Fariseus de ontem e de
hoje...
por Pe. Cristiano Marmelo Pinto
A
Igreja vive um novo tempo. Conduzida pelo Espírito Santo de Deus, a Igreja vem
demonstrando, em práticas concretas, a necessidade de acompanhar os rumos dos
novos tempos em que vive a humanidade. Certamente a maior surpresa do Espírito
Santo foi à eleição do papa Frâncico. E o Espírito sempre nos surpreende! Não
se trata de um tempo de “reforma” da Igreja, pois, reformar, significa
recuperar velhas estruturas, dar novas cores, porém, manter o que já está aí. A
Igreja vive um tempo de renovação. Renovar é muito mais profundo que reformar.
Atinge as estruturas mais profundas, recuperando seus fundamentos, sua
originalidade. É o que tem feito o papa Francisco e o papa emérito Bento XVI,
nos convidando para voltar à essência do cristianismo, a essência da fé.
Nem
sempre as estruturas e seus aparatos favorecem um cristianismo autêntico e
coerente com o espírito evangélico. Principalmente se aqueles que estão a
frente dessas estruturas se deixam conduzir por suas paixões e interesses. Isto
ficou bem claro como motivo da renúncia do papa emérito Bento XVI. Vê-se uma
tensão entre os “piseudos-conservadores” e “progressistas”. E o Espírito Santo foi
escolher alguém além dessas características para conduzir a Igreja. Com o papa
Francisco renasce a esperança de uma Igreja mais fiel ao evangelho de Jesus
Cristo, que procura oferecer à humanidade aquilo que ela tem de mais precioso:
o amor de Deus pelas pessoas, e reaproximar as pessoas de um Deus que é amor e
misericórdia. Papa Francisco nos estimula a resgatar a alegria de sermos
cristãos e de anunciar o Evangelho como boa notícia.
Mas
é evidente que, esse processo de renovação provoca reações adversas. E nesse
universo de reações contrarias, surgem os “pseudos-fariseus”, que rogando para
si a defesa da tradição, se opõem a tudo que o Espírito Santo suscita de
novidade no seio da Igreja. Esse levante farisaico já se observa a tempos na
Igreja a partir do Concílio Vaticano II, quando a Igreja inteira decide
abrir-se para o mundo e estabelecer um diálogo sincero e verdadeiro com os
novos tempos, permitindo que novos ares possam entrar pelas suas janelas. Numa
interpretação no mínimo errônea das posturas do papa emérito Bento XVI com a
autorização da missa tridentina como forma extraordinária, pipocaram-se em
todos os cantos, vozes muitas delas ferozes, em críticas e condenações. Algumas
veladas, outras abertamente se opõem ao próprio Concílio Vaticano II e sua
abertura ao mundo. Alguns se apoiam as regras, normas e leis eclesiásticas para
justificarem suas posições, numa atitude obsessiva e inflexível aos novos ares
que nos supra o Espírito Santo. Preferem um cristianismo de sacristia a um
cristianismo que vai a periferia do mundo, ao encontro dos preferidos de Deus:
os pobres e excluídos. Se fecham no “rubricismo” alegando que, tudo fora das
normas eclesiásticas é contra a tradição. Se julgam no direito e até no dever
de apontar os frutos do Concílio Vaticano II como traição a Igreja, a Tradição
e ao Magistério. Nota-se porém, pouca referência ao Evangelho. E nem poderia,
pois teriam que trair a própria posição deles.
Se
por um lado nos deparamos com milhares de pessoas em todas as partes dóceis ao
Espírito do Senhor, por outro, um fechamento a liberdade do Espírito em soprar
onde e como quer. Colocam-se numa postura farisaica, considerando-se os certos,
e os demais errados.
O
termo “fariseu” significa os separados. Era um grupo formado por pessoas
devotas, que na obsessão pela observância da Lei, foram se separando dos
demais, criando dois grupos distintos em Israel: os “justos” (os que observavam
escrupulosamente a Lei), e os “pecadores” (os que não observavam a Lei). Assim
consideravam os fariseus. Consideravam que pela observância minuciosa da Lei
seriam salvos. Era um grupo apegado às tradições, as regras, aos costumes, eram
inflexíveis e profundamente fechados. Porém, nem sempre conseguiam, tanto que
sofrem severas críticas. Jesus irá dizer: “Ai de vós, escribas e fariseus,
hipócritas, porque sois semelhantes aos sepulcros caiados, que, por fora, se
mostram belos, mas interiormente estão cheios de ossos de mortos e de toda
imundícia! Assim também vós exteriormente pareceis justos aos homens, mas, por
dentro, estais cheios de hipocrisia e de iniquidade.” (Mt 23, 27-28). Foram
responsáveis, juntamente com os saduceus, pela perseguição a Jesus Cristo e a
tudo que ele realizava.
Ainda
hoje há os fariseus de plantão. Pessoas “religiosas” que creem observantes das
normas da Igreja, separando-se dos outros. Na obsessão pela observância das
normas, tornam-se orgulhosos e auto-suficientes. Cria-se um individualismo
religioso sem compromisso com a transformação social do povo. Condenam tudo que
na Igreja nos remete a essa transformação social, de nodo particular a Teologia
da Libertação. Por certo, devem repreender igualmente a prática libertadora de
Jesus Cristo. Criticam e condenam as minorias que elevam suas vozes calando por
libertação e direitos iguais. Não é por menos que muitas vezes tais atitudes
caem numa hipocrisia moralista.
A
verdadeira atitude cristã, de discípulos de Jesus Cristo, deve ser de abertura
e docilidade ao Espírito Santo. Permitir que ele faça novas todas as coisas na
Igreja e no mundo. Nosso papel deve ser de facilitadores da ação de Deus no
mundo. E não de algemá-lo nas correntes de uma “observância farisaica” das
normas, pois, o Espírito sopra onde ele quer (cf. Jo 3,8).
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