sexta-feira, 6 de maio de 2011



DEFESA DE DISSERTAÇÃO DE MESTRADO


A experiência do mistério pascal de Cristo
na experiência do amor humano,
celebrado no sacramento do matrimônio


Pe. Cristiano Marmelo Pinto

Orientador:
Prof. Dr. Pe. Valeriano dos Santos Costa

Pontifícia Universidade Católica de São Paulo - PUC

Campus Ipiranga
Av. Nazaré, 993 - Ipiranga - São Paulo
 
Dia 12 de maio de 2011
Horário: às 14h

quinta-feira, 28 de abril de 2011

Ecologia e Páscoa


O próprio Espírito intercede em nosso favor, com gemidos inefáveis.


Diversas pessoas têm manifestado certa perplexidade com o lema da Campanha da Fraternidade deste ano: “a criação geme em dores de parto”. Acham a frase inconveniente, pessimista, exagerada. Há também fiéis que consideram inadequado à Igreja meter-se nesses assuntos muito científicos, políticos e econômicos. A meu ver, uns e outros não percebem a relação entre a fé cristã em Deus criador e as atuais questões ecológicas.


AS DORES DO PARTO

A citação da Carta aos Romanos tem um fundo pascal. Depois das dores do parto, vem a alegria pelo nascimento da criança. Depois da tempestade, a bonança. Da cruz vem a ressurreição. Jesus consolou os discípulos ante a aproximação de sua Páscoa, lembrando as dores do parto: “Ficareis tristes, mas a vossa tristeza se transformará em alegria. A mulher, quando vai dar à luz, fica angustiada, porque chegou a sua hora. Mas depois que a criança nasceu, já não se lembra mais das dores, pela alegria de um ser humano ter vindo ao mundo” (Jo 16,20-21).

A expressão bíblica dores do parto, citada em diversas passagens (por ex.: Gl 4,19; 1 Tes 5,3; Ap 12,2; Gl 4,27, citando Is 54,1; Jr 13,21; Is 66,7-8) designa, ao mesmo tempo, um doloroso estado atual e a espera de um futuro estado glorioso. Enquanto estivermos neste mundo, morte e vida caminham juntas. Mas a esperança da vida plena é sempre maior. Na Carta aos Romanos 8,19-22, Paulo faz uma profissão de fé pascal e afirma que o mundo material será associado à glorificação do corpo humano no Cristo ressuscitado. Ele ensina que, como o ser humano passa pela morte para ressuscitar em Cristo, também a natureza, que sofre as dores de parto, ressuscitará, será transfigurada e glorificada no corpo cósmico de Cristo. A natureza participa da páscoa de Cristo e do ser humano. Enquanto a filosofia grega queria libertar o espírito da relação com a matéria, considerada má, o cristianismo prega a libertação da própria matéria. Não só o espírito, mas também o corpo humano e, com ele, a natureza, são chamados à participação da glória de Cristo. Todo o universo, criado pela Palavra de Deus (Jo 1,3) que em Jesus Cristo se fez carne e habitou entre nós (Jo 1,14), é chamado a participar da reconciliação final de todas as coisas em Cristo (Col 1,20).


OS GEMIDOS DA NATUREZA

O mundo material, criado para o ser humano, participa do nosso destino. Amaldiçoada por causa do pecado humano (“maldito será o solo por tua causa”: Gn 3,17), a natureza se encontra em estado de tensão: “submetida à vaidade”, espera ser liberta da “escravidão da corrupção” (Rm 8,20-21). A fé cristã entende que a origem para os males no mundo se concentra em duas vertentes, entre si indissociáveis: a dimensão frágil de nossa criaturidade, e o pecado humano. Como criaturas, o ser humano e as coisas que existem são frágeis, mortais. Não é preciso muita atenção para perceber os gemidos de dor da criação: terremotos, enchentes, furacões, tsunamis etc. A criação sofre e, com ela, também o ser humano, a começar com os mais pobres, os primeiros a padecer com os flagelos da natureza. É claro que muitos desses gemidos e sofrimentos não têm causa direta na ação humana; fazem parte da própria condição criatural, frágil e caduca do mundo; explicam-se pelas leis internas da própria condição natural: surgir e desaparecer. Mas também é claro que muitos gemidos vêm, sim, de causas humanas, da ganância, do consumismo, do desrespeito e da depredação da natureza. O pecado humano introduziu em nossa condição criatural o vírus da violência e da agressão. O ser humano passa a usar e abusar da natureza, que lhe foi dada para ser transformada; em vez de acolhê-la como um ninho em que o Criador o colocou, a degrada e depreda; em vez de ser co-criador, julga-se dono prepotente, excluindo Deus das decisões no que concerne ao conhecimento e ao uso dos bens do mundo.

A natureza espera ser libertada desse uso egoísta e consumista e predatório que dela fazemos, a fim de ser partilhada e colocada ao serviço de todos. Criada por Deus para o bem comum dos seres humanos, a natureza geme esperando que aconteça o parto pascal da vida para todos. Há uma relação intersubjetiva entre o ser humano e os outros seres vivos e inanimados. Somos feitos da mesma matéria do mundo. Os mesmos elementos químicos e leis físicas compõem e regem a natureza e o corpo humano. Por isso, na concepção cristã, assim como o pecado humano teve como consequência a maldição da terra, também a libertação e glorificação do ser humano se dão em conjunto com a libertação e glorificação da natureza.


