Pe. Cristiano Marmelo Pinto
1. Introdução
A Igreja, embora seja uma instituição divina, é também um fator cultural. Conseqüentemente a ação pastoral é uma ação humana, que está sujeita as contingências de qualquer ação, realizada dentro de uma determinada realidade sócio-cultural. Conforme cada época, cada circunstância, a ação pastoral, bem como a própria Igreja será moldada por estes fatores. Do fator cultural e social surgirão “modelos eclesiológicos” e “modelos de ação pastoral” que corresponda à realidade concreta em que está inserida.
Estudaremos alguns modelos eclesiológicos com sua ação pastoral específica. Queremos com este estudo buscar caminhos para a nossa ação pastoral hoje, e podermos responder a nossa realidade de maneira eficaz.
2. Modelo normativo neo-testamentário
Este modelo neo-testamentário foi sendo tecido pela tradição apostólica, constituída pelas Escrituras e inspirada pelo Espírito Santo. Neste modelo, Espírito Santo e Igreja estão juntos indissoluvelmente. O tempo da Igreja é ao mesmo tempo do Espírito. A Igreja é uma instituição aberta para todos, pública, e não fechada sobre si mesma.
Podemos elencar sete elementos que caracterizam este modelo:
1º) A Igreja é apostólica. Não há Igreja sem apóstolos. Eles são as testemunhas vivas de Cristo Ressuscitado. Os apóstolos são os primeiros na missa e na pregação.
2º) A Igreja é uma. Esta unidade da Igreja vem de Deus – da Trindade. Vem também da sua constituição: “uma só fé, um só batismo e um só Espírito”. A Igreja constitui um só rebanho em torno de um só pastor.
3º) É Igreja da Palavra e dos Sacramentos. A Igreja da Palavra anuncia o Evangelho. Isto se dá principalmente pelo testemunho cristão. Pelo batismo, a Igreja faz acontecer a nova criação, pois ele insere o cristão no mistério pascal de Cristo. A eucaristia é o melhor exemplo de pertença ao Reino de Deus.
4º) A Igreja é regida pelos carismas e ministérios. No N.T. não há contraposição entre carisma e ministério. Não há duas classes de cristãos (clérigos e leigos), mas uma só comunidade, que é toda ela ministerial.
Embora os ministérios se distingam uns dos outros, eles não se separam. É uma Igreja da Palavra, da pregação. Também é uma Igreja do serviço (diaconia). Estas duas características da Igreja neo-testamentária são fundamentais.
5º) A Igreja é uma comunidade de convertidos. A fé é concebida como acolhida do Evangelho. A fé se faz concreta no amor simultâneo a Deus, a Jesus e aos irmãos.
6º) A Igreja está no mundo, mas não é do mundo. Ela está no mundo para ser sinal (sacramento) de salvação para o mundo. Embora esteja no mundo, a Igreja vem de Deus. Estando no mundo, a Igreja não partilha de sua mentalidade e tendências.
7º) A Igreja é uma realidade escatológica. A Igreja vive entre o já e o ainda não. Com sua missão e testemunho, a Igreja nos faz vislumbrar aquilo que esperamos no fim dos tempos.
3. Modelos históricos e sua trajetória eclesial
3.1. PASTORAL PROFÉTICA
I. Modelo Eclesial:
Em cada cidade havia uma única Igreja (ecclesia), unida em torno da celebração da eucaristia dominical e reunida ao redor de um colégio de presbíteros. Porém poderiam existir vários lugares para a celebração (domus ecclesiae). As pessoas que integravam a comunidade normalmente eram pessoas simples, pobres, da periferia das cidades. Há uma única categoria de cristãos: os batizados. Os catecúmenos ainda não faziam parte da comunidade, eles estavam se preparando para isto.
Neste modelo de Igreja, tudo é missão de todos. Havia co-responsabilidade. Somente a partir do século III é que vai se impor a tríade: bispo-presbítero-diácono, embora eles já existam desde o século II. Com Santo Inácio de Antioquia (107) vai surgir o termo “leigo” para distinguir do clero. Este termo já aparece na carta de Clemente Romano, no século I (anos 90).
