HOMILIA DO SEGUNDO DOMINGO DA QUARESMA – ANO C
(Gn 15,5-12.17-18; Sl 26; Fl 3,17-4,1; Lc
9,28b-36)
Entramos
na segunda semana da quaresma. E este segundo domingo da quaresma traz o tema
da transfiguração de Jesus e como ela acontece em nossa vida. Quaresma é tempo
de conversão, de mudança de vida, de rumo... Os textos bíblicos deste domingo quer
nos ajudar a pensar nas coisas que precisamos mudar em nossa vida.
Quando
pensamos em mudança imaginamos n’algo novo, diferente. Mas na perspectiva da
transfiguração não é bem assim, mas mudança no sentido de revelar nossa
essência. Segundo o dicionário, transfiguração significa ação de alterar
radicalmente o aspecto, alteração na maneira de pensar, de agir e sentir. Creio
que aí encontramos o sentido quaresmal da nossa transfiguração. Somos
convidados a transfigurar nosso modo de pensar, agir e sentir, para deixar vir
à tona nossa essência de filhos e filhas de Deus, feitos a sua imagem e
semelhança (cf. Gn 1,26).
Na
dinâmica de resgatar a nossa essência de filhos e filhas de Deus, creio que, na
travessia do deserto quaresmal, ou mesmo, do deserto da vida, precisamos deixar
vir à tona o que temos de melhor, nosso lado bom, que revela e testemunha que
de fato somos gente de Deus. Ser mais fiel ao nosso compromisso com Deus, firmado
em nosso batismo, de viver a sua Palavra, praticar o amor e ser solidário com
todos.
Para
isso, precisamos deixar que Jesus nos conduza com ele ao monte Tabor, para
desencadear em nós, assim como fez com fez com os três discípulos, um processo
de transfiguração de nossas vidas. Certamente os três discípulos: Pedro, João e
André eram os que mais precisavam conhecer melhor a essência divina de Jesus. Para
transfigurar nossa vida também precisamos conhecer Jesus, sua essência. Precisamos
ter claro que temos em nós a imagem e semelhança com Deus. Precisamos
transfigurar a nossa mentalidade, nosso modo de agir e sentir Deus na nossa
vida, para podermos mudar a nossa vida por completo resgatando a nossa essência
como pessoa humana e como filhos e filhas de Deus.
Nós
vivemos num tempo de excessiva preocupação com a aparência. As pessoas se
preocupam demais com o modo como os outros as veem. Se estamos bem vestidos,
feios ou bonitos, sarados ou gordos, ou seja, a aparência é o que mais importa.
Na era das redes sociais, por exemplo, posta-se fotos trabalhadas, para
esconder aquilo que as pessoas realmente são na sua aparência física. Existem
até aplicativos para melhorar o rosto, a barriga... A preocupação com a
aparência leva a desfiguração. Desfigurar significa alterar o aspecto de modo a
tornar alguém quase irreconhecível. Modificar os traços essenciais. O que
acontece é que a preocupação desenfreada com a aparência, muitas vezes leva a
desfiguração. Essa desfiguração pode ser externa, ou seja, uma desfiguração
física, mas também pode ser interna, perdendo a sua essência, preocupando-se quase
que exclusivamente com o exterior.
Tudo
isso leva a uma questão importante: precisamos ir além das aparências se
queremos conhecer de verdade o outro, se queremos nos conhecer. Aí entra a
questão da liturgia de hoje: é preciso, assim como Jesus e seus discípulos, transfigurar-se,
ou seja, revelar a nossa essência, recuperar a nossa essência como pessoa
humana, como filhos e filhas de Deus, criados a sua imagem e semelhança.
A
transfiguração de Jesus questiona nossa preocupação excessiva com a aparência,
esquecendo-se da essência. Que esta quaresma nos ajuda a recuperarmos nossa
essência cristã num processo contínuo de conversão, de transfiguração.
Paz
no coração!
Pe.
Cristiano Marmelo Pinto
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