OS GEMIDOS DO ESPÍRITO

Mas não é só a criação que geme. Também nós “gememos em nosso íntimo, esperando a condição filial e a redenção de nosso corpo” (Rm 8,23). A criação geme à espera de ser libertada do cativeiro em que o ser humano a colocou. O ser humano geme à espera de sua redenção física, de sua salvação espiritual e sua confirmação como filho de Deus em Cristo. Mas os gemidos da criação e do ser humano não fariam sentido e se perderiam em lamentações infindas e sem solução, se não fosse o próprio Deus a gemer conosco, em nós e por nós. Por isso, mais adiante, São Paulo diz: “é o próprio Espírito que intercede em nosso favor, com gemidos inenarráveis” (Rm 8,26). Gemer é um verbo atribuído ao Espírito Santo, que tudo cria e renova a face da terra (Sl 104,30), que geme e sofre, em todo o percurso da evolução, a fim de que as coisas venham à existência. E agora, geme ainda mais, à espera de que o ser humano se converta e não destrua a obra que ele criou.

O Espírito Santo, que geme dentro de nós e pelo qual clamamos Abbá, Pai (Rm 8,15), nos deu uma nova lei: a lei do amor e da partilha. O próprio Espírito, derramado em nossos corações, habita em nós e nos impede de seguir instintos egoístas (Rm 8,9). O Espírito Santo é o grande dom da Páscoa de Cristo. Ao morrer, “inclinando a cabeça, Jesus entregou o Espírito” (Jo 19,30) e como ressuscitado soprou sobre os discípulos e lhes deu o Espírito Santo (Jo 20,22).

Os cristãos não vivem na lei dos instintos, segundo a carne e os ídolos do mundo, na preocupação de ter mais, poder mais, gastar mais, comprar mais e, com isso, depredar mais a natureza. Ao contrário, a partir da Páscoa de Cristo, vivem na lei do Espírito que dá vida, vivem na sobriedade e na solidariedade. Assim, na vida segundo o Espírito não só são refeitas as relações sociais entre as pessoas e classes, mas também as relações ecológicas entre o ser humano e a natureza.

Pe. Vitor Galdino Feller
Coord. Arquidiocesano de Pastoral da Arquidiocese de Florianópolis
Prof. de Teologia e Diretor do ITESC


Fonte:
http://www.arquifln.org.br

sexta-feira, 8 de abril de 2011

O cuidado com a celebração

Pe. Carlos Gustavo Haas

Falar de criatividade é uma tarefa complexa e difícil. Afinal, até o Vaticano II, a liturgia viveu uma fase de 400 anos de “imobilismo”, onde nada podia mudar. E mudar, também não é fácil.

Apresento aqui alguns pontos que poderão ser aprofundados numa reflexão individual ou nas equipes de liturgia.

1. “Ser criativos” em uma celebração

Quando queremos “ser criativos” em uma celebração, nossa primeira preocupação deve ser a participação mais plena, ativa e frutuosa da assembleia. O grande motivo para “mudar” palavras, gestos, sinais e ritos não é o gosto da equipe de liturgia ou o que vimos em um show ou mesmo em uma missa transmitida pela TV, mas sim, a maior participação no culto a Deus, integrado em nossa vida atual.

Cito as palavras de Bento XVI na Exortação “Sacramentum Caritatis”, n. 38: “O primeiro modo de favorecer a participação do povo de Deus no rito sagrado é a condigna celebração do mesmo; a arte da celebração é a melhor condição para a participação ativa. A arte da celebração resulta da fiel obediência às normas litúrgicas na sua integridade, pois é precisamente esse modo de celebrar que, há dois mil anos, garante a vida de fé de todos os crentes, chamados a viver a celebração enquanto povo de Deus, ‘sacerdócio real , nação santa’” (cf. 1Pd 2,4-5.9).

2. Ser “criativo” é ser fiel

Temos então um segundo elemento: ser “criativo” é ser fiel. Ser criativo não significa “inventar”. Não podemos confundir “criatividade” com “criativismo” – fazer algo diferente apenas por fazer diferente. Gosto do que escreveu Bento XVI: “A liturgia, por sua natureza, possui uma tal variedade de níveis de comunicação que lhe permitem cativar o ser humano na sua totalidade. A simplicidade dos gestos e a sobriedade dos sinais, situados na ordem e nos momentos previstos, comunicam e cativam mais do que o artificialismo de adições inoportunas” (Sacramentum Caritatis, 40).

O povo logo percebe quando propomos algo que vem apenas de um gosto ou ideia pessoal, ou quando somos criativos a partir do rito, do momento celebrativo, do mistério que estamos vivenciando.

No Documento 43 da CNBB, Animação da Vida Litúrgica no Brasil, n. 170, lemos: “Por criatividade não se deve entender tirar como que do nada, expressões litúrgicas inéditas. Pelo contrário, a verdadeira criatividade é orgânica: está ligada aos ritos precedentes como o celebrante de hoje aos do passado”.

4 cuidados que devemos ter

1. O “ativismo”: fazer na celebração um “desfile” de vários elementos, símbolos, gestos, ritos, sem silêncio, com movimentos em excesso. É a tentação de querer fazer tudo em uma única celebração.

2. O “intelectualismo”: é quando queremos explicar tudo que acontece em uma celebração. A celebração torna-se “cerebração”, poluída com comentários e mais comentários.

3 .O “espontaneismo”: deixar tudo para última hora, improvisar os ritos e gestos, deixando que aconteça apenas com a boa-vontade dos participantes. A verdadeira espontaneidade não é inventar um gesto. Os gestos mais expressivos da nossa existência são aqueles que, desde a nossa infância, nós enchemos de experiência humana, como abraçar a mãe, juntar as mãos, todos os gestos da oração que, para nós foram o meio próprio de nos encontrarmos com Deus; é aí que nós somos mais espontâneos. A verdadeira espontaneidade consiste em encher de novidade um gesto de sempre, pois os gestos e as palavras das pessoas não podem ser inventados até ao infinito.

4. O “fixismo”: repetir sempre a mesma coisa, caindo no formalismo e na rotina. Acaba cansando a assembleia, pois se torna algo sem o espírito próprio para o qual foi criado.