É uma Igreja ministerial. Embora haja distinção entre leigos e clero, os leigos exercem importante papel na comunidade, inclusive na eleição dos bispos e presbíteros e na administração dos bens da comunidade. Haviam em muitas Igrejas o “conselho de leigos”. Na Igreja local se faz presente a Igreja universal. A Igreja geralmente é denominada mãe (mater ecclesiae), esposa de Cristo (sponsa Christi) e mistério de comunhão (koinonia). Ela se concebe como pequeno rebanho sem nenhum triunfalismo.
II. Modelo de ação
O modelo eclesial deste período é concebido a partir da ação. Três ações principais ocupam a vida dos cristãos desta época: 1º) O testemunho de vida (martyria); 2º) Proclamação da fé em Jesus Cristo (kerigma); 3º) Ensino da Palavra de Deus (didaskalia).
A Palavra e a pregação ocupam o lugar central, principalmente na vida dos que estão a frente da comunidade. A ação pastoral está centrada no testemunho e no anúncio, na celebração e na assistência aos pobres. O anúncio é feito pela pregação missionária, pela homilia e pela catequese. A reflexão teológica é basicamente bíblica.
Com a controvérsia dos lapsis (cristãos que tinham renunciado a fé por causa das perseguições) e dos traditori (responsáveis pela Igreja que, devido as perseguições, entregaram os livros sagrados ao Império Romano), a reconciliação e a penitência adquire grande importância. Havia grande resistência dos cristãos em integrar estruturas pagãs (como serviço militar, cargos públicos, comércio, etc.).
3.2. PASTORAL SACRAMENTAL (Igreja como mistério de comunhão)
I. Modelo eclesial
O modelo eclesial medieval está ligado ao conceito de cristandade, que tem conotação claramente estatal ou imperial. Isto acontece principalmente depois que Constantino no século IV deu liberdade de religião aos cristãos. A cristandade é vivida e entendida como uma realidade eclesial e política. Os dois poderes conjugam juntos: o poder sacerdotal e o poder político, sendo a autoridade máxima o sumo Pontífice. O papa adquire o perfil imperial. O povo se converte em povo cristão ou cristandade (populus christianus). O inimigo não é o mal espiritual, mas o inimigo do império. Não ser cristão é ser inimigo do império.
A imagem de Igreja desta época é de corpus Christi, não como referência á realidade misteriosa da Igreja inserida em Cristo – cabeça, mas na dimensão sociológica. Tornam-se evidentes os aspectos jurídicos. A Igreja tem a totalidade da ordem temporal e espiritual. Ela se apresenta como uma sociedade de poder. A missão da Igreja é ordenar o mundo segundo a “lei de Cristo”. A imagem de “Igreja mãe” (ecclesia mater) é substituída pela imagem de “Igreja imperial” (ecclesia regina). A imagem de Cristo bom pastor é substituída pela imagem do Cristo Rei.
Põe-se em evidência a soberania e o domínio do poder espiritual da Igreja sobre a humanidade. Concebe-se a Igreja originaria do poder de Cristo que é passado para os apóstolos e conseqüentemente aos bispos. Não há lugar neste modelo para o Espírito Santo. Tudo procede do direito divino, entregue por Cristo a hierarquia da Igreja.
II. Modelo de ação
A ação pastoral decorrente deste modelo é rural. Dar-se-á a passagem, na Idade Média, de um cristianismo bem estruturado socialmente ao redor do bispo a um cristianismo fragmentado em paróquias rurais distantes, organizado em torno do presbítero. O bispo terá seu papel pastoral diminuído e sua função sócio-política será valorizada.
O bispo assumirá a função de defensor da cidade, encarregado de responsabilidades temporais:
a) exercício do poder jurídico;
b) colaboração na administração e economia da região;
c) papel militar e conselheiro de príncipes.
A identidade antes eucarística e sacramental das comunidades, agora está em torno do presbítero. O bispo terá muito da figura do príncipe e o presbítero do senhor feudal. A Igreja em lugar de encarnar-se na história, irá absolver o mundo, pelo poder recebido. O clero será associado ao espiritual e os leigos ao temporal. Também passa a fazer parte do cristianismo uma visão pejorativa do mundo. Vê-se nas tarefas seculares dos leigos um perigo para a autonomia espiritual e para a liberdade da Igreja diante do mundo. Por isso o modelo de vida perfeitamente cristã desta época será a monástica e celibatária, longe do mundo (fuga mundi). Na Igreja medieval haverá um forte declíneo cultural do clero. Irá surgir o “alto” e o “baixo” clero. O primeiro urbano e erudito. O segundo, malformado e disperso. Geralmente sem acesso a escrita, analfabetos.
