoas renascidas em Deus. Esquecer na liturgia de hoje significa perdoar. Isaías
mostra um Deus misericordioso que liberta. Uma vez libertados, não podemos
ficar olhando para o passado, para coisas antigas, para erros passados. Quem
fica olhando para o passado é sinal de que não se perdoou. Não se deve mexer em
defunto enterrado.
O importante é saber que Deus faz coisas novas,
nos dá novas oportunidades, abre novos caminhos que devem ser trilhados. Quem
tem dificuldade de esquecer os erros e os sofrimentos passados mostra que tem
dificuldade de perdoar e por isso, não é uma pessoa livre para seguir em
frente.
Quem consegue perdoar, quem se perdoa, consegue
ver que Deus tem aberto caminhos em nossa vida para sermos felizes. Ficar preso
ao passado nos impede de vermos isso. Quem fica preso ao passado, mesmo que se
confesse, não consegue sentir-se perdoado, isso acontece porque a própria
pessoa não se perdoou. E é muito provavelmente não é capaz de perdoar os
outros.
O evangelho de hoje é um exemplo de que devemos
passar pelas três fases do perdão. Os doutores da Lei e os fariseus tramaram uma
armadilha para pegar Jesus. Colocam diante dele uma mulher surpreendida em
adultério e, pela Lei, ela deveria ser apedrejada. O que faz Jesus diante desta
situação? Solta a famosa frase que usamos muito, mas temos dificuldade de
colocar em prática: “Quem não tiver pecado, atire a primeira pedra” (Jo 8,7). O evangelho diz que foram saindo um por
um, a começar pelos mais velhos. Sobrou ele e a mulher adultera. Então ele
pergunta para a mulher: “Onde estão eles? Ninguém te condenou?” (Jo 8,10). Ela respondeu: “Ninguém, Senhor” (Jo 8,11). Diante disso Jesus diz para ela: “Eu também não
te condeno. Podes ir e, de agora em diante, não peques mais” (Jo
8,11).
O que Jesus mostra com isso? Que aqueles que
condenavam a mulher não eram santos como pareciam. Que Deus não nos condena. E
que nos dá sempre a chance de uma vida nova. De seguirmos em frente sem cometer
os mesmos erros. Em outras palavras, aqueles homens viram que não podiam
condenar aquela mulher, mas perdoá-la. Então, o fato de terem saído significa
que tiveram que perdoar aquela mulher. Jesus perdoou, ou seja, Deus perdoou. E
por fim, ela mesma se perdoou e se deu a chance de uma vida nova. Sabemos que
ela se tornou uma fiel discípula de Jesus. Deixou o seu passado de lado e
assumiu uma nova vida, renascida pela graça do perdão. Então, Jesus a perdoou,
possibilitou que os outros a perdoassem e fez com que ela mesma se perdoasse e
seguisse em frente.
Nós também podemos e devemos fazer o mesmo, seja
dando o nosso perdão aos outros, reconhecendo também nossas fragilidades, perdoando-se
a si próprio, e sentindo-se perdoado por Deus. E o que nos resta diante disso:
vida nova! Seguir em frente, abraçar os novos caminhos que Deus nos abre, os
novos horizontes.
Portanto, meus amigos e irmãos, se você está
vivendo do seu passado, se você está preso nele e não consegue ver uma vida
nova, um futuro para você, se liberte, deixe tudo para trás, deixa partir...
deixa seguir... deixa morrer... Como diz aquela música do Pe. Fábio de Melo
(Perdas Necessárias): “Abra a porta do quarto e a janela, que o possível da
vida te espera. Vem depressa que a vida precisa continuar...”
Permita ser perdoado e a perdoar a si mesmo. Como
diz a música: “O
que foi já não serve, é passado, e o futuro ainda está do outro lado, e o
presente é o presente que o tempo quer te entregar...” Peça para que
Deus te liberte e te cure do passado, e siga em frente, seja feliz, seja de
Deus...
Paz no coração de todos!
Pe. Cristiano Marmelo Pinto
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