Enfim, para sermos criativos na liturgia, precisamos levar a sério tudo o que fazemos. A simples modificação de um gesto, sinal, atitude, acarreta uma profunda alteração do significado de muitas ações litúrgicas.

Zelar pela liturgia não significa “engessá-la”. “Liturgia é uma ação ritual, cuja característica é a repetição e a fidelidade à Tradição: “Façam isto (e não outra coisa!) para celebrar a minha memória (…)”. Liturgia não se inventa, se vive. O jogador de futebol não muda as regras do jogo; a cantora não inventa uma nova música, ignorando ou modificando a partitura. Ambos exercem sua criatividade ao entrar de corpo e alma no jogo de futebol ou na música; e dessa entrega nasce uma interpretação sempre nova, atual, surpreendente, tocante. É desse tipo de zelo que a liturgia precisa: unindo conhecimento e respeito pelas regras com entrega total ao ‘jogo’, levando a uma vivência profunda” (Ione Buyst, Liturgia em Mutirão, Edições CNBB, pág. 222).



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Pe. Carlos Gustavo Haas é Presbítero da Arquidiocese de Porto Alegre/RS, Assessor da Comissão Episcopal Pastoral para a Liturgia da CNBB, Mestre em Liturgia pelo Pontifício Instituto Litúrgico Santo Anselmo, Roma.


Fonte:
http://revistaparoquias.com.br/index.php/2010/02/o-cuidado-com-a-celebracao/

LITURGIA: REPOUSO E NÃO ESTRESSE

Frei Alberto Beckhäuser, OFM

Hoje em dia muitas celebrações litúrgicas, em vez de levarem ao repouso, conduzem a um verdadeiro cansaço, um perigoso estresse. Uma senhora me dizia, em Goiânia, que na terra onde mora, perto de Belém do Pará, as Missas estão se tornando insuportáveis devido ao estrépito, à barulheira do canto, dos conjuntos musicais, além de comentários intermináveis e avisos que não terminam. Às vezes, ainda consegue levar o marido à Missa, diz ela, mas a certa altura ele diz: "Mulher, não agüento mais, vou embora". De fato, levanta-se e se retira.

Ora, a sagrada Liturgia não constitui um espetáculo. Toda a assembléia celebrante brinca diante de Deus e em Deus. A Liturgia não é conquista humana. Não é eficaz pela força das palavras como se fosse uma conquista. É obra de Deus, puro dom divino, Deus mesmo a ser acolhido. A Liturgia leva a assembléia ao repouso em Deus e não ao cansaço, ao estresse do esgotamento físico e psíquico.

Na ação litúrgica já participamos do "repouso" prometido por Deus a seu povo (cf. Sl 94). Ela conduz à tranqüilidade, ao descanso, ao sossego da comunhão de vida e do amor com Deus e em Deus. Seu desenrolar aos poucos vai aquietando os corações dos que chegam à assembléia celebrante cheios de tensões causadas pela vida agitada, pelas preocupações do dia-a-dia. Aos poucos, na escuta da Palavra de Deus, o coração se deixa reconciliar, estabelece-se novamente a harmonia com Deus, com o próximo e com toda a criação. Os participantes acolhem a Palavra e a deixam aninhar-se no seu coração. Todos vão se deixando enlevar pelo ritmo dos diversos ritos, que estabelecem o clima de oração, melhor, que constituem oração, relação efetiva e afetiva com Deus por Cristo e em Cristo Jesus.

Por isso, as nossas celebrações devem voltar a ser mais contemplativas dos mistérios de Cristo que se tornam presentes, onde entrará sobretudo a linguagem da escuta atenta, da acolhida, da contemplação, dos ritos em si mesmos, inclusive, do silêncio.

A celebração cristã não pode estar repleta de estímulos externos, de estrépito, de barulho, repleta de ruídos. Evitar-se-ão toda surpresa, toda quebra do ritmo do rito, toda interrupção do fluir da relação orante com Deus através de todas as faculdades e todos os sentidos, embalada pelo ritmo do rito. A palavra, o som, o canto e a música constituem apenas um aspecto da participação ativa. É um desastre quando o som da palavra e da música se torna atordoante e ensurdecedor. Isto não leva ao repouso em Deus, mas a maior tensão, ao estresse. As pessoas deixam a celebração mais tensas do que quando chegaram.

Diria que a participação ativa é antes uma acolhida passiva do dom de Deus, do próprio Deus no coração, deixando-se envolver por Deus, revestir-se de Deus, fazendo sua a glorificação prestada por Jesus Cristo ao Pai. Deus não se agrada com um culto de multiplicação de palavras. Compraz-se com um coração contrito e humilhado.

Toda celebração litúrgica, particularmente a Eucaristia, possui uma dinâmica interna. O início pode ser mais vivo para despertar e motivar a celebração. Aos poucos, porém, a partir da escuta e da contemplação dos mistérios, brota a resposta orante de admiração, de adoração, de louvor, de ação de graças. Comer e beber juntos exige tranqüilidade, sossego, satisfação, plenitude. Assim, toda a assembléia flui para o repouso, a comunhão, a linguagem do coração, a linguagem do esposo e da esposa, para o silêncio profundo da satisfação em Deus. Acontece, então, a reconciliação total, o descanso, o repouso em Deus. O coração e a alma se retemperam em Deus, se fortalecem com o dom de Deus. Assim, reconciliadas, as pessoas podem retornar à luta do dia-a-dia.

sábado, 19 de março de 2011


Canto Litúrgico no Ciclo Pascal


Pe. Cristiano Marmelo Pinto



1. Cantar a Quaresma

A Quaresma é um tempo de penitência e de austeridade. Tem por finalidade nos preparar para a Páscoa do Senhor. Este tempo tem inicio na quarta-feira de Cinzas e termina na manhã da quinta-feira santa, quando se inicia o Tríduo Pascal. Num período de quarenta dias somos convocados a intensificarmos nossas orações, a fazermos penitência e praticarmos obras de caridade. Quaresma é tempo de mudança de vida e de conversão. É tempo de reconciliação com Deus e com os irmãos. Tempo de perdão. Tempo de buscarmos a misericórdia de Deus.