A pregação ficará a cargo das ordens mendicantes, criadas com essa finalidade, para cobrir a lacuna, pois o clero não tinha nenhuma formação. Progressivamente se dará a separação entre clero secular (diocesanos) e clero regular (religiosos). Enquanto os diocesanos são iletrados e rurais, os religiosos freqüentam as universidades, prestam importantes serviços aos papas, como as cruzadas, a inquisição, etc. Um fato grave no modelo medieval é o fim da catequese de adultos – o catecumenato. A conversão em massa ao cristianismo, sem nenhuma catequese, reduz a qualidade dos cristãos.
3.3. PASTORAL COLETIVA (Igreja como sociedade perfeita)
Neste período podemos perceber dois momentos distintos. O primeiro faz frente à Reforma Protestante, com a contra-reforma. O segundo, toma posição contra a Modernidade, que por sua vez promoverá a emancipação da pessoa humana e do mundo (A Igreja vai perdendo campo). Neste período aconteceram dois concílios: primeiro período: Concílio de Trento; segundo período: Concílio Vaticano I.
I. Modelo eclesial
O modelo eclesial dos dois períodos é o da neocristandade, alicerçada no teocentrismo e no eclesiocentrismo, o dualismo espiritual-temporal e clero-leigo. A Igreja é vista como instituição, com seu caráter universal, acentuando a hierarquia sobre os leigos e os sacramentos como único meio de salvação.
O único vigário de Cristo na terra é o Papa. A Igreja é compreendida como “sociedade perfeita”. Questionada a autoridade do papa (modernidade), vai-se criando dispositivos de defesa. No Concílio Vaticano I, vai-se definir o primado do papa e sua infabilidade, acirrando a centralização romana. Cresce o papel da nunciatura e sua ingerência na nomeação dos bispos.
II. Modelo de ação
No primeiro momento da Igreja na modernidade, a ação pastoral será sacramentaria, seguindo o modelo medieval, acentuando o valor dos sacramentos em si mesmo. A Igreja se compreende como única depositária de todos os meios de salvação. Para ir contra a reforma protestante, a vida católica irá girar em torno da presença real de Jesus no Santíssimo Sacramento, com suas especificações: adoração ao Santíssimo; missa como sacrifício; devoção à Virgem Maria, etc.
Enquanto os protestantes colocam a Bíblia nas mãos do povo, da parte católica ela é tirada. Procura-se suprir a ignorância do povo com os “catecismos”, contendo as verdades católicas. Trento centraliza o culto, de forma que a liturgia por quatro séculos não sofrerá alteração nenhuma até o Vaticano II.
A ação pastoral é de cunho apologético, ou seja, de defesa do catolicismo e contra o protestantismo. Enquanto os protestantes valorizam a Palavra, os católicos valorizam a fé devocional. Enquanto os protestantes procuram a simplicidade, da parte católica busca-se a exuberância e a ostentação (templos barrocos, a liturgia, etc.). A pastoral continua centrada na paróquia, com mentalidade rural, agora até mesmo nas grandes cidades.
Num segundo momento da Igreja na modernidade, a ação da Igreja que continua apologética, passa da cristandade para a neo-cristandade. Este modelo vai se tecendo por meio da busca da Igreja em se fazer publicamente presente nos meios sociais, configurado no denominado catolicismo social. Se a ação pastoral pós-tridentina era contra a reforma protestante, agora será contra a modernidade nascente. Tudo isto vai desembocar no Concílio Vaticano I. A postura apologética da Igreja Católica procura defender-se de dois inimigos: o liberalismo e o socialismo. O primeiro atenta contra a Igreja Católica como única religião verdadeira e contra o Magistério. O segundo, atenta contra a propriedade privada que é um direito natural, e reduz a pessoa a uma igualdade que fere as diferenças. O catolicismo social é uma reação contra anti-moderno, anti-revolucionário, anti-liberal e anti-socialista. Ele inscreve-se num contexto de restauração católica.
3.4. PASTORAL DE CONJUNTO (a Igreja como Povo de Deus)
A pastoral de conjunto e a eclesiologia “povo de Deus” é uma característica do Concílio Vaticano II. O papa Pio X (1903-1914), apesar do seu conservadorismo, tinha uma grande preocupação pastoral e marcou o início do processo de renovação da Igreja com o princípio de “volta às fontes”. Com isto surgiram teólogos com uma grande preocupação pastoral.
