terça-feira, 26 de março de 2019



UMA IGREJA MENOS BUROCRÁTICA E MAIS EVANGÉLICA

Religião significa re-ligar. Isto mesmo. Por mais que os críticos de religião afirmam que a religião é um atraso na vida do povo, ela tem a função de religar a pessoa humana com o transcendente-Deus, consigo mesmo e com os outros. Jesus em toda a sua prática procurou reestabelecer a conexão entre Deus e seu povo, aproximando as pessoas de Deus e tornando Deus cada vez mais próximo de nossa vida. Não é por menos que ele iniciou seu ministério público entre aqueles que eram excluídos da religião, que na época era baseada num sistema que dividia as pessoas entre “puros” e “impuros”. É o antigo dilema quando se vive uma religião burocrática, apegada as normas, criando entre nós um sistema parecido com o do tempo de Jesus, dividindo as pessoas entre “os que podem” e “os que não podem”. E assim, criamos um incalculável grupo de pessoas que são privadas de se aproximar de Deus, isto porque não se enquadram no sistema das normas religiosas.

Ao estabelecer as normas para a escolha dos novos bispos, e isto vale também para nós padres e deve valer para todos os cristãos, o Papa Francisco disse querer mais pastores do que homens distantes do povo, ou seja, homens de “cúrias”. O papa pediu que os pastores tenham o “cheiro das ovelhas”. Isto significa se misturar, estar onde o povo estar. Certamente Jesus tinha o cheiro de suas ovelhas. Era muito criticado por andar entre os pecadores, as prostitutas e outras classes mal vistas em sua época. Mas isto não o impediu de levar seu projeto em frente. Acompanhamos todo esforço do Papa Francisco em reaproximar a Igreja do povo e o povo da Igreja, tornando-a menos burocrática e mais missionária, evangélica (no sentido exato da palavra). Ele deseja uma Igreja em saída, uma Igreja como um Hospital de Campanha.

Tudo isto também vale para nossos leigos, que muitas vezes preferem uma pastoral de manutenção, ou seja, permanecer na zona de conforto pastoral, e relutam em ir para fora, negando o mandato de Jesus para irmos ao mundo evangelizar. E evangelizar não significa despejar na cabeça das pessoas uma infinidade de regras, sendo que muitos não poderão seguir, mas de reaproximar, religar a conexão com Deus, com o outro e com o mundo. É surpreendente a coragem de nosso Papa em quebrar tabus. Vejam os temas propostos no último Sínodo dos Bispos sobre a família?! Temas que nunca imaginávamos ser pauta num Sínodo da Igreja, agora estão presentes: casais de segunda união, casais homoafetivos, entre outros.

Então, se o Papa demonstra esta extraordinária e evangélica coragem, por que nós permanecemos na covardia e no conforto de nossas normas? Por que continuarmos pregando uma religião que não cumpre seu papel de religar, reaproximar as pessoas de Deus e dos outros? Por que muitos ainda possuem uma postura moralista e nem um pouco pastoral? Para isto é preciso deixar nossa zona de conforto, abandonar os gabinetes curiais e ir se misturar com as ovelhas, mesmo que talvez o cheiro não seja tão bom.

Paz no coração!
Pe. Cristiano Marmelo Pinto

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