Cantar a Quaresma é cantar a dor pelo pecado no mundo, que crucifica os filhos e filhas de Deus. Um canto sem glória, sem aleluia, sem flores... O canto deve seguir a austeridade própria deste tempo. Os instrumentos musicais não acompanham os cantos de maneira festiva, apenas ajudam a sustentar-los. É fundamental no tempo da Quaresma respeitar o silêncio. Os instrumentos não devem ser tocados quando for hora de silêncio. Também não se deve saturar a celebração com cantos demais.


Mas o canto da Quaresma não é um canto de desanimo. Pelo contrário, nos animam para lutar contra as forças que produzem a morte. Devem nos inspirar e animar a assumirmos a Cruz do Senhor e junto com Ele criarmos um mundo novo.

2. E os Cantos da Campanha da Fraternidade?

No tempo da Quaresma, a Igreja no Brasil tem o costume de celebrar a Campanha da Fraternidade. A cada ano um tema diferente. A partir deste tema elaboram-se os subsídios litúrgico-pastorais. Até então tínhamos o costume de neste período cantarmos a “Missa da Campanha da Fraternidade”, acompanhando o tema proposto.


Temos que observar alguns pontos importantes:


1. A Quaresma é um tempo forte dentro da espiritualidade litúrgica.
2. O canto como parte integrante da liturgia deve acompanhar o Mistério que é celebrado na Quaresma.
3. Devemos criar um repertório próprio que nos ajude a vivenciarmos melhor o tempo da Quaresma.


De um tempo pra cá, bispos, músicos e liturgistas vêm questionando este costume de, a cada ano, termos uma missa diferente com um tema específico para a Quaresma. Corremos o risco de esvaziar a espiritualidade quaresmal, fixando exclusivamente na Campanha da Fraternidade.


Sem desmerecer a Campanha, foi proposto que se faça um hino alusivo ao tema, podendo este ser executado em diversos momentos da celebração. Deste modo, a partir deste ano, teremos sempre um Hino da CF, e os demais cantos para a celebração serão próprios deste tempo litúrgico. Assim, mantém a finalidade da CF e ao mesmo tempo resolve o problema da secundarização da quaresma.

3. Cantar a Semana Santa e o Tríduo Pascal

A Semana Santa é o período mais próximo da Páscoa do Senhor. É uma semana de intensas celebrações e espiritualidade. É fundamental lembrar que a Vigília Pascal constitui o núcleo central de toda a Semana Santa. Vale ainda lembrar que o Tempo da Quaresma só termina na manhã de quinta-feira, quando é celebrada a Missa do Crisma. A Semana Santa começa com o Domingo de Ramos e da Paixão do Senhor e termina na tarde do Domingo da Ressurreição. É um período curto, porém denso. Na vespertina da quinta-feira santa dá-se início ao Tríduo Pascal com a Missa da Ceia do Senhor. Na Sexta-feira Santa a Igreja celebra o Mistério da Morte de Jesus. Neste dia não há celebração eucarística. No Sábado Santo, celebramos a permanência do Senhor no Sepulcro. Neste dia apenas é permitido a Liturgia das Horas. A Igreja está em luto. Na noite de sábado celebra-se a Vigília Pascal. Ela é o âmago de todo o Ano Litúrgico. É a mãe de todas as vigílias. Nesta noite celebramos não somente a Páscoa do Senhor, mas também a páscoa dos cristãos. Fundamentalmente, celebramos a vida renovada em Cristo Ressuscitado. Os diversos ritos desta celebração fazem a vida divina penetrar na vida da comunidade celebrante.

3.1. Cantar o Domingo de Ramos e da Paixão

No Domingo de Ramos e da Paixão do Senhor, celebramos o mistério do Cristo crucificado, sepultado e ressuscitado. Ao entrar em Jerusalém triunfante, Cristo prenuncia sua vitória sobre a morte. Os ramos são sinais deste triunfo. Neste dia temos a Procissão de Ramos. Aconselha-se que durante a procissão, o povo e cantores cantem os cantos propostos pelo Missal Romano. Escolher cantos apropriados para este dia é de suma importância, pois será através dos cantos que experimentaremos o sabor indiscutível do Mistério que celebramos. Canta-se a alegria da entrada do Messias em Jerusalém. Mas também canta o Mistério da sua Paixão. Quanto aos instrumentos vale a mesma orientação para toda a Quaresma, austeridade.

3.2. Cantar a Ceia do Senhor – Quinta-feira Santa

A celebração das vésperas da Quinta-feira Santa abre solenemente o Tríduo Pascal. Na Quinta-feira Santa a Igreja celebra o Mandamento Novo do Amor simbolizado pelo lava-pés. Também são celebradas a instituição da Eucaristia e do Sacerdócio Ministerial. Na última Ceia Cristo celebrou profeticamente o que iria acontecer em seguida, sua Paixão-Morte-Ressurreição. Cantar a Ceia do Senhor, é cantar o Mistério de sua doação total, é celebrar a Paixão-Morte-Ressurreição do Senhor. É fundamental cantar a Cruz do Senhor, pois é através da Cruz que desponta o Mandamento Novo do Amor. É da mesma Cruz que resplandece o Sacramento do Pão e do Vinho. Da Cruz nasce o Ministério do Serviço aos irmãos. Os cantos que ante se caracterizava pela austeridade, agora se reveste da suavidade do Amor. Porém deve-se cuidar para que os cantos e os instrumentos musicais não extrapolem. Convém lembrar que é na Vigília Pascal que o canto de Aleluia e Glória é entoado com toda vibração e entusiasmo. Siga como regra uma certa moderação e sobriedade. Estamos caminhando para a Vigília Pascal, estamos perto, mas ainda não chegamos lá.

