sábado, 23 de março de 2019



HOMILIA DO SEGUNDO DOMINGO DA QUARESMA – ANO C
(Gn 15,5-12.17-18; Sl 26; Fl 3,17-4,1; Lc 9,28b-36)

Entramos na segunda semana da quaresma. E este segundo domingo da quaresma traz o tema da transfiguração de Jesus e como ela acontece em nossa vida. Quaresma é tempo de conversão, de mudança de vida, de rumo... Os textos bíblicos deste domingo quer nos ajudar a pensar nas coisas que precisamos mudar em nossa vida.

Quando pensamos em mudança imaginamos n’algo novo, diferente. Mas na perspectiva da transfiguração não é bem assim, mas mudança no sentido de revelar nossa essência. Segundo o dicionário, transfiguração significa ação de alterar radicalmente o aspecto, alteração na maneira de pensar, de agir e sentir. Creio que aí encontramos o sentido quaresmal da nossa transfiguração. Somos convidados a transfigurar nosso modo de pensar, agir e sentir, para deixar vir à tona nossa essência de filhos e filhas de Deus, feitos a sua imagem e semelhança (cf. Gn 1,26).

Na dinâmica de resgatar a nossa essência de filhos e filhas de Deus, creio que, na travessia do deserto quaresmal, ou mesmo, do deserto da vida, precisamos deixar vir à tona o que temos de melhor, nosso lado bom, que revela e testemunha que de fato somos gente de Deus. Ser mais fiel ao nosso compromisso com Deus, firmado em nosso batismo, de viver a sua Palavra, praticar o amor e ser solidário com todos.

Para isso, precisamos deixar que Jesus nos conduza com ele ao monte Tabor, para desencadear em nós, assim como fez com fez com os três discípulos, um processo de transfiguração de nossas vidas. Certamente os três discípulos: Pedro, João e André eram os que mais precisavam conhecer melhor a essência divina de Jesus. Para transfigurar nossa vida também precisamos conhecer Jesus, sua essência. Precisamos ter claro que temos em nós a imagem e semelhança com Deus. Precisamos transfigurar a nossa mentalidade, nosso modo de agir e sentir Deus na nossa vida, para podermos mudar a nossa vida por completo resgatando a nossa essência como pessoa humana e como filhos e filhas de Deus.

Nós vivemos num tempo de excessiva preocupação com a aparência. As pessoas se preocupam demais com o modo como os outros as veem. Se estamos bem vestidos, feios ou bonitos, sarados ou gordos, ou seja, a aparência é o que mais importa. Na era das redes sociais, por exemplo, posta-se fotos trabalhadas, para esconder aquilo que as pessoas realmente são na sua aparência física. Existem até aplicativos para melhorar o rosto, a barriga... A preocupação com a aparência leva a desfiguração. Desfigurar significa alterar o aspecto de modo a tornar alguém quase irreconhecível. Modificar os traços essenciais. O que acontece é que a preocupação desenfreada com a aparência, muitas vezes leva a desfiguração. Essa desfiguração pode ser externa, ou seja, uma desfiguração física, mas também pode ser interna, perdendo a sua essência, preocupando-se quase que exclusivamente com o exterior.

Tudo isso leva a uma questão importante: precisamos ir além das aparências se queremos conhecer de verdade o outro, se queremos nos conhecer. Aí entra a questão da liturgia de hoje: é preciso, assim como Jesus e seus discípulos, transfigurar-se, ou seja, revelar a nossa essência, recuperar a nossa essência como pessoa humana, como filhos e filhas de Deus, criados a sua imagem e semelhança.

A transfiguração de Jesus questiona nossa preocupação excessiva com a aparência, esquecendo-se da essência. Que esta quaresma nos ajuda a recuperarmos nossa essência cristã num processo contínuo de conversão, de transfiguração.

Paz no coração!
Pe. Cristiano Marmelo Pinto

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