quinta-feira, 15 de julho de 2010


A Ação de Graças na
Celebração da Palavra de Deus



Pe. Cristiano Marmelo Pinto


1. Ação de graças

Vamos começar nossa reflexão, procurando descobrir o que é ação de graças ou dar graças. Ação de graças é uma forma de oração e tem suas raízes no Primeiro Testamento. Ação de graças é a tradução da palavra grega “Eucaristia”. Eucaristia, por sua vez, é a tradução da palavra hebraica “Berakah”.

A ação de graças possui vários elementos:

1. Um fato;
2. Admiração;
3. Exclamação ou aclamação;
4. Proclamação;
5. Pedido;
6. Louvor final.

UM FATO - há sempre um fato relacionado com Deus: uma bênção, uma graça, um benefício, ou seja, uma manifestação da bondade de Deus.

ADMIRAÇÃO – o fato desperta uma atitude de admiração, que perpassa toda a oração.

EXCLAMAÇÃO OU ACLAMAÇÃO – a admiração se expressa por meio de uma exclamação ou aclamação: “Bendito seja o Senhor!”

PROCLAMAÇÃO – em seguida dá-se o motivo da admiração e da aclamação, recordando ou proclamando o fato.

PEDIDO – normalmente nas orações de ação de graças, após a proclamação dos benefícios, segue-se o pedido.

LOUVOR FINAL – é normal que a Berakah termine com um louvor final, que não é aclamação, mas uma síntese de tudo quanto foi proclamado.

Este tipo de oração, com esta estrutura e estes elementos, chama-se Berakah. Ela exprime não só um agradecimento pelo benefício recebido, como também traduz uma resposta de abertura, gratidão, louvor, profissão de fé, reconhecimento e adoração diante de Deus, diante do bem recebido, diante do fato. Os termos em português que melhor exprimem tudo isso são: ação de graças, dar graças, render graças, bendizer.

2. O louvor ou ação de graças na Bíblia

Ao longo da história da salvação, há momentos em que o povo clama ao Senhor por libertação. O Senhor ouve e atende e o povo fica agradecido. Deste modo, há momentos para pedir e clamar, e há momentos de agradecer e louvar a Deus.

Esta dinâmica encontramos praticamente em toda a Bíblia. No Primeiro Testamento o ponto de referência é o Êxodo. Após a libertação do Egito, Moisés faz o seu cântico: “Então Moisés e os israelitas cantaram esta canção a Deus, o Senhor: Cantarei ao Senhor porque ele conquistou uma vitória maravilhosa...” (Ex 15,1). Também os salmos e cânticos bíblicos se referem a inúmeras ações de Deus em favor do povo de Israel.

No Segundo Testamento, o louvor e ação de graças brota da experiência da ressurreição de Jesus, da Palavra proclamada, da nova vida, no Espírito, do novo povo, etc. Paulo assim diz: “O motivo de nosso contínuo agradecimento a Deus é este: quando ouviram a Palavra de Deus que anunciamos, vocês a acolheram não como palavras humanas, mas como ela realmente é, como Palavra de Deus, que age com eficácia em vocês que acreditam” (1Ts 2,13). “Com alegria, deem graças ao Pai, que permitiu a vocês participarem da herança dos cristãos, na luz. Deus nos arrancou do poder das trevas e nos transferiu para o Reino de seu Filho amado, no qual temos a redenção, a remissão dos pecados” (Cl 1,12-14).

Há ainda muitos outros textos que poderíamos recorrer, tais como: 1Cor 1,4; Ef 1,1-15; Apo 4; 7,9-12; 11,15-18; etc.

3. A ação de graças na celebração litúrgica

Sem dúvida nenhuma, a expressão máxima de ação de graças na fé cristã, é a celebração da Eucaristia. E dentro desta, no momento da liturgia eucarística, temos a grande Oração Eucarística. Na liturgia eucarística nos unimos a Cristo em sua entrega total ao Pai, em louvor e ação de graças.

O domingo é o dia da Eucaristia, dia do louvor, da ação de graças pela ressurreição de Jesus que nos deu esperança de vida nova. Na celebração dominical não pode faltar o louvor, a ação de graças.

A ação de graças é um dos elementos fundamentais da celebração comunitária, com a qual se bendiz a Deus pela sua imensa glória (cf. CONGREGAÇÃO PARA O CULTO DIVINO. Diretório para as celebrações dominicais na ausência do presbítero, nº. 41c).