No final da celebração temos a transladação do Santíssimo Sacramento. Terminada a oração após a comunhão, começa a procissão de transladação do Santíssimo. Enquanto isto acontece, os fiéis entoam cantos eucarísticos, e quando a procissão chegar ao local onde ficará guardado o Santíssimo, encerra-se com o canto do Tão sublime Sacramento. Temos o costume de realizar a vigília eucarística enquanto o Santíssimo estiver guardado. Cuide-se para que seja feita com sobriedade, mesmo nos cantos.

3.3. Cantar a Paixão do Senhor – Sexta-feira Santa

A Sexta-feira Santa é centralizada na Cruz do Senhor. Celebra-se neste dia o Mistério da Morte do Senhor. A celebração desdobra-se em três partes: proclamação da Paixão do Senhor, preces universais, adoração a Cruz e comunhão. Não há neste dia Celebração Eucarística. E também não se canta a Eucaristia e sim o Mistério da Cruz. A Cruz não é apenas um instrumento de morte, mas para nós cristãos ela se torna instrumento de Salvação. Por isto, na Sexta-feira Santa a Cruz é venerada como sinal de vitória.


Os cantos devem corresponder ao espírito da liturgia deste dia. É um canto de pranto, de perda, canto de dor e tristeza. Mas é também um canto de confiança, a confiança do Servo Sofredor, que se entrega por todos nós, sem reservas. Nesta confiança, o canto deve nos inspirar a nos abandonar com Cristo nas mãos do Pai, para que se realize, assim como em Cristo, a sua vontade. Mas é também um canto de vitória, pois “Cristo, por nós, se fez obediente até a morte e morte de cruz. Por isso Deus o exaltou...” (cf. Fl 2,8-9). Os cantos devem ajudar a deixarmos nos envolver pelo dinamismo da liturgia da Paixão do Senhor, na atitude de quem dá a vida por seus amigos.


Não convém, neste dia, utilizar os instrumentos musicais, como é de costume. Pode-se, porém, usar um instrumento sóbrio, apenas para dar sustentação ao canto. Mas lembre-se, de forma bem discreta.

4. Cantar a Páscoa do Senhor

Se a Quaresma é tempo de austeridade, a Páscoa é tempo de alegria e júbilo, para entoar cantos de festa em honra de Cristo Ressuscitado. O Tempo Pascal começa na Vigília Pascal e termina com a solenidade de Pentecostes. Na quaresma omitimos o canto do aleluia para ser entoado com júbilo na grande Vigília Pascal. Após o silêncio quaresmal, ouvimos o ecoar alegre e vibrante do aleluia na noite pascal. O aleluia será uma das características das celebrações Pascais. Cantamos a glória do Senhor Ressuscitado, sua vitória sobre a morte.


Os cantos e instrumentos terão participação fundamental. Sejam cantados e tocados com alegria, com entusiasmo, vibrantes. Valorizar os cantos do ordinário da missa principalmente o canto do aleluia. Os cantos devem nos ajudar a fazer uma experiência profunda do Mistério Pascal. O canto neste tempo é um canto de alegria, canto de tantos aleluias! Canto de vitória!

sexta-feira, 4 de março de 2011

O TEMPO COMUM


Fernando Silva
Revista Celebração Litúrgica - Portugal

«A santa mãe Igreja considera seu dever celebrar, em determinados dias do ano, a memória sagrada da obra de salvação do seu divino Esposo. Em cada semana, no dia a que chamou domingo, celebra a da Ressurreição do Senhor, como a celebra também uma vez no ano na Páscoa, a maior das solenidades, unida à memória da sua Paixão.» (CONCÍLIO ECUMÉNICO VATICANO II, Const. Sobre a Sagrada Liturgia Sacrosanctum Concilium, nº 102).

Na verdade, a Igreja distribui todo o mistério de Cristo pelo ano, da Incarnação e Nascimento à Ascensão, ao Pentecostes, à expectativa da feliz esperança e da vinda do Senhor. Com esta recordação dos mistérios da Redenção, a Igreja oferece aos fiéis as riquezas das obras e merecimentos do seu Senhor, a ponto de os tornar como que presentes a todo o tempo, para que os fiéis, em contacto com eles, se encham de graça.

Nunca será demasiado sublinhar que, ao celebrarmos um mistério na Liturgia, vencemos a distância do tempo e do espaço, de tal modo que participamos verdadeiramente nesse acontecimento salvífico, participando das suas graças. Não se trata, pois, de uma simples comemoração ou evocação.

Há, pois, na vida litúrgica da Igreja, à semelhança do que acontece numa família, festas com importância de diversos graus, e há, com predomínio, o tempo comum. Naquelas saímos do ritmo habitual e tranqüilo, da boa rotina de cada dia; neste, vivemos um período do Ano litúrgico de trinta e três ou trinta e quatro semanas nas quais celebramos, na sua globalidade, os Mistérios de Cristo. Comemora-se o próprio Mistério de Cristo na sua plenitude, principalmente aos domingos.

Tempo Comum e "tempos fortes"

Não se podem contrapor os chamados "tempos fortes" ao Tempo Comum, como se este tempo fosse um tempo fraco, inferior, ou de menor importância. É como que o tecido concreto da vida normal do cristão, fora das festas, e pode ver-se nele a comemoração da presença de Cristo na vida quotidiana e nos momentos simples da vida dos cristãos.

