UMA IGREJA MENOS BUROCRÁTICA E MAIS EVANGÉLICA
Religião significa re-ligar. Isto mesmo. Por
mais que os críticos de religião afirmam que a religião é um atraso na vida do
povo, ela tem a função de religar a pessoa humana com o transcendente-Deus,
consigo mesmo e com os outros. Jesus em toda a sua prática procurou reestabelecer
a conexão entre Deus e seu povo, aproximando as pessoas de Deus e tornando Deus
cada vez mais próximo de nossa vida. Não é por menos que ele iniciou seu
ministério público entre aqueles que eram excluídos da religião, que na época
era baseada num sistema que dividia as pessoas entre “puros” e “impuros”. É o
antigo dilema quando se vive uma religião burocrática, apegada as normas,
criando entre nós um sistema parecido com o do tempo de Jesus, dividindo as
pessoas entre “os que podem” e “os que não podem”. E assim, criamos um
incalculável grupo de pessoas que são privadas de se aproximar de Deus, isto
porque não se enquadram no sistema das normas religiosas.
Ao estabelecer as normas para a escolha dos
novos bispos, e isto vale também para nós padres e deve valer para todos os
cristãos, o Papa Francisco disse querer mais pastores do que homens distantes
do povo, ou seja, homens de “cúrias”. O papa pediu que os pastores tenham o “cheiro
das ovelhas”. Isto significa se misturar, estar onde o povo estar. Certamente
Jesus tinha o cheiro de suas ovelhas. Era muito criticado por andar entre os
pecadores, as prostitutas e outras classes mal vistas em sua época. Mas isto
não o impediu de levar seu projeto em frente. Acompanhamos todo esforço do Papa
Francisco em reaproximar a Igreja do povo e o povo da Igreja, tornando-a menos
burocrática e mais missionária, evangélica (no sentido exato da palavra). Ele
deseja uma Igreja em saída, uma Igreja como um Hospital de Campanha.
Tudo isto também vale para nossos leigos, que
muitas vezes preferem uma pastoral de manutenção, ou seja, permanecer na zona
de conforto pastoral, e relutam em ir para fora, negando o mandato de Jesus
para irmos ao mundo evangelizar. E evangelizar não significa despejar na cabeça
das pessoas uma infinidade de regras, sendo que muitos não poderão seguir, mas
de reaproximar, religar a conexão com Deus, com o outro e com o mundo. É
surpreendente a coragem de nosso Papa em quebrar tabus. Vejam os temas
propostos no último Sínodo dos Bispos sobre a família?! Temas que nunca
imaginávamos ser pauta num Sínodo da Igreja, agora estão presentes: casais de
segunda união, casais homoafetivos, entre outros.
Então, se o Papa demonstra esta
extraordinária e evangélica coragem, por que nós permanecemos na covardia e no
conforto de nossas normas? Por que continuarmos pregando uma religião que não
cumpre seu papel de religar, reaproximar as pessoas de Deus e dos outros? Por
que muitos ainda possuem uma postura moralista e nem um pouco pastoral? Para
isto é preciso deixar nossa zona de conforto, abandonar os gabinetes curiais e
ir se misturar com as ovelhas, mesmo que talvez o cheiro não seja tão bom.
Paz no coração!
Pe. Cristiano Marmelo Pinto
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