4. A ação de graças na celebração da Palavra de Deus

Na estrutura da celebração da Palavra de Deus, um dos elementos é o rito de Ação de Graças ou Momento de Louvor (cf. Diretório para as celebrações dominicais na ausência do presbítero, nº. 41c). A ação de graças pode ser feita depois da oração da comunidade ou depois da comunhão (cf. nº 45a). Neste momento a comunidade reconhece a ação salvadora de Deus realizada em Jesus Cristo, e rende graças (cf. CNBB. Doc. 52, 83). “Bendito seja o Deus e Pai de nosso Senhor Jesus Cristo, que no abençoou com toda sorte de bênção espiritual” (Ef 1,3). “Agradeçamos sempre a Deus Pai por todas as coisas, em nome de nosso Senhor Jesus Cristo” (Ef 5,20).

5. Ação de graças no Doc. 52 da CNBB

“Orientações para a celebração da Palavra de Deus”

1. O documento lembra que a celebração do Senhor ressuscitado e a ação de graças – eucaristia – são os elementos essenciais do domingo cristão (nº. 31);

2. Coloca a ação de graças entre os elementos que devem ser valorizados na celebração da Palavra de Deus (nº. 54);

3. Retoma o motivo da ação de graças: “bendizer a Deus pela sua imensa glória” (nº. 83);

4. Diz ainda que a ação de graças, ou “rito de louvor” é um dos elementos essenciais da celebração (nº. 83);

5. Abre espaço para agradecimentos ligado a realidade da comunidade (nº. 84);

6. Aponta vários modos de se fazer a ação de graças: salmos, hinos, cânticos, orações litânicas, benditos ou outras expressões orantes (nº. 85);

7. Quanto ao momento da ação de graças, o documento indica que pode ser feito após a oração dos fiéis, após a distribuição da comunhão, ou ainda após o final da celebração (nº. 85);

8. O que não pode ser? O documento diz que o momento de ação de graças não pode, de modo algum, ter a forma da celebração eucarística (pão e vinho, oração eucarística, Cordeiro de Deus e bênção própria dos ministros ordenados (nº. 86);

9. O documento ainda diz que o momento de ação de graças não pode ser substituído pela adoração ao Santíssimo Sacramento (nº. 86).

Não se pode também, no momento de ação de graças, fazer rezar partes da oração eucarística (pulando a consagração), toda a oração eucarística pertence à missa.

6. Modelos de Ação de Graças (Sub. 3 – CNBB)

Min.: O Senhor esteja convosco.
Povo: Ele está no meio de nós.
Min.: Elevemos ao Senhor o nosso louvor.
Povo: É nossa alegria e salvação.

Min.: Nós vos damos graças, ó Pai, por toda a vossa criação e por tudo o que fizestes no meio de nós, por meio de Jesus Cristo, vosso Filho e nosso irmão, que nos destes como imagem viva do vosso amor e de vossa bondade.
Povo: Por nós fez maravilhas, louvemos o Senhor!

Min.: Como expressão de nosso louvor, colocamos aqui este sinal da nossa fé: a comunhão no Santíssimo Corpo do Senhor e nosso desejo de corresponder com mais fidelidade à missão que nos destes.
Povo: Por nós fez maravilhas, louvemos o Senhor.

Min.: Enviai sobre nós, aqui reunidos, o vosso Espírito e dai a esta terra que nos sustenta uma nova face. Que haja paz em nossas famílias e cresça em nossa comunidade a alegria de sermos vossos por Cristo nosso Senhor.
Povo: Por nós fez maravilhas, louvemos o Senhor.

Min.: Pela palavra do Evangelho de vosso Filho, fazei que as Igrejas do mundo inteiro caminhem na unidade e sejam sinais da presença do Cristo ressuscitado. Tornai esta comunidade cada vez mais sinal da vossa bondade.
Povo: Por nós fez maravilhas, louvemos o Senhor.

Min. Lembrai-vos, ó Pai, dos nossos irmãos, que morreram na paz do Cristo, e de todos os falecidos, cuja fé vós conheceis: acolhei-os na luz da vossa infinita misericórdia.
Povo: Por nós fez maravilhas, louvemos o Senhor.

Min.: Ó Deus, criador do céu e da terra, os nossos louvores e nossas preces cheguem a vós pelas mãos daquele que é nosso único mediador, Jesus Cristo nosso Senhor.
Povo: Amém.

Assim como esta, podemos encontrar muitas outras nos subsídios chamados: Dia do Senhor, publicados pelo Apostolado Litúrgico em parceria com a Paulinas. Nestes subsídios há modelos de ação de graças para os vários tempos litúrgicos e ocasiões especiais da vida da comunidade.