Duas fontes são importantes para a espiritualidade cristã e força do Tempo Comum: Os Domingos e os tempos fortes. O Tempo Comum pode ser vivido como prolongamento do respectivo tempo forte. Vejamos: a primeira parte do Tempo Comum, iniciada após a Epifania e o Baptismo de Jesus, constitui tempo de crescimento da vida nascida no Natal e manifestada na Epifania.

Esta vida para crescer e manifestar-se em plenitude e produzir frutos, necessita da acção do Espírito Santo que age no Baptismo do Senhor. A partir daqui Jesus começa a exercer seu poder messiânico. Também a Igreja: fecundada pelo Espírito ela produz frutos de boas obras.

A composição dos anos em "A", centrado em Mateus; "B", centrado em Marcos; "C", centrado em Lucas, com inserções de João presente nos diversos ciclos especiais, ajuda enormemente a magnitude do Tempo Comum.

No Tempo Comum temos algo semelhante ao recomeçar por volta do 9º Domingo, imediatamente depois de Pentecostes: a vida renasce na Páscoa e desenvolve-se através do Tempo Comum, depois de fecundado pelo Espírito em Pentecostes. A força do Mistério Pascal é vivida pela Igreja através dos Domingos durante o ano que amadurece os frutos de boas obras, preparando a vinda do Senhor.
O Tempo Comum é o período mais extenso do ano litúrgico: 33 - 34 semanas distribuídas entre a festa do Baptismo de Jesus até o começo da Quaresma e as outras semanas entre a segunda-feira depois de Pentecostes e o início do Advento.

O calendário do tempo comum

Começa logo após a festa do Baptismo do Senhor e interrompe-se na terça-feira antes da Quarta-feira de Cinzas, para recomeçar depois, na segunda-feira após Pentecostes e ir até o sábado antes do primeiro domingo do Advento.

A cor litúrgica deste tempo é a verde. É um tempo em que não se comemora nada de especial. Quando viajamos, a cor verde domina a paisagem: nos campos, na folhas das plantas. E mesmo quando há flores, a cor verde lá se encontra misturada, a lembrar-nos que a esperança, que a cor verde simboliza, deve de acompanhar-nos em toda a caminhada.

A esperança vive-se tendo em nossos planos a meta para onde nos dirigimos e a confiança de a alcançar. Faz parte desta esperança procurar orientação e alimento enquanto caminhamos, para que realizemos o nosso desejo. Acolhemos atentamente a Palavra de Deus e participamos nos Sacramentos.

Nesse período do Tempo Comum, após o Natal, o clima é de alegria e esperança, pois Cristo anunciou o seu reino de amor. A Igreja apresenta-nos Cristo na sua missão global, Deus e homem verdadeiro, convidando-nos para uma vida de santidade.

O Domingo

«A santa mãe Igreja considera seu dever celebrar, em determinados dias do ano, a memória sagrada da obra de salvação do seu divino Esposo. Em cada semana, no dia a que chamou domingo, celebra a da Ressurreição do Senhor, como a celebra também uma vez no ano na Páscoa, a maior das solenidades, unida à memória da sua Paixão.» (Const. Sacrosanctum Concilium, nº 102).

Ela Distribui todo o mistério de Cristo pelo correr do ano, da Incarnação e Nascimento à Ascensão, ao Pentecostes, à expectativa da feliz esperança e da vinda do Senhor. Com esta recordação dos mistérios da Redenção, a Igreja oferece aos fiéis as riquezas das obras e merecimentos do seu Senhor, a ponto de os tornar como que presentes a todo o tempo, para que os fiéis, em contacto com eles, se encham de graça.

Este tempo existe não para celebrar algum aspecto particular do mistério de Cristo mas para celebrá-lo em sua globalidade, especialmente em cada Domingo (cf. NALC 43: Normas gerais sobre o Ano litúrgico e o Calendário); durante este tempo se aprofunda e se assimila o mistério de Cristo que se insere na vida do povo de Deus para torná-la plenamente pascal.

O elemento principal e mais forte do Tempo Comum é o Domingo, que surgiu antes mesmo da celebração anual da Páscoa. Era o único elemento celebrativo no correr do ano: a grande celebração semanal do Mistério Pascal de Cristo. É, pois, um tempo marcadamente caracterizado pelo Domingo, quer pela teologia, quer pela espiritualidade.
Os meses temáticos do Ano Litúrgico não fazem parte do calendário e nunca as suas celebrações se sobrepõem às que estão contidas no Domingo.

Os meses Vocacional, da Bíblia, das Missões, a Campanha da Fraternidade e outras comemorações ajudam na madura adaptação e criatividade nas celebrações mas nunca são superiores à mística da liturgia dominical.

Todo o ano litúrgico gira em torno de um único mistério: a morte e ressurreição de Jesus em sua plenitidade. No tempo comum, como nos demais tempos litúrgicos, damos continuidade à celebração desse mistério de Cristo. Em cada domingo, fazemos memória dos relatos da vida pública de Jesus. Celebrando diferentes acontecimentos narrados na Sagradas Escrituras, vamos nos aproximando mais e mais do mistério de amor de Deus pela humanidade.
Tendo como ponto de referência a Páscoa, cada domingo é o fundamento e o núcleo do próprio ano litúrgico (SC 106). Até porque de acordo com o testemunho das Escrituras, a assembleia cristã de culto acontece no primeiro dia da semana (1 Cor 16,2; At 20,7).

