sábado, 9 de março de 2019



HOMILIA DO PRIMEIRO DOMINGO DA QUARESMA
(Dt 26,4-10; Sl 90; Rm 10,8-13; Lc 4,1-13)

Tem um antigo pensamento que diz o seguinte: “Se o pecado fosse ruim, todos seriam santos.” A liturgia da Palavra de hoje nos apresenta as tentações de Jesus. Não se enganem, as tentações têm sempre boa aparência. O diabo para nos tentar, se reveste das mais variadas formas e estratégias, para nos confundir e dar a impressão de que o que ele nos propõe é bom. Mas o resultado é danoso em todos os sentidos.

Em nossos dias oferece-se as pessoas muitas facilidades tentadoras. E infelizmente muitos caem nessas armadilhas do diabo. Quem é que tendo fome já não teve a tentação de sair comendo tudo que encontrasse pela frente? Quem é que já não pensou em conseguir dinheiro de maneira fácil ou obscura? Quem é que já não teve a tentação de conseguir privilégios, poder, as custas da desgraça do outro? Quem é que já não tentou o caminho mais fácil para conseguir alcançar o que queria?

Embora saibamos que a vida não é fácil, procuramos dar o nosso “jeitinho” em tudo, para burlar as dificuldades. Fernando Pessoa tem um poema chamado: “Grande são os desertor”, onde ele diz que: “Grandes são os desertos e as almas desertas e grandes”. Temos medo de atravessar o deserto da vida, e principalmente o deserto da alma. É no deserto da vida e da alma que sofremos as tentações. Quando enfrentamos a aridez da vida e da alma, é nessa hora que o diabo aparece, assim como apareceu para Jesus quando ele teve fome (cf. Lc 4,2). E a liturgia de hoje nos mostra que é importante resistir as tentações para se manter fiel a Deus.

O povo hebreu, tratado na primeira leitura, antes de chegar na terra prometida, teve que atravessar o deserto. Passaram por privações, fome, sede, e tantas outras dificuldades no caminho. Isto mostra que a travessia do deserto não é fácil. As dificuldades enfrentadas podem nos levar a fortalecer nosso ideal, ou nos fazer buscar o caminho mais fácil. Num determinado momento, o povo hebreu preferiu voltar ao tempo do Egito, quando tinham cebolas para comer. Quantas vezes nós gostaríamos que as coisas voltassem a ser como antes, puramente por medo de enfrentarmos os desafios? Importante é manter-se fiel a promessa de Deus e resistir as tentações e ao desânimo.

Também Jesus, após seu batismo, repleto do Espírito Santo, foi conduzido para o deserto. Lá ele também foi guiado pelo Espírito. Lá ele também sofreu privações. Foi tentado pelo diabo, mas resistiu. Teve fome, mais resistiu à tentação de transformar pedra em pão. Também venceu as tentações de desafiar Deus e de obter o poder tendo que se curvar ao diabo. Quantos por muito pouco vendem literalmente a sua alma para o diabo...? Quantos se entregam a tentação da riqueza fácil por meio do roubo, da desonestidade, da corrupção...? Quantos buscam o poder a qualquer custo, mentindo, difamando, vendendo-se ao diabo...? São pessoas que por dinheiro e poder, aceitam ajoelhar-se diante do diabo, servindo-o e adorando-o.

Adorar a Deus e ao diabo ao mesmo tempo não dá. Jesus diz, citando as Escrituras: “Adorarás o Senhor teu Deus, e só a ele servirás” (Lc 4,8). O diabo também cita a Palavra de Deus. Ele conhece a Bíblia e a cita para seus próprios interesses. O evangelho termina dizendo que: “Terminada toda tentação, o diabo afastou-se de Jesus, para retornar no tempo oportuno” (Lc 4,13). Isto mostra que não é fácil se livrar das tentações. Elas estão em toda parte, inclusive na Igreja, pois o diabo também frequenta a Igreja. Quantas pessoas com atitudes diabólicas encontramos dentro de nossas igrejas, semeando discórdia, fofocas, confusão, buscando facilidades, privilégios e poder...

Para vencer as tentações, a segunda leitura nos dá uma receita: “A palavra está perto de ti, em tua boca e em teu coração. Esta palavra é a palavra da fé que nós pregamos” (Rm 10,8). É claro que a Palavra não deve estar só em nossa boca, pois também o diabo a tem em sua boca. É preciso que ela esteja em nosso coração. Quem tem a Palavra no coração age conforme a vontade de Deus e não se deixa cair em tentação, como rezamos no Pai nosso. Quem assim permanece fiel a Deus e a sua Palavra pode ter a certeza de que: “Nenhum mal há de chegar perto de ti, nem a desgraça baterá à tua porta; pois o Senhor deu uma ordem a seus anjos para em todos os caminhos te guardarem” (Sl 90,10-11).

Que não caiamos em tentação, e que o Senhor nos livre do mal, principalmente daquele mal disfarçado de bem. De pessoas que são más, porém, querem parecer que são boas e bem intencionadas. E não se enganem, pois, como diz o título de um livro que virou filme: “O diabo veste Prada”. Não se engane, o diabo quer se passar por bonzinho. O diabo é bonito, mas as consequências de suas ações são danosas. Não se deixe seduzir pelas promessas do diabo, resisti-lhe, firmes na fé (cf. 1Pd 5,9).

Paz no coração!
Pe. Cristiano Marmelo Pinto

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