São um total de seis livros:

1. DIA DO SENHOR – Ciclo do Natal ABC
2. DIA DO SENHOR – Ciclo Pascal ABC
3. DIA DO SENHOR – Tempo Comum Ano A
4. DIA DO SENHOR – Tempo Comum Ano B
5. DIA DO SENHOR – Tempo Comum Ano C
6. DIA DO SENHOR – Santoral

7. As Louvações

Na tradição religiosa do povo brasileiro, surgiram as louvações. Reginaldo Veloso diz que as louvações tiveram origem num canto das romarias a Juazeiro do Padre Cícero, por volta de 1977.

Os romeiros a cada parada na caminhada, faziam orações e cantavam seus benditos. Reginaldo Veloso e Pe. Geraldo Leite dessa experiência, tiveram a ideia de compor as louvações.

Existem inúmeras louvações, uma para cada tempo litúrgico e ocasiões. Vocês podem encontrar várias delas num cd das Paulinas chamado: Ação de Graças no Dia do Senhor.

8. Estrutura das Louvações

As louvações se desenvolvem em três passos:

1. Um convite de louvor, que se exprime no refrão, no início da louvação e se repete a cada louvação;
2. O motivo da louvação: proclamação da obra salvífica de Deus, desenvolvida nas estrofes;
3. No encerramento faz-se uma transição para o santo.

Exemplo de louvação - Louvação Quaresmal (Hinário Litúrgico 2 – CNBB, pág. 152)

Refrão: É bom cantar um bendito, um canto novo, um louvor! (bis)
1. Ao Deus do povo oprimido, / que ouviu do pobre o clamor! (bis)
2. Ao Deus que livra seu povo / das garras do Faraó! (bis)
3. Ao Deus que mandou seu Filho / dos pobres Libertador! (bis)
4. Um povo unido e forte / bendiz e louva o Senhor.

9. Conclusão

Sabemos que o momento de ação de graças na celebração da Palavra de Deus tem encontrado grandes desafios em nossas comunidades. Não podemos confundi-la e muito menos substituí-la pela adoração ao Santíssimo, pela Oração Eucarística cortando/omitindo a consagração, entre outras coisas... Também não se pode deixá-la de fazer, pois constitui um elemento fundamental na celebração, conforme os documentos da Igreja.

Seja os modelos de ação de graças, que são muitos, ou as louvações, o importante é fazer com que o povo todo participe, pois a liturgia é ação de toda a comunidade.

Espero que esta breve reflexão possa ajudá-los a celebrar melhor este momento tão importante e bonito de nossas celebrações da Palavra de Deus. Espero também, que os ministros saibam possam compreender que, tudo aquilo que é parte própria da celebração da Eucaristia, não se deve introduzir na celebração da Palavra, como: Oração Eucarística, Cordeiro, etc.


BIBLIOGRAFIA

1. CNBB. Orientações para a celebração da Palavra de Deus. Doc. 52. São Paulo: Paulinas, 1994.

2. CNBB. Celebração da Palavra de Deus. Subsídios da CNBB 3. São Paulo: Paulus, 1995.

3. CNBB. Guia Litúrgico-Pastoral. Brasília: Edições CNBB.

4. BUYST, Ione. Celebração dominical ao redor da Palavra de Deus. São Paulo: Paulinas, 2002.

5. PALUDO, Faustino. A celebração da Palavra de Deus. In: CELAM. Manual de Liturgia IV. São Paulo: Paulus, 2007, pp. 155-186.

6. DE ALMEIDA, Sérgio Ferreira. Celebração na ausência do presbítero: fundamentação, roteiros e sugestões. Petrópolis: Vozes, 2008.

7. DEISS, Lucien. Palavra de Deus celebrada: teologia da celebração da Palavra de Deus. Petrópolis: Vozes, 1998.

8. BECKHÄUSER, Alberto. Ação de graças. In: Revista de Liturgia, nº. 74, março/abril de 1986, pp. 2-8.

9. VELOSO, Reginaldo. Prefácios populares. In: Revista de Liturgia, nº. 74, março/abril de 1986, pp. 9-24.

10. LUTZ, Gregório. Louvações populares. In: Revista de Liturgia, nº. 74, março/abril de 1986, pp. 25-27.

11. GUIMARÃES, M. e CARPANEDO, P. Dia do Senhor: guia para as celebrações das comunidades. 6 Volumes. São Paulo: Paulinas.

2 comentários:

Unknown disse...

Boa noite,

Ao procurar fundamentos par a Celebração, Louvor e Graças me deparei com seu site,
o qual tem me ajudado bastante, dentre alguns que "naveguei" este é de bom conteúdo.

Grato estou,

+ Paz de Cristo!

Carlos Ramalho - seminarista da Arquidiocese de SP

Pe. Cristiano Marmelo disse...

Obrigado meu amigo. Deus te abençoe.