O Concílio Vaticano II foi sendo preparado aos poucos pelos diversos movimentos de renovação que surgiram, tais como: movimento bíblico, movimento litúrgico, movimento catequético, movimento eclesiológico, movimento ecumênico, movimento leigo, etc.
I. Modelo eclesial
O Concílio Vaticano II, sem deixar de ser teológico, foi principalmente um concílio pastoral. Os padres do concílio desdobrando-se sobre a Igreja, buscaram uma auto-compreensão da mesma, frente aos novos sinais dos tempos. Estabeleceram um diálogo com o mundo moderno numa atitude de solidariedade e cooperação.
Os principais elementos do modelo de Igreja estabelecido pelo Concílio Vaticano II são:
1º. A Igreja é entendida como comunhão (LG, 8-9)
a) A Igreja é sacramento de unidade;
b) Os ministérios são expressões da diversidade de dons;
c) Elabora uma nova teologia dos ministérios ordenados;
d) Os leigos recuperam sua identidade e lugar na Igreja;
e) A comunhão não é mera unidade ou obediência, mas a unidade na diversidade de seus membros.
2º. A Igreja é entendida como Povo de Deus (LG 9-13)
a) Povo de Deus são todos os batizados;
b) Todo o povo de Deus é santo, pecador, ungido, profético, carismático, serviçal, e participa da mesma missão de Jesus Cristo;
c) A Igreja é sacramento (sinal – instrumento) do Reino de Deus.
3º. A Igreja entendida como sacramento de salvação (LG 48)
a) Supera a idéia de que fora da Igreja não há salvação;
b) A Igreja é compreendida como sacramento de uma salvação universal;
c) O mistério de Cristo ultrapassa as fronteiras da Igreja;
d) Mesmo que não haja salvação fora de Jesus Cristo, ela pode acontecer de forma implícita fora da Igreja;
e) A verdadeira Igreja de Jesus Cristo subsiste na Igreja Católica e não somente nela.
4º. A Igreja é entendida como servidora do Reino de Deus no mundo (GS 1)
a) A Igreja não existe para si mesma, mas para o Reino de Deus;
b) O Reino de Deus não se esgota na Igreja;
c) A Igreja é sinal, sacramento do Reino de Deus na história;
d) Ela deve ter uma atitude de serviço, de cooperação ao mundo.
5º. A Igreja universal presente na Igreja particular (LG 23, AG 20,38)
a) O Concílio redescobriu a universalidade de Igreja na particularidade das Igrejas locais (dioceses);
b) Para o Concílio, catolicidade não é uniformidade generalizada;
c) A universalidade da Igreja não se deve a uma única forma de ser, mas a mesma fé, a mesma fonte trinitária e ao dom da salvação de Deus oferecido a todo o gênero humano;
d) Na Igreja local está toda a Igreja de Cristo;
e) A Igreja quanto mais inculturada, mais ela será universal.
II. Modelo de ação
Neste período a ação pastoral está voltada para a reflexão, assim como a Igreja primitiva e antiga, que foi se configurando a partir das exigências e necessidades da evangelização. Toma-se respeito pela autonomia das ciências. É preciso buscar uma nova forma de presença da Igreja na sociedade e no mundo. Um espírito de diálogo e serviço.
Os leigos encontram seu lugar na Igreja e assumem o seu protagonismo. Nascem com isto novos ministérios leigos, não somente para dentro da Igreja, mas também para fora dela.
Surge a catequese renovada, a liturgia ligada a vida e a pastoral social, fruto da consciência de uma vivência mais radical do tríplice ministério do batismo (ministério profético, litúrgico e da caridade).
O sujeito da ação da Igreja deixa de ser o clero para ser toda a comunidade de batizados, toda ela ministerial, fundada no mesmo batismo e no mesmo sacerdócio comum, cuja fonte é Cristo.
A missão não será tanto ir ao encontro dos afastados para trazê-los de volta para a Igreja, mas de anunciar o Evangelho gratuitamente e encarná-lo na história.
Supera-se o paroquialismo pastoral e redescobre-se a dimensão diocesana da ação pastoral.
