quarta-feira, 28 de dezembro de 2016


Fariseus de ontem e de hoje...

 por Pe. Cristiano Marmelo Pinto

  

A Igreja vive um novo tempo. Conduzida pelo Espírito Santo de Deus, a Igreja vem demonstrando, em práticas concretas, a necessidade de acompanhar os rumos dos novos tempos em que vive a humanidade. Certamente a maior surpresa do Espírito Santo foi à eleição do papa Frâncico. E o Espírito sempre nos surpreende! Não se trata de um tempo de “reforma” da Igreja, pois, reformar, significa recuperar velhas estruturas, dar novas cores, porém, manter o que já está aí. A Igreja vive um tempo de renovação. Renovar é muito mais profundo que reformar. Atinge as estruturas mais profundas, recuperando seus fundamentos, sua originalidade. É o que tem feito o papa Francisco e o papa emérito Bento XVI, nos convidando para voltar à essência do cristianismo, a essência da fé.

Nem sempre as estruturas e seus aparatos favorecem um cristianismo autêntico e coerente com o espírito evangélico. Principalmente se aqueles que estão a frente dessas estruturas se deixam conduzir por suas paixões e interesses. Isto ficou bem claro como motivo da renúncia do papa emérito Bento XVI. Vê-se uma tensão entre os “piseudos-conservadores” e “progressistas”. E o Espírito Santo foi escolher alguém além dessas características para conduzir a Igreja. Com o papa Francisco renasce a esperança de uma Igreja mais fiel ao evangelho de Jesus Cristo, que procura oferecer à humanidade aquilo que ela tem de mais precioso: o amor de Deus pelas pessoas, e reaproximar as pessoas de um Deus que é amor e misericórdia. Papa Francisco nos estimula a resgatar a alegria de sermos cristãos e de anunciar o Evangelho como boa notícia.

Mas é evidente que, esse processo de renovação provoca reações adversas. E nesse universo de reações contrarias, surgem os “pseudos-fariseus”, que rogando para si a defesa da tradição, se opõem a tudo que o Espírito Santo suscita de novidade no seio da Igreja. Esse levante farisaico já se observa a tempos na Igreja a partir do Concílio Vaticano II, quando a Igreja inteira decide abrir-se para o mundo e estabelecer um diálogo sincero e verdadeiro com os novos tempos, permitindo que novos ares possam entrar pelas suas janelas. Numa interpretação no mínimo errônea das posturas do papa emérito Bento XVI com a autorização da missa tridentina como forma extraordinária, pipocaram-se em todos os cantos, vozes muitas delas ferozes, em críticas e condenações. Algumas veladas, outras abertamente se opõem ao próprio Concílio Vaticano II e sua abertura ao mundo. Alguns se apoiam as regras, normas e leis eclesiásticas para justificarem suas posições, numa atitude obsessiva e inflexível aos novos ares que nos supra o Espírito Santo. Preferem um cristianismo de sacristia a um cristianismo que vai a periferia do mundo, ao encontro dos preferidos de Deus: os pobres e excluídos. Se fecham no “rubricismo” alegando que, tudo fora das normas eclesiásticas é contra a tradição. Se julgam no direito e até no dever de apontar os frutos do Concílio Vaticano II como traição a Igreja, a Tradição e ao Magistério. Nota-se porém, pouca referência ao Evangelho. E nem poderia, pois teriam que trair a própria posição deles.

Se por um lado nos deparamos com milhares de pessoas em todas as partes dóceis ao Espírito do Senhor, por outro, um fechamento a liberdade do Espírito em soprar onde e como quer. Colocam-se numa postura farisaica, considerando-se os certos, e os demais errados.

O termo “fariseu” significa os separados. Era um grupo formado por pessoas devotas, que na obsessão pela observância da Lei, foram se separando dos demais, criando dois grupos distintos em Israel: os “justos” (os que observavam escrupulosamente a Lei), e os “pecadores” (os que não observavam a Lei). Assim consideravam os fariseus. Consideravam que pela observância minuciosa da Lei seriam salvos. Era um grupo apegado às tradições, as regras, aos costumes, eram inflexíveis e profundamente fechados. Porém, nem sempre conseguiam, tanto que sofrem severas críticas. Jesus irá dizer: “Ai de vós, escribas e fariseus, hipócritas, porque sois semelhantes aos sepulcros caiados, que, por fora, se mostram belos, mas interiormente estão cheios de ossos de mortos e de toda imundícia! Assim também vós exteriormente pareceis justos aos homens, mas, por dentro, estais cheios de hipocrisia e de iniquidade.” (Mt 23, 27-28). Foram responsáveis, juntamente com os saduceus, pela perseguição a Jesus Cristo e a tudo que ele realizava.

Ainda hoje há os fariseus de plantão. Pessoas “religiosas” que creem observantes das normas da Igreja, separando-se dos outros. Na obsessão pela observância das normas, tornam-se orgulhosos e auto-suficientes. Cria-se um individualismo religioso sem compromisso com a transformação social do povo. Condenam tudo que na Igreja nos remete a essa transformação social, de nodo particular a Teologia da Libertação. Por certo, devem repreender igualmente a prática libertadora de Jesus Cristo. Criticam e condenam as minorias que elevam suas vozes calando por libertação e direitos iguais. Não é por menos que muitas vezes tais atitudes caem numa hipocrisia moralista.
A verdadeira atitude cristã, de discípulos de Jesus Cristo, deve ser de abertura e docilidade ao Espírito Santo. Permitir que ele faça novas todas as coisas na Igreja e no mundo. Nosso papel deve ser de facilitadores da ação de Deus no mundo. E não de algemá-lo nas correntes de uma “observância farisaica” das normas, pois, o Espírito sopra onde ele quer (cf. Jo 3,8).

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