HOMILIA DO PRIMEIRO
DOMINGO DA QUARESMA
(Dt 26,4-10; Sl 90; Rm 10,8-13; Lc 4,1-13)
Tem um antigo pensamento que diz o seguinte:
“Se o pecado fosse ruim, todos seriam santos.” A liturgia da Palavra de hoje nos
apresenta as tentações de Jesus. Não se enganem, as tentações têm sempre boa
aparência. O diabo para nos tentar, se reveste das mais variadas formas e
estratégias, para nos confundir e dar a impressão de que o que ele nos propõe é
bom. Mas o resultado é danoso em todos os sentidos.
Em nossos dias oferece-se as pessoas muitas
facilidades tentadoras. E infelizmente muitos caem nessas armadilhas do diabo. Quem
é que tendo fome já não teve a tentação de sair comendo tudo que encontrasse
pela frente? Quem é que já não pensou em conseguir dinheiro de maneira fácil ou
obscura? Quem é que já não teve a tentação de conseguir privilégios, poder, as
custas da desgraça do outro? Quem é que já não tentou o caminho mais fácil para
conseguir alcançar o que queria?
Embora saibamos que a vida não é fácil, procuramos
dar o nosso “jeitinho” em tudo, para burlar as dificuldades. Fernando Pessoa
tem um poema chamado: “Grande são os desertor”, onde ele diz que: “Grandes são
os desertos e as almas desertas e grandes”. Temos medo de atravessar o deserto
da vida, e principalmente o deserto da alma. É no deserto da vida e da alma que
sofremos as tentações. Quando enfrentamos a aridez da vida e da alma, é nessa hora que o diabo aparece, assim como apareceu para Jesus quando ele teve fome (cf. Lc 4,2). E a liturgia de hoje nos mostra que é importante
resistir as tentações para se manter fiel a Deus.
O povo hebreu, tratado na primeira leitura, antes
de chegar na terra prometida, teve que atravessar o deserto. Passaram por
privações, fome, sede, e tantas outras dificuldades no caminho. Isto mostra que
a travessia do deserto não é fácil. As dificuldades enfrentadas podem nos levar
a fortalecer nosso ideal, ou nos fazer buscar o caminho mais fácil. Num determinado momento, o povo hebreu preferiu voltar ao tempo do Egito, quando tinham cebolas para comer. Quantas vezes nós gostaríamos que as coisas voltassem a ser como antes, puramente por medo de enfrentarmos os desafios? Importante
é manter-se fiel a promessa de Deus e resistir as tentações e ao desânimo.
Também Jesus, após seu batismo, repleto do
Espírito Santo, foi conduzido para o deserto. Lá ele também foi guiado pelo
Espírito. Lá ele também sofreu privações. Foi tentado pelo diabo, mas resistiu.
Teve fome, mais resistiu à tentação de transformar pedra em pão. Também venceu
as tentações de desafiar Deus e de obter o poder tendo que se curvar ao diabo. Quantos
por muito pouco vendem literalmente a sua alma para o diabo...? Quantos se
entregam a tentação da riqueza fácil por meio do roubo, da desonestidade, da
corrupção...? Quantos buscam o poder a qualquer custo, mentindo, difamando,
vendendo-se ao diabo...? São pessoas que por dinheiro e poder, aceitam
ajoelhar-se diante do diabo, servindo-o e adorando-o.
Adorar a Deus e ao diabo ao mesmo tempo não
dá. Jesus diz, citando as Escrituras: “Adorarás o Senhor teu Deus, e só a ele
servirás” (Lc 4,8). O diabo também cita a Palavra de Deus. Ele conhece a Bíblia
e a cita para seus próprios interesses. O evangelho termina dizendo que: “Terminada
toda tentação, o diabo afastou-se de Jesus, para retornar no tempo oportuno”
(Lc 4,13). Isto mostra que não é fácil se livrar das tentações. Elas estão em
toda parte, inclusive na Igreja, pois o diabo também frequenta a Igreja.
Quantas pessoas com atitudes diabólicas encontramos dentro de nossas igrejas, semeando
discórdia, fofocas, confusão, buscando facilidades, privilégios e poder...
Para vencer as tentações, a segunda leitura nos
dá uma receita: “A palavra está perto de ti, em tua boca e em teu coração. Esta
palavra é a palavra da fé que nós pregamos” (Rm 10,8). É claro que a Palavra
não deve estar só em nossa boca, pois também o diabo a tem em sua boca. É
preciso que ela esteja em nosso coração. Quem tem a Palavra no coração age
conforme a vontade de Deus e não se deixa cair em tentação, como rezamos no Pai
nosso. Quem assim permanece fiel a Deus e a sua Palavra pode ter a certeza de
que: “Nenhum mal há de chegar perto de ti, nem a desgraça baterá à tua porta; pois
o Senhor deu uma ordem a seus anjos para em todos os caminhos te guardarem” (Sl
90,10-11).
Que não caiamos em tentação, e que o Senhor nos
livre do mal, principalmente daquele mal disfarçado de bem. De pessoas que são
más, porém, querem parecer que são boas e bem intencionadas. E não se enganem,
pois, como diz o título de um livro que virou filme: “O diabo veste Prada”. Não
se engane, o diabo quer se passar por bonzinho. O diabo é bonito, mas as consequências de suas ações são danosas. Não se deixe seduzir pelas promessas do diabo, resisti-lhe, firmes na fé (cf. 1Pd 5,9).
Paz no coração!
Pe. Cristiano Marmelo Pinto
Nenhum comentário:
Postar um comentário