3.5. PASTORAL DE COMUNHÃO E PARTICIPAÇÃO
Este modelo de Igreja desenvolveu-se no contexto de América Latina, na perspectiva de uma melhor recepção do Concílio Vaticano II. Os bispos da América Latina não deram grandes contribuições para o Concílio, por outro lado, souberam assimilar seu espírito e fizeram dele o ponto de partida para a ação pastoral da Igreja latino-americana. A luz da opção preferencial pelos pobres, a Igreja latino-americana aprofundou as intuições do Concílio conforme a realidade do continente.
I. Modelo eclesial
O modelo de Igreja na América Latina adquiriu um rosto próprio, uma Igreja com o rosto dos pobres, comunidade de comunidades. Dela nasceram pequenas comunidades inseridas no contexto de exclusão social.
No Concílio de Jerusalém, a Igreja nascente abre-se para os pagãos. No Concílio Vaticano II, a Igreja abre-se para o mundo. Em Medellín, a Igreja abre-se para os pobres, e em Puebla a Igreja abre-se para ás culturas.
O Concílio Vaticano II acena para uma Igreja Povo de Deus. A Igreja na América Latina irá situar o Povo de Deus no contexto histórico de toda a humanidade, partilhando do seu mesmo destino.
O Concílio Vaticano II conclama todos os batizados para a missão no mundo. Na América Latina esta missão se dará num compromisso de transformação da sociedade atual em uma nova sociedade, uma ação não meramente religiosa, mas em todos os campos da vida do povo latino-americano.
O papa João XXIII desejava uma Igreja dos pobres. Na América Latina isto se dará na opção preferencial pelos pobres contra toda forma de pobreza e exclusão seja ela política, social, econômica e religiosa. Esta opção preferencial dá-se: na inserção nos meios populares (Medellín, 14,7-10); na transformação das estruturas (Santo Domingo, 4,8-17); numa atitude profética; numa Igreja mártir, a exemplo de Jesus Cristo.
II. Modelo de ação
A ação pastoral derivada deste modelo de Igreja está vinculada ao protagonismo dos leigos e pobres. Os leigos são vistos como sujeitos, com ministérios próprios, com formação bíblica, teológica e pastoral. Também é dado aos leigos um importante papel nas decisões.
Quanto aos pobres, eles passam de objeto de caridade, para sujeitos de um mundo solidário e fraterno. Além de assumir sua causa, a Igreja também assume seu lugar social, numa perspectiva de libertação.
Nascem serviços de pastoral com espiritualidade e fundamentação própria. Surgem entre outras as: pastoral operária, pastoral da terra, pastoral da saúde, pastoral dos direitos humanos, pastoral da criança, pastoral da ecologia, pastoral da consciência negra, pastoral da mulher marginalizada, pastoral do menor, pastoral dos indígenas, etc.
Para isso, a Igreja é organizada em pequenas comunidades de base, onde acontece uma leitura popular da Bíblia. Esforça-se para formar uma Igreja com rosto próprio, encarnando na cultura dos povos latino-americano os ritos e símbolos da fé cristã.
A reflexão teológica é contextualizada, seja no âmbito acadêmico como popular. A catequese privilegia a experiência e inserção comunitária no processo de educação na fé. A liturgia faz interação entre a páscoa de Jesus e a páscoa do povo.
4. Conclusão
Em nosso estudo vimos que em diferentes épocas a Igreja se deparou com desafios novos e procurou respondê-los do melhor modo possível. É difícil fazer um julgamento sobre qual deles está certo ou não, pois a Igreja buscou responder aos desafios dentro das condições possíveis de cada época. Porém, podemos dizer que a rigor há um único modelo de Igreja e de ação pastoral, que foi se configurando de modos distintos, conforme os diferentes períodos em que a Igreja se encontrava. É este modelo normativo que, com roupagem nova em épocas diferentes, faz com que a Igreja seja a Igreja de Jesus Cristo.
Vimos pelo menos cinco modelos de ação pastoral em diferentes épocas: a pastoral profética; a pastoral sacramental; a pastoral coletiva; a pastoral de conjunto e a pastoral de comunhão e participação.
É difícil hoje distinguir separadamente cada um deles no interior de nossas comunidades. Numa mesma comunidade podem estar presentes diferentes modelos de ação pastoral e eclesial. O importante é fazermos uma boa síntese de todos os modelos presentes nas comunidades, para subtrairmos deles o que há de melhor, visto que todos possuem vantagens e desvantagens.
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Aula de Teologia Pastoral ministrada no Curso Básico de Teologia para Leigos e Leigas da Região Utinga – Santo André – SP no ano de 2009.
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