HOMILIA DO QUARTO
DOMINGO DA QUARESMA
(Js 5,9-12; Sl 33; 2Cor 5,17-21; Lc
15,1-3.11-32)
A liturgia de hoje possui um tom de alegria. Por
esse motivo, o quarto domingo da quaresma é chamado de “domingo da alegria”, porque,
na travessia do deserto quaresmal, nos deparamos como que com um “oásis” e
podemos vislumbrar as festas que se aproximam. É como rezamos na oração inicial
da missa de hoje, pedindo a Deus que: “concedei ao povo cristão correr ao encontro das festas
que se aproximam cheios de fervor e exultando de fé” (Oração da Coleta).
Mas poderíamos também chamar a celebração de
hoje de: “domingo da reconciliação”, sim, porque os textos de hoje falam da
misericórdia de Deus e da nossa reconciliação com ele. São Paulo na segunda
leitura faz este apelo: “Deixai-vos reconciliar com Deus” (2Cor 5,20).
Penso que a palavra que define a liturgia de hoje é: perdão! Deus nos perdoa e
nós também devemos aprender a perdoar os nossos irmãos. Não importa o que
tenham feito, é importante que aprendamos a nos reconciliar uns com os outros. E
a maior lição de que temos que nos perdoar é o fato de que fomos reconciliados com
Deus por meio de Jesus Cristo. São Paulo diz isso: “Por Cristo, Deus reconciliou o mundo
consigo” (2Cor 5,19).
No evangelho, Jesus fala do perdão em meio as
críticas que ele recebe dos fariseus, porque ele se aproxima dos pecadores. Neste
contexto, Jesus conta uma das mais lindas parábolas dos evangelhos. Alguns a
chama de “Parábola do filho pródigo”, outros de “Parábola do pai
misericordioso”. Talvez este último seja o melhor título, isto porque, em meio
ao pecado, o que deve sobressair é a misericórdia. Embora o filho mais novo
tenha levado uma vida desenfreada e de esbanjamento, o que importa é seu
retorno para seu pai. E a atitude do pai é de festa com o seu retorno. Esta
parábola mostra a atitude de Deus conosco. Ele faz festa com o nosso retorno, com a nossa conversão. Num dos versículos
omitidos no evangelho de hoje Jesus diz que: “Há alegria diante dos anjos de Deus por um
pecador que se arrepende” (Lc 15,10).
Nós temos um pouco de cada um dos personagens
desta parábola: somo um pouco do filho mais novo, quando levamos uma vida de
esbanjamento e desenfreada, longe de Deus; somo um pouco do filho mais velho, quando
não somos capazes de ver e agir com misericórdia como agiu aquele pai; e
também, somos um pouco do pai, quando superando nossas limitações nos tornamos capazes de agir com misericórdia
e nos alegrarmos em nos reconciliarmos com aqueles que tenham nos ofendido. Em
nós deve sobressair as atitudes do pai, agindo com misericórdia e alegria.
O que isso tem a ver com nossa vida pessoal,
com nossa vida comunitária...? Creio que tudo. Às vezes precisamos passar pelo
sofrimento, pela dor, para descobrirmos e valorizarmos Deus em nossa vida. Quantos
conhecemos que só se reaproximaram de Deus depois de um grande sofrimento ou
dor? Deus estará sempre a nossa espera, ele é paciente.
Mas quando se trata de outra pessoa a coisa
muda de figura. Se demorarmos demais para nos reconciliar, para pedir ou dar o
perdão, pode não haver mais tempo. E se a pessoa em questão morrer, é pior
ainda. Perdoe, dê o seu perdão, seja a quem for, enquanto existe tempo para
isso. Depois, quando o outro morre, o que fica é o sentimento de culpa. E
contra isso quase nada se pode fazer.
Somos como o filho mais velho quando nos
relacionamos com Deus por se fosse um patrão, fazendo as coisas por obrigação, esperando
receber dele uma recompensa. Pode-se até fazer as coisas bem, com perfeição, mas
ficará sempre esperando ser recompensado. São pessoas que cumprem as regras da
Igreja, participam das missas, pagam dízimo, porém, faz tudo por obrigação, às
vezes sem amor, e não consegue aceitar que alguém que tenha cometido algum erro
possa ser readmitido na comunidade, no grupo, na pastoral... São pessoas que,
embora façam as coisas bem feitas, não conseguem perdoar os outros.
Porém, todos nós precisamos ser mais como o
pai misericordioso, que espera o retorno do filho, que perdoa e faz festa, se
alegra. Somos um pouco desse pai quando nos alegramos com a volta de alguém que
se afastou da comunidade, quando não ficamos olhando para seus pecados, mas o
que eles têm de bom, quando enxergamos com misericórdia.
Para terminar, como dizia Machado de Assis: “Nunca levante
a espada sobre a cabeça de quem te pediu perdão.” Em outras
palavras, seja misericordioso. Não negue seu perdão a quem te pedir. Não seja
orgulhoso. Negar o perdão nunca trouxe nada de bom para quem o nega. E como
Vinícius de Moraes diz numa de suas canções: “Quem não pede perdão, não é nunca
perdoado.” Seja humilde para reconhecer que errou e pedir perdão de
suas faltas.
Paz no coração de todos!
Pe. Cristiano Marmelo Pinto
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