«Por tradição apostólica, que nasceu do próprio dia da Ressurreição de Cristo, a Igreja celebra o mistério pascal todos os oito dias, no dia que bem se denomina dia do Senhor ou domingo. Neste dia devem os fiéis reunir-se para participarem na Eucaristia e ouvirem a palavra de Deus, e assim recordarem a Paixão, Ressurreição e glória do Senhor Jesus e darem graças a Deus que os «regenerou para uma esperança viva pela Ressurreição de Jesus Cristo de entre os mortos» (1 Pedr. 1,3). O domingo é, pois, o principal dia de festa a propor e inculcar no espírito dos fiéis; seja também o dia da alegria e do repouso. Não deve ser sacrificado a outras celebrações que não sejam de máxima importância, porque o domingo é o fundamento e o centro de todo o ano litúrgico.» (Const. Sacrosanctum Concilium, nº 102).

Falar do tempo comum, é, na verdade, ressaltar cada domingo como memorial da ressurreição. Reunindo-se no primeiro dia da semana para celebrar o Mistério Pascal, a comunidade expressa a essência da sua fé e a certeza de sua esperança. Por isso, o domingo é dia de festa primordial que deve ser lembrado e inculcado à piedade dos fiéis (SC 106).

Actualizando o mistério, a comunidade celebra sua própria ressurreição na vida nova que o Senhor lhe comunica, através da Palavra e do Sacramento do Sacrifício do seu corpo e Sangue. O primeiro dia da semana é também o oitavo (Sc 106) porque antecipa o último, a ressurreição definitiva, colocando-nos na tensão para o futuro do Reino e do retorno do Senhor.

A celebração das festas de Nossa Senhora

«Na celebração deste ciclo anual dos mistérios de Cristo, a santa Igreja venera com especial amor, porque indissoluvelmente unida à obra de salvação do seu Filho, a Bem-aventurada Virgem Maria, Mãe de Deus, em quem vê e exalta o mais excelso fruto da Redenção, em quem contempla, qual imagem puríssima, o que ela, toda ela, com alegria deseja e espera ser.» (Const. Sacrosanctum Concilium, nº 103).

Num ritmo que nos lembra a presença maternal de Maria na caminhada do tempo comum, o calendário litúrgico vai celebrando os grandes acontecimentos da sua vida. Não vem para aqui descrever como cada uma destas celebrações entrou na liturgia, mas sublinhar a missão importante que elas têm: Maria vai connosco a caminho, como a melhor das mães, para nos animar, dialogar connosco, ajudar nas dificuldades e encher de alegria e generosidade os nossos passos vacilantes. Maria revela o mistério de Cristo e da Igreja de maneira forte e eficaz. Seu culto não é algo paralelo e independente; está integrado ao Mistério Pascal; em Maria a Igreja vive o mistério de Cristo.

A celebração das festas dos santos

«A Igreja inseriu também no ciclo anual a memória dos Mártires e outros Santos, os quais, tendo pela graça multiforme de Deus atingido a perfeição e alcançado a salvação eterna, cantam hoje a Deus no céu o louvor perfeito e intercedem por nós. Ao celebrar o «dies natalis» (dia da morte) dos Santos, proclama o mistério pascal realizado na paixão e glorificação deles com Cristo, propõe aos fiéis os seus exemplos, que conduzem os homens ao Pai por Cristo, e implora pelos seus méritos as bênçãos de Deus.» (Const. Sacrosanctum Concilium, nº 104).

Durante o Ano Litúrgico o culto de Nossa Senhora e dos Santos é integrado na Liturgia, enriquecendo a participação dos fiéis. É claro que toda acção litúrgica é dirigida ao Pai, por Cristo, que é o centro. É sempre o Mistério Pascal que se conta e evidencia. Deus fez maravilhas através dos Santos e de Maria que depois do Senhor ocupa um especial lugar na vida da Igreja e em seu culto.
Cada celebração deve ter como centro a Santa Missa, possivelmente mais solenizada, partindo da Palavra de Deus para ajudar os fiéis a compreenderem que neles celebramos o triunfo de Cristo ressuscitado, sendo animados a imitá-los.

Dentro destes parâmetros se deve desenrolar toda a alegria cristã das nossas festas, de tal modo que nos aproximem de Cristo. A alegria só tem sentido quando se manifesta como haurida desta Fonte inesgotável.

Realizar festas pagãs sob a capa do nome de um santo não faz sentido.
É necessária uma acção esclarecida e corajosa dos fiéis para inverterem um movimento que via destruindo a verdadeiro sentido das festas dos santos. Os primeiros cristãos foram capazes de cristianizar muitas das festas pagãs. Hoje devemos conservar este património e dá-lo a conhecer.
Com um pouco de imaginação e generosidade, muitas iniciativas podem ser tomadas para fazer frente a esta onda avassaladora de paganismo. Podemos e devemos perguntar: os jovens das nossas comunidades paroquiais (Corpo Nacional de Escutas e outras associações juvenis), que são capazes de organizar uma festa de campo, serão capazes também de organizar e executar um programa que, sem deixar de ser alegre divertimento, se integrem perfeitamente na vivência das festas dos santos?

O Canto Litúrgico no Tempo Comum

«Dentro do Ano Litúrgico, o Tempo Comum ocupa grande parte dos domingos e semanas. São 34 domingos do Tempo Comum. Quando falamos em “comum” não significa que não tenha importância. No Tempo Comum celebramos outros aspectos da vida e da missão de Cristo e seus discípulos. Cada domingo do Tempo Comum celebra-se a Páscoa semanal dos cristãos. Neste tempo celebramos algumas festas importantes: Apresentação do Senhor. Santíssima Trindade; Corpus Christi; Sagrado Coração de Jesus; a Transfiguração; Exaltação da Santa Cruz, Finados, Todos os Santos e outras festas em honra a Nossa Senhora e aos santos, etc. Os cantos litúrgicos no Tempo Comum vão nos ajudar a vivenciar a totalidade do Mistério de Cristo. Para que não cometamos erros, é necessário observar algumas regras.

