Buscar o Reino de Deus e o resto vem por acréscimo
Homilia do 8º Domingo do Tempo Comum - Ano A
Isaías 49,14-15; Salmo 61(62); 1Coríntios 4,1-5;
Mateus 6,24-34
Jesus
termina o evangelho deste domingo com uma afirmação: “Para cada dia bastam seus próprios problemas.” (Mt 6,34). Esta é
uma afirmação que pode nos guiar em meio a tantas preocupações e problemas, que
vivemos no nosso dia-a-dia. Certamente viver de problemas passados não nos
ajuda, muito menos, antecipar problemas que poderão vir. Isto não significa que
não devemos nos preocupar com o futuro, ou ignorar o nosso passado, mas, viver
a vida passo por passo. Esta afirmação de Jesus pode e deve ser um slogan para
a nossa caminhada: se preocupar com os problemas de cada dia.
Porém,
muitas vezes nos encontramos divididos em meio a tantos problemas. Daí vem à questão
chave da liturgia de hoje: o que é essencial em nossa vida. Se perdermos tempo
com o que não é essencial, gastaremos nossas energias inutilmente, e passaremos
nossa vida correndo atrás do que não nos completa como pessoa humana. É neste
sentido que Jesus inicia o evangelho de hoje dizendo aos seus discípulos: “Ninguém pode servir a dois senhores: pois,
ou odiará um e amará o outro, ou será fiel a um e desprezará o outro” (Mt
6,24). No fundo está dizendo que nosso coração não poderá estar dividido, senão
perderemos tempo correndo atrás de coisas supérfluas para a nossa salvação. Mas,
ele também dá a resposta: “Pelo
contrário, buscai em primeiro lugar o Reino de Deus e a sua justiça, e todas as
coisas vos serão dadas por acréscimo” (Mt 6,33).
Se
compreendermos o que significa o Reino de Deus, entenderemos porque Jesus nos
manda “Buscar em primeiro lugar o Reino
de Deus e sua justiça” e, veremos que o resto vem por acréscimo.
Em
primeiro lugar precisamos entender que o Reino de Deus não é um lugar, mas um
projeto. A este projeto, Jesus entregou sua própria vida. Sua vida pública
consistiu não somente em anunciar o Reino, mas dar provas dele. Ele proclama o
Reino de Deus vivenciando-o. “Jesus andou
por toda parte, fazendo o bem...” (Atos 10,38).
Jesus
inicia sua missão anunciando a chegada do Reino de Deus (cf. Mt 4,17; Mc 1,15).
E a partir daí, ele começa a mostrar como o Reino de Deus deve acontecer. Ele
irá contar inúmeras parábolas para ilustrar o acontecimento do Reino. Entre
elas, podemos citar algumas, tais como: parábola do semeador (Mt 13,1-9); parábola
do trigo e do joio (Mt 13,24-30); parábola do grão de mostarda (Mt 13,31-32); parábola
dos trabalhadores da vinha (Mt 20,1-16); parábola dos talentos (Mt 25,14-30),
entre tantas outras.
O
Reino de Deus como projeto é algo a ser implantado neste mundo. Ele é o lindo
sonho de Deus de um mundo melhor. Ele é baseado nos princípios evangélicos de justiça,
solidariedade, fraternidade, partilha... E podemos dizer que: “buscar em primeiro lugar o Reino de Deus e
sua justiça” significa promovermos uma sociedade mais justa, solidária,
fraterna e igualitária... E sabemos que as raízes de muitos males desta terra está
justamente na falta destes princípios que torna o homem injusto, ganancioso, desonesto,
egoísta, acumulador, etc.
Se
queremos um mundo melhor, se queremos uma nova sociedade, é preciso primeiro
buscar e viver estes princípios, e de fato, onde todos são tratados com
respeito e justiça, onde todos são iguais, reina um ambiente de paz e fraternidade.
Por isso, deve-se primeiro implantar este projeto de Deus, para que todo o
resto nos sejam dados. É consequência lógica.
Daí
resulta a questão da qual Jesus inicia o evangelho deste domingo: a que senhor
estamos servindo? As nossas próprias ambições egoístas e individualistas, ou ao
projeto do Reino de Deus, onde todos estão incluídos? O
cristão que serve a seus próprios interesses, não serve a Deus e seu projeto do
Reino. O cristão consciente desta tarefa nunca diz aquele ditado: “cada um por si e Deus por todos.”
Porque
sabemos sim, que Deus é por todos, mas também nós devemos agir em favor de
todos. É o que a primeira leitura (Is 49,14-15) está nos dizendo: apesar de
nossas infidelidades, Deus nunca nos abandona, não se esquece de nós, muito
menos de suas promessas. Ele permanece fiel e espera de nós a fidelidade ao seu
projeto. Como diz Paulo: “Que todo o
mundo nos considere como servidores de Cristo e administradores dos mistérios
de Deus” (1Cor 4,1). E o que se exige de quem serve e administra é a
fidelidade ao projeto de Deus (cf. 1Cor 4,2).
Então,
queridos irmãos e irmãs, precisamos deixar nossa passividade diante do projeto
de Deus, e assumir com seriedade nosso papel na construção de seu Reino entre
nós. Para isto, é preciso a conversão, ou seja, uma mudança de mentalidade e de
comportamento, que proponha em sua vivência o Reino de Deus, como proposta
alternativa para sociedade, ao invés de continuarmos buscando só nossos
próprios interesses, muitas vezes não servindo a Deus, mas, servindo-se de
Deus.
Louvado
seja nosso Senhor Jesus Cristo.
Para
sempre seja louvado!
Pe.
Cristiano Marmelo Pinto
Presbítero
e irmão no Cristo Pastor.
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