Por Pe Vitor Feller
O Sumo Sacerdote, Jesus Cristo, não pertencia à classe sacerdotal. Mas, como todo bom judeu, desde os doze anos visitava o templo de Deus, para orar e oferecer sacrifícios ao Pai celeste. Em seu ministério de pregação do Reino e na sua predileção pelos últimos, Jesus de Nazaré fez de si mesmo o novo templo de Deus. No episódio da expulsão dos vendilhões, o evangelista João atesta que “ele falava do santuário de seu corpo” (Jo 2,21). A Carta aos Hebreus, ao falar do sacerdócio de Cristo, insiste que ele é o único e eterno sacerdote, porque entrega a sua vida, é capaz de se compadecer das fraquezas humanas e nos convida a seguir o seu exemplo, vivendo a vida cristã na obediência à vontade do Pai e na entrega total até a morte. Como Jesus, todo presbítero deve também fazer de sua vida uma liturgia, isto é, deve sacrificar-se pelo Reino, na fidelidade ao Pai e no empenho pela salvação da humanidade. Deve fazer de seu corpo, isto é, de todo o seu ser e agir, um templo para Deus. Neste sentido de uma vida sacrificada, o presbítero é o homem da liturgia. Por isso, é o homem do templo, do tabernáculo. Lugar por excelência em que ele exerce essa missão é a presidência das celebrações litúrgicas, sobretudo da Missa.
A poesia da missa
A poeta Adélia Prado, uma das mais conhecidas escritoras brasileiras da atualidade, em um encontro sobre canto e liturgia, em Aparecida, falou sobre linguagem poética e linguagem litúrgica. Ao propor um resgate da beleza simples e sóbria da liturgia católica, ela cunhou a seguinte frase, que já se tornou clássica: “Missa é como um poema, não suporta enfeite nenhum”. Ela se referia ao péssimo costume de muitos padres e auxiliares da celebração da missa (comentaristas, leitores, cantores) que não respeitam a linguagem poética da missa, a linguagem do sagrado. Fazem da missa um acúmulo de acessórios e ruídos: comentários, explicações, gritos, gestos incontidos, cartazes de todo tipo, avisos infindos. Usam instrumentos musicais inadequados para o canto litúrgico, como as estridentes baterias, mais apropriadas para shows e espetáculos do mundo. Servem-se de coisas impróprias para a santidade da liturgia: cantos barulhentos, microfones altíssimos, papéis e mais papéis jogados sobre o altar, bordados e rendas nas alfaias e nas vestes do padre. Tudo coisas que desrespeitam a sobriedade da Missa. Acham que a Tradição da Igreja é ignorante em matéria de liturgia e, por isso, arvoram-se em criadores de coisas novas. Não para louvar a Deus, que é simples na sua unidade, bondade e beleza, mas para agradar aos homens e, talvez, para se autoglorificarem. Com isso, perdem uma grande oportunidade, a única oportunidade, de fazer da Missa o cartão de visitas da comunidade cristã. A história do cristianismo testemunha que muita gente se converteu à fé católica ao participar de uma Missa bem celebrada, com unção e poesia, com simplicidade e beleza.
O mistério da missa
A liturgia, sobretudo a Missa, celebra o mistério pascal, o mistério da morte e da ressurreição do Senhor. É a ocasião em que o fiel se prostra diante de Deus, o humano diante do divino. É a hora do silêncio, do vazio interior, para se ouvir a voz de Deus. Outra bela frase de Adélia Prado é: “a palavra foi inventada para ser calada”. O ritual da Missa foi elaborado por especialistas em liturgia, gente que entende do jogo simbólico entre palavra e silêncio. Todas as palavras do ritual da Missa – as saudações e orações do presidente, as súplicas do Ato Penitencial, a linda oração do Hino de Louvor, as leituras bíblicas, a oração eucarística etc. – estão fundamentadas na Palavra de Deus. Na forma de um jogo simbólico que se reveza entre o presidente e a assembleia, todo o ritual litúrgico é também Palavra de Deus. Daí a necessidade de proclamá-la com unção, de ouvi-la no silêncio do coração, de fazer momentos de silêncio para deixar que essa Palavra divina – na escritura e na liturgia – penetre todos os meandros de nosso ser pessoal e de nossas relações comunitárias. O mundo de hoje tem horror ao silêncio, ao vazio. Parece haver um medo de que no silêncio Deus nos fale! Tudo tem que ser preenchido com palavras e barulhos e ruídos humanos.
O ministério do padre
Como presidente da assembleia litúrgica, o presbítero deve ter consciência de que está fazendo as vezes de Cristo, o único Cabeça da Igreja. Cabe a ele garantir a santidade e a sobriedade da liturgia. Para tanto, deve fazer da liturgia o centro de seu ministério. Junto com o múnus da liturgia, o múnus da profecia e o da caridade constituem o essencial da missão da Igreja. Nesses três ministérios, que ao final se auto-implicam, temos toda a vida cristã e, por excelência, a vida do presbítero. O padre existe para isso. Nesse sentido, ele é o homem do templo, do tabernáculo, do altar. Ele é o homem da Missa, enquanto esta se entende como celebração da paixão, da morte e da ressurreição do Senhor. Assim, na Missa o padre celebra também sua paixão pelo Povo de Deus e pelo Reino de Deus, realiza sua morte – a morte de seus sentimentos, pensamentos, desejos, preocupações etc. – como oferta da vida, e festeja sua ressurreição, sua transfiguração como um outro Cristo, o único sacerdote que, efetivamente, preside a assembleia cristã.