1. Os cantos devem expressar a realidade celebrada – o Mistério. Este mistério se desdobra nas passagens da Sagrada Escritura ao longo do Ano Litúrgico.
2. Dar atenção a função ritual de cada canto em seus momentos específicos.
3. Ser fiel as características próprias do tempo litúrgico e da festa celebrada.

Vale lembrar a orientação dos Documentos da Igreja. Não é por que o tempo é “comum” que posso colocar qualquer canto na liturgia. Ele deve estar em sintonia com o que celebramos. Ele é parte integrante da liturgia. Está a serviço da acção ritual. Não cabe aqui cantos que possam levar ao subjetivismo, ao intimismo religioso. Celebrar é sempre uma acção comunitária, nunca individual. É conveniente registrar uma palavrinha a respeito dos meses temáticos. Em alguns meses do ano a Igreja nos convida a reflectirmos sobre um determinado tema. Temos assim o Mês de Maria; o Mês Vocacional; o Mês Missionário, etc. Isto não significa que os cantos devam necessariamente tratar destes temas. Lembre, os cantos devem aludir ao Mistério celebrado. Deste modo, no mês de Maria não se deve cantar cantos de Nossa Senhora, ou missas completas. O importante é cantar o Mistério que a liturgia do dia nos propõe. Por fim, vale lembrar que mesmo celebrando Nossa Senhora e os Santos no decorrer do Ano Litúrgico, sempre se evoca a acção redentora do Senhor Jesus em Maria e nos Santos. É a obra do Senhor que celebramos e cantamos não a pessoa dos santos e de Maria.»(PE. CRISTIANO MARMELO PINTO).

O Concílio enaltece a contribuição do canto Litúrgico para o enriquecimento duma celebração:
«A tradição musical da Igreja é um tesouro de inestimável valor, que excede todas as outras expressões de arte, sobretudo porque o canto sagrado, intimamente unido com o texto, constitui parte necessária ou integrante da Liturgia solene.
Não cessam de a enaltecer, quer a Sagrada Escritura (42), quer os Santos Padres e os Romanos Pontífices, que ainda recentemente, a começar em S. Pio X, vincaram com mais insistência a função ministerial da música sacra no culto divino.

A música sacra será, por isso, tanto mais santa quanto mais intimamente unida estiver à acção litúrgica, quer como expressão delicada da oração, quer como factor de comunhão, quer como elemento de maior solenidade nas funções sagradas. A Igreja aprova e aceita no culto divino todas as formas autênticas de arte, desde que dotadas das qualidades requeridas.

O sagrado Concílio, fiel às normas e determinações da tradição e disciplina da Igreja, e não perdendo de vista o fim da música sacra, que é a glória de Deus e a santificação dos fiéis, estabelece o seguinte:
A acção litúrgica reveste-se de maior nobreza quando é celebrada de modo solene com canto, com a presença dos ministros sagrados e a participação activa do povo.» (Const. Sacrosanctum Concilium, nº 112 e 113).

Nem sempre é fácil dar corpo a estas recomendações, mas vale a pena tentá-lo gradualmente, para que também o canto se integre no mistério celebrado, em vez de nos distrair dele, como, por vezes, pode acontecer.

Em suma: cada celebração da liturgia tem de ser cuidadosamente preparada, sem improvisações, para que nos ajude nesta caminhada do tempo comum.


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segunda-feira, 21 de fevereiro de 2011


«O mistério da Páscoa:
a novidade do Verbo encarnado»
Sobre a Páscoa


Melitão de Sardes


Foi lida a Escritura a respeito do êxodo hebreu, foram explicadas as palavras do mistério: como a ovelha foi imolada e o povo foi salvo.

Compreendei, pois, caríssimos! É assim
novo e antigo,
eterno e temporal,
corruptível e incorruptível,
mortal e imortal
o mistério da Páscoa:
antigo segundo a Lei,
novo segundo o Verbo;
temporal na figura,
eterno na graça;
corruptível pela imolação da ovelha,
incorruptível pela vida do Senhor;
mortal pela sepultura, na terra,
imortal pela ressurreição dentre os mortos.

Antiga a Lei, novo o Verbo;
temporal a figura, eterna a dádiva;
corruptível a ovelha, incorruptível o Senhor,
o qual, imolado como cordeiro, ressurgiu como Deus.

Pois, como a ovelha, foi levado ao matadouro,
mas não era ovelha;
como o cordeiro, não abriu a boca,
mas não era cordeiro.

Passou a figura, persiste a realidade.

Em vez do cordeiro, Deus presente,
em vez da ovelha, um homem,
e neste homem, Cristo,
aquele que sustém todas as coisas.

Assim, o sacrifício da ovelha,
e a solenidade da Páscoa,
e a letra da Lei,
cederam lugar ao Cristo Jesus,
por causa do qual tudo sucedera na antiga Lei,
e muito mais sucede na nova disposição.

Pois a Lei se converteu em Verbo,
o antigo em novo,
ambos saídos de Sião, e de Jerusalém.

O mandamento se converteu em dádiva,
a figura em realidade,
o cordeiro em Filho,
a ovelha em homem,
o homem em Deus.

Com efeito, aquele que nascera como Filho,
e fora conduzido como cordeiro,
sacrificado como ovelha,
sepultado como homem,
ressuscitou dentre os mortos como Deus,
sendo por natureza Deus e homem.

Ele é tudo:
enquanto julga, é lei;
enquanto ensina, Verbo;
enquanto gera, pai;
enquanto sepultado, homem;
enquanto ressurge, Deus;
enquanto gerado, Filho;
enquanto padece, ovelha;
ele, Jesus Cristo,
a quem seja dada a glória pelos séculos. Amém.

Tal é o mistério da Páscoa,
como foi descrito na Lei
e como o acabamos de ler.