ESSENCIALIZAR
A VIDA
Essencial!
Hoje é comum ouvirmos essa palavra sem ao menos aprofundarmos o que significa,
ou na melhor das hipóteses, sem nos importarmos com o seu significado. É
preciso buscar o essencial. Mas numa sociedade do supérfluo, como é possível
buscar o essencial? Numa época em que vidas se gastam na procura desenfreada de
acumular, falar de essencial parece até uma coisa ultrapassada.
Mas
a grande verdade é que a vida se faz do essencial, e o supérfluo pode torná-la
mais difícil, mais pesada. Embora precisamos do que é essencial em nossa vida,
nem sempre damos prioridade para ele. O ar é essencial para a vida, assim como
a água e o alimento, mas nem sempre eles são prioridades, basta ver o que a
humanidade tem feito com o ar, com a água, por exemplo. Os valores são
essenciais em nossa vida, mas nem sempre nos importamos tanto com os valores,
do mesmo modo como nos importamos com sentimentos e coisas ruins que nos
afetam. Por isso é importante essencializar a vida.
Mas
o que significa “essencial”? Essencial significa indispensável, necessário,
algo muito importante que não pode faltar. Do latim “essentiale”, refere-se à
essência, ou seja, a substância, o que constitui a natureza íntima das pessoas
ou coisas. Essência – “essentia” indica a natureza ou característica essencial
de uma pessoa. Indica o que é fundamental, indispensável em uma pessoa.
O
oposto do essencial é o supérfluo. Supérfluo, do latim “superfluus”, é aquilo
que transcende o necessário, que é demais, demasiado, excedente e às vezes,
desnecessário. Pode ser também algo ou alguém que apresenta caráter
desnecessário, dispensável.
O
problema é que na maioria das vezes damos mais importância ao supérfluo do que ao essencial. Quantos gastam seu tempo correndo atrás de coisas, de riquezas,
de prazeres, e esquece-se de cultivar o que é essencial em sua vida. E quando
essas coisas lhe faltam percebe-se vazio, descobre que sua vida não tem
sentido. Há coisas na vida que são essenciais e que colocamos em segundo plano,
e por outro lado, potencializamos situações, coisas e sentimentos supérfluos ou
desnecessários. Pe. Flávio Sobreiro diz no livro “Amor sem fronteiras” que: “Acumulamos ódio, raiva, desejo de vingança,
e muitas vezes nem temos noção de que estamos sobrecarregando nosso coração com
um fardo pesado demais”. É verdade! As vezes nos importamos mais com os
sentimentos ruins e nos esquecemos que também temos coisas boas em nós. Nos
apegamos ao feio, ao ruim, e esquecemos da beleza que há em nós.
Temos
medo de perder o que nos é supérfluo para viver do essencial. Clarice Lispector
diz: “Perdi alguma coisa que me era
essencial, e que já não me é mais. Não me é necessária, assim como se eu
tivesse perdido uma terceira perna que até então me impossibilitava de andar,
mas que fazia de mim um tripé estável. Essa terceira perna eu perdi. E voltei a
ser uma pessoa que nunca fui. Voltei a ter o que nunca tive: apenas as duas
pernas. Sei que somente com as duas pernas é que posso caminhar. Mas a ausência
inútil da terceira me faz falta e me assusta, era ela que fazia de mim uma
coisa encontrável por mim mesma, e sem sequer precisar me procurar”. Sua
descoberta de que o supérfluo de uma “terceira perna” não lhe era mais
essencial, porque, essencial é ter duas pernas, a assusta, porque normalmente
temos medo de abandonar o que não é necessário em nossa vida.
Mário
de Andrade diz que: “O essencial faz a
vida valer a pena”. E Carlos Drummond de Andrade diz que: “O essencial é viver!” Nem sempre
conseguimos ver o que é essencial porque temos dificuldade em colocar o que é
supérfluo no seu devido lugar: o segundo plano. Antoine de Saint-Exupéry afirma
que: “Só se vê bem com o coração, o
essencial é invisível aos olhos”. Daí a necessidade de começar a ver com o
coração e descobrir o essencial. É preciso olhar para dentro de nós na busca do
essencial, como nos aconselha Arthur Schopenhauer ao dizer que: “O que temos dentro de nós é o essencial para
a felicidade humana”. Também Caio Fernando Abreu deduz isso de uma maneira
formidável ao dizer: “Depois de todas as
tempestades e naufrágios o que fica de mim e em mim é cada vez mais essencial e
verdadeiro”.
Quando
fazemos esse trabalho de deixar o supérfluo e partir em busca do essencial em
nós, quando deixamos de olhar com outros olhos e passamos a olhar com o
coração, e olhamos para dentro de nós mesmos, vamos descobrir lá no fundo que
para além de tantas outras coisas, Deus é o primeiro essencial em nossa vida. O
ar é essencial, a água, o alimento, a liberdade, etc., mas Deus deve ocupar o
primeiro plano em nossa vida. É por isso que Jesus diz: “Não andeis, pois, inquietos, dizendo: que comeremos, ou que beberemos,
ou com que nos vestiremos? Porque todas estas coisas os gentios procuram.
Decerto vosso Pai celestial bem sabe que necessitais de todas estas coisas;
mas, buscai primeiro o Reino de Deus, e a sua justiça, e todas estas coisas vos
serão acrescentadas” (Mt 6,31-33). O conselho de Jesus é para que busquemos
Deus primeiramente, o necessário virá como acréscimo. É preciso que o nosso
coração esteja em Deus para que ele seja essencial em nossa vida. Acertadamente
Jesus diz que: “Onde esta o seu tesouro,
aí estará também o seu coração” (Mt 6,21).
Martha
Medeiros diz que: “O que está em pauta é
a busca, a causa incessante ao que nos é essencial”. Precisamos fazer esse
caminho de busca do essencial. Não é fácil e às vezes acontece de forma sofrida
e doida. O essencial é aquilo que, quando em nossa vida tudo cair, ele sobra.
Quando as vaidades, quando o supérfluo cair, o que sobrar é essencial e essencial
é que quando isso acontecer não nos vejamos vazios. Por isso é importante
essencializar a vida, dar valor, importância ao que vale a pena, principalmente
aquilo que passa a constituir o que nós somos, porque, sem o essencial não
somos nada.
Paz!
Pe.
Cristiano Marmelo Pinto
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