Convido, pois, os leitores para que orem, pelos seus sacerdotes para que sejam homens do templo, do tabernáculo, do altar, para que presidam a liturgia com a unção e a santidade do único e eterno sacerdote, Jesus Cristo.
A poesia da missa
A poeta Adélia Prado, uma das mais conhecidas escritoras brasileiras da atualidade, em um encontro sobre canto e liturgia, em Aparecida, falou sobre linguagem poética e linguagem litúrgica. Ao propor um resgate da beleza simples e sóbria da liturgia católica, ela cunhou a seguinte frase, que já se tornou clássica: “Missa é como um poema, não suporta enfeite nenhum”. Ela se referia ao péssimo costume de muitos padres e auxiliares da celebração da missa (comentaristas, leitores, cantores) que não respeitam a linguagem poética da missa, a linguagem do sagrado. Fazem da missa um acúmulo de acessórios e ruídos: comentários, explicações, gritos, gestos incontidos, cartazes de todo tipo, avisos infindos. Usam instrumentos musicais inadequados para o canto litúrgico, como as estridentes baterias, mais apropriadas para shows e espetáculos do mundo. Servem-se de coisas impróprias para a santidade da liturgia: cantos barulhentos, microfones altíssimos, papéis e mais papéis jogados sobre o altar, bordados e rendas nas alfaias e nas vestes do padre. Tudo coisas que desrespeitam a sobriedade da Missa. Acham que a Tradição da Igreja é ignorante em matéria de liturgia e, por isso, arvoram-se em criadores de coisas novas. Não para louvar a Deus, que é simples na sua unidade, bondade e beleza, mas para agradar aos homens e, talvez, para se autoglorificarem. Com isso, perdem uma grande oportunidade, a única oportunidade, de fazer da Missa o cartão de visitas da comunidade cristã. A história do cristianismo testemunha que muita gente se converteu à fé católica ao participar de uma Missa bem celebrada, com unção e poesia, com simplicidade e beleza.
O mistério da missa
A liturgia, sobretudo a Missa, celebra o mistério pascal, o mistério da morte e da ressurreição do Senhor. É a ocasião em que o fiel se prostra diante de Deus, o humano diante do divino. É a hora do silêncio, do vazio interior, para se ouvir a voz de Deus. Outra bela frase de Adélia Prado é: “a palavra foi inventada para ser calada”. O ritual da Missa foi elaborado por especialistas em liturgia, gente que entende do jogo simbólico entre palavra e silêncio. Todas as palavras do ritual da Missa – as saudações e orações do presidente, as súplicas do Ato Penitencial, a linda oração do Hino de Louvor, as leituras bíblicas, a oração eucarística etc. – estão fundamentadas na Palavra de Deus. Na forma de um jogo simbólico que se reveza entre o presidente e a assembleia, todo o ritual litúrgico é também Palavra de Deus. Daí a necessidade de proclamá-la com unção, de ouvi-la no silêncio do coração, de fazer momentos de silêncio para deixar que essa Palavra divina – na escritura e na liturgia – penetre todos os meandros de nosso ser pessoal e de nossas relações comunitárias. O mundo de hoje tem horror ao silêncio, ao vazio. Parece haver um medo de que no silêncio Deus nos fale! Tudo tem que ser preenchido com palavras e barulhos e ruídos humanos.
O ministério do padre
Como presidente da assembleia litúrgica, o presbítero deve ter consciência de que está fazendo as vezes de Cristo, o único Cabeça da Igreja. Cabe a ele garantir a santidade e a sobriedade da liturgia. Para tanto, deve fazer da liturgia o centro de seu ministério. Junto com o múnus da liturgia, o múnus da profecia e o da caridade constituem o essencial da missão da Igreja. Nesses três ministérios, que ao final se auto-implicam, temos toda a vida cristã e, por excelência, a vida do presbítero. O padre existe para isso. Nesse sentido, ele é o homem do templo, do tabernáculo, do altar. Ele é o homem da Missa, enquanto esta se entende como celebração da paixão, da morte e da ressurreição do Senhor. Assim, na Missa o padre celebra também sua paixão pelo Povo de Deus e pelo Reino de Deus, realiza sua morte – a morte de seus sentimentos, pensamentos, desejos, preocupações etc. – como oferta da vida, e festeja sua ressurreição, sua transfiguração como um outro Cristo, o único sacerdote que, efetivamente, preside a assembleia cristã.
Convido, pois, os leitores para que orem, pelos seus sacerdotes para que sejam homens do templo, do tabernáculo, do altar, para que presidam a liturgia com a unção e a santidade do único e eterno sacerdote, Jesus Cristo.
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Pe. Vitor Galdino Feller
Diretor e professor de teologia no ITESC - Instituto Teológico de Santa Catarina.
Pe. Vitor Galdino Feller
Diretor e professor de teologia no ITESC - Instituto Teológico de Santa Catarina.
Fonte:
http://www.anosacerdotal.org.br/ (Arquidiocese de Florianópolis)
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